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"Para Que Eles Sejam Um, Assim Como Nós Somos Um" - Volume 1

por T. Austin-Sparks

Reunião 21 – Verdadeira Adoração é estar Quebrantado Diante do Senhor

Vigésima Primeira Reunião
( Fevereiro 16, 1964 P.M )

Quero dizer uma pequena palavra novamente acerca da Mesa do Senhor. Queria ler três passagens da Escritura:

Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. (I Cor. 11:23-25).

Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. (2 Coríntios 5:21).

Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo? (Heb. 9:14).

AQUELE QUE NÃO CONHECEU PECADO, FOI FEITO PECADO. Ele se ofereceu a si mesmo sem mácula a Deus. Aqui estão duas declarações que parecem estar em direta contradição, uma com a outra. As duas se referem em relação ao mesmo tempo. Isto é, elas duas se referem à Cruz do Senhor Jesus. Uma declaração é, Aquele que não conheceu pecado foi feito pecado. A outra declaração é, que Ele se ofereceu a Si mesmo sem mácula a Deus. Parece uma contradição, mas não há contradição. Elas são apenas dois lados de uma coisa. Isto é, dois lados da obra de Cristo na Cruz. Uma é, o que Ele era em Si mesmo, isto é, um Cordeiro sem mácula. Aquele que não conheceu pecado. Isso é o que Ele era nele mesmo. Absolutamente sem pecado, sem nenhuma mácula de pecado.

A outra é, o que Ele se tornou em nosso lugar. Ele foi feito pecado, embora Ele não conheceu pecado. Tem uma figura no Antigo Testamento desta dupla obra do Senhor Jesus. Você a encontrará no capítulo dezesseis do Livro de Levítico. É o relato dos dois novilhos. Os dois novilhos foram trazidos diante do Senhor pelos sacerdotes. Os dois estavam sem mácula ou mancha. Um deles foi foi oferecido a Deus, uma oferta queimada lá no Altar. O novilho sem mácula ou mancha oferecido a Deus. Mas tinha o outro novilho. Esse novilho era igualmente sem mácula ou mancha. Mas o sacerdote colocava suas mãos sobre a cabeça desse novilho, e confessava o pecado de seu povo sobre aquele novilho, e em figura, transferia o pecado de todo o povo a aquele novilho. E depois, o sacerdote tomava o novilho e o levava para fora através do acampamento, bem longe da Presença de Deus, para além das mais distantes fronteiras do povo de Deus, logo ao deserto. O povo voltava-se para ver o sacerdote, levando este bode fora. Eles o assistiam até que estivesse fora da vista deles. E depois, o sacerdote acabava. Ele o conduzia fora, para o deserto. E ele voltava à Presença de Deus sem o bode. Essa é a ilustração do Velho Testamento deste mesmo assunto.

Por um lado, Jesus foi uma oferta sem pecado, aceitável a Deus. Por outro lado, Ele foi feito pecado por nós, e foi conduzido fora, longe da Presença de Deus. Ele clamou nesse momento, “Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonastes?” Se esse bode expiatório pudesse ter falado bem longe, de lá no deserto, apenas diria uma palavra, ele teria clamado, “abandonado.” Estou abandonado: Sou conduzido longe da Presença de Deus e o homem. Sou desprezado e rejeitado dos homens.” Esse é o outro lado da Pessoa e Obra do Senhor Jesus na Sua Cruz.

Ora, vou falar acerca de uma coisa nessa conexão. Quando Jesus, na noite da páscoa se assentou à mesa com Seus discípulos, ele tomou um pão e o partiu. Ele o rasgou em pedaços, e disse, “isto é Meu Corpo que é partido por vocês.” E depois, tomou o cálice, e Mateus nos conta que Ele disse, “este cálice é a nova aliança no Meu sangue, que é derramado por vocês.” Meu corpo partido, Meu sangue derramado. Que quis dizer isso? Apenas estou falando deste lado das coisas por agora. Jesus tomou o lugar de nossa humanidade partida. O pecado é o que parte nossa humanidade. Rasga nossa natureza humana em pedaços. O pecado nos desintegra. Isso é o que aconteceu no principio.

Depois de Satanás ter feito sua obra e Adão ter aceito a tentação, a humanidade de Adão não foi mais inteira. Era uma humanidade quebrada. Antes disso, era completa, era apenas uma coisa. Mas, depois dessa inacreditável desobediência, essa humanidade foi rasgada em partes. Foi simplesmente partida em pedaços. E é assim como Deus vê a humanidade agora. Ele estava dizendo, “ Eu represento toda a raça humana na sua condição quebrada. Entro na quebra no mundo da humanidade. Minha vida não está mais em Mim, é derramada até a morte.” Esse é o efeito do pecado e da obra de Satanás. E nesse dia na Cruz, desse lado, isso era o que Jesus quis dizer em, “Meu corpo partido, Meu sangue derramado. Represento o estado de todo homem não mais inteiro, não mais completo.”

Ora, quando chegamos à mesa do Senhor, devemos sempre lembrar isto. Devemos sempre lembrar que quando tomamos o pão partido, e o cálice, estamos reconhecendo e confessando diante de Deus que em nós mesmos, estamos partidos. Não existe inteireza em nós. O pecado tem destruído essa inteireza. Somos partidos à vista de Deus. Isso é o que queremos dizer quando tomamos o pão e o cálice. Estamos reconhecendo que diante de Deus em nós mesmos somos uma humanidade quebrada. Não podemos ficar diante de Deus como algo que é inteiro e completo e perfeito. Ele foi feito pecado por nós. Ele foi quebrado como nós somos quebrados. Ele tomou o lugar de nossa humanidade destruída e interrompida. E Deus teve que esconder Seu rosto. Assim como o bode expiatório no deserto sentiu sua total desolação, nenhum olhar para se compadecer, nenhuma palavra de consolação, nenhuma mão para ajudar, só, longe da habitação de Deus e o homem. Foi assim que o Senhor passou, em nosso lugar. Suportando o juízo de Deus sobre a nossa humanidade quebrada. Antes do outro lado poder jamais se tornar real em nós, o outro lado é que somos feitos completos nEle. Toda nossa quebra é consertada em Cristo; nós, que estávamos longe, chegamos perto. Podemos agora, pela fé em Jesus Cristo, ficar diante de Deus como aqueles que foram feitos inteiros. Mas, antes de poder fazer isso, e ter uma posição na Presença de Deus, temos que reconhecer que naturalmente estamos partidos.

Veja como estas duas coisas estão misturadas no Novo Testamento! Tome o grande Apóstolo Paulo, antes dele se encontrar com o Senhor Jesus, ele pensou que ele era um ser muito inteiro e completo. Ele pensou que poderia ficar na Presença de Deus. Pensou que não havia nada de errado com ele, mas que tudo estava bem. Não existia quebrantamento em Paulo de Tarso. Quando se encontrou com o Senhor Jesus, essa situação mudou. A primeira coisa que ele descobriu foi que ele não poderia ficar na Presença de Deus. Diante de Deus, ele era um homem quebrado. Não havia nada inteiro nele. Esse foi um lado da história; e ele continuou por toda sua vida mantendo isso sempre diante dele. Quantas coisas ele disse acerca de si mesmo, se referindo a suas próprias fraquezas. Ele disse, “Sou fraco, mas me glorio nas minhas fraquezas.” Tenho entrado no quebrantamento do Senhor Jesus. Tenho compartilhado Seu corpo partido. Em mim mesmo, sou inútil. Sou como um vaso quebrado. Mas pelo outro lado, quanto o Senhor abençoou esse homem! Quanto o Senhor foi com esse homem! Sim, ele agora foi aceito por Deus. Agora, ele poderia ficar bem diante do Senhor. Dois lados.

Se você e eu queremos ficar bem com o Senhor, se queremos realmente achar favor em Deus, se queremos vir até o lado da vida da Cruz, e vir direto à Presença do Senhor, e oferecer nosso louvor ao Senhor, antes de nada, devemos estar muito conscientes de nosso quebrantamento. Deus, apenas usa realmente homens e mulheres quebrados, aqueles que têm chegado a reconhecer que neles mesmos, são criaturas muito pobres. Que há neles um espírito de real quebrantamento. Esses daí, chegam até esta maravilhosa palavra do Senhor, “mas eis para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito.” (Isa. 66.2) (Sal 51:17).

Ora, você percebe que tudo isto tinha que ver com o serviço de Deus. No Livro de Levítico, está o serviço de Deus; todo o serviço sendo oferecido a Deus. E isso apenas significa isto: que antes de jamais podermos receber a benção de Deus, o Senhor tem que ser satisfeito. Tem de ser primeiramente para o Senhor antes de ser do Senhor. Este quebrantamento é nossa oferenda ao Senhor. Estar quebrantado é verdadeira adoração, diante do Senhor. O quebrantado e contrito de espírito é o espírito da real adoração. Isto é, serviço aceitável. Esse é o serviço real a Deus. E quando Deus é satisfeito, então, podemos chegar até a benção. O homem orgulhoso, o homem autossuficiente, o homem que permanece na sua própria força, não é o homem que herda a benção. Ele não é o homem que o Senhor usará. Não é o homem que pode, realmente, servir o Senhor. Mas o homem que não ousa levantar seus olhos ao céu, mas com a cabeça curvada diz, “Deus, seja misericordioso a mim, um pecador” (Lucas 18-13). Este homem vai a sua casa justificado. Este homem tem reconhecimento e a benção do Senhor. Você se lembrará sempre desta palavra, quando chegar à mesa do Senhor? Quando o pão é partido, em seu coração você diz, “este é meu quebrantamento. Ele foi partido por mim. Ele foi partido como eu. Em mim mesmo, estou quebrado diante de Deus. Ele foi quebrado a fim de nos fazer inteiros.”

Então, quando você toma o pão partido, estamos testificando e reconhecendo nosso quebrantamento diante de Deus. Mas não apenas à mesa do Senhor; a Mesa do Senhor é o centro de toda nossa vida. Nossa vida inteira é reunida no Senhor. A Mesa do Senhor tem que ter um significado todos os dias e cada hora, e isto tem que ser o significado: eu em mim mesmo, sou pobre e quebrantado diante de Deus. E apenas posso morar na Presença de Deus porque Jesus me faz inteiro. “Este é meu Corpo, partido por vocês.”

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