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"Para Que Eles Sejam Um, Assim Como Nós Somos Um" - Volume 2

por T. Austin-Sparks

Reunião 27 - O Cristianismo É um Sistema Legal na Terra ou É um Movimento Espiritual do Céu?

Vigésima Sétima Reunião
(Fevereiro 25, 1964 A.M)


Estamos pedindo ao Senhor para nos ajudar nestas manhãs a considerar alguns dos assuntos mais vitais de nossa vida cristã. Em nosso Novo Testamento temos uma série de documentos. Mas dentre esses documentos, há um que está relacionado a talvez, a questão mais vital que já foi feita em relação ao Cristianismo. Olhando da perspectiva do espaço, não é um documento muito longo. De fato, é um dos mais curtos; mas dentro de seu breve espaço, o escritor encheu a própria essência do Cristianismo. Ele usou sua pena para escrever este documento com uma determinação intensa para resolver esta grande pergunta. Assim, ele concentrou dentro de um curto espaço, a própria essência do Cristianismo. Não acho que o apóstolo jamais escreveu algo sob um maior senso de importância e necessidade. Esta carta vibra com o senso de sua paixão sobre este assunto em particular. Uma grande pergunta foi levantada. Essa questão ameaçava destruir a real natureza do Cristianismo. A pergunta era esta: que é isto que têm invadido este mundo pela vinda de Jesus Cristo? Pois na vinda de Jesus Cristo a este mundo, Deus adentrou na história, e Deus adentrou na história para fazer uma imensa mudança em tudo. Assim, a pergunta era: que é o que têm vindo até este mundo com Jesus Cristo? É simplesmente a continuação de um velho sistema com algumas coisas lhe acrescentadas? Ou é completamente um novo manto? É para o velho vinho do Judaísmo ter vinho novo colocado nele? Ou é para ser completamente um vinho novo? Essa era a grande pergunta.

Esta grande pergunta representou uma vasta diferença, e essa diferença se tornou um grande campo de batalha entre o velho e o novo. Esta pergunta simplesmente levou o Cristianismo à confusão. Por um tempo, todos exceto uns poucos estavam numa sensação de incerteza em relação a isto. Levou a varias divisões serias dentre o povo do Senhor. Até foi mesmo insinuado dentre os primeiros apóstolos. Pedro, o líder dos doze, teve uma grande luta sobre esta questão, e num certo momento ele entrou em conflito com o apóstolo Paulo acerca deste assunto. Tiago, que era um dos irmãos de nosso Senhor nesta terra, teve serias reservas sobre este assunto. O primeiro mártir cristão morreu sobre esta mesma questão; Estevão foi martirizado por causa deste assunto. Aonde for que o Cristianismo fosse, esta disputa o seguia. Nós, em nosso tempo, não somos capazes de perceber quão tenso estava esta tensão sobre este assunto da real natureza do Cristianismo.

Embora, este documento especifico, ao qual nos referimos, se estabeleceu largamente naquele tempo, a natureza desta controvérsia tem persistido bem até nossos dias. O Cristianismo é um sistema legal ou é uma vida espiritual? Foi em relação a essa pergunta que o Senhor Ressuscitado e Ascendido irrompeu desde o céu e pôs Sua mão sobre o apóstolo Paulo. Jesus apareceu direto do céu, bem desde a glória, e pôs Sua mão sobre este homem, Saulo de Tarso. Não foi algo minusculo para o Senhor Jesus, Quem se assentou à direita da Majestade nos Céus, ter que se levantar do Trono e voltar aqui de novo. Ele deveu ter visto que havia um assunto muito sério envolvido. Portanto, Ele não enviou um anjo ou um arcanjo; Ele deixou Seu lugar na glória e desceu até aquele homem na estrada para Damasco, e colocou Sua mão sobre ele. A seguir, Paulo o descreveu como sendo alcançado por Cristo Jesus. Sabem o que a palavra “alcançado” quer dizer? Bem, espero que não saiba o que ela quer dizer tanto quanto à lei se refere. Quando um policial está à procura de um criminal e ele encontra o criminal, ele põe fortemente a mão sobre ele. E essa é a palavra que o apóstolo usou. Ele disse, “fui alcançado. Fui arrestado por Jesus Cristo”. E foi em relação a esta questão especifica. O Senhor arrestou Paulo como o instrumento pelo qual Ele iria responder esta pergunta. Tão sério Deus considerou este assunto, que é impossível de entender o ministério do apóstolo Paulo a menos que reconheçamos esta conexão em particular. O ministério inteiro do apóstolo Paulo relacionou-se a uma questão: e essa questão é a natureza celestial, verdadeira, espiritual do Cristianismo.

Agora Paulo, por esse ato poderoso do céu, veio a ver esta grande diferença. Ele veio a ver que uma grande divisão tinha sido criada entre o velho Judaísmo e o novo Cristianismo, entre o velho Israel terreno e o novo Israel celestial. Ele veio a ver que estas eram duas distintivas nações diferentes. Ele veio a ver que esta pergunta dividia dois tempos. O que tinha existido nos passados tempos tinha agora terminado. E algo novo tinha sido introduzido para ser a natureza das coisas por todos os tempos. Quando o apóstolo Paulo mesmo veio a ver isso, quando isso quebrou sobre ele desde o céu, isso é, a vasta diferença entre o legal e o espiritual, ele se jogou a si mesmo NESSA BATALHA até a última gota de seu sangue.

A luta começou imediatamente, quando Paulo foi salvo. Quando ele tinha sido encontrado pelo Senhor, e entrou na cidade de Damasco, depois de ter sido batizado e recebido o Espírito Santo, ele testemunhou a eles que Jesus é o Cristo. Reconhecendo o que isso significava enquanto a ele mesmo se referia, reconhecendo que ele tinha mudado de base, que ele tinha deixado a base do legalismo, a base do Judaísmo, e que ele tinha tomado a base de Cristo: ENTÃO, A LUTA COMEÇOU. E por todos seus trinta anos de sua vida, em todo lugar que ele ia, encontrava-se nessa luta.

O último capítulo do Livro dos Atos, o qual deixa a Paulo na prisão esperando a sentença de morte, encontra a ele ainda na luta. Os judaizantes estão com ele na prisão. Ele procura arrazoar com eles, mas logo ele tem que se voltar deles e dizer, “não dá, devo me voltar para os gentis”. A luta seguiu desde o começo até o final de sua vida; e esta luta era sobre um assunto imenso: o Cristianismo é um sistema legal nesta terra, ou é um movimento espiritual do céu?

Ora, comecei dizendo que há um documento no Novo Testamento que apresenta a resposta a essa pergunta, e espero que muitos de vocês já tenham chegado à conclusão sobre qual esse documento é. Se você não tem a certeza, me permita dizer de uma vez, é a Carta aos Gálatas. É razoavelmente ou generalmente acreditado que esta carta foi a primeira carta que Paulo escreveu. Nos meus primeiros anos, acreditava-se que as Cartas aos Tessalonicenses eram as primeiras cartas que Paulo escreveu. E eu costumava dizer isso. Mas, novas investigações têm levado esses que conhecem muito bem, que a Carta aos Gálatas foi provavelmente a primeira carta. Ora, não vou discutir sobre esse assunto nesta manhã. Você pode acreditar ou não. Mas, se isso é verdade, quão significante seria que fosse a primeira grande questão sobre a qual o apóstolo escreveu.

E se você ler essa carta, e sentir a força com a qual o apóstolo a escreveu, você pode discernir quão serio ele sentia esta pergunta ser. Ele viu que era o que estava ameaçando a natureza toda do Cristianismo. E assim ele se prepara para fazer esta obra. Isto é, preservar a natureza espiritual pura do que tem vindo com Jesus Cristo.

Antes de passarmos a considerar o que tem nesta carta, existem duas coisas básicas que devem engajar nossa intenção. Em primeiro lugar, o que o próprio apóstolo quis dizer com esta carta, e isso é contido no primeiro capítulo, e versículo oito, “mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse um outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema”. Toda a carta é reunida nessa sentença. “o Evangelho que já vos pregamos”. Ele diz que com o que ele está lidando é com a natureza do Evangelho. Ele diz que pregaram o Evangelho a vocês. Esta carta então é uma reiteração do Evangelho. Ora, vários nomes têm sido dados ao que está no Novo Testamento. É chamado por muitos de Cristianismo, e esse é um termo muito abrangente; ou é chamado a fé Cristã, ou a religião Cristã. No Novo Testamento, não é chamado por nenhum desses nomes. O Novo Testamento nunca fala disto como o Cristianismo; nunca fala como a fé Cristã; nunca se fala disto como a religião Cristã. É conhecido apenas por um nome. Tudo o que há no Novo Testamento e chegou com Jesus Cristo é chamado, O Evangelho.

Ora, aqui há algo que precisamos notar cuidadosamente. Veja, estamos fazendo uma distinção entre o que chamamos de Evangelho, e ensino mais completo para crentes. Pelo Evangelho, muitos se referem a aquilo que é para os descrentes, e o que damos para os salvos, bem, é outra coisa. Suponha que você está indo a uma reunião evangelística ao final desta semana, e elas não são para crentes, elas são para os descrentes. Essa é uma completa distinção artificial. Tudo no Novo Testamento para o descrente e o crente é chamado de Evangelho. Não é uma religião. Não é uma filosofia de vida. Não é um sistema de verdades e praticas. É apenas o Evangelho. E essa palavra quer dizer: “boas noticias”. Se lhes dão varias conexões, tais como o Evangelho de nossa salvação. Mas há uma coisa global e inclusiva sobre esta palavra, e isso é, “o Evangelho de Deus a respeito de Seu Filho Jesus Cristo” (Rom. 1:1-3). Portanto, quando fazemos divisão entre o Evangelho para o descrente e outra coisa para o salvo, vê o que estamos fazendo? Dizemos, temos deixado a base do Filho de Deus, e temos vindo a algumas bases extras para cristãos. O Evangelho é algo que abrange tudo em Cristo. Você nunca chegará à situação onde você cessará de descobrir algo novo a respeito do Filho de Deus; e embora possamos estar descobrindo mais por toda a eternidade, será ainda o Evangelho.

Acha que o Evangelho acaba quando você nasce de novo? Acha que o Evangelho acaba quando você deixa este mundo e vai para o Senhor? Se você vê as grandes multidões, que nenhum homem pode contar ao redor do trono, e ouve eles cantar, eles estão cantando um hino evangélico, “Digno é o Cordeiro”. Mas eles chegaram até um entendimento muito pleno do Filho de Deus. Então, o Evangelho é o Evangelho de Deus a respeito de Seu Filho por todo o tempo, e toda a eternidade. O Evangelho é algo infinitamente maior do que a salvação do pecado; é infinitamente maior do que a libertação do juízo e morte. O Evangelho abrange tudo o que está em Cristo. Era por aquilo que o apóstolo estava lutando. Não era apenas pela salvação destas pessoas, mas para que elas entendessem para o que que elas são salvas. Esse é o campo de batalha. Ele diz, “o Evangelho que vós pregamos”. E a quê isso tudo equivale? Uma carta é reunida nesta frase. O Evangelho é a libertação de toda escravidão legal. É a libertação para a liberdade dos filhos de Deus. Esse é o retrato desta carta: Emancipação de toda escravidão legal. Emancipação para a liberdade dos filhos de Deus. E Paulo diz, “esse é o Evangelho que vos preguei”.

Nesta carta, Paulo chama ao legalismo um jugo de escravidão. Ele clama, “Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. Quando ele usou essa palavra, “jugo”, ele estava usando a mesma palavra como o mesmo Jesus a usou em Mateus onze, versículos vinte e oito até o trinta. Jesus olhou para as multidões, e disse, “venham a Mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós Meu jugo e aprendei de mim. Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve”. Ele estava falando às multidões que estavam sob o jugo do legalismo judaico. Ele disse que estar sob esse jugo é estar cansado e sobrecarregado. Ele diz, “Meu jugo é suave”, pelo que quis dizer: vos libertarei de todo jugo da escravidão judaica.Vos libertarei de toda esta labuta sob legalismo.

Os escribas e fariseus tinham miles de interpretações da Escritura do Velho Testamento. Eles tinham tomado a lei de Moisés, e colocaram dois mil interpretações sobre cada lei. Tudo o que Deus tinha dito, eles o tinham interpretado para dizer mil coisas diferentes. E assim, eles tinham tomado a Palavra de Deus e dada a ela uma interpretação que se tornou um grande fardo para suportar. Não somente Deus tinha dito, “não farás”, os escribas e fariseus tinham dito, “agora isso quer dizer”, “não farás isto; não farás aquilo; e não farás mil coisas”. Não somente tinha Moisés dito, “não farás”, os escribas e fariseus disseram, “não farás mil coisas”. Jesus disse, “ eles atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens”. Esse é sempre o efeito do legalismo. Sob um sistema legal, você simplesmente não sabe o que deve fazer. Você está sempre perguntando: “agora, realmente, podemos fazer isto? Se fizermos isto, pode algum juízo vir sobre nós? E se não o fizermos dessa forma, cairemos sob o juízo de Deus?

É assim como foi então, e Paulo mesmo tinha estado sob esse fardo. Ele nos conta sobre isso no sétimo capítulo da Carta aos Romanos. E ele acaba essa terrível história com “miserável homem que eu sou! Quem me livrará deste corpo de morte?” Todo esse sistema é um sistema de morte, mas depois ele acrescenta, “dou graças a Deus pelo nosso Senhor Jesus. Agora encontro tudo em Cristo”. Ora, essa é a luta desta carta aos gálatas. Então, isto é ao que Paulo chama de Evangelho. E como não tenho o tempo para passar à segunda coisa nesta manhã, vou o deixar por aqui. Me refiro à segunda coisa fundamental que se encontra sob esta carta. Se Deus quiser, falaremos acerca disso amanhã. Mas, aquele que foge, LEIA; e aquele que leia, fuga. Fuga de todo este tipo de coisa para a liberdade com a que Cristo nos faz livres.

O que tenho feito esta manhã foi apenas apresentar esta grande pergunta. Esta grande pergunta da verdadeira natureza do Cristianismo, ou daquilo que entrou com Jesus Cristo. Mas devo dizer isto para acabar, não tome tudo o que tenho dito como tudo; isso é apenas o principio. Temos que realmente ver o que é no que estamos, em Cristo. Em geral, estamos em liberdade. Mas temos que ver o que isso significa. Portanto, não vá embora e diga: “bem, ele disse isto”. Apenas fique calmo e diga, “tem algo mais que temos que aprender sobre isto”. O deixo com vocês por esta manhã, mas é um Evangelho glorioso – o Evangelho de nossa liberdade em Cristo. E refutamos ser trazidos de volta à escravidão por qualquer homem.

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