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A Administração Do Mistério - Volume 1

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 – A Manifestação da Glória de Deus


Ler: Hebreus 1.


Como primeira coisa nesta meditação sobre Cristo, temos nos ocupado com a concepção sempre crescente de Cristo que marcou a vida do Apóstolo Paulo. Primeiro vimos como foi que Paulo, sendo ele judeu, compartilhou a sua própria concepção terrena e estreita sobre o Messias, tão comum à sua raça, com toda aquela idéia, privilégio e posição, de um reino temporal, e como, para ele, tal concepção ficou prejudicada devido à revelação que ele teve do Senhor Jesus quando viajava pela estrada de Damasco.

Esta crise marcou o início de um conhecimento sempre crescente de Cristo. Paulo aprendeu que não somente Jesus de Nazaré era, Ele próprio, o tão esperado Messias, mas que também Ele era o Filho de Deus, e que, desde os tempos eternos, Ele já estava no seio do Pai. A partir de então, Cristo passou a ser para ele não mais uma figura circunscrita ao tempo; e mostramos como foi que, mediante mais revelação, este fato chegou a estar relacionado ao que Paulo freqüentemente chama de propósito; o propósito de Deus, o Divino Conselho – “...o qual opera todas as coisas conforme o conselho de Sua vontade…” Isto se refere ao “antes dos tempos eternos”, e neste propósito, naqueles conselhos Divinos desde a eternidade, muitas coisas são encontradas, e Paulo faz referência a elas. Vimos que esses conselhos Divinos (este propósito eterno) dizem respeito ao universo, e ao homem em particular, e que ambos, tanto o universo como o homem, estão reunidos em Seu Filho: “conforme o propósito que Ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir nele todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra, na dispensação da plenitude dos tempos”. Isto nos leva a considerar um ponto que, talvez, exija uma nova afirmação, ou, pelo menos, uma reiteração, o que fazemos agora.


O Propósito das Eras


Esses conselhos eternos (o propósito eterno de Deus) representam a linha reta de Deus através das eras, e, como estamos considerando, nada têm a ver com a redenção. A redenção é uma outra linha, uma linha emergencial. Estávamos dizendo que esta plenitude de tempos, de eras, de estações, representa o método eterno de Deus de desdobrar a Sua plenitude, e de levar os homens a ela. São estágios de crescimento, de progresso, de desenvolvimento, concernente ao Filho, e, como dissemos, tudo isto era para ser uma linha reta através das eras. As outras eras das quais lemos, as eras deste mundo, conforme as condições atuais, na verdade é uma outra linha, que introduz outra expressão de propósito. Foram trazidas, se assim podemos colocar, figurativamente ou imaginariamente, da seguinte maneira: a Divindade, em conselho, propôs um plano para todas as eras futuras, de eternidade em eternidade, e, neste plano, tudo era claro e reto. Haveria uma revelação progressiva de Deus em Seu Filho, e o universo seria levado progressivamente a esta plenitude. Mas, então, Deus alcançou um ponto onde, devido à Sua presciência, teve que dizer (imaginariamente falando): “Sabemos o que irá acontecer. Em determinado momento o homem que criamos irá fracassar, irá cair. E isto irá significar um longo período de desordem, de rompimento, de caos, e precisamos cuidar disso”. Então foi introduzido o plano da redenção, e o Cordeiro foi morto antes da fundação do mundo. Esta é uma outra linha do propósito. Assim, as eras deste presente mundo tiveram que ser introduzidas; a era antes da Lei, de Adão após a queda até Moisés, uma era governada por determinadas coisas; depois, a era da Lei até Cristo; então, a era ou dispensação da Igreja. Tudo isto não estava incluído no plano original. É preciso dizer isto, pois, de outra maneira, Deus seria o responsável pelo pecado, e você poderia dizer: Bem, se Deus planejou tudo isso, então a queda estava incluída; Deus teve que trazer a queda! Porém, isto não é verdade. Nenhum de nós podemos acusar Deus de ter planejado a queda, a fim de tornar necessária a redenção. A redenção é é uma outra linha do propósito, de planejamento conforme a presciência de Deus. A primeira linha do propósito não era esta, e, como dissemos, você começa em um nível e alcança um ponto onde, por causa do fracasso, do pecado, encontra uma depressão na linha, e nesta depressão, nesta brecha, toda a história da redenção é vista. Cristo é a ponte que faz a ligação ao propósito original, e Sua realização, da eternidade passada à eternidade vindoura. Vindo à semelhança da carne pecadora, mas sem pecado, o Redentor se coloca na brecha e executa o propósito das eras em Si mesmo. As atuais dispensações são, digamos, subsidiárias em sua natureza, e foram trazidas devido a uma emergência. Deus jamais quis que fosse desta maneira. Fiquemos bem certos disto.

O fato que está claro para nós, e que possui um valor tremendo, é que Deus desejou que houvesse eras, tempos, períodos nos quais pudesse haver uma revelação, uma manifestação e uma apreensão crescente de Si mesmo. Talvez isto possa soar como algo especulativo, mas perguntemos: O que teria acontecido se a queda não tivesse ocorrido? Se o homem tivesse sobrevivido ao teste no jardim, e não tivesse caído? O que teria acontecido? Acredito que o homem teria crescido, crescido, crescido em sua apreensão e conhecimento de Deus; crescido em sua expressão pessoal de Deus. Deus teria, assim, assegurado uma expressão progressiva de Si mesmo, e, vendo que Deus é o que é, não haveria limite para isto; a coisa poderia ter continuado através de infinitas eras, com movimentos neste universo rumo a uma plenitude cada vez maior de Deus.

Não estamos falando de um homem individual, mas de um homem coletivo. É isto que Deus deseja, e é isto o que será. Fazer a ponte. Prosseguir diretamente através da lacuna que foi preenchida pelo programa da redenção, e levar a questão até o ponto onde a redenção esteja completa. Voltar ao primeiro nível de Deus, triunfante sobre o inimigo, e convergir tudo para lá. O que você terá? Você terá uma expressão progressiva e sempre crescente da plenitude de Deus exibida através de eras, e círculos cada vez maiores da revelação de Deus. Não é possível abarcar a plenitude de Deus. Levará a eternidade para expressá-la.

Toda esta plenitude está em Cristo; e o nosso ponto no momento é o seguinte: quão grande é esta plenitude! Que Cristo é este que temos! Irá levar a eternidade para conhecê-lo. Não há significado pequeno nesta declaração. Lembremos das palavras do próprio Senhor Jesus: “...ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai…” Naturalmente isto não implica apenas uma questão de identificação, isto é, que ninguém conhece quem é Cristo, exceto o Pai. Mas implica no que Cristo representa neste universo, tudo o que Ele é em Sua posição. Acredito que é para uma compreensão desta que o Senhor está nos chamando. Deus quer que alcancemos uma nova compreensão e apreensão de Seu Filho, e esta apreensão é o nosso caminho para fora, para cima, para a plenitude. Como dissemos, isto está relacionado ao propósito, aos conselhos divinos acerca do universo, e ao homem, em particular.

A Personificação do Pensamento Divino em Um Ser

Seu significado central foi em relação a um tipo de ser criado chamado homem; o homem é uma expressão do pensamento Divino, uma imagem e uma semelhança de algo concebido na mente de Deus. Esses são os conselhos eternos provenientes do propósito eterno, o conselho de sua vontade. Vamos agora fazer uma interrupção.

Deus pensou pensamentos. Você e eu pensamos pensamentos, pensamentos que correspondem à nossa constituição mental, à nossa natureza, à nossa composição. Alguém pensa de uma maneira porque ele é desta maneira, outro, de outra maneira, porque ele é daquela maneira. Nossos pensamentos são a expressão da nossa própria natureza, da nossa própria constituição, da nossa própria disposição, da nossa própria composição. “Pois assim como pensou em seu coração, assim ele é....” (Prov. 22:7). O pensamento é o homem em essência. Deus pensou pensamentos. Tais pensamentos eram Deus em essência. Era a mente projetada de como Deus é, o que Ele é. Esses pensamentos foram projetados na direção de um objeto chamado homem, para que o homem pudesse ser uma expressão, uma personificação viva dos pensamentos de Deus.

Deus desejou desejos. Agora, a respeito do homem, é igualmente verdade que, assim como ele deseja em seu coração, assim ele é. Nós desejamos de acordo com as nossas inclinações, de acordo com as nossas preferências, de acordo com o que sentimos ser o melhor. Nossos desejos expressam a nós mesmos. Os desejos de Deus são a expressão de Sua própria natureza, do Seu próprio ser, de Sua própria semelhança. Esses pensamentos foram concentrados no homem, para que ele pudesse ser uma personificação viva do coração de Deus, do desejo de Deus; desejando um desejo com Deus, pensando um pensamento com Deus; fosse um em mente e em coração com Deus.

Deus quis ter uma vontade. Nossas vontades sempre nos traem. O que nós desejamos é a manifestação, a revelação daquilo que estamos buscando, que queremos dizer, daquilo que pretendemos. Isto também é verdade em relação a Deus. Deus quis ter uma vontade, e esta vontade era o próprio Deus, segundo a essência da natureza, da disposição e da intenção de Deus. Esta vontade de Deus foi focada no homem, para que ele pudesse personificar a Sua vontade e expressá-la de forma viva e pessoal; vivendo nela e por ela, tendo todo o seu ser reunido numa expressão inclusiva e positiva: Tua vontade, ó Deus! Era para haver um ser chamado “homem”, o qual, segundo sua ordem, fosse, no sentido moral e espiritual, a própria imagem e semelhança de Deus. Não foi para compartilhar a Divindade, mas para ter a natureza moral e espiritual de Deus reproduzida na mente, no coração e na vontade do homem, expressada na criação. É nisto que consistiu o pensamento de Deus, e este é o grande propósito. Deus queria que Sua vontade fecundasse, multiplicasse e enchesse a terra; que crescesse e se expandisse; que moralmente e espiritualmente ela alcançasse todos os reinos e enchesse todo o universo. Forças morais são forças que vão muito além dos indivíduos nos quais elas repousam e estão centradas.


A Mentira de Satanás e Suas Consequências


Agora você pode compreender porque Satanás buscou raptar o homem; porque ele agiu do jeito que agiu. É como se ele dissesse: “Rejeite a mente, a vontade e o desejo de Deus!” Em outras palavras: “ao invés disto, aceite a minha vontade!” E o que você tem? A extensão desta vontade para o universo, a partir do homem! Essas forças morais, que são diferentes daquelas pretendidas por Deus, são agora forças cósmicas. São forças que têm extrapolado em muito a pessoa do indivíduo, da família, alcançando toda a raça, e todos os reinos do cosmo. Existe, então, outra vontade, diferente da vontade de Deus, que está saturando a própria atmosfera. Existem outros desejos, outros sentimentos, outros pensamentos, todos eles contrários a Deus.
Veja, então, a terrível alternativa. Veja quão longe esta questão chegou. Tivesse o homem sido fiel aos pensamentos expressos de Deus, aos Seus desejos, à Sua vontade; tivesse o homem, em outras palavras, sido fiel a ele mesmo, como era para ser fiel a Deus, este mundo, e todo o cosmo, seria hoje uma expressão do pensamento, do desejo e da vontade de Deus. Que mundo seria! Que universo seria! Mas o que temos agora? Algo que nem mil ligas de nações jamais poderá endireitar. O homem liberou algo ao universo, devido à sua traição, devido à sua cumplicidade com o inimigo de Deus, que deve se desenvolver até conseguir fazer com que toda a criação seja uma expressão daquele ser que se revoltou contra Deus: Mas irá alcançar a sua própria perdição. Que diferença! Ela está operando desta maneira. Tente conter a guerra. Quão inútil! A guerra é fruto daquilo que foi liberado ao universo: “apenas há um que o detém agora, até que seja tirado do caminho”. Quando aquilo que o detém for completamente removido, você irá ver toda a criação como uma massa levedada, fervendo anarquia e auto-destruição. Deus jamais pretendeu que fosse desta maneira.

Você entende o pensamento, a intenção e o propósito de Deus para o homem? O propósito de Deus era expressar-se a Si mesmo a todo o universo. Com esta dispensação e criação, exatamente o contrário está ocorrendo, e será assim até o fim. Este não é o pensamento, o desejo e a vontade de Deus; é anarquia. É oposição a Deus, ao Seu propósito; é contra a Sua criação. Graças a Deus estamos fora desta criação, porque estamos em Cristo, e Cristo é a ponte. Ele nos leva de volta ao propósito original. Nele você tem os pensamentos, os desejos e a vontade de Deus perfeitamente expressos, e nós estamos nele; somos uma nova criação em Cristo Jesus. Agora, qual é o nosso assunto? É aprender por meio do Espírito Santo a viver segundo os pensamentos e desejos de Deus, a viver no caminho de Deus. Isto está adiante de nós, para futuras considerações. Foi apenas colocado aqui como sugestão.


Conformidade a Cristo, Essencial, Moral e Espiritualmente


Como você pode ver, o resultado desejado era que houvesse uma raça corporativa que fosse uma expressão daquilo que Deus é em essência. Não digo deidade, mas me refiro àquilo que foi pretendido como essência moral; os tipos de pensamentos que Deus pensa, os tipos de desejos que Deus deseja, o tipo de vontade que Deus possui. Deus queria uma raça corporativa que fosse uma expressão de Si mesmo. Você vê isto em Cristo. Quando você conseguir enxergar tudo isto, então você terá o significado de Cristo. É isto que Cristo significa. Esta é a interpretação de Cristo. Quão grande Ele é!

Paulo vê Cristo completamente elevado para fora do tempo; ele vê Cristo relacionado ao propósito de Deus; Sua expressão, imagem e esplendor; a própria essência de Deus. Sim, Sua deidade incluía a essência moral de Deus. A expressão de Deus numa imagem moralmente constituída segundo Deus, isto é Cristo.

É algo muito grande ver Cristo, e, então, ver que nós fomos escolhidos nele para sermos desta maneira, “...conforme a imagem de Seu Filho.” A primeira representação deste pensamento, desta mente, deste coração, desta vontade de Deus, foi o Filho; e o Filho não foi criado, mas sim gerado. O homem foi criado para ser conforme a imagem do Filho, mas o Filho não foi criado. Ele era o Unigênito do Pai; único, sozinho, inclusivo, conclusivo.

Essas não são meras palavras. Na criação, segundo Deus, não existirá absolutamente nada a não ser aquilo que é de Cristo. É importante perceber isto. Isto irá dominar muito aquilo que ainda temos a dizer. Graças a Deus, você e eu não seremos da maneira que somos hoje. Não é para ser Cristo e nós, mas tudo é para ser Cristo. Isto é, Cristo será tão corporativamente expresso que, tirando a questão da deidade, a essência moral e espiritual de Cristo irá governar completamente cada unidade no universo. Será Cristo neste sentido; um grande Cristo universal, coletivo e corporativo! Sim, haverá multidões que nenhum homem jamais poderá contar, contudo, tão conformadas à imagem de Cristo que, olhando para qualquer um, em particular, ou para todos, a conformidade espiritual a Cristo será vista. Não estamos afirmando que Cristo irá perder a sua individualidade, que será absorvido por alguma inclusividade onde todas as Suas próprias distinções pessoais desaparecerão; não, estamos dizendo que, quando estivermos conformados à Sua imagem, seremos como uma grande pessoa, o Corpo de Cristo aperfeiçoado, uma expressão corporativa e coletiva daquilo que Cristo é.
Paulo se refere a isto quando, com muita fé, representando uma tremenda vitória e ascendência, diz: “...a partir de agora, a ninguém mais conhecemos segundo a carne” (2 Cor. 5:15). Isto representa uma enorme vitória. Em nossas relações com os filhos do Senhor, por exemplo, Paulo quer dizer que, apesar de tudo o que possamos encontrar de inconsistência, de fracasso, devido ao que eles são por natureza, devemos focar toda a nossa atenção no Cristo que está dentro deles, e, por serem eles de Cristo, e por Cristo estar neles, isto torna esta habitação de Cristo neles a base de todas as nossas relações com os nossos irmãos, desviando os nossos olhos completamente do nosso irmão; temos que conhecer os nossos irmãos segundo Cristo, e não segundo a carne. Isto não será difícil nas eras vindouras, pois, então, não haverá mais nada, a não ser o que é de Cristo em nós. Veremos Cristo uns nos outros; estaremos plenamente conformados à Sua imagem. Que o Senhor apresse este dia!

Que Cristo! Perceba a Sua posição no propósito de Deus. Veja o universal e eterno Cristo abraçando a todos, e excluindo tudo; excluindo tudo aquilo que, em caráter, não é adequado a Deus, que não vem de Deus, e incluindo em Si mesmo, como Filho, tudo aquilo que estiver em conformidade à Sua imagem. O Cristo inclusivo da criação, pois todas as coisas foram criadas para Ele. Elas serão Sua, porém, purgadas moralmente e tornadas adequadas a Ele. É por isso que Jesus recusou as coisas oferecidas pelo Diabo. “tudo isto te darei se prostrado me adorares”. (Mat. 4:9). Jesus desdenhou da oferta. O caminho seria custoso – e Ele sabia disso – mas Ele não seria ludibriado por aquela proposta. Na verdade Ele diz: “Eu terei todas essas coisas, mas somente quando todos os problemas e corações divididos tiverem desaparecidos”. Este é o efeito; a criação toda incluída em Cristo. Que Cristo!

Um dos grandes fatores e características que regem a nova criação em Cristo é a vida imortal. Na atual criação, na melhor das hipóteses, quem reina é a morte, a decadência. Vida imortal! Não há morte na nova criação, absolutamente.

Todas as eras estão incluídas em Cristo. Sim, ainda há eras vindouras — “...nas eras por vir...” essas eras estão sendo incluídas em Cristo. Isto significa que Cristo irá conferir o Seu caráter a elas. Elas devem tomar sua natureza a partir de Cristo, e, uma vez que se tratam de eras, significa que progresso, aumento, expansão, extensão, é tudo uma questão de se continuar avançando e ir se ampliando em Cristo. As eras foram feitas para Ele, e as eras vindouras são para a manifestação de Cristo em nós. Toda plenitude Divina está em Cristo. Essas declarações estão na Palavra.


O Dom da Vida Eterna


Na criação do homem, no princípio, um grande fator ficou suspenso. Talvez tenha sido o fator mais importante, o qual ficou suspenso durante a provação, durante a prova. Qual era este fator que tão inteiramente dependia de como o homem se sairia no teste? Era a vida eterna; vida do ponto de vista Divino; o que Deus quer significar com vida. Este fator ficou suspenso durante a prova do homem, e isto introduz mais outro grande fator da Palavra de Deus — ou seja, a revelação de Deus. Esta é a grande questão governante na história desde Adão. A grande questão governante é: Em quem poderia habitar isto que é chamado de vida eterna? Sabemos que a vida eterna não é apenas duração de existência. É um tipo de vida; é a vida de Deus, vida Divina, a vida de todos os tempos. Em quem esta vida poderia habitar? Esta é a grande questão que rege a história. A resposta a esta pergunta é Cristo: “...nele estava a vida...” Ele é a vida. Porém, eis que nós O vemos não apenas como pessoal, individual, separado, mas também como uma pessoa corporativa; toda a criação em Cristo.

Isto conclui a primeira fase, dando início à próxima. Até este ponto, tudo, no que se refere ao tempo presente, é uma grande questão. Neste tempo de redenção, trazido como uma segunda linha no arranjo Divino, toda a questão da nossa resposta ao chamado de Deus, da nossa aceitação a Cristo, e da nossa união a Ele, tudo isto está na balança. Uma grande questão paira sobre esta dispensação: Quem irá aceitá-lo? A muitos Ele tem dito: “e não quereis vir a Mim” ... (João 5:40). A questão é colocada assim que a vida esteja dentro; você começou no ponto exato onde Adão fracassou, e imediatamente foi tirado do buraco, da curva; você foi levado a Cristo, indo direto para a linha reta do propósito eterno, que, em sua concretização, resultará num universo cheio de Cristo: “Até a dispensação da plenitude dos tempos, a fim de convergir todas as coisas em Cristo...”

Você deve estar se perguntando: o que significa tudo isto? Se isto ainda não está claro para você, podemos resumi-lo nas seguintes palavras: o propósito de Deus é manifestar a grandeza de Cristo, isto é tudo. Agora, precisamos que aconteça conosco, na graça de Deus, o mesmo que aconteceu a Paulo, o qual alcançou esta concepção sempre crescente e inesgotável de Cristo.
Recordemos de suas próprias palavras: “…aprouve a Deus revelar Seu Filho em mim...” Você deve ter ouvido tudo isto: isto pode ter-lhe soado mais ou menos maravilhoso; você pode conhecer a verdade de maneira intelectual; mas existe toda uma diferença entre esta e aquela maneira como Paulo conhecia a verdade. A maneira de Paulo conhecer a verdade traz emancipação.
Você já viu uma mosca numa garrafa? Ela gira e roda, batendo-se de um lado para o outro, subindo e descendo, e você sofre vendo a mosca. Você a vê subir um pouco, e a sua esperança cresce junto com ela, mas, então, você a vê descer, tentando encontrar uma saída, debatendo-se. Então, sobe, sobe, e sobe, alcançando o topo, sai e voa para longe! Esta é a diferença.

Você e eu, com todo o nosso conhecimento intelectual e mental acerca do reino espiritual, descobrimos que se trata de algo desesperançoso se estivermos vivendo aqui em baixo, nesta criação. Hoje seria fácil desesperar, cair, devido ao estado em que as coisas se encontram. Saia pelo mundo afora e veja se você encontra alguma perspectiva para a igreja, para o evangelho, para o Senhor. Olhe para a própria situação da igreja. Traga a carta aos efésios para o plano terreno deste mundo! Você irá desistir e dizer: É uma concepção maravilhosa, mas é algo impossível. Tente realizar a coisa aqui neste mundo e você entrará em desespero. Observe Paulo, quando ele olhava para as igrejas que ele próprio tinha gerado e as via caindo aos pedaços, e os homens pelos os quais ele tinha sofrido, voltando-se contra ele. Paulo teria se desesperado em seu coração, teria vivido aqui em baixo. Quais eram as possibilidades em tais circunstâncias? Mas ele se posicionou nos lugares celestiais em Cristo Jesus e viu que se tratava de algo espiritual, algo eterno. Leia a carta aos efésios novamente e observe como ela se inicia: “Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com toda sorte de bençãos espirituais em Cristo; bem como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para que pudéssemos ser santos e irrepreensíveis diante dele em amor: tendo nos predestinados como filhos de adoção através de Jesus Cristo, conforme o beneplácito de Sua vontade, para o louvor da glória de Sua graça, que Ele livremente derramou sobre nós no Seu Amado: em quem temos a redenção através de Seu sangue, o perdão de nossos pecados, segundo as riquezas de Sua graça...” (Efésios 1:3–7).

Estas são as palavras de um homem com sua vida caindo aos pedaços e com todos os seus velhos amigos pelos quais ele tinha sacrificado a si próprio se voltando contra ele. O que Paulo viu? Viu a eternidade, a universalidade de Cristo, viu todas as coisas em Cristo. Paulo não está mais vivendo neste mundo, mas sim em Cristo. Esta é a única saída. Este é o caminho da vida, da esperança, da garantia em dias como os nossos, quando as coisas se fecham. Cristo é a saída: “...nos lugares celestiais em Cristo...”; “...nos escolheu antes da fundação do mundo…” Mais uma vez exclamamos: Que Cristo!
Permaneçamos no Senhor Jesus, pois tudo que precisamos está nele.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.