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O Cristo, o Anticristo e a Igreja

por T. Austin-Sparks

Capítulo 1 – Os Direitos de Deus

Vamos começar com uma série de passagens das Escrituras relacionadas a cada um dos pontos que iremos abordar:

O Cristo
Cl.1:13-18; Hb.2:5-10,16; Ef.1:22; 4:10

A Igreja
Ef.1:22; 2:14-16; 3:20-21

O Anticristo
1 Jo.2:18-22; 4:2-3; 2 Ts.2:3-10

Desejo, inicialmente, mencionar algo. O apóstolo João, dirigido pelo Espírito Santo no início do seu Evangelho, chama Jesus, o Filho de Deus, de “Logos”. O apóstolo Paulo O chamou de “sabedoria de Deus” e “poder de Deus”. Esses títulos tem um significado especial. Eles significam que Jesus é a encarnação dos propósitos e princípios divinos. Por trás de tudo que existe no universo que conhecemos existem situações, causas, razões, explicações, significados e fatos que demandam por respostas. A obra do Espírito Santo – como uma de suas funções primárias – é revelar esses sentidos, razões, interpretações, e nos levar ao por que e causa das coisas na mente de Deus. Toda esta explicação está atrelada a própria Pessoa do Senhor Jesus. Ele é a encarnação dos motivos de Deus, a explicação e a resposta para tudo o que está por trás do universo. As respostas de Deus não são verbais, descritas em palavras. A resposta completa de Deus está em uma Pessoa. A revelação de Jesus Cristo é o que está por trás de tudo, nos dá a chave; responde a todas as perguntas e concede todo o conhecimento que é necessário para que possamos chegar a uma perfeita unidade com Deus.

Você pode perguntar por que estou falando isso. Bem, a resposta é que, no desenvolvimento da filiação, Deus deseja que Seus filhos sejam inteligentes, mas não para apenas possuir inteligência e conhecimento em si. Ele deseja isso porque essa inteligência espiritual é vida e é poder. A revelação de Jesus Cristo pelo Espírito Santo é vida e é poder.

A revelação de Jesus Cristo é o meio pelo qual todo o poder do mal está destinado e condenado a ruir. Portanto ela é aquilo que trará, de maneira final, a condição que estará plenamente de acordo com a intenção original de Deus. Quando Ele for plenamente e finalmente manifesto, por um lado, algo vai acontecer no reino do mal de forma que ele seja anulado e chegue ao seu fim, enquanto, por outro lado, tudo mais chegará às condições que estavam dentro do propósito de Deus.

Por isso você entende a importância de ter explicações, de reconhecer que existe uma razão, um sentido em tudo, e que o Senhor Jesus vai trazer - em sua própria Pessoa - esse sentido à luz. Deus não deseja que simplesmente aceitemos os Seus atos. Ele não deseja que apenas vejamos os eventos, mas deseja que tenhamos entendimento sobre eles. O maior e mais inclusivo feito realizado por Deus é Jesus Cristo, e não podemos aceitá-Lo apenas como um fato. Precisamos saber o que Ele significa em todas as direções e esferas. Esse conhecimento é puramente espiritual, e, como eu disse, vai operar tremendamente em duas direções, uma contra o mal, e outra nos trazendo ao estado que expressa a intenção original de Deus. Isso pode soar muito elevado e inatingível, mas o ponto que quero chegar, antes de continuarmos, é que existe algo que está por trás de tudo o que lemos na Palavra de Deus. Existe algo por trás do fato de Cristo, algo imenso está por trás Dele, uma razão. E é isso que está por trás da Igreja. A Igreja é uma resposta a algo, a explicação para algo. A Igreja é a incorporação do propósito divino. Precisamos saber o que é isso. E isso se aplica a tudo que vemos na Palavra de Deus. Nós não precisamos apenas ver que algo foi dito, estabelecido, apresentado; temos que fazer a pergunta, “O que é isto, tão grande como a mente de Deus, que está por trás disso?” É aí que está o campo de nossa educação, iluminação e instrução espiritual. Essa é a esfera de ação do Espírito Santo, tornar isso conhecido. Quando Deus tem um povo com pleno entendimento no caminho espiritual, Ele consegue algo que tem tremenda importância e valor para Si. Então você vai perceber como isso pesa no que vem a seguir.

Prosseguiremos, então, com algumas considerações sobre o Cristo, o Anticristo, e a Igreja. Eu desejo condensar esses pontos tão vastos num compasso o menor possível. Então, para iniciar, eu diria que existem três pontos comuns a todos os três.

1) Um tipo de criação

Primeiramente, um tipo de criação. Ele, considerando o Seu nome de humano, Jesus Cristo, é um tipo de criação. O Anticristo é um tipo (vou usar outra palavra) de criatura. O Anticristo não foi criado como Anticristo, mas é um tipo de criatura, algo existente, claro, no sentido mais geral, um tipo de criação, de ser. Então a igreja, o Corpo de Cristo, é um tipo de criação, “um novo homem” [Ef 2:15], uma nova criação. Assim você vê que essa é uma característica de todos os três.

2) Um poder, um princípio

Em segundo lugar, todos tem um poder, uma dinâmica, um princípio. Quando falamos de princípio, queremos dizer algo que opera, governa, e todos os três também tem esse denominador comum. Cristo é um poder tanto quanto uma pessoa; um poder, uma dinâmica, um princípio – se assim me permitem dizer. Isso não está tirando nada de Sua personalidade, mas Ele é a incorporação de um princípio de Deus neste universo; uma lei, se desejar; algo que governa de maneira poderosa; Ele é um poder. O anticristo é um poder, força, princípio e um elemento ativo. A passagem de 2 Tessalonicenses 2 deixa isso perfeitamente claro: “o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia (no grego é “com base na energia”) de Satanás, com todo poder (dunamis).” Anticristo é um poder.

A igreja, que é o Seu Corpo, é um poder. Não é apenas um agregado de membros individuais, mas algo que registra uma força e uma energia no reino espiritual. Claro, se a igreja fosse apenas uma mera organização, uma congregação, não iria incomodar Satanás e mais ninguém. No entanto, quando é constituída por Deus, é um poder, e é algo que será levando em conta no universo. O desejo de Deus é que ela estivesse vivendo mais plenamente dentro dessa concepção e da necessidade divina. Porém, se houverem dois ou três reunidos no Seu Nome, representando a igreja em uma verdadeira unidade no Espírito Santo, haverá o registro de poder no reino invisível.

3) Um reino

Em terceiro lugar, um reino, um domínio. Cristo é um tipo de criação; Cristo é um poder; Cristo é um reino. “O reino do Filho do Seu amor” [Ef 1:13]. Existem todas estas passagens que mencionam que Ele foi colocado sobre todas as coisas, estando em preeminência, com tudo sob Seus pés, tudo isso fala do Seu reino, Seu domínio. Mas o Anticristo também representa um reino, um domínio, e a igreja, o Corpo de Cristo, traz esse significado; estando em união com Cristo, é um reino. “Não temais, ó pequenino rebanho, porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino” (Lc.12:32). A igreja é “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas...” (Ef.1:23). Então o que é o homem? “deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão” (Sl.8:4).

Esses pontos estão perfeitamente evidentes e simples, mas apenas levam a outras coisas. Existem outras coisas atreladas a eles. A primeira delas não é um assunto menor do que os direitos de Deus.

A Restauração dos Direitos de Deus

No que diz respeito ao Cristo, a grande e abrangente questão são os direitos de Deus. Ele é a verdadeira encarnação e personificação desses direitos. Você pergunta qual o significado de Cristo? Se nos voltarmos para o que está por trás do fato de Cristo, da Sua Pessoa, por trás do Cristo apresentado a nós – aquele que aceitamos de forma pessoal - o Seu ensino, as Suas obras que admiramos, os fatos que cremos em relação à Sua vida, morte, ressurreição e ascensão - volte para o antes de tudo isso, e qual é o sentido? O que Ele significa? Porque Jesus Cristo? A resposta é, “Os direitos do Deus neste universo”. Isso chega ao âmago do nosso primeiro ponto sobre Cristo, a saber, dEle ser um tipo da criação; um tipo de ser, um homem em quem os direitos de Deus têm lugar de interesse e devoção. Aqui você tem um Homem, “O homem Cristo Jesus”. “Há... um mediador... entre Deus e o homem, Cristo Jesus, homem” (1 Tm.2:5). “O que é o homem... e filho do homem?”; “Nós vemos Jesus”!, ou na designação por família de 1 Co.15:45, “o último Adão”. Aqui você tem um tipo de criação, e a explicação desse tipo particular de criação são os direitos de Deus. Ele é um Homem cujo espírito, estando em união viva com Deus, é governado pelo Espírito de Deus. Tudo tem relação com os direitos de Deus. Ele é governado pelo Espírito de Deus. Ele é governado em Sua mente, Seu coração, Sua vontade, Sua razão, Seus desejos, Suas escolhas, pelo Espírito de Deus pelos direitos de Deus.

Você pode ver que o desafio chegou logo no início. O assalto foi feito sobre o primeiro Adão, para levá-lo a usar sua mente, sua razão, seu desejo, seus sentimentos, sua vontade, sua escolha, de maneira alheia à Deus, sem leva-Lo em consideração, de maneira independente e desassociada dEle, dando as costas ao que Deus deu a conhecer como Sua vontade, e agindo fora e por trás dela. Claro, o objetivo do adversário era roubar de Deus Seus direitos à medida que estavam atrelados àquele homem, e a partir desse momento em diante os direitos de Deus foram tomados Dele nesta criação, neste universo.

Toda a história do Antigo Testamento, do Novo Testamento, e de todas as eras, é a terrível história da batalha pelos direitos de Deus. Através de um vidente, profeta e através de cada representante divino, o conflito estava relacionado aos direitos de Deus no universo; direitos que estavam sendo roubados, que não estavam sendo devolvidos; direitos que, sendo Seus, não eram reconhecidos, mas eram tomados e utilizados para outros fins, para outro fim, para outro reino. Aqui, no último Adão, você tem aquele cujo espírito, estando em união viva com Deus, coloca tudo inteiramente sob o governo do Espírito de Deus. Toda a explicação de Jesus Cristo está relacionada aos direitos de Deus. Eu não estou esquecendo a Sua divindade. Não me entenda mal. Estou falando Dele agora como o representante do homem, o Filho do Homem. Ele é Aquele que dá a Deus o lugar completo e final, cujo único objetivo é o que está relacionado aos direitos de Deus. Esses direitos, por meio da falha de Adão, tornaram-se uma questão de conflito. Por isso Nele como o último Adão, o Homem representativo, tudo teve que ser aperfeiçoado por meio de sofrimentos.

Se nos perguntarem sobre a natureza do seu Ser ter sido feito "perfeito através do sofrimento", a resposta está em uma palavra: "Ele... sofreu, tendo sido tentado." Mas o canal da tentação poderia variar de tempos em tempos. Em um momento esta tentação poderia ser a sua condição física, de fome, como no início de Sua carreira, ou então, poderia ser a agonia terrível da cruz, no final. Em outra ocasião, os meios de tentação poderiam ser de tipos diferentes. A tentação poderia vir ao longo da linha de alguma preocupação espiritual, decepção - não podemos cobrir todo o terreno das tentações de Jesus Cristo, as formas de tentação, provas, testes, porque muitos foram eles. Mas foi a provação que foi o sofrimento dEle, a tentação foi o sofrimento: "tentado em todos os pontos como nós somos, mas sem pecado". Ele estava sendo aperfeiçoado através dos sofrimentos da tentação; tentação à impaciência, por exemplo, para obter o Seu reino por meio de popularidade, por meio do uso dos poderes sob Seu comando. Quantas foram Suas tentações! Por esses meios Ele foi feito perfeito.

Então, quando você olha por trás da tentação e pergunta: Por que ser tentado, o que é o ponto, qual é o significado, qual é a razão? A resposta é outra vez, Ele veio exclusivamente para o resgate dos direitos de Deus e para que eles fossem eternamente protegidos contra qualquer outra possibilidade de serem perdidos. Toda tentação foi um esforço para levá-Lo para longe do terreno dos direitos de Deus. "Este é o meu Filho amado"! Esta foi uma declaração feita por Deus. Logo depois, surge uma situação de grave dificuldade, e após aquela primeira voz que ouvimos, surge uma segunda voz: "Se tu és o Filho...". Há um "se". De onde esse "se" toma a sua força? Da circunstância em que Ele se encontrava no momento. Oh, há uma força na tentação quando você está fisicamente esgotado! Nós todos sabemos disso. Nós sabemos como é mais fácil para o inimigo ganhar uma vantagem em um momento de exaustão física, qualquer que seja a causa ou ocasião.

Mas, combinado a isso, você vê que houve um tempo de experiência espiritual, e aqueles que sabem alguma coisa sobre a experiência espiritual, sabem que ela tem seu preço no reino físico, o que deixa uma abertura para o ataque do inimigo. Bem - a tentação de agir por meio de Si mesmo de forma independente movido pela vontade própria, a autopreservação, a autojustificação. Se Tu és o Filho de Deus, faça alguma coisa! Você está em necessidade, em dificuldade; você pode fazer alguma coisa, e, se fizer isso vai provar que você é alguém. Você vê que tudo está nesse sutil "se". O ponto é, pode Aquele que veio expressamente pelos direitos de Deus, permitir que algo Nele levante um questionamento sobre o que Deus disse ou afirmou? Sobre Deus? Se? Se? Você e eu podemos ter passado por muitos "ses" e muitas perguntas. Você e eu estamos apenas no meio do processo, mas sabemos muito bem que o que Deus está procurando fazer em nós é eliminar o "se"; ou seja, nos colocar em movimento constante para o lugar onde, independente das condições exteriores, não temos nenhum "se" a respeito de Deus. O poder pelo qual vamos chegar a essa posição é o poder do triunfo absoluto do Senhor Jesus no mesmo terreno. Ele socorre os que são tentados, porque Ele, tendo sido tentado, triunfou, e foi aperfeiçoado através de tais sofrimentos. Mas Ele não tinha nenhum homem para socorrê-Lo nas tentações. Ele passou por elas e enfrentou tudo de uma forma absoluta sobre a Sua alma. Será que Ele sairia da sua posição pelos direitos de Deus? É direito de Deus receber nossa fé, confiança; obediência; estes são os direitos de Deus no Seu universo. Em condições extremas, o Senhor Jesus travou a batalha pelos direitos de Deus e tornou-se o Homem aperfeiçoado segundo o coração de Deus, um tipo, as primícias, o primogênito entre muitos irmãos, Aquele que, tendo sido aperfeiçoado por meio de sofrimentos, está trazendo muitos filhos à glória. Aqui é Cristo, o tipo, e você vê Nele o tipo de homem que Deus busca.

Anticristo – Um Espírito tanto como uma Pessoa

Então, apenas por um momento, você quer saber o que é o Anticristo? Neste ponto, a saber, o tipo de criatura, o tipo de ser, é exatamente o oposto do Cristo. De maneira abrangente, é aquele que não tem preocupação com os direitos de Deus, nenhuma consideração quanto ao lugar de Deus, mas age em relação aos seus próprios fins. Então, amados, é neste ponto que a aplicação se torna tão pessoal e tão solene; e onde é tão prática. Anticristo é, antes de tudo, um espírito. Nós provavelmente iremos falar mais detalhadamente sobre o Anticristo mais tarde, mas eu quero que você perceba isso, que João fala do Anticristo de três maneiras.

Primeiramente, ele fala no sentido geral - anticristo: sem nenhum artigo - "... anticristo vem" [nota do tradutor - na tradução em Português o artigo é usado, diferente da versão em inglês ASV, usada pelo autor]. Em seguida, ele fala no sentido coletivo e diz que há muitos anticristos. Mas mais adiante ele ainda fala nesse sentido particular do Anticristo. Você consegue notar isso? Então ele diz, "Todo o espírito... este é o espírito do anticristo." Anticristo, então, é, basicamente, um espírito, e esse é o espírito que funciona tomando o rumo contrário ao de Cristo. Jesus tomou um curso de entrega total e sem reservas aos direitos e interesses de Deus, não importando o quanto custasse, até o fim, o derramamento de Sua alma na morte, - "não a minha vontade, mas a Tua". Tudo está ligado aos direitos de Deus. O espírito do Anticristo é aquele que funciona ao contrário disso e tem interesses que não são os interesses de Deus; interesses próprios, objetivos que não são objetivos de Deus; e - você vai suportar essa palavra? - O espírito do Anticristo tem frequentemente atuado nos filhos de Deus. O espírito do Anticristo está na nossa natureza decaída, nós sabemos muito bem; conhecemos o conflito no que diz respeito aos direitos e vontade de Deus.

Você conhece o conflito terrível que surge na tentação à impaciência, na tentação de fazer algo quando a mão de Deus está nos impedindo de fazer qualquer coisa, e não nos sentimos liberados para agir, quando Ele diz em todo o tempo, mesmo sem palavras, “Permaneça parado”. Se Ele fosse nos falar com palavras, claro que seria de grande ajuda para nós. Mas Ele não nos ajuda nesse sentido, simplesmente não nos libera. Faça algo! Diz essa vontade, esse tentador por trás desse desejo: você pode fazer algo, você tem que fazer algo, você pode mostrar algo; está no seu poder: faça! Oh! A tentação nessa linha da impaciência é apenas um dos milhares caminhos nos quais somos tentados, e sempre que sucumbirmos a essa tentação, o Anticristo triunfou, o espírito do Anticristo. Eu sei que isso significa muito mais do que isso, mas eu estou buscando nos trazer a uma aplicação prática, e não ter apenas uma concepção objetiva da verdade. Como essas situações se aplicam e como poderemos obter ajuda é o que interessa, e eu penso que tudo reside neste ponto. “O homem Cristo Jesus” por um lado triunfou sobre todas as tentações que são comuns aos Seus irmãos, e por outro lado Ele está na presença de Deus para nos socorrer nessas próprias tentações, para que sejamos conformados à Sua imagem e eventualmente nos tornemos o tipo de criação que Deus sempre teve em mente, em quem estão documentados Seus direitos, aqueles que custodiarão os direitos de Deus neste universo. Isso soa como algo imenso, talvez grande demais; mas não é esse o verdadeiro significado do querubim em toda a Escritura?

Você tem no querubim figuras representativas de toda a criação. Eles são quatro, e quatro é o número da criação. Eles têm quatro lados, abraçando toda a criação, e. no querubim, desde os portões do jardim [do Éden] até o Apocalipse no final, o que está em vista é a custódia dos direitos de Deus. No início eles estavam posicionados com uma espada flamejante. Os direitos de Deus tinham sido violados e eles aceitaram o desafio. E então, por toda a Escritura, até que os quatro seres viventes sejam vistos no final, você encontra o mesmo princípio, os direitos de Deus – eles louvavam. E o que é louvor? O que é adoração? Não é atribuir a Deus seus direitos? Não é dar a Ele o que Lhe é devido? Não é o reconhecimento Dele como que tendo todo o direito a todas as coisas em todo o universo? Deus busca um homem, corporativo, universal, e aí a igreja entra em cena, em unidade com Cristo e contra o Anticristo. E isso não é apenas uma associação exterior; é algo forjado no coração de cada membro de Cristo. Esse algo é o que é verdadeiramente de Cristo, o triunfo dos direitos de Deus, dos interesses de Deus sobre os interesses e preocupações egoístas, pessoais, mundanas e carnais. Deus está fazendo isso em você e em mim.

A Questão Prática

Eu devo parar por enquanto. Esta é apenas uma visão ampla das coisas. Amado, esta não é uma palavra intempestiva. Existem outras coisas que poderíamos falar, mas todo mundo que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir reconhece que a manifestação plena e final do Anticristo está próxima. A coisa toda está se estreitando, concentrando. A questão final emerge no horizonte. Oh, então, o que isso me diz? Qual é o valor disso tudo para mim? Eu não quero ser um estudante de profecia apenas para saber o que a Bíblia ensina sobre o Anticristo. Não. Qual é o valor espiritual para mim, para você, se pudermos discernir o desenvolvimento do espírito do Anticristo, a intensificação disso no universo de Deus, o direcionamento ao clímax: estaremos cegos se não pudermos ver isso hoje. Se eu considerasse prudente, eu poderia citar afirmações recentes que são a própria essência da expressão suprema do Anticristo, isso em palavras e caneta. A adoração de homens, nomes sendo mencionados dessa maneira: “Ele é o nosso Jesus Cristo e seus livros são o nosso sermão do monte.” Oh, qualquer porção desse tipo de coisa. Eu digo que estaremos cegos se não conseguirmos ver o direcionamento dessa questão. Se conseguirmos ver isso, existem duas coisas que podemos esperar. Uma é a manifestação de Cristo. E sim, tem outra coisa. É a intensificação do Espírito de Cristo no Corpo de Cristo pela sua conformidade com a imagem dEle. O Corpo de Cristo não é apenas uma entidade, é a incorporação de coisas espirituais aperfeiçoadas; e, se eu não estou enganado, essa intensificação é uma verdade no caso de multidões entre os filhos de Deus. Elas estão sendo pressionadas, pressionadas, pressionadas, quase que acima da medida, a uma situação onde são desafiadas a crer e confiar em Deus independente de tudo parecer contraditório a Ele. A questão é se Deus vai receber a confiança por aquilo que Ele é Si mesmo, crido por aquilo que Ele é, não pelo que Ele faz, ou pelo livramento que Ele opera, pela ajuda que Ele dá, ou por quaisquer de Suas manifestações, mas pelo que Ele é. Ele é Deus, e sendo o que Ele é, deve receber nossa confiança, fé, obediência. Nós devemos permanecer nesse terreno e não sair, simplesmente por crermos que Ele é, e que Ele é o que É [Nota do Tradutor: veja Ex.3:14 - Eu sou o que sou]. Então esse será o teste, esse é o teste sendo reforçado. O Senhor permite que aconteçam toda a sorte de coisas que parecem contraditórias a Ele. Ele nos toma por caminhos que são muito maiores que a natureza humana pode suportar. Estamos conscientes de chegar por diversas vezes ao ponto onde nossa habilidade para ir em frente e perseverar estão chegando ao fim. Estamos no teste final. Esta é a questão da fé.

Fé! Foi aí que Adão foi derrotado, onde os direitos de Deus foram perdidos; e é onde Satanás venceu e triunfou. É nesse ponto que Deus vai retomar Seus direitos. Tudo está focado nesse ponto, a fé. A questão final para os santos dessa dispensação é a questão de uma fé que é fé de fato, sem nenhum apoio, sem suportes, nenhum tipo de ajuda; fé que tem único socorro no Filho de Deus através do Espírito Eterno e por nada mais. Estamos nesse ponto? Eu acredito que sim. E, na medida em que diz respeito ao princípio espiritual, é uma batalha terrível com o Anticristo, então os santos, os próprio eleitos, se fosse possível, seriam retirados do seu terreno e levados.

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