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A Obra de Deus no Tempo do Fim

por T. Austin-Sparks

Capítulo 4 – Um Ministério do Significado de Cristo

O pai e a mãe do menino ficaram admirados com a proclamação feita a respeito dele. Então Simeão os abençoou e revelou a Maria, mãe de Jesus: “Eis que este menino está destinado a ser o responsável pela queda e pelo soerguimento de multidões em Israel, e a ser um sinal de contradição, de maneira que a intimidade dos pensamentos de muitos corações será revelada. Quanto a ti, todavia, uma espada traspassará a tua alma”.

O SIGNIFICADO DE CRISTO DEVE SER ENTRETECIDO

Na passagem citada acima nos é dado algo do significado de Cristo, algo do que está envolvido quando Cristo entra nas nossas vidas com ministério em vista. Esse é o significado real da visão e serviço de Simeão. Mais cedo ou mais tarde, para aqueles que são “chamados de acordo ao seu propósito” o significado de Cristo ficará mais claro numa maneira mais forte e plena. Pode ser que tenhamos recebido um conhecimento profundo e muito real em nossa conversão; mas se isso é assim ou, pelo contrário, somos nascidos de novo numa maneira simples e comparativamente fácil, o tempo chegará em que, através de profundas crises e reviravoltas em nossas vidas, passaremos para o fato de que Cristo, e em união com Ele, existe algo infinitamente maior do que jamais temos imaginado. É verdade que a salvação é livre e de toda graça, mas não é barata e superficial. Se a considerarmos assim, só desfaleceremos, contaremos para pouco, ou estaremos entre os ofendidos. Os conselhos eternos de Deus, compreendendo todas as épocas e esferas, e centrando-se em um povo remido, são cheios de significado, tão vastos em sua importação, que bastante da obra de aprofundamento tem que ser realizada para ocasionar uma correspondência com eles. Temos que chegar à realização do que significa para nós termos sido chamados para a comunhão com Um tão memorável e tão vasto como o Filho de Deus. Existem três aspectos da “comunhão dos seus sofrimentos”: o primeiro, cooperação com Ele em Sua obra de libertar almas de um inimigo ciumento e veementemente hostil; o segundo, a disciplina e purificação que contribui para a semelhança de Cristo; o terceiro, a ampliação de capacidade, e desenvolvimento de faculdades para apreender e entender a grandeza das coisas Divinas, particularmente o conhecimento de Cristo. Tudo isto é de fato sofrimento. Não podemos alcançar este conhecimento ao longo da linha de meramente sermos informados; tem que ser entretecido. Nenhuma dose de escutar ensinos o produzirá. Muitas vezes uma boa dose de longo ensino somente brota em vida quando quem o possui passa por uma experiência quase devastadora de sofrimento e provas. Um mundo parece estar inteiramente quebrando e caindo, e um novo é essencial para sobrevivência. Aqueles que conhecem Cristo mais plenamente e realmente, são aqueles que têm descoberto Ele em profunda agonia espiritual e perplexidade. Cristo é a porta para uma esfera imensa de significado Divino, e não há nada casual ou acidental acerca desse caminho. O ser inteiro fica envolvido nesta questão se vamos realmente representar medida espiritual para outros. “Uma espada traspassará a tua alma”.

John Bunyan, no seu grande sonho alegórico, buscou personificar características e propensões, e representar elas em forma de tamanho real, para que elas pudessem ser vistas em plena estatura. Pelas suas personagens ele faria vermos a nós mesmos, nossas fraquezas, nossos perigos. Assim que vemos eles passar diante de nós, nós sorrimos, nos sentimos envergonhados, nos indignamos, e depois percebemos que Bunyan retratou a nós mesmos.

Uma dessas personagens, na qual Bunyan concentrou seu gênio para o humor, sarcasmo e ironia, é “Interesse Próprio”. Ele nos conta que os ancestrais de 'Interesse Próprio' deram seu nome à cidade de 'Boas Palavras', que o irmão de sua mãe era um barqueiro, que olhava para um lado e remava para o outro. A esposa de 'Interesse Próprio', uma mulher muito virtuosa, filha de 'mãe Impostora', e 'Interesse Próprio' e sua esposa tinham dois firmes princípios religiosos aos quais eles se aderiram estritamente, e educaram sua família de acordo. Estes princípios religiosos estabelecidos são (1) nunca se colocar contra o vento ou contra a maré, e (2) ser mais zelosos quando a Religião se apresenta com seus sapatos de prata, para o sol brilhar e as pessoas aplaudirem. Bunyan diz que o pretender é uma tendência achada na natureza humana, fingir, olhar um lado e realmente ir por outro, fingimento, escolher a linha de menor resistência, andar pelo caminho popular, mas desaparecer quando as coisas ficam difícil. Nós não temos nada mais senão que desprezar 'Interesse Próprio'. Mas esse tipo de coisa pode ser o perigo de todos nós, mais ou menos. De fato, vai ser desastroso a menos que o Senhor trate drasticamente com isso, pois é totalmente incompatível com Cristo e com o eterno propósito conforme é centrado Nele.

Olhemos de novo então às palavras de Lucas e vejamos algo do que está envolvido ao Cristo ser introduzido.

CRISTO DETERMINA O DESTINO

Primeiramente, Simeão diz que este Filho – o Cristo – vai determinar o destino. Ele “está destinado a ser o responsável pela queda e pelo soerguimento de multidões em Israel”. Existem várias traduções diferentes destas palavras. Primeiramente, elas podem significar que alguns vão cair, para nunca levantar novamente, visto que se levantam contra o Senhor Jesus. Eles acharam Ele ser uma pedra de tropeço. Foi dito nas Escrituras que Ele seria uma pedra de tropeço para muitos (Isa. 8:14). muitos chutariam Ele e se precipitariam. Como de verdade isso tem provado ser assim! Vir contra o Senhor Jesus, e não estar disposto a aceitar a ofensa da Cruz, não estar disposto a sofrer aflição com o povo de Deus em vez de desfrutar os prazeres do pecado por um tempo, não estar disposto a tomar a Cruz e seguir Ele, eles se precipitaram, e seus destinos foram estabelecidos pelos seus contatos com o Senhor Jesus. É sempre assim. Desse lado Ele é posto para a queda de muitos; isto é, Ele é posto lá para saber se nós realmente levamos Deus a serio ou não; e muitos vindo até Ele e achando Ele e Seu caminho uma ofensa, voltaram-se e foram-se outra vez, só Deus sabe para o que. “Posto para a queda... de muitos”.

“E o soerguimento de muitos”; e oh, que história mais gloriosa está ligada a isso! Muitos vieram até Ele, sensíveis para algo do custo, reconhecendo aquilo no qual eles serão envolvidos se eles se vincularem e irem com Ele. Não obstante, eles O escolheram; e que grande elevação isso significou para eles! Sim, do monte de cinzas para ser colocado entre os Príncipes do Seu povo (1 Sam. 2:8). “Ele faz do rebelde um sacerdote e um rei”. Você e eu sabemos só um pouco do que significa ter sido levantado por motivo da união com o Senhor Jesus. Mas quanto mais há ainda para ser, pois Ele deu a Sua palavra de que alguns se sentarão com Ele no Seu Trono, assim como Ele venceu e se assentou com o Seu Pai no Seu Trono (Ap. 3:21). Que levantamento! Uma história longa e maravilhosa poderia ser contada de homens que foram levantados pelo Senhor Jesus. O estabelecimento do destino: alguns irão cair, outros irão surgir. Suas atitudes para com o Cristo determinará para sempre qual vai ser.

Estas palavras podem também significar que muitos cairão e também surgirão, e nesta conexão existe um poderoso exército. Vejo Pedro nessa companhia. Oh, este Pedro auto elevado, auto confiante, seguro de si, vanglorioso! “Mesmo que seja necessário que eu morra junto a ti, de modo algum te negarei” (Mat. 26:35). Havia um homem que estava levantado, mas levantado sobre uma falsa plataforma, e quando ele realmente entrou em contato com Cristo crucificado ele caiu – mas, louvado seja Deus, para surgir novamente. Cristo, Quem abateu ele, o levantou. Veja o grande Saulo de Tarso montando seu alto cavalo para Damasco; e quão alto o cavalo era! Oh, quão auto suficiente, cheio de si e auto confiante era o jovem Saulo de Tarso! Ele caiu desse alto cavalo para o pó aos pés de Jesus de Nazaré, a coisa mais humilhante que jamais poderia ter sido concebida por ele. 'Jesus de Nazaré, esse falso profeta, esse impostor, esse blasfemo de Deus, esse que foi pendurado numa Cruz, carregando o que nossa lei declara ser a marca da maldição de Deus recaindo sobre ele!' Pense desse homem humilhado aos pés de Jesus de Nazaré e dizendo, “Senhor, o que devo fazer?” Não tem ele caído? Sim, mas ele não surgiu? “Este menino é posto para a queda e o soerguimento de muitos”.

Sempre será assim, uma coisa ou a outra. Cairemos diante de Jesus Cristo, surgiremos, segundo a nossa atitude e resposta a Ele, de acordo a se recusamos ou aceitamos, obedecemos ou desobedecemos; Ele o determina. Caindo de nossa própria força natural e plenitude, em quebrantamento, humilhação e vergonha aos Seus pés, confessando Ele Senhor – uma mão nos tomará e levantará às maravilhosas alturas da graça.

CRISTO UM SINAL DE CONTRADIÇÃO

(a) O DESAFIO DE SUA PRESENÇA

Então Simeão disse, “e um sinal de contradição”. O que é isso? Significa que Ele é posto para uma provocação por implicação. Um sinal é uma implicação. Implica algo, e o efeito desta implicação é provocar. Haverá alguma reação logo que você ver o que Jesus implica; e se você não está preparado para ver a implicação de Jesus Cristo você será fortemente provocado. Você não permanecerá neutro, você começará a lutar. Era aí onde estava Saulo de Tarso. Mais profundo do que tudo o mais, ele estava lutando contra o Senhor, recalcitrando contra o aguilhão. Esse era o mais profundo significado disso. Ele foi provocado pelo significado de Jesus, o significado de Cristo mesmo. Na pessoa de Cristo você tem um tipo de pessoa diferente, não um homem meramente terreno, mas um Homem celestial. Aqui está um homem personificando em Sua própria pessoa, um padrão santo, celestial, o padrão do céu, e os homens estão sendo medidos e pesados por padrões celestiais na presença do Senhor Jesus: não apenas pelo que Ele diz, e pelos juízos que Ele verbalmente transmite, mas pela Sua presença. Eles estão descobrindo que aqui há um padrão que desmascara a pequenez, carência, e a diferencia deles. Você sabe que é bem verdade. Temos dito muitas vezes que se um verdadeiro filho de Deus, habitado pelo Espírito de Jesus Cristo, vai para um estabelecimento a trabalhar ou para uma casa ímpia, acontece que, sem eles dizer alguma coisa sobre eles serem cristãos, uma tensão começa a ser sentida, e as pessoas começam a ficar grossas ou fazer insinuações. Algo na mesma atmosfera foi mexido e provocado pela presença de Cristo no crente. Sem ser complicado ou difícil (algumas pessoas são isso, é claro, e provocam pela insensatez deles) por mesmo um verdadeiro, humilde, amado filho de Deus, algo é provocado, e ele ou ela se torna uma pessoa marcada e conhecida por ser diferente, e essa diferença é embaraçosa para outras pessoas. Pessoas começam a sentir-se desconfortáveis. Se isso é verdade de um simples filho de Deus, quanto mais verdadeiro deve ter sido do próprio Filho de Deus mesmo. Sua presença era o padrão de medida do céu. Homens não podiam se medir a isso, e eles sentiam-se mal e desconfortáveis em Sua presença. Ele foi um sinal. Havia um significado acerca Dele, acerca de Sua mesma presença, que era de contradição: provocava.

É algo grande estar em casa na presença de Jesus Cristo, conhecer a graça de Deus que faz possível se assentar com Este que é santo, reto e perfeito. Mas Ele nos desmascara. Frequentemente isso é justamente o que está acontecendo. Estamos sendo provocados, chateados, aborrecidos, não sabemos por que; mas se soubéssemos, perceberíamos que o Espírito de Jesus Cristo está a trabalhar em nós porque não estamos em harmonia com nosso Senhor. Em tal caso tomamos uma ou duas atitudes, ou fazemos bem, ou vamos de mal a pior e nos tornamos mais e mais amargurados, mesmo contra o Senhor. Ele é um sinal de contradição.

(b) O DESAFIO DE SUA CONDUTA DE VIDA

Sua vida e comportamento constituiu esse significado que foi tão provocativo. Veja, Ele não se conformou ao sistema terreno deles, mesmo o sistema religioso deles. Ele não se alinhou e fez o costumeiro. Ele pertencia a um sistema celestial. Princípios espirituais e celestiais eram tudo para Ele, e não apenas ritos e atuações externas, e Ele não ia entrar em meras externalidades e formalidades; Ele se apoiava nos princípios internos; e o significado do Seu comportamento provocava àqueles que estavam preocupados com a forma das coisas em vez de pelo espírito, pela armação em vez de pelo coração. Este povo oferece serviço de boca para fora: Deus está procurando serviço de coração. A presença do Senhor Jesus é a rejeição de meras formalidades, costumes e tradições. Ele introduz o padrão celestial, as leis celestiais, o sistema celestial, e não é fácil para você a menos que você esteja do lado do céu. Acompanhe isso, pois isso foi o sinal de contradição. Eles não podiam conformar Ele ao costumeiro. Porque Ele não ia ser parte de suas falsidades, hipocrisias, formalidades, suas condições não espirituais que jaziam por trás de seus rituais externos; ele não ia se envolver nisso, e por isso Ele foi uma provocação; e Ele é sempre assim. Ele irá descobrir se somos governados mais pela politica do que pelo princípio, se interesses temporais nos preocupam mais do que considerações eternas. Ele estava sempre trazendo toda uma série de coisas dessas ao mundo, e nesse sentido eles simplesmente não podiam suportá-Lo e seguir Seu caminho. Temos frequentemente citado a ocasião em que Ele disse a seus irmãos, depois de ter sido instado por eles para ir à festa, “Vai para a festa: neste momento não subo para essa festa”. “Mas, após seus irmãos terem subido, então, Ele também subiu para a festa, não abertamente, mas em segredo”. (João 7:8-10). Parece um pouco difícil, não é? Era a festa dos tabernáculos que estava próxima; e que era a festa dos tabernáculos? Celebrava a consumação da emancipação de Egito e a entrada no Reino de Deus, a libertação deste mundo do mal presente e translado para o Reino do Filho de Deus do Seu amor. Esse reino foi personificado em Cristo mesmo, não em Jerusalém, não agora em alguma celebração de festas históricas. Ele é o reino de Deus, por isso Ele não o faz um assunto de mera celebração ocasional numa forma externa assim. A celebração era vazia, falsa. A libertação deles deste mundo do mal presente! Pois, eles estavam tão envolvidos com o príncipe deste mundo quanto qualquer pessoa! Considerações mundanas governavam completamente eles, e o Senhor Jesus disse, com efeito, “não tenho publicamente nada a ver com isso. Me posiciono para a verdadeira essência deste reino celestial, e para uma absoluta separação deste mundo”. Assim, de nenhuma maneira Ele permitiria que fosse pensado que Ele estava naquilo. Ele estava fora disso, e se Ele subiu “não publicamente mas como se fosse em segredo” foi porque Ele foi tentar tirar as pessoas da falsa representação das coisas celestiais, conduzir eles para Ele mesmo como a personificação do pensamento celestial de Deus acerca da festa dos tabernáculos.

Tenho apenas citado como forma de ilustração a fim de tentar focar o que estou dizendo. Ele era uma provocação porque em Seu próprio comportamento Ele significava algo de uma outra ordem, uma celestial. É sempre assim. Onde os filhos do Senhor se tornam celestiais e espirituais na mesma verdade, emancipados até do sistema religioso estabelecido, e estão vivendo por princípios espirituais, que grande provocação suscita, que contradição! Você não pode ser um filho de Deus e não ser contradito. Você significa algo, e tudo deste mundo está contra esse algo. Cheguemos até isso com o seguinte ponto que surge em conexão com Simeão.

(c) O DESAFIO DE SUA CRUZ

Houve ainda o significado de Sua morte e de Sua ressurreição, como um sinal de contradição. Sim, Sua Cruz certamente era um sinal de muita contradição. Não tem sido assim todo o caminho, e não é assim hoje? Quão odiada é essa Cruz, quando é dada sua verdadeira interpretação! Está tudo certo como heroísmo: sim, homens terão a Cruz nessa base. Mas introduza o verdadeiro significado da Cruz de Cristo – esse é o 'não' de Deus para o homem e todos seus heroísmos, Seu 'NÃO' final e total para todo homem, bom ou mau, e que quando Jesus clamou, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Marcos 15:34), Ele estava levando nossa cruz no 'Não' total de Deus para a raça caída: introduza isso, e será uma ofensa. Diga isso a qualquer pessoa que tenha algum sentimento de sua própria importância, dignidade e bondade, e considera que há algo a ser tido em conta dele mesmo e ele ficará muito ofendido. Nunca aceitamos a Cruz do Senhor Jesus até vermos quão totalmente desprezíveis somos, e então a Cruz se torna nossa glória; ficamos do lado de Deus e dizemos, “Tu estás certo, Senhor, em dizer 'Não' para mim”. Você já chegou lá, você está sendo levado até lá? Veja o que Deus está fazendo se você está sendo levado onde você reconhece que não tem nada a reclamar a Ele, nenhum direito diante Dele, e onde você percebe a sua miséria, indignidade, e inaptidão para a Sua presença. Você está num acordo com a Cruz quanto ao Não do céu quando você chega à Cruz. Todos eles tinham que chegar – Pedro e João e todo o resto. Mas para estar aí é estar muito perto do grande Sim de Deus na ressurreição. A ressurreição proclama que um outro Homem, outro além de nós, passa para o céu. A porta está bem aberta para este outro Homem, o Qual derrubou o primeiro homem em juízo e morte, e deixou ele lá. O céu está aberto para este novo Homem, este Homem ressurreto, e “se somos unidos com ele na semelhança de sua morte, também o seremos na semelhança de sua ressurreição” (Rom. 6:5). É o grande Sim de Deus para o Cristo ressurreto, e nós que temos nos unido com Ele, entramos nesse Sim; temos a porta do céu aberta. Agora, veja, essa doutrina é uma ofensa para qualquer carne auto importante, auto suficiente neste mundo, e é uma contradição. Cristo crucificado é um sinal de contradição; para os gregos loucura, para os judeus uma pedra de tropeço; mas para nós que cremos, Cristo (sim, crucificado) o poder de Deus e a sabedoria de Deus (1 Cor. 1:23-24).

O FRUTO DA COMUNHÃO DOS SEUS SOFRIMENTOS

E Simeão disse a Maria, Sua mãe, “de maneira que a intimidade dos pensamentos de muitos corações será revelada. Quanto a ti, todavia, uma espada traspassará a tua alma”. O Significado de Cristo - “Uma espada traspassará a tua alma!” A espada aí não é uma coisa pequena. A palavra usada para a descrever é a mesma que é usada pelos tradutores do Velho Testamento para o grego, a palavra que foi usada para a espada de Golias. Aqui a palavra grega significa a grande espada dos trácios, uma coisa imensa. “Uma espada traspassará a tua alma”, falando é claro do sofrimento dela, a sua angustia, quando ela ficasse para ver este menino, já como adulto, esticado na Cruz. Simeão disse, 'isso terá o efeito ou será o meio de revelar os pensamentos de muitos corações'. O que isso realmente significa é que a comunhão dos sofrimentos de Cristo é o meio pelo qual corações são revelados. É quando somos levados para a comunhão dos Seus sofrimentos e estamos sofrendo juntamente com Ele que os pensamentos de muitos corações vêm à tona, ou com simpatia ou ao contrário. Alguns corações, enquanto eles veem o povo do Senhor sofrendo pela Sua causa, mostrarão rancor, ressentimento, e ficarão todos contra o Senhor por não entenderem. Oh, quantas vezes pais se levantam em rebelião e ressentimento quando um moço ou moça, em plena consagração ao Senhor Jesus, aceita a comunhão dos Seus sofrimentos, e sai numa vida de sacrifício próprio – uma vida na qual os interesses celestiais e eternos têm a precedência sobre os avanços e privilégios terrenos, e as coisas do Senhor são muito custosas em matéria de coisas mundanas. Como os amigos se voltam contra esses e os chamam de loucos, e tudo o resto disso! Os corações de outros estão começando a serem expostos pela comunhão com o Senhor deles em Seus sofrimentos. Estão voltando a si; corações estão sendo despidos. É necessário que esse tipo de coisa aconteça. Você descobrirá muitas vezes que o efeito de tal coisa é para precipitar uma crise nesses mesmos corações mais cedo ou mais tarde. Oh, mas que história está ligada a isto? Quantas vezes tem um homem sido chamado, por causa de sua devoção ao Senhor, para sofrer terrivelmente nas mãos de sua própria família – perseguido, sujeito a todo tipo de ignominia, sem mostrar nenhum favor. Isso pode continuar por muito tempo, aumentando ao mesmo tempo, mas este se manteve fielmente, não deu terreno, continuou com o Senhor tranquilamente, humildemente, mansamente, amorosamente, sem mostrar nenhum ressentimento; e essa mesma exposição do que estava nesses outros corações têm posteriormente se tornado o meio usado por Deus para quebrar essas vidas, e trazer eles para Ele mesmo. Isto é apenas um aspecto deste assunto – os pensamentos de muitos corações sendo revelados pela comunhão dos Seus sofrimentos.

A revelação surge também da outra maneira, graças a Deus. Muitos corações são revelados quanto ao que eles têm de amor pelo Senhor quando Seus filhos passam por maus momentos em comunhão com Ele. Mas seja qual for a maneira em que resulte, o principio opera. Se somos, como Maria, trazida para partilhar das Suas dores, tem um efeito tremendo sobre outras pessoas. O fato é que tem sido sempre por meio da comunhão dos Seus sofrimentos que outros corações têm sido tocados. Se o Senhor te leva para um caminho profundo de sofrimento com Ele, partilhando algo do custo da vinda do Reino, isso em si mesmo é um testemunho que toca corações; enquanto que podemos nos levantar para pregar e nada acontecer. Quando algo acontece conosco, quando entramos nas profundezas, algo começa a acontecer em outras pessoas.

Então, servo do Senhor, perceba que o Espírito Santo opera sobre outras vidas através de seus sofrimentos com o Senhor, e leva você a sofrer para este mesmo propósito. Corações são revelados. O coração mundano será descoberto pela Cruz do Senhor Jesus. Paulo disse, “que eu jamais venha a me orgulhar, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio da qual o mundo já foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gal 6:14). A Cruz perscruta quanto mundanismo há nos nossos corações e trazê-lo à tona. Quero dizer com mundanismo, é claro, o padrão deste mundo, seu funcionamento, suas opiniões, e assim por diante.

A Cruz perscruta o que há nos nossos corações quanto a nós mesmos – quanto egoísmo há em relação a nós. Você não pode conhecer a Cruz em nenhuma maneira real e ser realmente uma pessoa egoísta. A Cruz exporá todo egoísmo e demandará a anulação de tudo que é próprio; interesse próprio, consideração própria, pena de si mesmo, e toda forma do eu vem à luz pela Cruz.

Bem, este é o ministério particular de qualquer tempo do fim, o qual é também um tempo de transição.

Temos visto que Simeão representava um apego remanescente a uma visão celestial num tempo em que o que era de Deus se tornou ligado à terra e amplamente tradicional e formal; que ele reuniu nele mesmo todas as revelações fragmentárias, diversas e parciais de Deus falando; que ele personificava a ideia da maturidade espiritual, enquanto ao mesmo tempo ele significava aquilo que envelheceu e estava quase para desaparecer. Mas, com tudo, ele se vinculou com a nova e plena manifestação de Deus enquanto ele segurava o infante Cristo em seus braços. Assim ele mostrou por declaração e profecia as imensas questões ligadas a Cristo, e o curso e custo de um ministério da 'plenitude de Cristo'. Aqui deixamos o assunto para a contemplação de todos esses enquanto aguardamos “a bendita esperança” e, ao aguardarmos, perguntemo-nos o que o Senhor terá como o ministério desta fase presente transitória que resultará em Sua aparição.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.