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A Administração Do Mistério - Volume 1

por T. Austin-Sparks

Capítulo 9 – O Homem Celestial e a Vida Eterna


É Cristo na condição de Homem Celestial que é a nossa consideração neste momento, e temos visto que a principal fonte do Ser do Homem Celestial é a vida eterna. “Nele estava a vida…”. (João 1:4); “...como o Pai tem vida em si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo...” (João 5:26). É vida eterna, vida Divina, vida de Deus, um tipo especial de vida; não apenas extensividade de vida, mas uma natureza de vida. A principal fonte do seu Ser como Homem Celestial é a vida eterna. O Senhor Jesus, como o Filho de Deus, sempre esteve designado como o Doador da vida. Desde a eternidade esta vida estava nele para a criação.

Vida Eterna em Vista Desde a Eternidade

As palavras no evangelho de João, usadas pelo Senhor Jesus, que foi dado a Ele pelo Pai, o ter vida em Si mesmo, e dar esta vida a quem Ele queira, levam-nos de volta para antes dos “tempos eternos”. Aqui elas se referem à redenção, mas não é aí que esta questão de dar vida, esta questão sobre o propósito de Deus em relação à vida, se inicia. É mostrado a nós que desde o princípio, antes que houvesse a queda, e, portanto, antes que houvesse qualquer necessidade de redenção, o pensamento de Deus já era a vida eterna, e, quando, a partir da queda, Ele bloqueia o caminho da árvore da vida, Ele assim o faz pelo seguinte motivo: “...para que ele não estenda a sua mão e coma também da árvore da vida, e viva para sempre...” (Gen. 3:22). Deus já tinha feito tal providência. A vida eterna estava no pensamento dele, mas ela estava designada a um determinado tipo de homem, e o Adão que passou a existir, separado de Deus, não mais permanecia diante dele como aquela criatura na qual a vida eterna podia residir, e, então, ela ficou reservada. Ficou retida no Filho; pois a árvore não é outra coisa senão uma figura de Cristo. Quando chegamos ao final da escritura, a árvore é vista novamente. Cristo é a “árvore da vida”. Cristo é o repositório desta vida, e, então, Ele vem na condição de o último Adão, como sendo o Homem em quem aquela vida pode permanecer.

Através da união com Ele, agora pela redenção, a vida que está nele é transferida para aquele que crê; não de forma separada de Cristo, mas em Cristo, que está no crente. A vida nunca se separa de Cristo. O apóstolo declara que a vida está no Filho, e ela foi dada a nós. Nós temos a vida eterna, e esta vida está no Filho. É no Cristo que reside dentro de nós, na Pessoa do Seu Espírito, que a vida está; ela jamais é adquirida de forma separada dele.
Dissemos que o Senhor Jesus, como o Filho de Deus, sempre esteve designado como Doador da vida. Naturalmente, Ele somente pode ser conhecido assim na condição de Redentor. Ele podia ter sido conhecido como Doador da vida independentemente da redenção, mas agora, por causa da condição do homem devido à queda, Ele somente pode ser conhecido como Doador da vida na medida em que é conhecido como Redentor. Assim, isto com o qual temos a ver agora, aqui no presente tempo, é a redenção e vida, redenção para vida.

Redenção Relacionada ao Propósito Eterno

Aqui queremos novamente falar alguns momentos sobre esta linha mestra do propósito eterno à qual o Senhor está buscando nos levar. Porque ela é tão grande e nos liberta disto com o qual estamos mais inteiramente ocupados no presente tempo, isto é, com a nossa salvação, com a nossa redenção, e com tudo o que está associada a ela; porque esta linha mestra nos tira desta situação e nos coloca num terreno mais amplo, e é muito natural que tenhamos dificuldades, por não sermos capazes de compreender a questão imediatamente. É assim que estamos vendo, por isto é necessário um retorno a esta ênfase principal.

Olhe novamente, atentamente, para a palavra redenção. A palavra carrega em si uma implicação. Redenção implica em trazer de volta. Imediatamente surge a questão: Trazer de volta o que? E para onde? Existe algo que, pelo tempo presente, foi perdido. Que cessou de permanecer em sua relação e posição original. Isto precisa ser trazido de volta, precisa ser recuperado, restaurado, redimido. Então, deve ter havido um lugar, uma posição, e este é o nosso ponto principal.

Estamos procurando dizer neste momento que, antes que houvesse a queda do homem, e mesmo antes que houvesse a criação, houve um conselho de Deus que resultou num propósito, e a linha reta deste propósito através das eras foi destinado a desenvolver progressivamente uma manifestação universal de Deus no homem, através do Seu Filho. Assim, através do Filho, Deus criou todas as coisas. Tudo o que foi criado no céu, na terra e no universo, veio, através do Filho, ser em si a imagem do Filho, Deus expresso e manifesto em termos de “Filho”. Em relação a isto, nós fomos “...predestinados... para adoção como filhos...” (Efé. 1:5).

Se você ler cuidadosamente a Palavra, irá observar Adão na condição de criança, ao invés de filho adulto; Adão era um filho em estágio probatório, em teste; e, por ter ele fracassado, jamais alcançou a maturidade. Alguns de nós estamos acostumados com o ensino do novo testamento sobre a diferença entre uma criança de Deus e um filho adulto. Adão estava na infância do propósito de Deus, da intenção de Deus. Ele precisava crescer, desenvolver, tornar-se maduro, expandir, alcançar a plena estatura; e não estamos dizendo que aquele foi o único teste, o teste final para a maturidade, mas foi o primeiro. Todo o plano de crescimento, de desenvolvimento progressivo rumo ao pleno crescimento, ao homem corporativo, não necessariamente repousa sobre a redenção. Repousa sobre o propósito eterno, os conselhos eternos. A linha reta das coisas teria prosseguido independentemente de qualquer plano de redenção, e seria realizado. Se Adão não tivesse caído, o propósito eterno ainda teria sido realizado, porque tudo está eternamente investido no Filho. Agora, na medida em que o homem é incluído, Adão foi incluído. Adão fracassou, e com ele, a raça. Então, o plano redentor precisa entrar em cena; um plano tão completo nos conselhos de Deus, porém, um plano desenvolvido e projetado devido a algo que saiu errado. Não podemos dizer que a queda foi correta, mas ela ocasionou um plano, um plano perfeito, maravilhoso, e, quando Deus elaborou este plano, quando em Seus conselhos eternos Ele estava projetando todo este esquema de criação, de intenção e propósito, então a atitude, quando lemos estes conselhos, indubitavelmente foi a seguinte: ‘Sabemos, pois, sendo o que somos, conhecedores de tudo, não podemos deixar de saber como as coisas irão se dar. Sabemos que nosso primeiro pensamento não será imediatamente realizado, que haverá esta curva, esta interrupção. Assim, projetamos este novo plano de redenção pelo qual entramos por esta dobra e trazemos novamente as coisas para o nosso nível. Vamos suprir a lacuna; e, ao fazermos isto, não iremos perder; iremos ganhar. Esta obra do adversário, toda esta tragédia, este sofrimento não irá nos tirar do nosso plano original, não irá diminuí-lo nem um pouco, nem irá significar apenas que voltamos ao nosso nível; nós iremos voltar com glórias adicionadas, e estas serão as glórias da graça’. Deus sempre reage à obra do Diabo desta maneira; Deus sempre obtém mais do que Ele tinha antes, por meio do sofrimento. O sofrimento não é a vontade de Deus, assim como também não é o pecado, porém, através do sofrimento do Seu próprio povo, Ele sempre garante algo mais do que aquilo que havia antes. Deus é sempre “mais do que conquistador”. Isto significa que Ele obtém glórias adicionais como resultado da interferência do inimigo, ou seja lá o que possa ser dito a respeito. Isto acontece nos detalhes da experiência individual, mas, em sua plenitude, em todo o seu movimento, esta interferência ocasionou todo o plano e sistema redentor.

Reconhecemos isto, mas esta não é, no momento, a coisa com a qual estamos lidando. Fosse assim, deveríamos estar falando sobre as glórias da redenção. Mas o Senhor depositou esta responsabilidade do Seu propósito eterno para o homem em nossos corações no tempo presente, e não cremos que nem por um momento estamos tirando as glórias da redenção, ou colocando a redenção num lugar de importância menor do que deveria ter. Se a você parece que estamos ignorando, ou colocando a redenção em segundo lugar, não é que estamos enxergando menos valor nela do que realmente há. Deus nos livre disto! Como podemos conhecer a Deus sem a redenção? Ao mesmo tempo, o que temos em vista é o Filho de Deus. Não a redenção, mas o Filho de Deus, este Homem Celestial, como representante do pleno pensamento de Deus para o homem, e para este universo com o qual estamos lidando. O Filho de Deus como Redentor é apenas uma expressão do Filho, e uma expressão que, embora tão cheia de glória, e que para sempre deva ser o tema do redimido através das eras, tornou-se dolorosamente necessário aqui no tempo. Ela fala de tragédia; fala do coração partido de Deus, do sofrimento de Deus. Mas esta, contudo, como dissemos, não é a nossa principal consideração no momento, mas, nestas meditações, estamos ocupados com Cristo na condição de Homem Celestial.

O Tesouro Perdido

Dissemos que somente podemos conhecer o Homem Celestial como doador da vida agora em termos de redenção, como o Redentor: “...o Filho do Homem veio buscar o que se havia perdido” (Lucas 19:10). O que entendemos com esta escritura? Naturalmente, em termos de evangelho, temos pintado quadros de ovelhas perdidas, e temos pensado sobre os indivíduos que estão fora, desviados do Senhor, como algo que está perdido. Bem, isto é bem verdade, mas você precisa ir mais longe do que isto ao interpretar esta escritura. Deus perdeu alguma coisa, e o Filho do Homem veio para recuperar aquilo que Deus havia perdido. O que é que Deus havia perdido? Ouça novamente: “O reino do céu é como um tesouro escondido no campo, que um homem encontrou e escondeu; e cheio de alegria foi e vendeu tudo o que possuía, e comprou aquele campo” (Mat. 13:44). O que é o tesouro? O que é o campo? O campo é o mundo, o tesouro é a igreja. Este tesouro está escondido, e o Senhor Jesus pagou o preço pelos direitos totais de toda a criação, a fim de ter a igreja que estava no mundo. Cristo adquiriu-a através da redenção, pagando o preço, direitos universais, a fim de assegurar aquele tesouro, a igreja. A igreja é o tesouro que estava perdido. O que é a igreja? A igreja é o novo homem, a plenitude da medida da estatura de Cristo. É o homem celestial corporativo, a expressão de Cristo em forma corporativa, é a Sua herança nos santos. Este é o tesouro precioso.

A igreja não é a única coisa, mas é a coisa central. O Senhor Jesus adquiriu os direitos universais, e haverá outras coisas em adição à igreja. Haverá nações caminhando à luz dela. A redenção vai além da igreja, porém, a igreja é a coisa central. O Senhor a encontrou, e este foi o tesouro que estava perdido que determinou o Seu curso, fazendo-O pagar o preço. Isto é um pensamento tremendo. A igreja é tão preciosa para Ele que fez com que Ele pagasse o preço por todo o universo, a fim de tê-la para Si. Este é o ponto focal. A igreja é a chave da redenção. Ela é aquilo que está alcançando a perfeita imagem de Cristo. Tudo mais será secundário. Haverá um reflexo de Cristo através da igreja; a luz de Cristo irá irradiar sobre tudo mais; o que Ele é irá repousar sobre todas as coisas; tudo mais irá tomar a sua característica a partir daquilo que Ele é na igreja, porém, a igreja estará no centro: “...as nações caminharão à sua luz...” (Apocalipse. 21:24). É uma coisa tremenda viver nesta dispensação quando o Senhor, embora tendo adquirido os direitos do universo, de toda a criação, através de Sua cruz, está especialmente concentrado sobre este tesouro agora, para tomá-la da criação.

“O reino do céu [deve estar no plural, o reino dos céus] é como um tesouro escondido no campo; o qual um homem achou e escondeu...” O Senhor está fazendo uma obra secreta em relação à igreja. É algo sempre perigoso trazer aquilo que imaginamos ser a igreja para um lugar visível, e fazer dela uma coisa pública. A igreja verdadeira é uma companhia secreta, escondida, e uma obra secreta está se desenrolando nela. Esta é a sua segurança. Quando você e eu nos lançamos em grandes movimentos públicos, exibindo e fazendo publicidade, nós acabamos expondo a obra de Deus, nós a abrimos para muitos perigos. Nossa segurança consiste em nos mantermos onde Deus nos tem colocado, no lugar escondido com Ele. É por isso que “O reino do céu (céus) é como...” Qual é o significado desta frase? Significa que todo o sistema está focado na igreja. Ela é o centro do sistema celestial. Tudo o que este “os céus” significa, no sentido espiritual, está interessado na igreja, o tesouro do campo. Por que isto? Porque, novamente, a igreja é o homem celestial em Cristo.

Tome a pessoa do Senhor Jesus, como o Homem Celestial. Todo o universo está interessado nele. Em Seu nascimento o céu está ativo; as hostes de seres celestiais irrompem em relação a Ele. O inferno também está ativo e, através de Herodes, busca destruir o Seu nascimento e todo o seu significado. Você descobre, através da vida terrena do Senhor, que todo o universo tem sua atenção focada nele, e está relacionada a Ele, de modo que, em Sua morte, até o sol esconde a sua face, a terra treme, e há trevas sobre a face dela. Todo o universo está ligado a Ele.

O reino dos céus e todo o sistema celestial, está interessado neste tesouro do campo, por causa de sua significação eterna, de sua relação, de seu propósito. Isto é algo tremendo. Agora, naturalmente, você é capaz de avaliar mais exatamente o valor e o significado da redenção. Enxergar o pano de fundo das coisas não é remover a redenção, mas é acrescentar algo a ela. É dar à redenção um significado muito maior do que o de apenas ser salvo e alcançar o céu. Naturalmente, a salvação de indivíduos é algo grande. Mas, quando enxergamos a redenção que está em Cristo Jesus, à luz do eterno propósito de Deus, quão imenso ela é! Se você realmente quer apreciar e avaliar corretamente a redenção, você terá que vê-la no lugar onde Paulo a colocou, e ver que ela é algo cósmico. A vinda à redenção da parte de cada indivíduo é uma vinda a algo imenso, algo muito maior do que a redenção do próprio indivíduo em si. Todos os poderes e inteligências do universo estão ligados e interessados na redenção. Cremos que para melhor apreciar e desfrutar das coisas de Deus, é necessário entender o eterno e universal propósito que está por trás delas, e não tomá-las como algo em si mesmas. É desta maneira que Paulo via a redenção.

Vida Eterna, o Princípio Vital da Redenção

O princípio vital na redenção tem que ser implantado. A redenção não é algo objetivo, algo que é feito por nós. É isto, mas não apenas isto. Não é meramente um sistema realizado, mas a redenção envolve um princípio vital que precisa ser implantado no crente, e o princípio vital na redenção é a vida eterna, a vida das eras. Assim, a redenção, trazendo com ela o seu princípio vital, imediatamente nos faz voltar a Cristo como o Doador da vida, antes dos tempos eternos, e, então, somos levados diretamente para a vida imortal. A redenção em si, por si mesma, este princípio de vida eterna, expressa-se a si mesmo ao nos trazer de volta ao lugar onde Deus pode fazer o que era impossível que fosse feito no primeiro Adão, nos traz para o lugar onde Ele pode dar vida eterna. Quando entramos na redenção, todas as eras deste mundo são apagadas, em questão de tempo, e imediatamente encontramos a nós mesmos como sendo seres eternos, ligados de volta ao Deus eterno. O princípio vital da redenção é a vida eterna a ser implantada no redimido.

Progressiva Redenção no Crente Através do Princípio da Vida

Outra coisa que se depreende é que este princípio vital torna a perfeita redenção que há em Cristo Jesus progressiva em nós. Em Cristo a nossa redenção está perfeita. Temos uma plena redenção em Cristo. Seu Ser em glória indica que a redenção está completa. Porém, quando o princípio da redenção, isto é, a vida eterna, é introduzida em nós através da fé, aquilo que está perfeito em Cristo, como redenção, inicia um curso progressivo em nós quanto ao princípio de vida. A redenção se torna progressiva em nós através da vida. Esta vida é algo progressivo. Nós somente chegamos ao conhecimento e ao gozo da plena redenção à medida que a vida aumenta em nós. É o trabalho da vida em nós que irá nos levar à plenitude da redenção. Isto será tornado verdadeiro no espírito, na mente e no corpo. Iremos entrar na plenitude da redenção que está no atual corpo físico e celestial de Cristo. Seu atual corpo físico e celestial é uma representação, um modelo da redenção da nossa humanidade completa. Seremos tornados semelhantes ao Seu corpo glorioso. Através de qual princípio será isto realizado? Através da obra da vida de redenção em nós, progressivamente.

A Dupla Lei da Vida

Agora, como esta redenção opera em nós? Ela opera de duas maneiras. Por um lado, ela opera removendo-nos da nossa própria vida natural como sendo a base do nosso relacionamento com Deus. Isto é algo grande, uma grande obra, uma obra muito profunda. Muitas pessoas, em sua infância e imaturidade espiritual, estão fazendo de suas vidas naturais, de suas energias, de seus entusiasmos, e de todos esses tipos de coisas, a base de seu relacionamento com o Senhor na vida e no serviço. Isto é um sinal de imaturidade. Sabemos muito bem que um crente jovem está sempre cheio de entusiasmo, e pensa que isto é a real força de sua união com Deus, e que isto de fato representa alguma coisa em relação a Deus. Quando, de repente, os ventos de março começam a soprar, e a flor é levada, os tais pensam que o inverno chegou, ao invés do verão. Pensam que perderam tudo. Eles perguntam: O que aconteceu comigo? As letras dos hinos talvez sejam ouvidas de seus lábios:

“Onde está a felicidade que conheci
Quando eu vi o Senhor pela primeira vez?”

Mas você não consegue o fruto enquanto a flor não cair. É o verão, e não o inverno, que assopra as flores para longe. Naturalmente, todos nós gostamos de observar a flor em seu tempo, mas deveríamos estranhar se víssemos a flor lá durante todo o verão. Deveríamos dizer: ‘Alguma coisa está errada aqui, é tempo de a flor cair’. Olhamos mais de perto e vemos algo em seu lugar, cheio de promessa de muito mais valor. Esta primeira flor pode indicar um sinal de vida, mas ela não é a vida em si. O sinal deste começo de vida pertence ao início da primavera, mostrando que o inverno é passado e que a ressurreição está em operação. É um sinal, mas não é a coisa em si, e ele passa com a infância espiritual. Esses entusiasmos iniciais não são a base da nossa real união com Deus, mas são sinais de algo que aconteceu em nós. São de nós mesmo, não de Deus. Deus é algo diferente disto. Ele não vai embora. A vida está operando e irá se mostrar mais forte e de formas mais profundas.

Em todo o nosso caminho durante esta vida, precisamos aprender a diferença entre o que é, afinal, de nós mesmos em relação a Deus, daquilo que o próprio Deus é em nós. Há muita coisa que é de nós mesmos em relação a Deus, e imagino que sempre haverá, em certa medida, até o fim. Ainda há algo de nossas mentes em operação nas coisas de Deus. Podemos pensar tratar-se dos pensamentos de Deus, da mentalidade de Deus, mas ainda há muita coisa que pertence à nossa própria mente humana, à nossa própria constituição mental em relação às coisas de Deus, e iremos sempre descobrir que a mente de Deus é completamente diferente disto, e temos que dar lugar às novas concepções do Senhor. Na vontade e no coração é a mesma coisa.

Falamos do corpo. Esta lei da vida opera para a remoção da nossa base natural em relação ao Senhor, de modo que até em nosso corpo físico nós vamos ao Senhor, em relação às Suas coisas, e Ele se torna até mesmo a nossa vida corporal em relação às coisas celestiais. Isto é um fato. Aí está o testemunho, de que nós, por um lado, somos trazidos progressivamente para um lugar onde, nas coisas do Senhor, não possuímos vida em nós mesmos, onde fisicamente somos confrontados com impossibilidade. Tem sido sempre assim, do ponto de vista de Deus, mas pensávamos que produzíamos muito, pois ainda não tínhamos alcançado esta consciência da nossa incapacidade natural. Agora temos chegado ao lugar onde, em maior ou menor grau, percebemos que, nas coisas de Deus, nós “não podemos”, mesmo fisicamente.

Mas, se de um lado, a vida eterna opera desta maneira, removendo-nos da nossa vida natural como base de nossa relação com Deus, de outro lado, é muito maravilhoso o que é feito. É “o fazer do Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos”. O Senhor vem até mesmo como sendo a nossa vida natural, a fim de fazer mais do que seria possível a nós, em nosso melhor, e certamente muito além da possibilidade atual, porque Ele nos tem feito conhecer que, como homens, nós não somos nada, mesmo em nosso melhor. A vida faz isso. A vida remove um sistema e traz outro, abrindo espaço para Ele à medida que segue.
Isto, creio eu, é o que o Senhor quis dizer quando falou: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10:10). Pensávamos que isto significasse apenas abundância de exuberância. Nós sempre estamos pedindo vida mais abundante, para que possamos nos sentir maravilhosamente eufóricos e cheios de energia. O Senhor é eminentemente prático, e vida mais abundante significa que, tendo vida, você irá sentir a necessidade de mais vida, para que você seja levado um pouco mais adiante; à medida que você avança, irá precisar de vida mais abundante, pois somente esta vida poderá levá-lo à plenitude. E é vontade do Senhor que haja plena provisão de vida até o fim, porque o propósito é um propósito muito abundante. A vida é compatível com o propósito.

Tudo isto e muito mais está ligado a esta afirmação básica de que o princípio ativo da redenção é a vida eterna, e que, embora esta redenção esteja perfeita em Cristo, ela é progressiva em nós através do princípio da vida, e que, para se chegar à plenitude da redenção do espírito, da mente e do corpo, precisa haver um aumento constante da vida da redenção. Esta vida está nos redimindo o tempo todo. Está nos redimindo do presente século mau, de tudo aquilo que veio com Adão. A plena redenção irá ser mostrada quando Cristo se manifestar, e nós com Ele; quando O vermos, seremos semelhantes a Ele. Será simplesmente a manifestação desta vida, a qual é a Sua vida eterna em nós. Oh, as possibilidades desta vida se transfigurar! Quando olhamos para o Senhor Jesus no monte da transfiguração, vemos a manifestação plena da vida que o Pai deu para habitar em nós. Lá esta vida resplandece em sua plenitude, e mostra a você que tipo de Homem este Homem é quando a vida Divina está plenamente triunfante. Ele é um Homem cheio de glória, de perfeição; e, quando nós olharmos para Ele, seremos semelhantes a Ele. A palavra para nós, ao concluirmos, é esta: que Ele nos tem chamado para a vida eterna. Devemos diariamente tomar posse dela em nosso espírito, em nossa mente e em nosso corpo.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.