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Mas Temos Chegado Ao Monte Sião

por T. Austin-Sparks

Capítulo 1 – As Crises dos nossos Tempos

Lembramos, ó Senhor, de que está escrito: “Ele falou, e tudo foi feito; Ele ordenou, e tudo se estabeleceu”. Pelas palavras do Senhor os céus e a terra foram criados. Nossa oração, Senhor, é que Tu fales. Que a Tua Palavra seja o Teu ato. Não apenas palavras, Senhor, mas palavras de poder _ o Divino Decreto, pela Palavra tudo é feito. Que seja assim, nesse momento. No nome do Senhor Jesus, Amém.

O assunto que o Senhor colocou em meu coração para essa primeira sessão matinal é aquele que tem vindo a nós, e para o qual temos ido, pela vinda do Senhor Jesus. Para este momento presente, apenas quero lançar dois fragmentos da Escritura sobre os quais nos moveremos. O primeiro é encontrado no Velho Testamento, em primeira Crônicas, capítulo 12, verso 32: “dos filhos de Issacar, duzentos de seus chefes, entendidos na ciência dos tempos para saberem o que Israel devia fazer, e todos os seus irmãos sob suas ordens.” O segundo está no Novo Testamento, na carta aos Hebreus, capítulo um, verso 1 e 2: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho” Conhecimento dos tempos ... ao final desses tempos ... Deus tem falado no Seu “no Filho” : Você perceberá que essas escrituras e seus contextos estão estabelecidos num tempo de crise e mudança, crises muito grandes, mudanças muito significativas. Na carta aos Hebreus, a referência ao fim de certos tempos, e a introdução de outros tempos representam uma tremenda crise, o que o Dr. Campbell Morgan chamou de “A Crise de Cristo” Isto é o que está diante de nós agora: a crise de Cristo, a qual é, a crise das dispensações.

Então, a Carta aos Hebreus nos traz para a crise do nosso próprio tempo. Traz-nos não apenas para um grande e geral movimento, de um regime para outro, mas também para a aplicação específica daquele movimento para o nosso próprio tempo. E, como está colocado na passagem em Crônicas, assim como nesta Carta aos Hebreus, a coisa importante não é apenas saber sobre uma mudança de tempos, de regime, do agir de Deus, mas é ter entendimento do que é essa mudança. Penso que nós veremos que isso é de conseqüência imensa, não apenas saber que há diferentes dispensações, diferentes modos do agir Soberano de Deus, mas é vitalmente importante para o povo de Deus entender a natureza dos tempos nos quais vivemos. Eu me arriscaria a sugerir a você, no que diz respeito a Deus, que talvez a coisa mais importante para o momento é que o povo de Deus conheça a natureza do tempo no qual ele vive, entendendo que há uma tremenda confusão, e as complicações são imensas na cristandade hoje. Muitas pessoas não sabem onde estão. Muitos não sabem o que é certo, e o que não é certo; o que é verdade, e o que não é verdade, etc. E, repito, a coisa supremamente importante é ter conhecimento dos tempos, saber o que Israel deve fazer hoje. — saber o que os cristãos devem fazer hoje, por causa da natureza peculiar e particular do que Deus está fazendo agora. Penso que você irá concordar comigo de que isso é muito importante.

Nas Escrituras, através de toda Bíblia, encontramos muitas crises, muitos movimentos de uma crise, de uma posição, de uma ordem, para outra. Eu não vou mencioná-las, mas você sabe que a Bíblia está toda marcada por alcançar um ponto a partir do qual tudo assume um novo aspecto, um ponto que representa uma nova fase do movimento do agir de Deus. A Bíblia está cheia desse tipo de coisa. Deus se movendo, movendo-se por estágios, e cada estágio marcado por alguma crise. Quando usamos a palavra crise, queremos dizer que somos trazidos face a face perante algo de tremenda significação, que vai governar todo o futuro e fazer toda diferença no futuro.

Do lado Divino, essas crises são movimentos para frente: elas representam o mover de Deus para frente. Do lado humano, elas são Deus se movendo para trás, porque as coisas se desviaram do lado humano. As coisas se desviaram daquela linha direta de Deus, e outras coisas aconteceram, as quais Deus nunca desejou em Seu plano originou, e, uma vez que houve um desvio, surge uma crise que tem um duplo significado: Deus continua avançando, porém, para poder avançar Ele precisa trazer o Seu povo de volta para o ponto do qual partiram. Isto é exatamente onde nós estamos. Deus avança; Ele não desiste; Ele não é vencido; Ele não precisa revisar o Seu programa: Ele continua para frente. Mas do ponto de vista humano, ou do lado do Seu povo, Ele tem que puxá-los para trás e dizer: “Olhem aqui, vocês se desviaram da linha, vocês se desviaram da minha intenção, você têm que voltar para o ponto de onde partiram e acertar novamente as coisas comigo. Eu estou prosseguindo; se vocês quiserem continuar, terão que voltar e se unirem comigo do ponto onde vocês se desviaram.”

Eu penso que é perfeitamente claro que os dois aspectos de qualquer crise são sempre esses; e a crise portanto, frequentemente, é a de deixar todo um regime ( o que eu tenho chamado de metodologia, ordem, desenvolvimento), deixá-lo completamente, deixando-o para trás e caminhar com Deus tudo novamente, caminhar com Deus em um novo terreno, o qual está completamente em conformidade com a Sua vontade. Essas são as coisas envolvidas nessas crises. Este é o método de Deus. Eu creio que Deus quer nos mostrar esta semana algo da presente crise no Cristianismo, e, se isto parece muito objetivo, então vamos dizer simplesmente que o Senhor quer nos mostrar a presente crise, em sua vida e na minha, em relação ao Seu plano original.

O VERDADEIRO DISCERNIMENTO ESPIRITUAL: CONHECER POR EXPERIÊNCIA

Temos que incluir aqui que os homens realmente nunca aprendem alguma coisa teoricamente. Você não irá aprender algo por meio de volumes e mais volumes de palavras sendo despejadas sobre você a partir deste púlpito durante esta semana. Então, você pode perguntar, “Por que vir aqui; por que vocês nos falam?” Não, realmente você não irá aprender coisa alguma com tudo isto aqui: eu digo: aprender de fato. O homem realmente nunca aprende nada, exceto por meio da experiência. Saiba disso; sublinhe isso. Deus sabe disso, e esta é a razão do porque Ele ser tão prático. É por isso que Ele irá investir anos e anos, séculos, três ou quatro milênios, levando isso em conta, de que os homens não aprendem nada por meio daquilo que lhes é falado: mas apenas por meio da experiência. Isto é, eles precisam ter uma história com Deus, sob as mãos de Deus, antes de aprenderem alguma coisa.

Você pensa que sabe alguma coisa? Como você sabe? Como você chegou a conhecer? Participando de conferências? — Não, pode haver uma terrível tragédia ao longo dessa linha. Sei de pessoas que tiveram os melhores ensinos por muitos e muitos anos, _ 20, 30, 40 — as outras pessoas dificilmente poderiam ter tido mais ensino do que elas tiveram, porém ao final, desistiram de tudo. Elas sabiam tudo. Diziam: “Sabemos tudo. Você não pode nos falar mais nada além do que já sabemos.” Assim, você pode vir aqui ano após ano e achar que sabe. Bem, como você sabe? Deus sabe que nós realmente não sabemos nada, a não ser por meio de uma história, por meio de uma experiência. Isto parece muito simples e elementar, mas precisamos chegar a esse ponto: estamos vindo para este ponto de compreensão espiritual dos tempos, nossos tempos, e saber “O que Israel deve fazer”.

Agora devo chamar a atenção para duas palavras gregas do Novo Testamento. Eu me esforcei em percorrer todo o Novo Testamento com essas duas palavras gregas; e eu tive uma surpresa, após alguns bons anos estudando o Novo Testamento, ao descobrir que tinha um monte de anotações cheio de referências sobre essas duas palavras, ambas traduzidas para o Inglês como a palavra “conhecer”. Contudo, essas duas palavras Gregas são completamente diferentes, em dois campos inteiramente diferentes. Uma palavra significa “conhecer por meio de informação”. Você sabe porque alguém te disse. Você ouviu sobre aquilo, você leu a respeito, e é assim desta maneira que você sabe. A segunda palavra grega para “conhecer” é uma palavra inteiramente diferente que significa, “você tem uma experiência pessoal com aquilo” e você conhece algo porque aquilo operou algo em você e se tornou parte de você. É a sua história, sua experiência. É a sua vida _ é você.

O Novo Testamento pode ser dividido por essas duas palavras. Por exemplo, “conhecer”:— “Esta é a vida eterna, que conheçam a Ti”, não por informação, mas a palavra aqui é “experiência” — Ter uma experiência com Deus. — Isto é vida, é algo muito definido. Eu não devo discorrer sobre isso, mas apenas indicá-lo e salientá-lo, porque o nosso Novo Testamento está construído ao redor dessas duas palavras, as quais são dois diferentes tipos de conhecimento. E aqui nós estamos com Isacar que “tinha conhecimento do que Israel devia fazer”.

Agora, temos dito que a Bíblia está anotada por marcas de tempo, e que somos trazidos com o Novo Testamento para uma nova marca de tempo ou crise. E tudo para você, para mim, para todo o povo de Deus, vai realmente depender se temos este discernimento espiritual, esta compreensão, este conhecimento espiritual, este segundo tipo de conhecimento do qual nos referimos _ do que Deus realmente está fazendo agora; o que Ele está trabalhando hoje; não em geral, mas em particular.

Oh, se apenas esta semana pudesse levar todos nós para esse tipo de discernimento, então isto seria mais do que uma conferência bíblica de palavras e ensino. Haverá tremendas questões que proporcionam uma crise. E deixe-me dizer de uma vez: Espero que você esteja aqui para uma crise; e espero que você esteja preparado para ser subvertido de cabeça para baixo, preparado para deixar todo um regime se Deus disser: “Basta com isso”, e para realmente abraçar Seu atual método e se engajar nisso. Espero que esta seja a sua posição, porque você irá ser achado nisso, à medida em que prosseguirmos com esta importante questão e compreensão, especialmente e inclusive do que realmente aconteceu quando o Filho de Deus, Jesus Cristo, entrou na história, quando Ele veio a este mundo. Estou convencido, caros amigos, que muitos e muitos cristãos hoje compreendem o que realmente aconteceu quando Jesus veio a este mundo, e é sobre isso que iremos gastar horas e horas, confiando que o Senhor nos abra o entendimento.

Três Ciclos (Fases) em Relação a Cristo

Como você vê, a vinda de Jesus Cristo a este mundo dividiu a história ao meio. De um lado foi dito: “Fim”, e do outro foi dito: “Começo”. Uma grande e imensa divisão está representada pela entrada na história de Jesus Cristo, e nós temos que entender esta divisão.

Tem havido, naturalmente, três ciclos em relação a Cristo. Primeiramente, tem havido o ciclo histórico. Quando vim ao Senhor pela primeira vez, e fiquei interessado nas coisas de Cristo, foi o tempo quando tudo consistia do Jesus histórico. O Jesus da Palestina, o Jesus de Belém, de Nazaré, de Cafarnaum, de Jerusalém, Jesus do monte fora de Jerusalém, chamado Calvário, Jesus do Getsêmani, o Jesus dos três anos e meio, ou de trinta anos, _ o Jesus da história. Todo mundo estava interessado nisso: isto é o que nos atraía. Não há nada errado, naturalmente, com isso; isto é muito bom. Esta foi uma fase, e pode ser ainda a fase de alguns, mas então aconteceu uma mudança, e passamos para o que podemos chamar de a teologia ou doutrina de Cristo. Muito foi aprendido sobre a Pessoa de Cristo, o nascimento virginal, a Deidade, a Soberania, e tudo do que é chamado de ‘os fundamentos da fé em Cristo Jesus’. — a teologia e a doutrina de Cristo. E, opinião minha, que fase foi essa! Que tremenda polêmica a Pessoa de Cristo tem sido.

Não há nada de errado com essa segunda fase. Não há nada de errado em se ocupar com a Pessoa, a Deidade, a Filiação Eterna, tudo isso é muito bom, mas você precisa prosseguir, porque isso não é tudo. Sua teologia não irá valer quando você entrar no campo dos terríveis conflitos espirituais, quando sua fé for abalada desde a raiz. Você pode ficar comovido com tudo o que “conhece”. Mas isso não irá permanecer. O povo de Deus não irá resistir à última crise se apoiando na teologia, na doutrina cristã, embora isso possa ser fundamental. Mas não podem resistir apoiados apenas nisso.

Aí estão as duas fases. Elas podem se dar simultaneamente, ou podem ser mais ou menos definidos como períodos. Contudo, há uma outra, uma terceira, que é a última, que é a suprema. É com esta fase que estaremos ocupados durante esta semana. É a fase espiritual. Assim, você pode ter a fase histórica e a teológica sem, contudo, ter a espiritual; e embora você possa ter essas duas fases, porém, se não tiver a fase espiritual, então você não irá sobreviver. Você não tocou no coração da grande divisão, a grande mudança que aconteceu com a vinda de Jesus Cristo. É a vida espiritual de Cristo que importa, e não a histórica. É o entendimento espiritual de Cristo e não o teológico que interessa. Mas, se você não entender isto ainda, acompanhe-nos, porque estaremos entrando nesse assunto na seqüência.

A Revelação Espiritual de Jesus Cristo Interiormente

Essas três fases são claramente reconhecidas, e nós temos chegado à última, à revelação espiritual de Jesus Cristo em nosso interior pelo Espírito santo _ Supremo, Absolutamente Essencial, Indispensável. Como dissemos: Deus, quando Ele se move, (e Ele está se movendo agora sobre esta linha, se você puder discernir isso) Ele se move para frente, mas agora Ele está se movendo para trás. E, se você puder se lembrar do que falamos anteriormente, verá quão verdade é que Deus está se movendo para trás, a fim de poder avançar novamente.

Sobre o que está baseado o Novo Testamento? Na vida Histórica de Jesus? Não. Na vida teológica de Jesus? Não. Tudo isso está lá. Isso é fundacional; contudo, a verdadeira raiz do cristianismo, esta nova dispensação, crise, e movimento, a real raiz do cristianismo está reunida nas palavras do apóstolo Paulo, que representa em si mesmo, em sua experiência, em sua história com Deus, a natureza desta dispensação; e nas palavras simples, mas profundas, resume tudo: “Aprouve a Deus,... revelar o Seu Filho em mim”. Isto é algo mais do que a experiência objetiva na estrada de Damasco. Este foi o ponto decisivo na grande crise. Isto foi um impacto sobre Paulo de um significado que era pra iniciar, então, e se desdobrar pelo resto de sua vida. “Aprouve a Deus, ... revelar o Seu Filho a mim”. É isso. Não revelar Seu Filho para mim, mas em mim.

O que Paulo mais tarde escreveu foi citado aqui na última noite. “Que o Deus do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, lhes conceda um espírito de sabedoria e revelação no conhecimento (nossa segunda categoria de palavra, porém com um prefixo: no pleno conhecimento) Dele”. Um espírito de sabedoria e revelação no pleno conhecimento Dele, de Jesus Cristo. Isto é interior: no mais profundo do nosso ser, Deus nos fez ver, e ver o significado de seu Filho, Jesus Cristo. _ É daí que vem o cristianismo, o verdadeiro cristianismo, e qualquer coisa menos do que isso é um cristianismo perigoso. Perigoso para o indivíduo em questão, e perigoso para a igreja. Isto é o que eu quero significar com crise espiritual, o aspecto espiritual, acima e além, é mais do que uma doutrina histórica ou teológica. O espiritual: a revelação de Jesus Cristo no interior.

Somente o Senhor Jesus pode fazer isto. Todos nós precisamos orar ao Pai da Glória para que Ele faça isso. Mas isto pode ser feito, e pode ser feito aqui. Pode ser feito, para que saiamos deste lugar dizendo: “Eu tenho visto”. Eu não posso mais ser a mesma pessoa. Todo um regime é deixado para trás, e uma ordem inteiramente nova chegou para mim. Eu saí de algo e entrei em outro, e estou vendo. Estou vendo Cristo. “Este é o ponto central, caros amigos, da mensagem que trago a vocês.

O Grande Divisor: A Cruz

A Bíblia está dividida em duas partes principais, o que chamamos de Velho Testamento e o Novo Testamento; mas, note, é mais do que uma divisão de livros _ Gênesis a Malaquias, compreendendo muitos livros, metade da Bíblia; e, de Mateus a Apocalipse, outros tantos livros, ficando assim a Bíblia dividida em duas partes. Oh, é muito mais do que uma divisão de livros. É uma grande divisão: uma divisão espiritual.

Os quatro Evangelhos, _ o que eles realmente significam? Primeiramente, eles introduzem uma Pessoa que em Si mesma é a crise, e que carrega e faz com que ocorra a crise, e muda a dispensação em sua totalidade. Os Evangelhos introduzem a Pessoa que faz, e que é isso: esta é a crise de Cristo.

Mas você percebe, naturalmente, que todos os quatro Evangelhos, embora sejam diferentes nos detalhes do conteúdo, todos apontam diretamente para a cruz. Cada um deles tem esta característica em comum, não importa que haja outras diferenças, todos eles têm isto em comum: culminam na cruz. A Pessoa da crise é introduzida, e a crise em si é a crise da cruz. A Cruz é a crise da mudança que veio com a Pessoa. E é para esta Pessoa que ela aponta: aqui está a Pessoa, aqui está a Sua vida e caminhada terrena, trabalho e ensino, mas nada disso pode ter valor algum para você enquanto a Cruz não for colocada sobre tudo isso. Você pode saber tudo o que há sobre a vida histórica e teológica de Jesus, mas nada irá acontecer até que tudo aquilo que está nos Evangelhos seja trazido para a Cruz, e a Cruz realize a crise da Pessoa.

O resultado e a questão é que entre as duas divisões da Bíblia, entre o Velho Testamento e o Novo Testamento, lá está a Cruz. É exatamente lá que você tem que colocar a Cruz. Entre Malaquias e Mateus, no que diz respeito aos livros (e eu não estou falando da ordem cronológica da Bíblia, mas sobre o seu entendimento espiritual ), no que diz respeito aos livros, você tem que colocar a Cruz lá, — porque de um lado da Cruz, tudo o que vem antes e vai até Malaquias, tudo de Gênesis a Malaquias diz: “Não mais, não mais. Acabou! ” E, então, daquele ponto em diante, de Mateus ao Apocalipse, esse lado da Cruz diz: “Sim, todas as coisas são novas!”

Se eu tivesse que ilustrar, desenharia uma grande Cruz com uma linha fina do topo ao fundo, não apenas desenharia esta linha sobre a Cruz, mas começaria desenhando a linha acima da Cruz, do céu através da Cruz para o maligno, uma linha grossa — não há terra _ e então, de um lado da Cruz escreveria uma palavra, uma palavra grande e compreensível, “NÃO” tão grande quanto a Cruz. E do outro lado da Cruz, o lado da frente da Cruz, colocaria uma outra palavra, “MAS”.

“Não” — “Mas”

Agora, irmãos, como já dissemos anteriormente, adquirir esta experiência pode demorar o resto de sua vida. Como você pode ver, essas duas palavras governam todo o Novo Testamento; e, se você se interessar em fazer um estudo mais aprofundado e analítico do Novo Testamento a partir desta ótica, sublinhando cada ocorrência onde essas duas palavras são colocadas juntas, então terá uma imensa e nova compreensão(revelação) do significado de Cristo, e da diferença que Ele fez, da grande divisão.

O “não” e o “mas” se aplica a tudo. Aplica-se ao início da história cristã no indivíduo. Abra o Evangelho de João. Onde você se encaixa? “os quais nasceram, não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” Aqui está o seu grande “Não”—“Mas” já no início; e se eu prosseguisse em mostrar a você como isto se aplica a tudo no Novo Testamento [e nós estaremos falando sobre isso mais tarde, em suas particularidades] você veria a Cruz, com o seu grande divisor. Este é o grande “Não” de Deus _ ah, mas na ressurreição, e lembre-se de que a ressurreição é sempre positiva, o “MAS” é positivo.

A palavra “nem” é apenas uma outra palavra para “não”: “Porque em Cristo nem a circuncisão é alguma coisa, nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criatura(criação)”— “Não–Mas,” e assim você poderia prosseguir. É maravilhoso como essas duas palavras abrem tudo e nos dão um “vislumbre” daquilo que vem a nós, e o que temos recebido com a vinda de Jesus Cristo. E aqui está a grande divisão _ com a Cruz situada entre os dois Testamentos, lá no final de Malaquias [o qual é um livro trágico, do fracasso de todas as coisas no passado] e, no início de Mateus, [que é um livro de esperança, de luz, de vida, de tudo novo]. Com esta divisão está o grande “MAS” de uma nova ordem de coisas: é o fim de um sistema e o começo de um outro completamente novo. A Cruz do Senhor Jesus escreveu essas duas palavras sobre toda a história coberta pela Bíblia. A Bíblia foi colocada para compreender a história humana, e a história humana está compreendida nessas duas palavras: “Não”–“Mas.”

Agora, há algo aqui que devo dizer, e espero que seja muito proveitoso. A Cruz é uma coisa muito prática. Para Deus, a Cruz não é uma doutrina, ou apenas uma doutrina, do caminho da salvação, do caminho da redenção. A Cruz não é apenas uma teologia de reparação, e todo esse tipo de doutrina; e ela certamente não é apenas algo histórico representado pelo crucifixo. A Cruz é algo extremamente prático para Deus, que veio para fazer real essa divisão; e, embora você possa saber tudo a respeito da mensagem da Cruz, (ou acredite assim o conheça), embora você possa estar cheio do ensino da Cruz, o teste real do conhecimento que você possui sobre a Cruz é onde esta divisão foi colocada em você, onde a Cruz resulta num abandono total de um regime, sistema ou ordem.

Oh, eu sei que você diz: “A Cruz significa que eu deixei o mundo e as coisas do mundo.” Oh, é tolice falar dessa maneira. Você realmente não sabe o que você tem que deixar para trás. Contudo, você irá aprender debaixo das mãos de Deus o que a Cruz significa sobre a eliminação, o deixar de lado, cada vez mais de lado, daquilo que pertence à velha ordem. Nós estamos chegando a isso, em Hebreus. Estamos entrando nesta carta aos Hebreus, e você irá chegar a uma frase que você conhece: “Saiamos, pois a Ele fora do arraial, levando o Seu opróbrio”. O que isso significa para você? “fora do arraial”.

Leva bastante tempo para aprender o que isto significa, e isto significa passar por algumas experiências literalmente terríveis e devastadoras em nossa vida da alma. Esta é a obra da Cruz. Como você vê, a Cruz é algo tremendamente prático, que força uma passagem, tornando-a cada vez mais ampla, à medida em que prosseguimos; o fato é quanto mais nos movemos [queiramos ou não] para dentro de uma compreensão espiritual, e da apreensão do significado de Cristo, achamos-nos mais e mais sozinhos, no que diz respeito a muitos cristãos, e certamente no que diz respeito ao sistema tradicional do Cristianismo.

Agora, para trazer esta introdução preparatória para mais perto, permita-me novamente voltar ao ponto inicial, e dizer que o progresso na vida e o propósito de Deus depende do discernimento espiritual [ao qual esta carta aos Hebreus tem a ver, em sua totalidade; lembra o que ela diz?: “—“Saiamos ... ”— esta é uma das palavras chaves, frases chaves, de toda a carta. “Saiamos pois — fiquemos atentos, prossigamos para a perfeição”]. O que estou dizendo é que o progresso na vida e propósito de Deus, para o indivíduo e para a igreja, depende (e se você esquecer tudo mais, escreva isto) do discernimento espiritual, este tipo de conhecimento espiritual e entendimento, assim como da natureza desta grande mudança que veio com o Senhor Jesus. _ Discernimento _ !

Conhecimento Espiritual dos Tempos

Voltemos agora, por um instante, à nossa passagem do Velho Testamento em 1 Crônicas 12, para analisar o capítulo. É um novo movimento, uma crise, um ponto de virada. Davi está lá fora, no campo. Ele se encontra numa área desabitada, numa caverna; e agora estão vindo a ele homens de diversas tribos, somente os mais valorosos, apenas alguns, uma espécie de remanescente de Israel, vindo a ele, fora no campo. Neste capítulo estão descritas as várias características desses homens, homens valorosos, de coragem, de grande força, hábeis na arte da guerra, homens que estão engajados com toda a sua força, pois está escrito: “Esses vieram com um coração perfeito.”

Muito bem, aí estão todos esses homens, que se ajuntam a Davi, que possuem essas qualidades todas; e, então, bem lá no meio do grupo estão os homens de Isacar, que tinham o conhecimento dos tempos, e conheciam o que Israel devia fazer. Bem no coração deste novo movimento de Deus, que é um movimento de reconquista, existe um contraste, uma coisa impressionante: “homens que tinham conhecimento dos tempos, para saber o que Israel devia fazer” E eu me arrisco a sugerir que, apesar de toda a força daqueles outros homens, com todos os seus músculos, com toda a sua força física, porém para os homens de Isacar estaria faltando algo que poderia prejudicar todo o movimento. Creio que isto está colocado lá para mostrar que, com tudo isso que está sendo feito, (com tudo o que é correto e bem intencionado) a coisa que deve estar no coração de tudo é o conhecimento espiritual, o discernimento espiritual, _ homens que sabem qual o significado deste tempo; homens que têm conhecimento dos tempos e o que isto significa.

Oh, isto não é algo que simplesmente está acontecendo, que os homens estão fazendo. Não, isto possui um significado _ um significado profundo, Divino; e aqueles homens compreenderam isso. Eles entenderam o significado do tempo presente; e porque haviam entendido, sabiam o que Israel deveria fazer. Você não sente que isso é importante? Que é vital?! Bem, o que os homens de Isacar realmente entenderam? O que foi isso que eles entenderam que Israel deveria fazer? Pare e reflita. Olhe para o contexto novamente. Naturalmente, é um contexto histórico em ilustração, mas é espiritual em princípio, e a resposta para aquilo nesta dispensação está na Carta aos Hebreus. Onde você lê isso em Hebreus? “Havendo Deus antigamente falado de várias maneiras, hoje nos fala através do Seu Filho, o qual é o Herdeiro de todas as coisas.”

Isto nos trás de volta para o que Israel devia fazer, em relação a Davi, e porque eles deviam fazê-lo. Vamos a Davi. O escolhido de Deus; uma escolha soberana, uma eleição de Deus, um Rei escolhido por Deus, o princípio da autoridade celestial de Deus entre o povo de Deus _ Davi significa tudo isso. Aqueles homens sabiam que Israel devia voltar para Davi e colocá-lo no lugar para o qual ele tinha sido ungido por Deus.

Agora isto é simples, em linguagem, mas não se esqueça que isto representava algo. Você ainda tem Saul vivo, ainda tem o antigo regime de Saul. Ele ainda não está morto, tem os seus quarenta anos de governo, e, palavra minha: ‘Que problemão para Israel!’ Quanto a Davi, ele é um homem de Deus, um homem ungido por Deus, mas que não está ocupando o seu lugar plenamente; está caminhando para isso; mas este é o método de Deus. Voltemos para a Carta aos Hebreus. Qual é o movimento, o último movimento, o movimento pleno, que abraça todas as partes, os fragmentos, e compreende tudo e que faz com que tudo seja final? — Plenitude e Finalidade são as palavras para descrever a Carta aos Hebreus: é um movimento de Cristo com uma compreensão espiritual do que Ele é, de quem Ele é, o que Ele representa no Universo de Deus _ é uma apreensão espiritual de Cristo.

Oh, as palavras parecem tão completas, não parecem? Talvez a familiaridade roube delas um pouco da sua força, mas caro amigos, tudo para o Cristianismo, por destino, depende agora de uma adequada compreensão do significado de Jesus Cristo, na ordem Divina das coisas. E isto será devastador para todo um sistema, para o chamado sistema Cristão. Isto também é devastador para você e para mim. A coisa irá se desintegrar. Talvez você não entenda o que eu quero significar. Sim, vai haver um grande “NÃO” de Deus escrito sobre todo o Sistema Cristão. E os homens, embora não sejam sábios quanto a isso, eles fortemente percebem, cada vez mais, que têm que fazer alguma coisa para manter o Cristianismo intacto. Acredito que todo o movimento ecumênico é um tremendo esforço para salvar o Cristianismo do colapso. O Conselho Mundial das Igrejas está para colocar o Cristianismo sobre uma bengala e salvar sua reputação. Os homens estão fazendo isso, estão fazendo um tremendo esforço, porque há aqueles que estão dizendo que o Cristianismo já teve o seu dia, e não mais significa alguma coisa. E você pode dizer que isto é infidelidade, que é apostasia, mas, caros irmãos, não cometam nenhum erro _ se vocês prosseguirem com Deus, chegarão a experiências espirituais onde serão testados em cada ponto de suas vidas cristãs, para ver se ela realmente é válida, se irá suportar a situação, se vocês conseguirão passar adiante. Sim, nas coisas que vocês mais fortemente acreditam e pensam que conhecem bem, vocês serão testados. Não cometam nenhum engano sobre isso _ o tempo pode vir em suas vidas quando vocês serão tentados a questionar as realidades mais profundas de suas convicções do passado.

Há homens e mulheres que irão passar por isso hoje. Eu penso que alguns daqueles que gastaram longos anos na prisão, por causa de Cristo, e eu leio o que eles escreveram antes, e sou obrigado a dizer: “Será que essas pessoas continuam crendo agora?” Será que elas se apegam às suas convicções agora? Será que essas convicções estão fazendo com que elas consigam passar por esta experiência hoje? É uma afirmação tremenda que elas fizeram sobre a total suficiência de Cristo, e assim por diante, mas será que isso permitirá que eles consigam passar pela prova?” Creio que elas irão conseguir porque Ele é o Senhor, porque o coração está correto para com Ele; mas, observe, eu simplesmente digo que esta grande questão do real significado da nossa fé, de nosso cristianismo, será colocado à prova. Será revelado, então, se é uma tradição cristã, se é uma doutrina cristã, se é uma teologia cristã, o sistema cristão geralmente aceito, ou se é Cristo!! Seremos reduzidos a Cristo, seremos levados ao lugar onde vamos dizer: “Tudo o que restou (após todo o meu aprendizado e ensino cristão, e obra cristã) foi o Senhor! Mas será isso uma posição fatal? — Absolutamente! Você sabe da velha mulher no navio, não sabe? Numa tremenda tempestade, ela olhou para o capitão e disse: “Capitão, vamos nós afundar? É o fim?” O Capitão respondeu: “Seria melhor que você orasse”. E ela disse: “ Oh! Chegou a esse ponto?” Sim, nós iremos naufragar sobre Cristo e, então, será descoberto se estamos ou não debaixo do “Não” ou do “Mas”.

Vamos orar...

Agora, Senhor, Tu és quem interpreta, quem explica, e dá entendimento. Nossa reação a tudo isso é _ esta carne não pode. Nós, em nós mesmos não podemos. Sabemos disso, mas Tu és suficiente. Os nossos corações estão abertos para Ti. Senhor, nós confiamos, e estamos realmente voltados para Ti. Use este fraco ministério para nos dar interpretação de futuras experiências em Tuas operações conosco, os Teus caminhos misteriosos. Oh, Senhor, abra os nossos olhos e nos dê uma compreensão espiritual, nós pedimos em nome do Teu Filho, Amem.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.