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A Administração Do Mistério - Volume 1

por T. Austin-Sparks

Capítulo 15 – O Homem a Quem Ele Designou


Ler: Rom. 8:29; Gál. 4:19; Efé. 2:15,16; 1 Cor. 1:24–30, 12:13; Gál. 3:27,28; Atos 17:31.

“Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17:31).

As palavras “do homem a quem Ele designou”, leva-nos de volta ao ponto onde começamos a nossa contemplação das coisas, para os conselhos de Deus antes dos tempos eternos. Foi lá que o Homem foi ordenado. A história deste mundo, então, será reunido, resumido, neste Homem; seu destino está determinado neste Homem.

Façamos algumas afirmações abrangentes e, contudo, concretas, em relação a este fato.

Primeiro, a explanação de Deus a respeito do universo é um Homem. Se quisermos conhecer o significado do universo, devemos olhar para um Homem: e, se olharmos para este Homem a quem Deus designou, e O olharmos com os olhos do nosso coração iluminados, através do espírito de sabedoria e revelação no conhecimento dele, iremos ver a Ele como a explanação de Deus para este universo.

Segundo, a resposta de Deus para tudo o que resultou da queda de Adão é um Homem. Isto é abrangente. Está muito além da nossa avaliação; mas não importa em que ponto ou qual fase da queda de Adão você toque, você irá descobrir que Deus responde através de um Homem, neste Homem. Você pode tomar qualquer uma dessas questões sobre a queda, ao vê-las expressas em diferentes pontos, representando um estado cheio de dificuldade, de complexidade, de aparente tragédia, e perguntar: Como lidar com tudo isso? Como remediar isso? A resposta de Deus é um Homem, o Homem a quem Ele ordenou.

Não quero lançar um curso de ilustração, mas vou dar a você um exemplo do que eu quero dizer com isto. Tome Babel. Babel é um problema: a dispersão do povo, a confusão de línguas, e todo o resultado de Babel, em nações e em diversidades de línguas, com toda fraqueza que daí resulta – uma determinada e intencionada fraqueza – é um problema de considerada magnitude. Foi um ato da soberania de Deus, contra certo tipo de força que dominaria o mundo à parte de Deus. Mas Babel em si representa um grande problema; representa um complexo estado de coisas, como sendo em si mesmo algo que Deus jamais quis. Babilônia é consequência da queda; é a expressão de um curso. Isto precisa ser tratado. A coisa toda precisa ser resolvida. Ela jamais poderá permanecer se Deus tiver que ter as coisas conforme o Seu propósito. Qual é a resposta à Babel? É um homem. Toda esta situação, esta confusão, esta tragédia, este mal, será eventualmente removido por meio de um Homem. Haverá neste Homem uma unidade de tudo aquilo que está dividido e disperso. Haverá neste Homem uma chegada a um entendimento. Temos o penhor de tudo isto agora em Cristo. Existe tal coisa chamada de entendimento espiritual, e não importa se podemos ou não compreender uns aos outros em nosso próprio idioma humano, podemos todos compreender pelo Espírito Santo a mesma coisa, e falar uma língua interior. Há uma unidade de entendimento, e a plena garantia de entendimento em Cristo. Eu apenas dou isto como exemplo, mas não irei discorrer a respeito.

Terceiro, a proclamação de Deus aos homens, em relação à salvação, à satisfação e à plenitude deles, é um Homem. Iremos analisar isto em um ou dois minutos.

Quatro, o objetivo de Deus em todas as Suas transações consigo mesmo é um Homem. O objetivo de todas as estranhas e misteriosas transações do Senhor, e de todos os Seus tratamentos dolorosos para consigo mesmo é um Homem, e Ele está completamente dominado pela visão deste Homem em tudo o que Ele faz conosco. Nada em todas as Suas ações é algo em si mesmo, mas está tudo relacionado a este Homem. Ele mantém os Seus olhos o tempo todo neste Homem, e age em relação a nós visando este Homem.

Nenhuma de nossas experiências, sob a mão de Deus, é um acidente. As experiências não surgem em nossas vidas por causa disto ou daquilo, ou de qualquer outra coisa. Se algo vai mal conosco, Deus não nos castiga por isto ou aquilo como algo em si mesmo. Os castigos de Deus não são acidentais, isolados, separados, mas têm relação com o objeto, com o objeto em Sua vista, um Homem.

As transações de Deus, não apenas consigo mesmo, mas com o mundo, as quais são diferentes tipos de transações, estão relacionadas a este Homem. Se formos capazes de reconhecer o que isto significa, e aplicá-lo, trazê-lo para o campo da verdade aplicada, isto irá nos ajudar consideravelmente em nossa vida diária.

Agora, nessas afirmações nós apresentamos de forma abrangente o objeto de Deus, a grande realidade governante. Tudo é explicado por meio de um Homem, e num Homem, e este Homem interpreta a história e o destino do universo. Isto poderia ser colocado de outras formas, e muito mais da Palavra de Deus poderia ser citado para mostrar como a coisa é desta maneira, mas precisamos avançar, deixando para analisar o assunto mais adiante.

Deus Não Desenvolveu ou Produziu Uma Religião

Deus não desenvolveu ou produziu uma religião, isto é, um sistema religioso de ensino e prática. É aí onde muitas pessoas se desviam, e, como consequência, você obtém obras inteligentes e acadêmicas a respeito da religião dos Semitas, e todo este tipo de coisa. A isso são incluídas obras de religiões comparativas, estando o Judaísmo e o Cristianismo incluídos. A questão toda é reduzida a valores comparativos nas religiões do mundo, a fim de saber qual é a melhor religião, e, se puder ser provado, como muitos têm tentado mostrar, que o Judaísmo era a melhor de todas as religiões antigas, e o Cristianismo é melhor do que todas as religiões, tanto antigas como atuais, então é concluído que o Cristianismo é a religião ideal para o mundo. Isto é perder o ponto. Não uma coisa para que fiquemos presos nela, mas temos que reconhecer esta verdade por nós mesmos, e ver onde temos nos desviados. Deus não desenvolveu ou produziu uma religião: Deus tem apresentado um Homem.

Deus não tem Apresentado um Conjunto de Temas

Deus não tem apresentado a nós (em primeira instância) um conjunto de verdades, temas, assuntos, embora a Bíblia possa estar cheia dessas coisas. Deus não tem apresentado isso a nós, mas um Homem. Nós não fomos chamados para pregar salvação a quem quer que seja: fomos chamados para pregar Cristo, e a salvação que está em Cristo Jesus: “...aprouve a Deus ... revelar Seu Filho em mim, para que eu pudesse pregá-lo entre os gentios...” (Gál. 1:15,16). Qualquer verdade, doutrina, tema, assunto, que não seja uma revelação de Cristo, que não seja uma ministração dele, que não traga a Cristo e não torne Cristo maior e mais pleno na vida, tem se desviado do seu propósito, tem se divorciado e se separado do propósito de Deus; não tem permanecido em Deus, absolutamente. Deus não nos tem apresentado, em primeira instância, um conjunto de verdades, temas, assuntos, embora possam ser encontrados grandes temas na Palavra de Deus, tais como a expiação, a redenção, e muitos outros; Deus tem apresentado a nós um Homem. Tudo com Deus, de eternidade em eternidade, está inseparavelmente ligado a um Homem.

Talvez você esteja se perguntando qual é o valor prático ao se dizer estas coisas. O valor prático é o seguinte, que você jamais conseguirá alcançar o significado e o valor das coisas, mesmo que você lide com elas durante toda a sua vida, se elas forem tomadas como coisas em si mesmas. A única dinâmica em qualquer verdade é o Cristo vivo. A santificação é Cristo, assim como a justificação é Cristo. Não são coisas tomadas e declaradas, pegas e se apropriadas em si mesmas: Cristo foi feito para nós santificação e redenção.
Agora uma ou duas declarações de qualificação precisam ser feitas ao longo disso. Embora seja verdade que Deus não tenha apresentado verdades a nós, em primeira instância, e assim por diante, mas sim um Homem; embora seja verdade que Deus não tenha desenvolvido uma religião, mas um Homem; embora não tenhamos sido chamados para pregar salvação, mas o Salvador, devemos nos lembrar de que, mesmo assim, não é com um Homem em termos oficiais que temos que ver, mas sim com o que Ele é como Pessoa. Ao dizermos termos oficiais, queremos dizer que não é com o ofício que este Homem exerce como Redentor, Salvador, Mediador, ou quaisquer das designações que a Ele possam ser dadas, representando o Seu ofício, que temos que nos preocupar. Esta não é a coisa principal, mas sim o próprio Homem em Si. Nós não somos salvos por virmos a Ele em Sua capacidade oficial de Salvador; somos salvos pela união vital com Ele como uma Pessoa.
Não é por nossa visão objetiva deste Homem que recebemos todo o significado de Deus. Há grande significado e valor em Cristo, visto objetivamente; isto é, como tendo reunido em Si mesmo tudo aquilo que precisamos, e estamos ligados à plenitude de todas as coisas em Cristo. Há um valor real para o coração nisto, porém, não é nos relacionando apenas objetivamente com este Homem que iremos alcançar o propósito Divino, mas sim nos relacionando com Ele de forma subjetiva. A plena esperança de Cristo não é Cristo na salvação, mas em você. Há valores associados a Cristo na salvação, mas tal conceito pode ser mais do que valores oficiais de Cristo como colocado lá. Os valores práticos de Cristo são conhecidos apenas subjetivamente; tais valores são o que Cristo é em Si mesmo, e não o que Ele é em ofício. Você verá o que queremos dizer na medida em que avançarmos. É muito importante para aqueles de nós que têm responsabilidades nas coisas de Deus reconhecer essas diferenças.

A União Vital Com Cristo é a Base do Sucesso de Deus

O ponto é o seguinte, que a base do sucesso de Deus é a união vital com Cristo, o que, às vezes, chamamos de identificação com Cristo. Deus depende inteiramente, para o Seu sucesso, do que Cristo é em nosso interior, e, por isso, como dissemos antes, a única coisa que Deus procura, e a única coisa a que o Diabo se opõe, e irá contar com todos os meios de substituição, imitação, falsificação, e assim por diante, é o estabelecimento de Cristo dentro dos homens. Oh, quão longe as coisas podem ir, e, contudo, fracassar por falta disso! É aí que está a importância de se reconhecer a diferença entre doutrina — mesmo a doutrina da salvação — e o Homem, a Pessoa. Podemos pregar a doutrina aos homens e obter a aprovação, o consentimento da mente à doutrina; podemos ter o nosso catecúmeno, nossas classes de instrução dos convertidos na doutrina; e, quando eles chegam ao ponto onde dizem: agora eu entendo a doutrina; ela está clara para mim agora! Então achamos que eles estão prontos para serem trazidos para a igreja. A questão não é tão simples assim, é mais do que isso. Você não pode educar uma pessoa no Reino de Deus, ainda que com a doutrina cristã. Ninguém jamais entrará no Reino de Deus apenas compreendendo a doutrina cristã intelectualmente. Você pode ter tudo isso, e ainda assim ter um colapso em breve. Você pode ter uma terrível condição entre os seus chamados convertidos em face a tudo isto. Pode ser descoberto, ao longo da caminhada, que os tais jamais foram realmente salvos, embora tenham sido batizados, por terem compreendidos tudo o que você pôde dizer a eles a respeito da doutrina cristã. Assim, por um lado, pessoas absolutamente honestas podem cometer um grave erro, e, por outro lado, o Diabo está por aí, a fim de contribuir com uma porção de coisas resultantes da falta do novo nascimento. Ele prontamente irá permitir que as coisas cheguem longe, desde que não tão longe. Mas, uma vez que a coisa realmente é feita, você tem a base para tudo. Você tem a base para a doutrina de forma viva, a base de completa segurança, base para tudo, uma vez que Cristo esteja lá dentro. O objetivo de Deus é alcançado com relação ao ponto inicial, então tudo é possível. É isto que quero dizer com a diferença entre a doutrina e a Pessoa, entre o oficial e o pessoal. A base do sucesso de Deus é Cristo em você, é a união com Cristo, a identificação com Cristo de uma maneira interior. Isto está colocado na Palavra de Deus como sendo o princípio sobre o qual Deus trabalha nesta dispensação, do início ao fim.

A Perfeição da Provisão Divina Vista em Relação ao:

(a) Problema da Vida Humana

Tomemos algumas das passagens que nos referimos no início da nossa meditação, e vejamos como elas não passam de uma sequência deste mesmo princípio colocado como sendo a base sobre a qual Deus trabalha em nossa dispensação. Vá para gálatas três, verso vinte e oito:

“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.

Esta é a maneira na qual Deus resolve o problema da vida humana. Quando nos deparamos com a vida humana nesta terra hoje, é realmente um problema. E é a este problema que todas aquelas pessoas bem intencionadas, que se reúnem em suas conferências de mesas redondas de caráter internacional, sempre chegam. Você convoca uma mesa redonda e tem representantes de diferentes nações da terra, Leste e Oeste, Norte e Sul; você tem diferentes representantes no campo social, você tem o trabalhador, como é chamado, tem o aristocrata, o capitalista, o empregador e o empregado; e, a fim de obter diferentes pontos de vista, você também tem ali representantes masculinos e femininos. Você trabalha arduamente: uma proposição é feita, porém, alguém ali, que é lá do fim do mundo, não pode aceitá-la, pois não é adequada ao seu padrão de vida, ao que ele obtém em sua nação. Naturalmente o empregado não consegue enxergar o ponto de vista do empregador, nem o empregador consegue enxergar o ponto de vista do empregado; e os homens também têm não pouca dificuldade para entender o ponto de vista das mulheres. Quantas mesas redondas têm sido colocadas, e quantas delas têm sido bem sucedidas? A coisa impressionante é como os homens ainda continuam insistindo com suas conferências! Desde que os homens existem, têm eles tido suas conferências, e qual é a conclusão? Todos ficam tão distantes que logo surge um impasse. Mas eles terão outro impasse, mas continuarão tentando resolver o problema da vida humana naquele nível de discussão, de conferência.

Agora, Deus está perfeitamente ciente da situação toda. Ele está muito mais ciente das dificuldades e dos problemas do que qualquer outra pessoa. Do Seu ponto de vista, há fatores e aspectos muito maiores na situação toda do que jamais foi manifestado aos homens. Mas há uma solução, uma solução infalível, uma solução que satisfaz plenamente onde ela é recebida. Qual é a solução de Deus para o problema da vida humana? É um Homem.

(b) O Problema da Raça

Aqui o temos “...nem judeu nem grego...” Este é o problema de ordem nacional. Se você está familiarizado com o pano de fundo de gálatas, sabe que foi um problema de nacionalidade que deu origem a esta carta. Cristãos judeus estavam assumindo uma posição mais elevada que a dos demais. Eles estavam dizendo: Bem, nós somos judeus, e eles são gregos; nós estamos num campo e eles estão em outro! Nós, como judeus que somos, temos certos privilégios e vantagens, que os demais não têm; nós estamos numa posição mais favorecida que a deles; somos totalmente superiores! Gregos e gentios eram considerados pelos judeus como sendo ‘cães’, como sendo alguém que era de fora. Como irá você lidar com este problema racial? Você jamais resolverá isto numa conferência de mesa redonda. Este é o problema que está pressionando bastante o mundo hoje, entre as raças superiores e inferiores, entre os que têm vantagens e os que não têm.

A solução de Deus para o problema é um Homem. Em Cristo não há judeu nem grego. Você e eu que entramos no terreno do Homem Celestial, que abandonamos o campo terreno, que abandonamos o terreno da nacionalidade, e entramos para o terreno de Cristo, encontramos a bendita comunhão. Oh, que perfeita comunhão! Que proveitosa comunhão! Que perspectivas surgem à vista; quão produtivo é tudo isto! Assim, longe de ser um caminho de perda, é um caminho abençoadamente cheio de valor. Que tragédia que até mesmo muitos dentre o próprio povo de Deus ainda não têm abandonado o terreno racial. Quantos preconceitos e limitações implícitas vêm através do orgulho. Como estas coisas limitam, enferrujam, impedem a plenitude de Cristo, tornando impossível o propósito de Deus. Saia deste terreno e venha para o terreno do Homem Celestial de Deus, onde não há nem judeu, nem grego, e, então, o problema da nacionalidade, que é uma parte do problema humano, é resolvido.

(c) O Problema Social

Então, mais adiante é dito: “...não há servo, nem livre...” O problema social também é tratado; o problema do senhor e do servo. Como irá você resolver o problema do empregador e do empregado? Você irá resolvê-lo apenas num Homem; nele você irá resolver o problema de verdade. Então, se o judeu pensa que, em termos de nacionalidade, ele tem vantagem sobre o grego, e se o senhor pensa ter vantagem sobre o servo, e, como geralmente é o caso, particularmente no Leste, onde o homem pensa ter vantagem sobre a mulher, como irá você resolver estes problemas? A salvação de Deus é um Homem. Você, naturalmente, não se livra dos fatos; as distinções não são abolidas aqui na terra — e Deus nos livre de tentarmos resolver tal coisa — porém, no terreno do “novo homem”, nós nos tornamos um. Aí nós nos encontramos num terreno completamente diferente. Em Cristo não pode haver nem judeu, nem grego, nem macho, nem fêmea, nem escravo, nem livre, nem superior, nem inferior: as vantagens e desvantagens desaparecem.

(d) O Problema Religioso

O apóstolo novamente faz referência tanto a problemas de nacionalidade como de origens sociais, como você observa, em colossenses três, verso onze, porém ele também expande um pouco: “onde não pode haver grego e judeu, circuncisão e incircuncisão...” Aqui ele talvez esteja colocando o seu dedo um pouco mais firmemente sobre o problema do judeu e do grego. Paulo está agora enfatizando não apenas o problema da nacionalidade, mas também o problema religioso. Quão agudo isto era. Em Cristo não há vantagens religiosas sobre os outros; ninguém está em posição de desvantagem em relação aos demais. Então o apóstolo fala de bárbaro e cita. É mais uma referência à questão racial. Essas coisas representam diferentes níveis de civilização e cultura, e Paulo está removendo o problema ao dizer que em Cristo tais distinções não têm lugar.

(e) O Problema do Destino Humano

Outro aspecto é trazido a nós na passagem de primeira coríntios um, dos versos vinte e quatro ao trinta:

“Mas aos que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus ... Mas vós sois dele em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção....”

Aqui há outro problema, o problema do destino humano, e isto está resumido em duas palavras, palavras estas frequentemente repetidas: sabedoria e poder; poder e sabedoria. A questão aqui em corinto é reflexo da filosofia grega, que tinha adentrado com suas sugestões sutis e perniciosas. A questão é aquela de se alcançar a posição de super-homem. Esta é a questão da filosofia — a elevada sabedoria e o grandioso poder. Sabedoria e poder são os dois elementos que constituem o super-homem. A filosofia sempre teve em vista o pensamento de que o homem precisa alcançar o seu destino; a idéia de que o homem possui um grande destino. O homem possui, de fato, um grande significado; ao homem está ligada uma grande idéia. Para muitos pagãos, a idéia era aquela da deificação da humanidade, do homem evoluir gradativamente até se deificar. Isto para que o grande homem seja adorado. Seus heróis eram adorados ao se aproximarem do ideal deles, e havia todo um movimento em direção à deificação final da humanidade, e as características deste super-homem supremo, da forma como era concebido, eram a sabedoria e o poder. Eles estavam sempre em busca de uma sabedoria superior, que pudesse trazê-los para um lugar de poder superior, e, assim, concretizar o grande destino do homem. O problema do destino humano era tratado à luz da sabedoria e do poder.

É isto o que jaz por trás deste mundo de hoje. Não é isto que estamos encontrando agora nos ditadores, nos homens que poderiam governar o mundo? É um caso de sabedoria e de poder alcançar tal atitude de posição humana, onde tudo é trazido sob o domínio de um ditador. Ele é considerado a corporificação da mais elevada sabedoria e do poder mais grandioso. Este é o homem. Assim será o homem maligno no nível humano.

A questão do destino humano é muito viva para nós. Ela é uma questão tão real, importante e justa para os cristãos como o é para o mundo. Não é o mundo que realmente está alinhado ao destino do homem. Não há como negar o fato de que o homem realmente possui um destino maravilhoso. Deus criou o homem com um objetivo muito maior do que qualquer príncipe deste mundo jamais pode conceber, e, assim, a questão do destino humano é uma questão justa e adequada, e, talvez, a maior. Mas a questão que acompanha é: Como este objetivo deve ser alcançado? Sabedoria, certamente. Este “novo homem” deve mostrar a multiforme sabedoria de Deus a todas as inteligências sobrenaturais, deve ser a corporificação da sabedoria Divina em todos os seus aspectos. Poder, de igual forma. Não há dúvida, absolutamente, de que este “novo homem” será o instrumento do exercício do poder infinito de Deus; de que ele será uma exibição do poder excelso de Deus. Estas coisas são considerações corretas que fazemos: elas apresentam uma questão legítima, o problema de como alcançar a posição de super-homem. Esta era a questão dos gregos o tempo todo. A resposta de Deus em Sua Palavra é o Homem a quem Ele tem ordenado. A resposta é Cristo dentro de nós, o poder e a sabedoria. Cristo em nós, no poder da morte e da ressurreição, irá resolver o problema do destino humano.

Este mundo tem tentado resolver este problema através de inúmeros sistemas filosóficos. Se você se debruçar para investigar qualquer um deles, irá descobrir que se trata de uma tentativa de se resolver o problema do destino humano, o significado do homem, do universo, e como o homem e o universo podem alcançar o seu predestinado destino. O mundo está cheio de sistemas filosóficos que estão buscando dar resposta a esta questão. O Senhor responde a isto de uma forma simples e direta, e diz que a solução para o problema é um Homem, e este Homem, no poder da morte e da ressurreição, habitando em nós. Como você e eu podemos realizar o predestinado propósito de Deus? Aqui está a resposta: “...Cristo em vós, a esperança da glória” (Col. 1:27). Mas é Cristo em vós como sabedoria e poder de Deus. Esta sabedoria é muito simples. O que Cristo em nós significa em relação a este grande propósito final de Deus? É a garantia daquilo a que o apóstolo, pelo Espírito, dá expressão: “...predestinados conforme a imagem de Seu Filho...” (Rom. 8:29); e, ainda: “...até que Cristo seja formado em vós...” (Gál. 4:19). Quando isto for realizado, o mundo irá ser ocupado por um grande Homem Corporativo à imagem do próprio Deus, e o propósito será alcançado. Este Homem é Cristo, em Sua plenitude — Seu Corpo.

Como, então, você vai resolver estes problemas? Bem, Platão irá falar para você em sua República! Oh, as leis, os regulamentos! Oh, as observâncias! Veja tudo o que você tem que levar em conta, fazer, não fazer, instituir, e executar. É tudo um tremendo sistema para trazer o padrão. A resposta do Senhor é muito mais simples do que isso. Deixe Cristo habitar em você e Ele irá trabalhar para trazer você ao nível dele. Dê a Ele uma oportunidade em seu interior, e você será conformado à Sua imagem; Cristo será plenamente formado em você. E, quando isto for uma realidade no Corpo todo, você tem, então, um Homem novo e universal. Não é isto sabedoria? Oh, pobres filósofos! Como eles têm esgotado seus cérebros, e muitos deles acabaram ficando loucos nesta tentativa de se resolver o problema do destino humano. A sabedoria do Senhor é muito simples. Cristo em vós, sabedoria de Deus. É desta forma que todo o problema é resolvido. Você não precisa pensar em tudo, planejar tudo, montar um sistema colossal de regras, regulamentos, e observâncias; você precisa apenas deixar que o Senhor tenha o Seu caminho dentro de você, e o final estará garantido. O problema do universo é resolvido sem qualquer exaustão mental. É uma questão de vida. A loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria os homens; a sabedoria de Deus é muito simples. Os homens estão se esgotando a si mesmos, consumindo séculos, e qual é o resultado? Olhe para isto hoje. Que triste quadro do ascendente progresso da humanidade! Mas Deus está efetuando o Seu propósito, e, no mundo invisível, há um Homem crescendo, a fim de preencher o universo. O modo de Deus é muito simples e muito eficiente. Se você quiser resolver a questão da sabedoria e do poder, é desta maneira. A sabedoria é a questão de ”como”. Então ela se torna uma questão de habilidade quando você conhece o como. Cristo em você é tanto o “como” como a “habilidade”.

Tudo isto, e muito mais (a Palavra está cheia disto, e nós jamais iremos esgotar tudo) retorna ao seguinte: TODAS AS COISAS EM CRISTO. A resposta de Deus a tudo, a explanação de Deus de para tudo, os modos de Deus de realizar tudo é um Homem, “o Homem Jesus Cristo”. Quando este mundo tiver completado o seu próprio curso mal, então esta terra será julgada por um Homem. Os homens serão julgados pelo tipo de relacionamento interior que possuem com Ele. A questão no julgamento não será baseada no quanto de bem ou de mal, de certo ou de errado, de mais ou de menos, há em nós; a questão recai sobre o seguinte ponto: Está você em Cristo? Se não, mais ou menos não faz diferença. O propósito de Deus, a proclamação de Deus é que todas as coisas estejam em Seu Filho. Está você nele? Por que não? A base do julgamento é muito simples. Está tudo reunido num Homem, e o que há neste Homem de Deus para nós. Esta é a base do julgamento. Tudo retorna à verdade mais simples, contudo abrangente e abençoada verdade, que é o que Cristo é que satisfaz a Deus, que alcança o Seu propósito, e que satisfaz todas as nossas necessidades. Tudo está resumido num Homem, “o Homem Cristo Jesus”.

O Senhor continue abrindo os nossos olhos para ver o Seu glorioso e Celestial Homem, que é também o Servo Divino.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.