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O Persistente Propósito de Deus

por T. Austin-Sparks

Capítulo 7 – O Mensageiro Precisa Ser Uma Personificação Da Sua Mensagem

Voltemos novamente às profecias de Ezequiel. Há uma grande porção deste livro com a qual nós não seremos capazes de tratar em detalhe, assim, precisamos encontrar uma maneira mais abrangente de tratar disso. Acho que esta maneira seria olharmos para os três títulos diferentes pelos quais Ezequiel era chamado. Talvez vocês tenham observado que, nessas profecias, Ezequiel tinha três títulos diferentes, e esses três títulos reúnem em si mesmos toda esta ampla seção do livro - (1) "filho do homem", (2) "atalaia”, (3) "eu sou o seu sinal".

"Filho Do Homem"

O primeiro desses três títulos é “filho do Homem”. Olhem para os capítulos dois e três:

E Ele me disse, filho do homem... (2:1);
E ele me disse, filho do homem... (2:3);
E Ele me disse, filho do homem... (3:1);
E Ele me disse, filho do homem... (3:3).

E assim segue através do livro todo. Este é um dos títulos principais do profeta. Talvez vocês gostassem de percorrer o livro, a fim de observar quantas vezes aparece a expressão ‘filho do homem’.

Observamos, então, no início, que este título era usado peculiarmente ao profeta Ezequiel. Nenhum outro profeta foi chamado por este nome desta mesma maneira. Isto marca Ezequiel de uma maneira especial. Sabemos que o Senhor Jesus escolheu para Si mesmo a expressão “Filho do Homem” como Seu título favorito, mas nós não devemos pensar em Ezequiel da mesma maneira. Em relação e este título, Ezequiel foi único entre os profetas, mas Jesus, como O Filho do Homem, foi único entre todos os homens. Assim, sejamos cuidadosos para não confundirmos os dois títulos "filho do homem” e “O FILHO DO HOMEM”. Se há alguma relação ou similaridade, é na função, e não na pessoa. Este é o ponto que iremos considerar.

Vimos que, assentado no Trono, havia a semelhança de um homem, e, também, vimos que a característica predominante dos querubins era a de homem. Portanto, tomamos nota deste lugar de homem no livro; é uma idéia especial. Nós também sabemos que homem significa representação, aquele que fala por Deus. Homem não é apenas uma pessoa, ele é uma idéia Divina. Há um Homem sobre o Trono, mas ele não é apenas uma pessoa, é, também, uma idéia Divina. O propósito de Deus ter criado o homem foi para que esse homem pudesse representá-lo. "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". O homem é o pensamento mais pleno de Deus. O pensamento final de Deus.

Na criação, a última coisa que Deus criou foi o homem, sujeitando todas as coisas a ele. Após Deus ter feito o homem, pronunciou o Seu veredicto e, então, descansou. Quando Deus tem o homem em conformidade com o Seu propósito, então Ele pode dizer a respeito de todas as coisas criadas: “É muito bom”; e, então, repousa. Deus só descansa quando tem o homem conforme o Seu Propósito.

Mas isto não é o fim de tudo. À esta altura, Deus olha para a reprodução. Ele diz ao homem: "Sede fecundo e multiplicai, e enchei a terra”. E a lei da criação era que tudo deveria se reproduzir “conforme a sua própria espécie”. As coisas jamais foram planejadas para mudarem de forma, antes, a todas as coisas foi dada uma forma definitiva e distinta. Foi um tipo de criação, e tudo deveria se reproduzir segundo a sua espécie.

Deus criou o homem, e, antes que o homem caísse, Deus disse: “Sede fecundos e multiplicai”. A idéia de Deus era que o homem não caído se multiplicasse e enchesse a terra. Mas o homem caiu, e a terra foi povoada por um tipo de homem que Deus jamais planejou. Por isso Deus coloca um limite à vida humana; Deus fixou o número dos dias do homem, para que ele não continuasse a viver indefinidamente. Acho que vocês entendem a partir disso que o plano de Deus é ter um homem segundo o Seu próprio coração. Jesus foi esse homem, de forma completa; por isso Ele é “O Filho Do homem”, e, em certo sentido, Ele foi o ÚNICO filho do Homem.

Assim, o princípio de humanidade é resgatado para o povo de Deus, e é exatamente aí onde Ezequiel entra. Não é a pessoa, mas a função, o princípio; assim, este “filho do homem” fala de duas coisas. Significa trazer à vista o pensamento e o padrão original de Deus. Este era o princípio que o Senhor estava querendo realizar em Israel. Israel é um homem aos olhos de Deus, mas, neste livro de Ezequiel, Israel não é o homem desejado por Deus. Neste livro, Israel é um homem desfigurado, e Deus está se movendo neste princípio de humanidade, a fim de recuperar a idéia original em Israel. Mais tarde iremos descobrir que Deus não pôde realizar isto em Israel em plenitude, por isso Ele buscou realizar o propósito no remanescente. Mas o Velho Testamento se encerra com esta idéia de completo fracasso em Israel.

Quando vamos ao Novo Testamento, encontramos a nós mesmos diante de um novo homem, isto é, o homem corporificado, que é a Igreja. Mas não iremos falar disto esta manhã; ficaremos apenas com o princípio. Em princípio, “filho do homem” significa falar do pensamento e do padrão original de Deus. Vocês precisam reconhecer que isto é a chave para todas essas profecias. O que tudo isso significa? O que todo este livro significa em todas as suas partes? Bem, o título “filho do homem” está espalhado por todo o livro, e significa que o projeto principal de Deus é esta concepção de homem conforme o Seu coração. Se Deus envia este homem coletivo para o cativeiro, significa que este homem não pode mais permanecer diante dEle. Deus precisa de outro tipo de homem. A grande ilustração disso, naturalmente, é o vale de ossos secos – trazer da sepultura em Babilônia um novo homem, com um novo coração, e um novo espírito.

Acho que isto é suficiente para indicar o significado do título. Deus está se movendo, a fim de recuperar o Seu plano original. Este plano se perdeu. É isto o que Paulo quis dizer quando chamou Timóteo de “homem de Deus”. Seu apelo a timóteo foi, “ó, homem de Deus” – é isto o que Deus procura.

Precisamos assumir isto em relação ao nosso ministério, e isto nos faz perguntar o seguinte: O que estamos fazendo aqui?” Qual é o significado do nosso ministério?” É para que Deus tenha este homem corporativo, conforme a Sua própria vontade. Este é o significado de Efésios, capítulo quatro:

“Até que todos cheguemos à unidade da fé, e do conhecimento do Filho de Deus, à medida da estatura completa de Cristo”.

Deus está trabalhando na direção deste homem corporativo. Devemos nos lembrar de que a idéia de Deus é um homem. Quero enfatizar isto porque muitos parecem pensar que o projeto de Deus é uma organização, uma instituição, alguma coisa chamada de igreja, uma forma de fazer coisas, um determinado ensino – todo um sistema – e Deus não está atrás disto. Deus não está atrás da Igreja simplesmente como Igreja. O objetivo da Igreja na mente de Deus é que ela seja a expressão de Cristo! A Igreja é o Corpo de Cristo. Não é um sistema de ensinamentos. Não é uma forma especial de prática. É um Homem. É Cristo em expressão corporativa! Nós vamos chegar a isso mais adiante, neste livro de Ezequiel, porém, assumimos aqui este princípio. É uma coisa muito importante para nós reconhecermos este Homem corporativo!

Assim, este ‘homem-princípio’ fala de três coisas. Primeiro, uma apresentação – Deus apresenta o Seu projeto, e, então, uma representação de algo que expresse este projeto pretendido, e, então, uma declaração, uma pregação a respeito daquilo. A coisa é apresentada como um pensamento Divino, e, então, ela é representada num Corpo, e, a partir daí vem a mensagem.

Vocês captaram essas três coisas, irmãos? Primeiro temos a visão: o Homem é apresentado. Vocês têm o Homem no trono. Vocês captam a idéia de Deus. E a idéia de Deus é a humanidade, humanidade com determinado caráter. A partir daí, Deus tem uma representação daquilo que corporifica a Sua idéia, e só então surge a mensagem. Nós não podemos inverter a ordem, pregando primeiro. Primeiramente precisamos ter enxergado a visão, e, então, precisa haver uma expressão dessa visão. Tem que haver algo para o qual possamos apontar e dizer: ‘É isto’. A mensagem precisa sair de algo que realmente exista e esteja em conformidade com a mente de Deus.

Acho que não preciso me delongar mais aqui, mas vocês sabem, isto se aplica primeiramente a Cristo. Vocês precisam primeiro ter visto o Senhor, e, então, isto tem que ter produzido algo em vocês, de modo que a coisa não seja apenas objetiva e abstrata, mas sim que o Senhor tenha realmente realizado algo em vocês. E, então, dessa experiência, surge o ministério.

O mesmo se aplica à Igreja. Primeiro deve haver uma revelação da Igreja, e, então, deve haver uma representação dela, da qual resulta uma expressão definitiva da Igreja – a mensagem surge daí. É quase impossível pregar a verdade sem que haja algo por detrás. É essencial que possamos dizer: “Isto funciona”, e eu posso mostrar que funciona". Isto se tornará mais claro quando chegarmos à nossa próxima consideração, em Ezequiel, mas espero que vocês tenham assimilado esta primeira idéia, o princípio implícito neste primeiro título, “Filho do Homem”. Há muito da Mente de Deus neste título.

"Um Atalaia”

Agora vamos para o nosso Segundo título de Ezequiel. No capítulo três, versículo dezessete, está escrito: “Filho do homem, Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel.

"E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, fala aos filhos do teu povo, e diz a eles: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um homem dos seus termos, e o constituir por seu atalaia, e vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo; se aquele que ouvir o som da trombeta, não se der por avisado, e vier a espada, e o alcançar, o seu sangue será sobre a sua cabeça. Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado, o seu sangue será sobre ele; mas o que se dá por avisado salvará a sua vida. Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, porém o seu sangue requererei da mão do atalaia. A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca, e lha anunciarás da minha parte”. (Eze. 33:1-7).

O segundo título de Ezequiel é “atalaia”. Esta idéia não é uma peculiaridade de Ezequiel. Temos a figura do atalaia em outros profetas, ou, vamos dizer, temos a função do atalaia em outros profetas. Habacuque 2:1 diz, "Sobre a minha guarda estarei”: esta é a função do atalaia. Em Isaías 21:11 está escrito: "Sentinela, que houve de noite?" Assim, novamente temos a função, porém, ninguém mais foi chamado exatamente de atalaia, exceto Ezequiel. E, como vocês têm observado, este título foi aplicado a ele no início do seu ministério, e, mais tarde, em sua nova comissão.

Agora, este título e esta função não precisam nos prender por muito tempo. Apenas façamos a nós mesmos a seguinte pergunta: “qual é a função do atalaia?” Primeiramente, a função do atalaia é a de conhecer e declarar o tempo. Esta idéia sempre esteve associada ao atalaia. Até mesmo em nossos tempos, isto é verdade. Não sei se isto também é verdade na China, ou em outras partes do mundo, mas até bem pouco tempo, isto era verdade na Grã Bretanha. No interior do país, o atalaia circulava a certas horas da noite e tocava a sua trombeta, ou o seu sino, e falava a hora. Ele tocava o sino e dizia: “São cinco horas da manhã”. Esta idéia está em Isaías, capítulo 21. Alguém está perguntando: ‘atalaia, que houve de noite?” E o atalaia responde: “Vem a manhã, e também a noite” A primeira coisa sobre o atalaia é que ele deve conhecer o tempo – ele precisa saber que horas são no propósito e na obra de Deus.

Há muitas pessoas que estão bastante confusas em relação a esta questão. Elas estão tentando fazer um monte de coisas fora do tempo. Há pessoas que ficaram confusas nas dispensações sobre isto. Nesta dispensação, Deus está fazendo algo especial. Há uma coisa em particular que marca esta dispensação no propósito de Deus, e é da maior importância que vocês e eu saibamos o que é isto que pertence a esta dispensação.

Há toda sorte de sistemas de ensino que nada tem a ver com o propósito desta dispensação. São muito interessantes, pode haver alguma verdade neles, porém, não estão alinhados ao propósito específico de Deus para esta dispensação. Não vou tomar o tempo de vocês esta manhã para ilustrar o que estou querendo dizer, embora pudesse falar de diferentes sistemas de verdade que têm tirado as pessoas do propósito específico de Deus para os nossos dias. Não é uma questão de quanto de verdade, ou quanto de erro há no sistema. A questão real é: “É isto o que Deus está procurando agora, nesta dispensação?” Vocês podem detectar o erro por meio do seguinte – o tal sistema tem alguma coisa a ver com este mundo? Se tiver, então não é o que Deus está fazendo nesta dispensação. Deus não está mais interessado em fazer coisa alguma neste mundo, nesta dispensação; está, sim, tirando do meio das nações um povo para o Seu nome. Ele está edificando algo no céu durante esta dispensação. Se o assunto for Israel, ou qualquer outra coisa, este não é o interesse de Deus nesta dispensação; e qualquer coisa que tenha a ver com este mundo não pertence a esta dispensação. Este é o porquê de o Senhor Jesus ter deixado esta terra e ter ido para o céu. Esta dispensação está caracterizada por algo Celestial, e não terreno. Este é o maior teste.

Agora, naturalmente, eu poderia gastar bastante tempo falando sobre o que Deus está procurando nesta dispensação. Isto virá mais adiante, no livro de Ezequiel. Esta manhã estamos apenas sublinhando esta verdade: a primeira ocupação do atalaia é a de conhecer o tempo, e, então, dar uma mensagem bem clara sobre que tempo é esse. Se a nota dele não for clara e distinta, o povo não irá saber que horas são. Peço que os irmãos reflitam sobre isto. A questão toda de quanto o Senhor está com vocês irá depender de quanto vocês estão com Ele em Seu propósito para a presente hora. Se vocês estiverem tentando fazer algo que Deus não quer fazer neste tempo, então, estarão desperdiçando tanto o tempo quanto a enegia de vocês. Então, a função do atalaia é a ser os olhos do povo de Deus.

A segunda coisa é discernir qual é a situação e a que ela leva. Tudo isto está contido nesta descrição da palavra atalaia, que o Senhor deu a Ezequiel. O atalaia alerta consegue enxergar certas coisas, e discernir o que elas implicam. Ele vê que certas coisas representam algo de ruim para o povo de Deus – são sinais que indicam que o mal está chegando. Se não nos protegermos, o resultado será morte. Isto é o que está aqui na descrição daquilo que o atalaia viu. Por outro lado, ele enxerga o Caminho da Vida, e é capaz de dizer: “este é o caminho da morte; aquele é o Caminho da Vida”. Mas o atalaia tem que estar familiarizado tanto com o que está no Caminho da Vida como o que está no caminho da morte. Assim, ele tem que discernir a situação e reconhecer o caminho no qual as coisas estão indo. É uma responsabilidade muito grande. Todos nós somos chamados para sermos atalaias, e temos que ter uma mensagem inequívoca. Temos que entender as coisas que significam morte para a Igreja.

"Eu Sou Um Sinal Para Vocês"

Isto nos traz para o nosso terceiro e último título de Ezequiel: “eu sou um sinal para vocês”. No livro de Ezequiel, todas as coisas que o Senhor ordenou que o profeta fizesse estão reunidas neste título. Olhem para o capítulo quatro e observem as coisas estranhas que o Senhor mandou o profeta fazer.

O Senhor ordenou que ele pegasse uma telha e desenhasse nela uma pintura de Jerusalém; de Jerusalém sitiada. Então, foi dito a Ezequiel que se deitasse sobre o seu lado esquerdo por 390 dias, e, então, que se deitasse sobre o seu lado direito por mais 40 dias, e, também, que descobrisse os seus braços diante do povo, e, depois, o Senhor disse que iria colocar bandas sobre o profeta para que não pudesse se mover, e o Senhor iria colar a língua dele no céu da boca, para que não pudesse falar, e, também, foi ordenado que ele assasse pães suficientes para durar por 390 dias. Também foi ordenado que o profeta raspasse a sua cabeça, e que pesasse o cabelo numa balança.

Estas coisas são todas estranhas, e Ezequiel fez todas elas diante do povo.

Então, avançando no livro, vocês chegam àquele acontecimento muito triste. No capítulo 24, morre a mulher de Ezequiel, e não é permitido a ele lamentar por ela. Simplesmente ele deveria seguir a vida como se nada tivesse acontecido; todos olhariam para ele e lhe diriam: “Isto é algo escandaloso; o homem não se importa nem mesmo com a morte de sua esposa". Mas Ezequiel prossegue como se nada houvesse acontecido.

Qual é o significado de tudo isso? Está tudo reunido neste título: “Eu sou um sinal para vocês”. Vamos resumir da seguinte maneira: significa que a mensagem de Ezequiel havia sido, antes de tudo, forjada em sua própria experiência. Ele experimentou a mensagem antes de entregá-la. As coisas que ele iria falar já haviam sido trabalhadas em sua própria vida. Eu não quero dizer aqui que nós também temos que ter literalmente as mesmas experiências de Ezequiel, mas, a questão toda é a seguinte: o mensageiro precisa ser a personificação de sua mensagem! A mensagem não pode apenas ser coisas que dizemos; devem ser coisas que foram trabalhadas em nossa própria vida. Ezequiel era a própria mensagem; e, quando as pessoas olhavam para ele, VIAM a mensagem.

Vejam que grande princípio isto introduz. João coloca da seguinte maneira: “Nós falamos aquilo que realmente conhecemos e testificamos aquilo que temos visto e que as nossas mãos apalparam". Não deve haver qualquer brecha entre o mestre e a sua mensagem. O mestre e a mensagem precisam ser uma coisa só. Nossa posição não pode ser de apenas doutrina ou teoria; nosso ensino precisa ser nós mesmos. A mensagem precisa ser vista em nossa própria história; precisa ser vista em nossa própria experiência. Isto irá, obviamente, explicar muita coisa quanto aos tratamentos do Senhor para conosco. Se o Senhor realmente tomar conta de nós, ELE não permitirá que entreguemos apenas teorias. A mensagem irá nascer a partir de uma experiência profunda.

Vejamos três ilustrações. A comissão de Pedro foi para “pastorear o rebanho”, e, em suas cartas, ele fala muito sobre isso. Fala do Pastor; dos anciãos, e diz: “...apascentai o rebanho que o Senhor vos tem confiado”. Qual é a principal característica de um verdadeiro pastor? Se tomarmos o Senhor Jesus como exemplo, a principal característica será que ele entrega a sua própria alma pela ovelha. Observem que eu escolhi a palavra alma. Esta é a palavra que o Senhor usou. Ele falou sobre os discípulos negando as suas próprias almas. Agora, Pedro tinha uma alma bastante forte. Vocês sabem o que é alma, e Pedro tinha uma das grandes, e a grande lição da vida dele foi a de negar a sua própria alma. Se a alma é a mente, as emoções, a vontade, então, podemos ver quão grande era a alma de Pedro. Ele tinha uma mente própria; uma vontade própria; sentimentos próprios; ele estava sempre fazendo essas coisas prevalecerem. Pedro estava na dura escola onde tinha que aprender a negar a sua alma. Vocês conhecem bem toda a história da vida de Pedro, pois nós a temos no Novo Testamento para mostrar quão verdadeiro isto foi. Pedro não era um pastor profissional – ele teve o princípio do pastor trabalhado em seu próprio ser.

Passemos para o Apóstolo Paulo. O grande ministério de Paulo foi concernente à Igreja, como o Corpo de Cristo. Os princípios do Corpo de Cristo são: relacionamento, dependência, sublimidade, espiritualidade. Será que Paulo não precisou que tudo isso fosse trabalhado dentro dele?! Quando vocês olham para Saulo de Tarso, vocês têm a própria personificação da independência, da ação pessoal, das coisas terrenas, da falta de espiritualidade. Saulo de Tarso não tinha qualquer senso de dependência, de ligação; mas vejam que o Senhor o tomou em Suas mãos, e, a partir dali mesmo, da Estrada de Damasco, durante toda a sua trajetória, ele teve que aprender essas lições.

Agora, Paulo foi um sinal para a nossa dispensação. Pensem sobre isto. Nós conhecemos o propósito desta dispensação: é a Igreja, o Corpo de Cristo. Esta não é apenas uma idéia, ou um ensinamento, mas uma realidade prática. Esta revelação veio para esta dispensação através do Apóstolo Paulo, e, portanto, ela precisou ser trabalhada na própria constituição dele. TODA independência teve que ser destruída; TODA falta de relacionamento precisou ser removida; TODAS as expectativas terrenas tiveram que ser descartadas. Paulo precisou ter toda a sua vida constituída sobre a base da mensagem que fora entregue a ele. Ele foi um sinal para a nossa dispensação. É por isso que nós fazemos tanto caso dele.

E agora, que tal João? Qual foi a mensagem particular de João? O ministério de João particularmente fez referência à Vida. Esta foi a grande palavra de João através de todos os seus escritos. João se tornou a personificação deste princípio de vida triunfante sobre a morte. Quando todos os apóstolos já haviam partido, João ainda estava aqui. Ele viveu mais que todos os demais, não porque teve um tempo mais fácil do que eles tiveram. João sofreu como qualquer outro apóstolo, e também morreu como todos os demais; mas aqui está um testemunho da Vida Divina em espírito, mente e corpo. A questão é que João realmente representou a mensagem que ele deu. Pedro, Paulo e João podiam dizer: “Eu sou um sinal para vocês”.

Irmãos e irmãs, vocês e eu precisamos ser capazes de dizer o mesmo. As pessoas precisam ver em nós a mensagem e não apenas ouvi-la dos nossos lábios. Eles precisam ver que a mensagem é verdadeira em nossa própria história e experiência.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.