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"Para Que Eles Sejam Um, Assim Como Nós Somos Um" - Volume 1

por T. Austin-Sparks

Reunião 3 - "E Amou-os Até O Fim"

Terceira Reunião
(2 de Fevereiro de 1964 P.M.)

Vamos ler alguns versículos do Evangelho de João, capítulo treze, versículos um a vinte. Vocês foram avisados de que amanhã à noite haverá uma amável festa aqui, mas quero dizer que a verdadeira festa será hoje à noite. Todos nós cremos que a Mesa do Senhor é a expressão máxima do amor de Deus. Todos os hinos que cantamos esta tarde falaram sobre o amor de Deus. Houve hinos de ajuntamento ao redor da Mesa do Senhor. Esta mesa tem nos falado novamente do amor de Deus em Cristo Jesus. Neste capítulo que acabamos de ler, temos o Senhor estabelecendo a Sua mesa pela primeira vez. Esta foi a primeira vez que Ele se reuniu com os Seus discípulos ao redor desta mesa particular. Vocês percebem como o capítulo começa? "Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim." (ASV).

Assim, naquela mesa, Ele escreveu o Seu amor pelos Seus. Em efeito, Ele disse: “Esta mesa onde agora iremos comer e beber, é a personificação do Meu amor por vocês”. Tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. E, então, tudo o que se segue naquele capítulo é uma explicação deste amor. Se eu lhes contar que há sete coisas nesses vinte versículos que definem o Seu amor, por favor, não fiquem preocupados de que eu vá pregar um longo sermão sobre esses pontos. Num curto espaço de tempo, podemos apenas assinalar alguns aspectos do amor de Cristo.

"Ele os amou até o fim". Penso que nesta declaração está a coisa mais maravilhosa que já veio a este mundo. Jesus tinha tido muitos problemas com esses homens. Eles frequentemente não O compreendiam. Desapontavam-no muitas vezes. Realmente eram homens muito pobres. Ele tinha conhecido a história de cada um deles ao longo daqueles três últimos anos. Mas Ele também sabia o que iria acontecer após aquela noite. Ele disse a Pedro: “Antes que o galo cante, três vezes Me negarás” (Mat. 26:33b-35; ASV). Ele sabia que Pedro iria negá-Lo três vezes, dizendo: “Eu não conheço esse Homem”. Ele disse acerca de todos: “Todos vocês irão se escandalizar de Mim esta noite. Todos vocês irão fugir e Me abandonar, e eu ficarei sozinho; mas não ficarei sozinho, porque o Pai está comigo”. Ele sabia quão pobre eram aqueles homens, mas amou-os até o fim.

Esta é a primeira coisa sobre este amor. Este amor não é ofendido por nossas falhas. Ele não diminui o Seu amor por causa dos nossos erros. Podemos frequentemente desapontá-Lo, podemos falhar para com Ele, entristecer o Seu coração, mas Ele continua nos amando. Ele nos ama até o fim. Ele não fica ofendido com os nossos fracassos. Este é um tipo de amor muito diferente do nosso. Este é o amor de Deus em Cristo.

A segunda coisa sobre este amor é quão condescendente ele é. Observem no versículo três, a primeira declaração no capítulo: “sabendo que o Pai havia colocado todas as coisas em Suas mãos". O Pai tinha colocado todas as coisas em Suas mãos. Quão grande é Jesus. Maior do que todos os outros. Isto jamais podia ser dito sobre qualquer outra pessoa. Deus entregou todas as coisas a Ele. Mas isto não O fez orgulhoso, a ponto de não amar esses homens. Ele não se fez superior a eles; Ele se abaixou ao nível deles.Grande como Ele era, amou homens tais como esses. Com toda a Sua grandeza, Ele desceu ao nível deles. Quão condescendente é o amor de Deus. É grande o suficiente para descer aos mais fracos e pequenos.

Algumas vezes pensamos na grandeza de Deus em termos de poder, em termos das coisas maravilhosas que Ele pode fazer. Quando pensamos em homens sendo grandes, pensamos em sua grandeza em termos de grandes coisas que eles podem fazer. A grandeza de Deus é esta, que, embora Ele tenha todo o universo para cuidar, todas as grandes coisas das nações, Ele se importa em cuidar das menores coisas. Algumas vezes falamos: “Oh, isto é algo muito pequeno para pedir que o Senhor se importe com ele. O Senhor é tão grande, Ele não pode ser incomodado com nossas pequenas coisas'. Mas, esta é a grandeza de Deus, ser capaz de fazer isto. Um homem realmente grande é aquele que pode fazer uma porção de coisas pequenas. O Pai tinha entregue todas as coisas em Suas mãos, e, mesmo assim, Ele veio a esses homens, e os amou até o fim.Quão grande é o Seu amor!

Ponto número três: Olhem novamente para o capítulo, e observem que este amor não faz acepção de classes de pessoas. Vocês ouviram esta manhã: “Vós Me chamais de Mestre, e dizeis bem, pois Eu o sou. Ora, se Eu, o Senhor e Mestre, lavei os vossos pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros". Como vocês vêem, Ele assumiu o lugar do servo que ninguém mais queria assumir. Do lado de fora da porta de cada sala de visita, havia uma bacia, uma jarra de água, e uma toalha. Se fosse uma casa abastada, também havia um servo. E, quando os convidados se assentavam, o servo vinha, tirava suas sandálias e lavava os seus pés. Mas aqui não se trata de uma casa abastada. Jesus era pobre. Os discípulos eram pobres. Agora, vocês conseguem vê-los entrando naquela sala? Talvez Pedro fosse o primeiro da fila; ele usualmente era o primeiro. Pedro viu aquela bacia e aquela água; ele sabia que ela estava lá, mas ele realmente não a estava vendo. Ele passou e os demais o seguiram. Eles todos sabiam que a bacia, a água e a toalha estavam lá, mas ninguém queria ser o servo. Todos entraram e se assentaram.

Jesus pegou a toalha, derramou a água na bacia, e foi diretamente para Pedro, o homem tão importante a seus próprios olhos, muito importante para ser um servo. O Senhor e Mestre foi o servo. Eles faziam distinção entre classes de pessoas, superior e inferior. Talvez Pedro dissesse: 'Eu sou superior a este outro homem, deixe que ele faça o serviço'. Talvez todos estivessem se sentindo superior. Mas Jesus não tinha esse espírito. O amor não conhece distinção entre classes de pessoas. O amor não conhece distinção entre nacionalidades. O amor de Deus em Cristo Jesus olha para nós todos da mesma maneira, como carentes do Seu amor. Seu amor está acima de todas as distinções terrenas.

Ponto número quatro: Vocês sabem, é tão fácil falar sobre amor, fingir que se ama, usar a linguagem do amor, cantar hinos sobre amor, e tudo pode ser sentimental; talvez todos nós conheçamos pessoas que dizem nos amar, mas, muito freqüentemente, são as pessoas que mais nos machucam. Agora, o amor de Jesus não era um amor sentimental; era amor prático. Ele não apenas dizia: ‘Irmãos, eu vos amo muito’. Ele realmente mostrava que os amava através daquilo que Ele fazia a eles. Não era amor sentimental, era amor prático. E este era o amor com que Ele os amou até o fim.

Chegamos agora ao ponto número cinco. Qual era o significado deste lava-pés? Nosso querido irmão, Watchman Nee, costumava falar do toque terreno; ele costumava dizer: 'Se vocês tocarem esta terra, vocês tocam o mal; tocam a morte'. Esses homens tinham caminhado pelas estradas sujas e poeirentas. Seus pés estavam literalmente cobertos da poeira desta terra.Mas com este ato simbólico, Jesus estava dizendo: 'Vocês têm que viver neste mundo, mas precisam se manter limpos dele’. E esta lavagem dos pés foi a maneira de Jesus dizer: ‘O Meu amor irá mantê-los livres do mal deste mundo’. O amor de Cristo é um amor que limpa. Não são apenas palavras, mas o amor nos ajuda a viver num nível mais elevado de vida.

Ponto número seis: Este amor é cheio de instrução espiritual. Jesus disse a eles: “O que Eu faço agora, não compreendeis, mas entenderão mais tarde". Este amor irá nos instruir sobre o que Deus ama e sobre o que Ele não ama. Até este ponto, os discípulos amavam o mundo. Seus corações estavam voltados para um reino neste mundo. Eles queriam os principais lugares no reino. Queriam ser pessoas importantes no Reino de Cristo. E a idéia deles era a de que Jesus iria estabelecer um reino no qual eles seriam importantes.Era o espírito do mundo. Eles amavam o mundo. Mas vejam o que o amor de Deus fez no coração deles!Removeu todo o amor deste mundo de seus corações.Eles saíram ao mundo e sofreram por causa do amor de Jesus em seus corações. Perderam todo interesse de se tornar pessoas importantes neste mundo. Afinal de contas, não importava se eles eram pessoas importantes na Igreja. Não tinham ambição de serem mestres e pregadores. Não ambicionavam ser anciãos da Igreja. O amor de Cristo tinha removido todo esse tipo de coisa. Saíram para sofrer e morrer por Jesus.Para renunciar suas vidas por Cristo. Foi algo tremendo o que o amor de Jesus fez neles.

Agora chegamos ao ponto sete, o qual não está neste capítulo, mas vocês realmente percebem que tudo isto aconteceu pouco antes de Jesus começar a falar a eles sobre o Espírito Santo. Jesus irá dar a eles aquele ensino maravilhoso sobre a vinda do Espírito Santo. "O Espírito, que o Pai irá enviar em Meu nome; Ele vos guiará a toda verdade. Ele não falará de Si mesmo, mas receberá daquilo que é Meu e vos mostrará a vós". O que isto significou? O Espírito que estava vindo seria o Espírito de amor. E o Espírito Santo iria trabalhar neles, a fim de produzir em relação ao próximo aquele mesmo amor que Cristo tinha por eles.

Caros amigos, se tivermos o Espírito Santo, pelo menos essas coisas devem ser encontradas em nós. As coisas que caracterizam o amor de Cristo pelos Seus discípulos também devem caracterizar o nosso amor pelo próximo. Este é o porquê de o Espírito Santo ter vindo, para que, assim como Ele nos amou até ao fim, possamos nós nos amarmos uns aos outros. Perdoem-me, eu ultrapassei cinco minutos do meu tempo. Mas, se apenas aprendermos esta grande lição de Seu amor, valeria a pena ficarmos aqui a noite inteira!

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