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O Evangelho do Reino

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 - O Funcionamento do Reino de Deus

No capítulo décimo terceiro do Evangelho segundo Mateus, o qual podemos tê-lo aberto diante de nós para nos lembrar, achamos o funcionamento do Reino ilustrado numa forma sétupla.

AS PARÁBOLAS DO REINO

Não me proponho a tentar fazer uma exposição dessa forma sétupla, mas simplesmente tirarei do capítulo as características mais importantes do funcionamento do governo soberano de Deus. Nós temos aqui esse funcionamento ilustrado, no que tem chegado a ser chamado 'as parábolas do Reino'. Esse é o título que os homens têm dado a elas, mas é bom lembrar qual o título que o Senhor Jesus deu a elas 'os mistérios do Reino'.

A CHAVE PARA AS PARÁBOLAS

Estas parábolas, ou mistérios, do Reino do Céu são realmente impossíveis de entender, exceto à luz da definição do Reino que acabamos de dar - isto é, como o governo soberano de Deus. Se você as interpretar como indicando primariamente uma esfera ou natureza, então você terá ido além da garantia delas, e você certamente entrará em confusão. Poucas partes do Novo Testamento têm sido mais alvos de controvérsia do que estas parábolas. As várias interpretações que têm sido dadas a elas têm dividido estudantes e mestres em escolas irreconciliáveis. Nós veremos algo disso à medida que formos avançando. É portanto, necessário descobrir a chave para as parábolas, a fim de sermos poupados desta confusão e contradição; e essa chave sem dúvida jaz na definição do Reino como O GOVERNO SOBERANO DE DEUS. Me permita repetir: Não estou embarcando numa exposição destas parábolas, mas procurando chegar a algo de muita importância e valor para nós mesmos nesta hora.

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

A primeira é chamada a parábola do semeador (vv. 18-23). O Senhor Jesus disse que a semente é a palavra do Reino. "A todos os que ouvem a palavra do reino", Ele disse. Ora, traduza isso de novo como 'a palavra do governo soberano'. A palavra do governo soberano vai adiante. Qual é o resultado? Em grande parte fracasso. O sucesso no sentido positivo é muito limitado, comparativamente - alguns trinta, alguns sessenta, alguns cem por um. Veja como de impossível é conceder ao reino a ideia de uma esfera ou uma natureza. Isso implicaria que dentro da esfera em que Deus governa você tem em grande parte fracasso. Mas esse não é o ensino da parábola. O ensino da parábola é este. A palavra do governo soberano vai adiante, como semente; e, não importa se há um grande fracasso na resposta e reação a essa palavra, Deus é bem-sucedido no final com um corpo que é produtivo daquilo que é implícito na Palavra.

Sim, o homem pode falhar. Ele pode receber aparentemente com alegria, e depois, tudo pode acabar em nada. Ele pode responder de um modo, e parecer que vai dar tudo certo - e depois, por causa das dificuldades e adversidades, simplesmente desaparece. Mas, que haja fracasso, desapontamento, colapso: não importa - Deus obtém algo na Sua soberania. Existe algo que este governo soberano de Deus obtém. Veja, esta é uma palavra tremenda da soberania para os trabalhadores. Você labuta, você espalha, você dá, você trabalha, você trabalha arduamente; mas, se é a palavra do governo soberano em verdade genuína, em última análise não pode falhar. Pode haver muito desapontamento, mas haverá um resultado que responda à intenção Daquele que a deu. Muito simples: mas veja como de importante é reconhecer a lei totalmente governante do governo soberano que não pode, completamente e finalmente, em última análise ser derrotada. Muitos podem parecer sustentar que o trabalho é em vão; mas o Senhor está dizendo aqui nesta parábola: 'Não! Quando é uma palavra do governo de Deus, não pode no final das contas voltar completamente vazia; haverá algo dela resultante'. A soberania está governando.

A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO

A seguinte é a comumente chamada a parábola do trigo e do joio (v. 23-30). Aqui, da palavra, a ideia passa para pessoas. Não é a palavra que é agora semeada - são pessoas que são semeadas. Filhos do Reino são semeados na terra, e depois, pela noite o inimigo aparece e semeia seus próprios filhos, filhos do seu reino. Eles são os filhos do diabo. Seu método adequa-se ao seu objetivo. Seu objetivo sendo completamente o de nulificar o que é de Deus, seu método é o de imitar. Isso é uma artimanha dessa sabedoria perversa de Satanás - filhos imitadores de Deus misturados com verdadeiros filhos de Deus com o fim de nulificar. Os servos são representados como indo ao dono do campo e dizendo-lhe o que eles acharam lá, e ele diz, 'Ah, um inimigo fez isto'. E eles dizem, 'O que você deseja que façamos?' 'Arrancamos essa outra coisa?'

Ele replica: 'Não - deixem a soberania ter o seu caminho! Deixem que cresçam juntos, e a soberania, o governo do Céu, progressivamente deixará muito claro qual é qual, e o fim será um processo fácil e seguro. Se você começar a fazer isso agora, você não terá a sabedoria do Céu para discriminar. Não é da sua conta, e você não tem a faculdade ou capacidade para desenredar esta profunda obra do diabo, tentando definir o que é verdadeiro e o que é uma imitação. Esse não é o seu trabalho, e você não está qualificado para fazê-lo. Somente o Céu pode fazer isso. Portanto, deixe isso continuar, e o governo soberano manifestará o que é de si próprio, e o que é contrário'.

É o governo soberano que vai resolver e estabelecer todo este problema. Você não pode dizer que o Reino do Céu ou o Reino de Deus é como isso que é retratado nesta parábola - uma mistura horrível. Não é. O Reino de Deus, o Reino do Céu, é uma coisa, e somente o governo soberano de Deus pode pôr para fora em claridade o que é de Deus.

Mas isso acontecerá à medida que avançamos. Podemos confiar no governo soberano. Isso é muito prático: funciona assim. Estão aqueles que são verdadeiramente filhos de Deus, do Céu; e depois estão aqueles que entram - que talvez cantam hinos, usam a fraseologia, avançam na mesma maneira, se associam com os do Reino; mas existe uma diferença. No fundo, eles realmente não são 'de nós'. Eles são só imitações; eles não são reais, não são a coisa genuína. Nós podemos discernir, como estes homens discerniram, que existe algo aqui que não é a mesma coisa, algo que é alheio, alienígena, estranho. O que vamos fazer? Não será melhor expulsá-los, os mandar embora?

Não, não! Continue o tempo suficiente, e eles irão por si mesmos. As duas coisas serão manifestas por si só, e será muito fácil no longo prazo. "Eles saíram de nós", disse João, "...para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos" (1 João 2:19). Isto é um princípio celestial, veja - há uma manifestação. É difícil aguentar pacientemente as pessoas que você sente que não têm, como dizemos, a raiz do assunto nelas - que são só adeptos. Mas, como com a multidão misturada que deixou Egito com Israel, o tempo e as provas os acharão. Este é o caminho se o Reino, a soberania, operar, e exige muita fé, e muita paciência.

O GRÃO DE MOSTARDA

A parábola da semente de mostarda (v. 31, 32) é uma das mais difíceis de todas, e uma que talvez tem sido a causa de algumas das piores interpretações e ensinos. "O reino do céu é como um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é a maior das hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos". Você realmente acredita, à luz de todas estas outras parábolas e do Seu ensino no seu conjunto, que o Senhor Jesus disse, 'Isto é o Reino do Céu - o Reino do Céu é semelhante a isso?' Se a interpretação comum e popular é para ser aceita, então ficaremos envolvidos em verdadeiras dificuldades. Reconhecidamente, a parábola parece significar que o Cristianismo ou 'o reino do céu', tem começos muito pequenos e depois cresce em grandes dimensões. Pode haver um elemento de verdade nisso. O começo em Jerusalém FOI pequeno, e no decurso dos séculos o Cristianismo se tornou mundial. Mas é isso só o que o Senhor quis dizer com a parábola?
Existem pelo menos três coisas que nos deteria e nos faria pensar novamente, e pensar mais energeticamente.

Uma é que em outras vezes o Senhor definitivamente usou termos de estrita e severa limitação em relação à salvação, o caminho e o resultado. Tanto assim que o Seus discípulos ficaram surpreendidos proferindo: "Senhor, são poucos os que são salvos?" (Lucas 13:23). Ele falou do caminho para a vida sendo estreito, e poucos o achando e aceitando: da porta sendo estreita, e poucos entrando por ela (Mat. 7:13,14). Ele chamou aos Seus discípulos (representativos da Sua Igreja) "pequeno rebanho" a quem seria do bom agrado do Pai dar O REINO (Lucas 12:32). Existem ideias contrastando entre "espaçoso" e "apertado", "amplo" e "estreito", grande e pequeno, popular e impopular. Tudo isto não concorda com a interpretação superficial usual desta parábola.

Logo, o que dizer sobre 'as aves do céu'? Usou ele esta metáfora numa maneira contraditória? Na parábola do semeador Ele tinha falado disso num sentido pejorativo: está Ele empregando os mesmos termos num sentido correto e adequado aqui? Isto viola o princípio da consistência na inspiração.

Em terceiro lugar, é GERALMENTE certo que o "grão de mostarda", a mais pequena de todas, cresce uma árvore tão grande como é aqui descrito? Não, positivamente não é verdade. Se o nosso Senhor viu tal coisa - e Ele pode ter visto - e salientá-lo, ele estava salientando algo anormal e não natural. Era o suficientemente anormal e antinatural para ser salientado.

Isto nos leva para o fator que é comum de TODAS as parábolas e todos os ensinos de Jesus, e dos Apóstolos subsequentemente. Em todas estas parábolas existe um elemento seletivo, discriminador, contrastador, comparativo, bom e mau. O Reino do Céu é assim: o governo soberano é todo abrangente, mas é muito particular, seletivo e judicial. Consistência em cada direção demanda que interpretemos esta 'árvore' do Cristianismo como um desenvolvimento anormal, antinatural, capaz de alojar muitas coisas que não estão em conformidade com a verdadeira NATUREZA do Reino. Estas "aves" NÃO são o povo nascido do alto, o qual exclusivamente pode ver ou entrar no reino (João 3). Elas são todos os acréscimos, os adeptos, os parasitas, os vários tipos de pessoas e coisas que se aproveitam do Cristianismo, e usam a sua capa, mas não são da sua natureza.

O Senhor estava fazendo os Seus discípulos perceberem que isto é o que aconteceria, e que a soberania levava tudo isto com calma. É bom que saibamos que o Senhor previu os desenvolvimentos do Cristianismo e suas anormalidades, mas é um grande detrimento que o Seu espírito de discernimento e discriminação não tenha jeito com muitos cristãos.

O Novo Testamento, para começar, indica que há alguma coisa anormal, ou este tipo de desenvolvimento anormal, sobre a verdadeira obra de Deus? Sim indica isso, embora, afinal de contas na soma de muitos, muitos séculos haverá 'uma grande multidão que ninguém pode contar', haverá, assim que chegarmos cada vez mais perto do fim, uma tremenda peneiração e queda*. É definidamente declarado que o dia não virá antes da grande apostasia* (2 Tes. 2:3), e que "o juízo deve começar pela casa de Deus" (1 Pe. 4:17). Bem, então, se isto está correto - uma grande queda - a Bíblia se contradiz. Como temos dito, o ensino do Senhor pareceu ficar tão claro para os discípulos neste assunto que eles exclamaram: "São poucos os que são salvos?" De que se trata o caminho amplo e o estreito? O caminho amplo - muitos vão por ele; o caminho estreito - poucos o acham. A Bíblia não se contradiz; mas diz que Deus toma conta destas coisas, e Deus na Sua soberania as permite. Ele não sai e destrói esta coisa estranha popularmente chamado 'Cristianismo'. Isso pode ficar, mas Deus na Sua soberania está prosseguindo com o Seu próprio curso para conseguir o que Ele está procurando. Embora tudo isto seja verdade, o governo soberano de Deus continua, a soberania é preservada.

A PARÁBOLA DO FERMENTO

O mesmo princípio está implícito na seguinte parábola.

"O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado" (v. 33).

(a) O FERMENTO

A interpretação popular é que o fermento é o Cristianismo: o Cristianismo sendo tomado pela Igreja e posto no mundo até que tudo é levedado - o mundo inteiro é 'levedado' com o Cristianismo. Sugere-se que vejamos o mundo salvo pelo mover profundo, silencioso do Cristianismo, operando fortemente, profundamente e de maneira oculta, como o fermento. É muito fácil dizer esse tipo de coisa, mas é um raciocínio superficial. À luz da história, e à luz da Palavra de Deus, é muito difícil de acreditar.

Veja novamente. A população mundial é muito mais em excesso da população cristã do que em qualquer outro tempo nesta dispensação. Depois destes quase vinte séculos do Cristianismo, um imenso número sobre uma parte muito grande do mundo nunca tem ouvido ainda o Evangelho. Veja isto - 1,200 milhões de 2,000 milhões de pessoas da terra não têm ainda conhecimento de Cristo. Logo, o que dizer quanto à indescritível revelação da iniquidade em países que tiveram o Evangelho há séculos? Poderíamos fazer uma imensa acumulação de fatos que destruiriam esta interpretação do fermento para além da reconstrução.

Ora, qual é o significado do fermento? Não creio que o fermento está aqui numa categoria diferente da do fermento noutro lugar na Bíblia. Consistência da Escritura demanda que interpretemos o fermento como a mesma coisa, na mesma luz: e nos outros lugares na Escritura o fermento é mau - algo que tem de ser expurgado. Na antiga economia eles tinham que ascender as suas lâmpadas na noite da Páscoa, e vasculhar a casa para cima e para baixo, cantos e recantos, de qualquer fermento e expurgá-lo. A Páscoa não poderia ser comida até que houvesse certeza de que não havia nenhum vestígio ou trasto de fermento em qualquer lugar. Eles tinham que comer pão ázimo na Páscoa. O Senhor Jesus falou do "fermento dos fariseus e saduceus" (Mat. 16:6) e "o fermento de Herodes" (Mar. 8:15). E Paulo falou de 'expurgar o velho fermento' (1 Cor. 5:7). Em todo lugar é algo mau. A função ou efeito do fermento é de desintegrar, quebrar, rasgar - toda dona de casa sabe disso. E não é diferente aqui: ainda é fermento e ainda é mau. Se você dizer que o Reino do Céu, como uma esfera, é assim, você está em problemas. Mas o governo soberano de Deus sabe tudo sobre este mover profundo, secreto de desintegração, do mal, que tem entrado na esfera das coisas Divinas. O Reino do Céu não é como uma fermentação alcoólica, de desintegração, putrefação.

(b) A MULHER

Somente é necessário olharmos passagens da Escritura como a de Apocalipse 2:20-23 ("a mulher Jezabel"), e Apocalipse 17 ("a grande prostituta") para perceber que uma "mulher" muitas vezes na Bíblia é o simbolo de um sistema. Uma e outra vez tem sido uma mulher, ou pessoal ou simbolicamente, que tem corrompido coisas Divinas, ou trazido corrupção em relação com elas. Veja Sansão; veja Salomão; veja os últimos reis para exemplos. Na mensagem a Tiatira, a insinuação do mal e corrupção na Casa de Deus é a causa do mais severo juízo - pois é chamado "as coisas profundas de Satanás" (Ap. 2:24). Que presciência e previsão o nosso Senhor tinha nestas parábolas! Mas avancemos.

(c) TRÊS MEDIDAS

Três medidas. Lembre que três é o número de Pessoas Divinas e coisas Divinas. O mal se espalhou até pela Igreja, de modo que dentro do Cristianismo mesmo as próprias Pessoas Divinas têm sido sujeitas a questionamentos e dúvidas. Deus mesmo - o Filho, o Espírito - têm sido deturpados. Com muitas outras coisas de Deus, o mal tem entrado para quebrá-las - para destruir a eficácia e poder delas mediante a destruição da solidez delas. O que você vai fazer a esse respeito?

O governo soberano de Deus toma conta disso - a operação do mal, a operação da falsidade, a operação da deturpação e má interpretação das coisas de Deus. A história está só cheia disso, como sabemos. Nós odiamos termos e rótulos, mas não é só isso que acontecera nos últimos cem anos na esfera chamada 'Modernismo' ou 'Liberalismo'? Não está o fermento desintegrando as coisas Divinas? A própria Pessoa de Jesus Cristo é despojada de Sua Deidade; a própria Palavra de Deus é negada da sua autoridade e da sua irrevogabilidade; o próprio Espírito Santo é degradado quanto à Sua dignidade como a Pessoa Divina; e assim por diante. O Senhor Jesus discerniu o futuro, viu a maneira em que as coisas iriam acontecer, e falou assim. Ele estava dizendo. 'Esta mesma geração não se irá sem que antes entre todo tipo de heresia e erro na esfera das coisas Divinas' - o qual aconteceu.

Mas o governo soberano continua. Isto não traz confusão e derrota a Deus. A sua soberania é maior do que tudo isto. É realmente a única maneira de ser consistente tanto com o ensino da Escritura como com a própria história. Certamente deve ser pura cegueira ler a história de qualquer outra maneira. Como disse, não estou expondo estas parábolas, mas tirando o ponto que é comum a todas elas. De vários ângulos, de várias e diferentes causas, em diferentes situações, no fim do século: qualquer coisa que seja permitida por essa soberania, essa soberania será igual a tudo, e no final será completamente vindicada.

A PARÁBOLA DA REDE

Chegamos à última parábola, a da grande rede lançada ao mar - o mar sempre falando da humanidade - e reunindo uma grande multidão de peixes. Sim, a soberania de Deus faz isso: a rede recolhe multidão de peixes de toda espécie, e depois a soberania vai trabalhar e separa o bom do mau, e no final Deus obtém o que Ele estava procurando desde o princípio. Ele finalmente o obteve. Assim é como a soberania opera. Exite muita instrução aqui para cristãos e para obreiros cristãos. Se nós tivéssemos o nosso caminho, iriamos trabalhar para garantir que sempre e somente temos a coisa que é absolutamente, certamente e positivamente de acordo à mente de Deus: nós escolheríamos isso, e colocaríamos uma cerca ao redor, e montaríamos paredes em volta, e o protegeríamos e manteríamos, como uma companhia exclusiva. Mas estas parábolas dizem, Não! A soberania do Céu não faz esse tipo de coisa. A soberania do Céu permite e tolera muita coisa que em última análise será achado não estando de acordo ao Céu. Sim, respeita muita coisa; mas está dirigindo seu próprio curso, e, no final, através de tudo, Deus terá aquilo sobre o que Ele coloca o Seu coração.

A ABRANGÊNCIA DO GOVERNO DE DEUS

Para resumir - veja como de abrangente é este governo de Deus. A soberania de Deus é uma das coisas mais problemáticas e perplexas para os cristãos, em relação ao que Deus permitirá mesmo até em associação com a Sua própria obra. Nós de modo algum faríamos isso. Nós seriamos muito, muito específicos. Mas veja como de abrangente Deus é. Ele permite muita coisa. Ele não só o permite - Ele até usa bastante que provavelmente nós nunca usaríamos, ou que nos faria questionar. Ele passa através de coisas na Sua soberania para chegar ao Seus fins. É SEU FIM que é o grande testemunho da Sua soberania. Nós dizemos: Como Deus conseguirá alguma coisa disto, ou daquilo? Bem, Ele consegue, veja todas estas coisas: há alguma coisa possível para Deus? O veredito no fim é que Deus soberanamente sim conseguiu algo.

Veja, este é o grande coração e núcleo deste conjunto de ensino e revelação do Reino de Deus. Não significa que você e eu não precisamos ser sensitivos ao Senhor - isso é completamente outra coisa. Lidaremos com isso mais tarde, quando digamos algo sobre o Reino e a Igreja. Não significa que, porque vemos que a soberania de Deus alcança os Seus fins a despeito de tudo, sejamos descuidados e insensitivos à mente do Espírito; para fazer todo tipo de coisas que Deus, se Ele tivesse o Seu caminho, não sancionaria. Mas significa que esta soberania de Deus vai cobrir uma área grande: vai conseguir seus fins através de muitas, muitas maneiras e meios que em si, intrinsecamente, não são Dele. É este governo dos céus que está, por assim dizer, 'indo em frente com o seu trabalho'.

Nós, entregues a nós mesmos, somos tão exigentes, tão meticulosos, que não deixaríamos margem para a soberania de Deus. O grande apelo aqui é: Deixe bastante margem para Deus. Isso é do que se trata. Nunca se desespere com qualquer situação como sendo definitivamente e absolutamente desesperada. Na presença da propagação desta coisa má, este fermento - a expansão deste Cristianismo anormal, 'esquisito', com suas contradições e desapontamentos - somos proibidos por meio desta soberania a desistir e dizer que é uma coisa irremediável. Temos que chegar ao lugar em que dizemos, cremos e tomamos posição: 'Isso parece ser uma situação irremediável, mas Deus pode obter algo disso, e Ele obterá'.

Essas são as boas novas do Reino, o Evangelho do Reino. Sei que muitos de vocês que leem estas palavras podem confirmar isto. Você conheceu a situação mais terrível e impossível de mistura e desespero. Você se desesperou - e depois você tem visto Deus fazer algo. Que força e vigor isso dá para o resto da declaração! "Este evangelho do Reino será proclamado... para testemunho a todas as nações". Na Sua soberania, Deus pode transformar a situação mais desfavorável e nada promissora, o maior estado desesperado das coisas, num glorioso testemunho. Sim, Ele permite muito, mas Ele governo tudo. E Ele faz uso de todo tipo de agências - até do próprio diabo. Isso deve ser soberania! "Um inimigo fez isto". Muito bem: nós usaremos o inimigo para mostrar o que está certo e o que está errado, para tornar ainda mais manifesto o que é de Deus e o que não é. A obra do diabo será empregada para esse fim. Esse é o governo do Céu.

Tudo isto é corroborado posteriormente no Novo Testamento. "As coisas que me aconteceram", escreve Paulo (Fili. 1:12) - que coisas eram? Eram a obra do diabo. De novo - "Quisemos ir até vós, eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas; contudo, Satanás nos barrou o caminho" (1 Tes. 2:18). Estranho, declaração misteriosa! Sim, o diabo está ocupado; "um mensageiro de Satanás" (2 Cor. 12:7) - ele é muito ativo. E qual é o veredito no final? "As coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho"! Sob a soberania de Deus as próprias obras do diabo estão sendo usadas para alcançar o objetivo de Deus.

Provavelmente isso é do conhecimento geral, afirma-se com frequência. Mas nós devemos chegar mais definidamente a esta posição firmada, que DEUS E CRISTO ESTÃO NO TRONO. Este Reino é uma realidade presente. Existem muitas coisas que o contradizem e o combatem. Deus não as consome e aniquila: Ele as permite, e depois toma posse delas; e o final é que o Seu trono é estabelecido e é manifesto que "o seu reino domina sobre tudo" (Sal. 103:19).

O que estas parábolas nos dizem é isto - que Deus encara os fatos e não tem ilusões. Ele encara o fato de que uma grande proporção da semeadura da palavra do Reino falhará. Ele encara o fato de que o Cristianismo se converterá numa conglomeração anormal, sem nenhuma distinção de testemunho. Ele reconhece que haverá uma secreta operação escondida do erro, do mal, da falsidade, tudo para desintegrar. Ele encara tudo - toda a obra do diabo, toda a obra do mal, todo o fracasso do homem - e depois Ele declara a Sua soberania sobre tudo. Isso é o que surge aqui. Peçamos força para crermos nisso.

A OBRA JUDICIAL DE DEUS

Não tenho dito muito sobre um outro aspecto destas parábolas: isto é, que existe uma obra judicial discriminatória acontecendo todo o tempo. Não falhe em ver isso. Por meio destas parábolas, Ele está cortando uma linha, Ele está discriminando, Ele está agindo judicialmente. Deus está só dizendo, 'Tudo está certo - não se preocupe. Se assentem nas suas poltronas, sim homens cristãos; se assentem, o Reino está vindo'. Não; ao invés - 'Levante, sim homens de Deus!' Deus não é passivo, indiferente, descuidado, dizendo, 'Ó, tudo ficará bem, está tudo certo; não se preocupe com isso'. Ele não é assim. Ele está agindo, e agirá, judicialmente. Ele está realmente colocando as coisas nos seus lugares, e dividindo no meio, como Ele faz com as igrejas em Apocalipse. Ele está discriminando. Ele está colocando isto aqui e aquilo lá, e dizendo que pertencem a duas esferas diferentes. Isso é uma parte da Sua soberania.

Mas o nosso principal ponto é este: O funcionamento do Reino, ou o governo, de Deus está a introduzir finalmente o triunfo desse governo. Independentemente do que entre, significará o triunfo desse governo. O governo do Céu, o governo de Deus, no final sai triunfante.

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