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"Teu é o Reino, e o Poder, e a Glória"

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 - Ministrando para a Glória de Deus

"A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo... Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto" (Mat. 4:1,8-10).

"Não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre" (Mat.6:13).

"Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando; antes, alguém, em certo lugar, deu pleno testemunho, dizendo: Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste [e o constituíste sobre as obras das tuas mãos]. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas; vemos, todavia aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles" (Heb. 2:5-10).

Esta passagem na carta aos Hebreus realmente se encaixa nas outras passagens lidas em Mateus. No capítulo 4 de Mateus vemos o último Adão, o segundo Homem, entrando no campo da provação às mãos do Maligno, e sendo tentado sobre o mesmo princípio como o primeiro Adão, ou seja, para ter as coisas Nele e para Si mesmo, e Dele mesmo, em lugar de tê-las ligadas a Deus numa base de fé e dependência. Neste registro, o último Adão, o segundo Homem triunfou onde o primeiro falhou; retendo tudo em Deus, e não tendo nada salvo em Deus. A Sua declaração "Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto" revela Ele como reconhecendo e defendendo os direitos de Deus.

Agora, quando passamos para o capítulo 6 de Mateus, o Senhor tem os Seus perto Dele, e lhes instrui no assunto da oração. No final disso, que não está numa forma de oração a ser repetida continuamente, mas num ajuntamento de princípios de oração, Ele introduz exatamente os mesmos fatores como são achados no capítulo 4. Lá está o Maligno, lá está a provação ou tentação às mãos do Maligno, e lá está o reconhecimento de todas as coisas como estando em Deus - "Teu é o reino, e o poder, e a glória". Como dissemos na nossa prévia meditação, com essas palavras e princípios espirituais lá enunciado, o Senhor Jesus coloca o Seu próprio povo, a Sua Igreja, na posição a ficar contra o Maligno, contra o seu reino, seu poder, a sua glória e de repudiar tudo isso, e, por outro lado, se agarrando ao Pai, ao Seu reino, Seu poder, à Sua glória, e testemunhando isso. O sentido de nossa mensagem é que isto é para o que a Igreja é chamada - permanecer nessa brecha por um lado, para todo o tempo repudiar determinadas alegações que, com ostentação e demonstração, estão constantemente sendo afirmadas pelo Maligno, e, por outro lado, declarando e se mantendo na posição legítima de Deus e no que Lhe pertence - o reino, o poder, a glória. Esta posição, como dissemos, está constantemente levantando questões nas nossas próprias vidas e se tornam a única grande questão cumulativa da vocação da Igreja.

A Posição de uma Igreja Governada pelo Espírito Santo

Existem duas ou três coisas que nos deveriam ajudar quando reconhecemos isso. A primeira é esta - a posição na qual a Igreja será achada quando é governada pelo Espírito Santo. Existe um bom número de ideias quanto ao que essa vida ou igreja será. Muitas delas são certas, muitas delas são incertas, mas está é perfeitamente clara.

1. Permanecendo na Brecha

"A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo".

Uma vida ou igreja que é governada e dirigida pelo Espírito Santo será conduzida à brecha, onde o testemunho dos direitos de Deus, a honra de Deus, a glória de Deus é a principal questão na perspectiva. Isso é certamente uma marca do governo do Espírito Santo. Sob a direção do Espírito Santo, semelhante posição é inevitável. Isso pode nos consolar em todas as nossas aflições. Satanás gostaria muitas vezes de tornar a nossa aflição, nosso sofrimento, numa base de acusação: insinuar que, por causa de que nos sobreveio isto, devemos estar errados; o Senhor deve estar contra nós, ou ao menos ter reservas quanto a nós - as coisas não podem ser como devem ser, ao passo que a verdade é justamente o oposto. Olhe para o próprio Filho de Deus no deserto e veja Ele sozinho, e em necessidade, e pressionado pelo inimigo, e em sofrimento indiscutível na alma, e fraco no corpo, e sabe que esta situação é criada pelo Espírito Santo para um testemunho, para a glória de Deus, para o reino de Deus, para o poder de Deus. De modo que é algo grande e glorioso se apenas o reconhecemos, ser colocado numa posição em que esse testemunho depende, por assim dizer, de nós, num dia de assaltos ferozes e terríveis do inimigo. Assim é uma igreja guiada pelo Espírito Santo.

2. Mantendo a Espiritualidade do Reino

A seguinte coisa, que se desenvolve estreitamente de acordo com isto, é isto: uma vida ou povo governado e dirigido pelo Espírito Santo chegará ao lugar em que o reino, o poder e a glória são essencialmente espirituais. Isso é um desafio. A Igreja tem perdido seu real, poderoso, efetivo testemunho porque tem procurado um reino, poder e glória temporal, visível, tangível, e Satanás tem triunfado nesse sentido. Assim como ele procurou triunfar com Cristo, assim ele tem procurado triunfar com a Igreja, e, numa grande medida, tem triunfado ao levar a Igreja para a esfera onde o reino presente, o poder presente, a glória presente é a coisa procurada, alcançada, aceita, ao passo que o verdadeiro reino, poder e glória é espiritual, não temporal; é celestial não terreno; é manifesto não dentre os homens como demostrações Divinas, mas manifesto na esfera espiritual atrás dos homens e pode ser unicamente avaliado, apreciado, reconhecido lá.

Veja o exemplo no Senhor Jesus no deserto. Todos estes capítulos em Mateus têm a ver com o reino. O reino estava com Ele; o poder estava com Ele; a glória estava com Ele. "Nós contemplamos a Sua glória", disse um outro escritor, "glória como a do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade" (João 1:14), e esse não é o tipo de glória que homens apreciam nesta terra como vemos hoje. A glória que eles estão exibindo perante os olhos do mundo não tem nada de graça e verdade nela. É um outro tipo de glória que pertence ao Senhor Jesus, justamente o oposto desta glória do mundo; é cheia de glória e verdade, e não pode ser apreciada entre os homens de mentes carnais, mentalidades carnais. A Igreja deve entrar nesse lugar em que, como a Sua Cabeça no deserto, é despojada de tudo que o homem chama de reino e poder e glória e, no entanto, demonstra um reino e poder e glória que é superior, embora sem poder ser apreciado pela mente natural. O reino de Deus não é comida nem bebida. Satanás disse, "Ordena que estas pedras se tornem pães". A palavra é, "O reino de Deus não é comida nem bebida" (Rom. 14:7). O poder não é aquilo pelo qual você demonstra força carnal sobre o homem. É aquilo pelo qual as forças espirituais são destronadas e frustradas, e assim a glória também é espiritual. O reino, o poder e a glória estavam Nele, mas não foi em manifestação, era escondido. Todas as emissões estavam com Ele, mas de um campo e de uma forma a não dar de modo algum gratificação à vida natural. Satanás saiu para fazer com que Ele gratificasse a Sua alma, a Sua vida natural, a Sua humanidade como tal, e Ele estava recusando se mover nesse plano, nesse campo, e manteve o Seu relacionamento celestial com o Seu Pai, e foi aí que o reino veio, e o poder e a glória foi sentido.

Agora, você vê os princípios. A Igreja entrará na mesma posição e estado que o Senhor Jesus entrou por causa da natureza essencialmente corporativa deste assunto. Essa é uma razão pela qual lemos Hebreus 2. Lá você tem a unificação.
"Por causa de quem e por intermédio de quem tudo veio a existir, tornasse perfeito, por meio do sofrimento, o Autor da Salvação deles. Assim, tanto o que santifica quanto os que são santificados advêm de Um só".

Isso leva você de volta a isto - Que é o homem, para que com ele te importes? Ou o filho do homem, para que o visites? Em relação ao quê? - a sujeição "do mundo por vir, do qual falamos". Estamos falando não para anjos mas para o homem, mas não vemos ainda o homem coletivamente nessa posição Divinamente apontada e designada. Mas vemos o Homem em Quem todos os demais serão achados, vemos Ele lá, e assim Ele vai antes e eles O seguem. Eles chegam à mesma posição como Ele foi levado, ao mesmo final - o reino, o poder e a glória, com Ele e Nele.

3. Atestando o Triunfo Realizado de Cristo

Existe, todavia, uma terceira coisa que tem de qualificar isso ligeiramente. É isto - que nós não estamos fazendo o que Ele fez. Existe uma diferença entre Mateus 4 e Mateus 6. Em Mateus 4 Ele pelejou a peleja completamente, e, no que se refere à fundação do reino, o poder, e a glória, o assunto estava resolvido quando Ele emergiu do deserto. A vitória estava na Sua posse. É claro, a plenitude disso foi conduzido até a Cruz, e tudo foi realizado lá; mas aqui como um encontro inicial, básico com o inimigo, Ele emergiu no poder do Espírito como Vencedor, e o trabalho foi feito. Era um assunto resolvido, talvez, digamos potencialmente, pois nas mesmas coisas haveriam muitas mais batalhas na Sua vida; no entanto, potencialmente a coisa estava resolvida.

Quando você chega ao Capítulo 6, onde nós somos introduzidos, não é para sermos colocados na posição de lutar essa batalha para obter uma vitória, e nós devemos ter muito cuidado para que o inimigo não ganhe uma grande vantagem por termos a mentalidade de que a coisa não está resolvida. Você tem de ter cuidado aqui, porque o inimigo está sempre tentando nos levar para uma posição em que o assunto não está resolvido. Se ele consegue obter uma fraqueza neste assunto, você pode assumir que ele irá ganhar essa batalha. No Capítulo 6 a Igreja não é colocada na posição para permanecer em algo que está agora sendo lutado como um problema, mas em algo que é muito positivo. "Teu é o reino, e o poder, e a glória", não - Teu vai ser, será, quando a batalha terminar. Veja, este é um Livro de leis espirituais. Tudo isto está aberto plenamente na parte final do Novo Testamento. Portanto, aqui a Igreja é colocada numa posição como de joelhos na batalha na presença do Maligno atacando, e a sua posição é a de atestação, declaração, repudiação. Com efeito é uma repudiação - 'Seu não é o reino, nem o poder, nem a glória. Teu é...' e antes de você jamais poder vencer no assalto do inimigo, você tem de estar estabelecido no fato de que esse problema já foi vencido, e essa posição estabelecida.

A Vocação da Igreja

Isso torna o terreno numa consideração muito valiosa. Por que a Igreja está aqui? O objetivo e propósito primário da Igreja estar aqui é ministrar para a glória de Deus, essa é a primeira coisa, independentemente do que signifique, como quer que se torne eficaz, essa é a coisa acima de tudo o resto. O povo do Senhor está aqui diante e acima de tudo o resto para ministrar para a glória de Deus. Você sabe quanto existe nessa carta que tem mais a ver com a Igreja do que qualquer outra carta no Novo Testamento - a carta aos Efésios - incidindo sobre esta mesma coisa. Você está bem familiarizado com as palavras.

"...com o fim de sermos para louvor da sua glória" (1:12).
"...o Espírito da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória" (1:14).
"...a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre" (3:21).

"...para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (5:27).

"Uma igreja gloriosa"; "para o louvor da sua glória". Me deixe repetir. O objetivo primário pelo que o povo de Deus está aqui e estará onde quer que estejam pela eternidade, por todas as gerações, para todo o sempre, é ministrar para a glória de Deus. Isso significa que estamos aqui para manter um testemunho para a glória de Deus.

Existem muitas maneiras, eu diria inúmeras maneiras, em que isto é efetuado, em que glória é levada ao Senhor por nós, em que ministramos para a Sua glória, e seria completamente impossível para mim chegar a algum lado tentando definir como a glória de Deus é ministrada pela Igreja. Mas é o fato que precisamos reconhecer, pois deve governar as nossas mentes e nossa atitude em todas as considerações. Tem de se resolver nisto. Todas as coias nas nossas vidas - na nossa conduta, no nosso comportamento, na nossa educação, na nossa fala, nos nossos relacionamentos, na nossa posição, a posição que assumimos, nossas atitudes, nossa vida doméstica, nossa vida profissional - a coisa que nos deve governar é, Ministra isto para a glória de Deus? Pois essa é a coisa pela que estou aqui. Se apenas pudéssemos finalmente resolver este assunto, faria uma grande diferença.

Vamos nos fazer, amados, uma pergunta, uma pergunta totalmente abrangente. Para o que estou na terra? Por que estou aqui? Quais são os interesses que tenho, quais os meus propósitos, e qual, acima de tudo o resto, é a coisa que terá marcado o meu curso através desta vida? Agora, se eu dissesse muito simplesmente que nossa resposta para semelhante pergunta seria, 'Senhor, estou aqui para Você', todos vocês diriam Amém a isso. 'Estou aqui na terra para Deus'. Mas o que você quer dizer com isso? É a aplicação prática disso que importa. O que você quer dizer com isso? 'Estou aqui para Deus'. Você provavelmente começará a pensar de acordo com as várias atividades nas que você se envolveria, todo tipo de coisas que você faria para o Senhor. Amados, no curso das nossas vidas aqui quando ficamos sob o governo do Espírito Santo, em que há uma sujeição verdadeira ao Senhor, chegamos a um ponto em que se torna muito claro para nós que a primeira coisa com o Senhor não é o que nós fazemos para Ele, não é o número ou quantia de coisas que fazemos para o Senhor. Não se trata de modo nenhum de coisas para o Senhor. É simplesmente quanto do Senhor está sendo glorificado em nós e por nós. Essa é a coisa que importa, e muitas vezes o Senhor pensa que uma maior quantia de ministério para a Sua glória pode ser cumprido ao sermos postos de lado para fazer qualquer coisa do que por qualquer quantia de atividade. Nós descobrimos isso.

A pergunta surge numa hora dessas, 'Oh, por que isto? Por que não tenho permissão para fazer isto? Por que sou impedido, interrompido? Se apenas pudesse estar trabalhando para o Senhor!" O Senhor tirou tudo. Ele nos encerra definitivamente, e então, se esperamos o tempo suficiente e se somos verdadeiros de coração e escutamos pelo Senhor, vem a nós pelo Espírito que do que o Senhor está atrás não é de muitas coisas que poderíamos fazer para Ele, mas é de obter mais glória para Ele em nós. E quem de nós ousará dizer que Deus não recebe tanta, se não for mais, glória através de alguns que nunca puderam fazer muita coisa para o Senhor externamente, mas O glorificaram em aflição? É verdade, não é? Temos de reconhecer que estar aqui para o Senhor significa não o que achamos que servirá o Senhor, mas o que o Senhor decide que será maior para a Sua glória; e a nossa atitude deve ser sempre essa, se uma coisa realmente é para a glória de Deus, embora não sejamos capazes de vê-la, fiquemos contentes, o aceitemos. É muito importante. A Igreja está aqui para isso - para a Sua glória. Isso deve ser a consideração que governa totalmente em tudo.

Isso deve também determinar para nós o significado dos tratos do Senhor para conosco. Seus tratos para conosco são às vezes muito estranhos para nós, para a nossa carne, muito duros. A maneira pela qual Ele nos conduz é dolorosa e penosa para a nossa carne, mas nós temos de julgar todos os tratos Dele para conosco à luz da quantia de glória que Ele está obtendo na esfera invisível, onde verdadeiros valores espirituais podem ser apreciados. Podemos resolvê-lo, e vamos fazer assim, que os Seus tratos para conosco são positivamente para que sejamos para o louvor da Sua glória, nós que primeiramente confiamos em Deus.

Agora, essa própria atitude, essa mentalidade, essa devoção, resolve para sempre a pergunta do valor para o Senhor em nós, no Seu Corpo, e eu acredito, amados, que isso vai à raiz do que temos chegado a chamar 'o vencedor'. Olhe para a Igreja de Efésios em Apocalipse 2:1-7 e a mesma igreja abordada na carta aos Efésios, e escute o que o Senhor tem a dizer para essa igreja. '"Conheço as tuas obras, tanto o teu trabalho árduo como a tua perseverança (conheço as coisas sobre ti, todas as coisas que são verdadeiras de ti)... mas... abandonaste o teu primeiro amor... para aquele que vencer..." de maneira que lá o vencedor está diretamente e imediatamente relacionado ao primeiro amor. Que é o primeiro amor?' Nós não vamos falar disso muito exaustivamente, mas o primeiro amor certamente é reunido nisto, que não existe outra pessoa em todo o universo que possa se comparar à pessoa amada. Pode que nenhuma outra pessoa veja toda essa magnificência, todo esse esplendor, tudo que é tão maravilhoso para o amante, mas ele vê isso e vê pouca coisa mais além disso, e não existe nenhuma outra pessoa para se comparar com ela. Ela é tudo, tudo que é bom, tudo que é justo, tudo que é respeitável, tudo que é esplêndido, e ninguém ousa dizer uma palavra contra ela. O coração, a vida, está envolvido com essa pessoa inteiramente. O mundo, o horizonte, está delimitado por essa pessoa. Isso é primeiro amor. "Abandonaste o teu primeiro amor". Ó, sim, você está fazendo coisas! Ah, mas isso que é essencial, central, básico não está mais presente. Não é mais o seu caso que você não tem nada mais no universo e em toda a vida como o seu alvo da devoção do coração do que Eu mesmo. "Abandonaste o teu primeiro amor"

Acho que esse é o motivo das palavras na Carta aos Efésios, Capítulo 5, são introduzidas em relação a Cristo e à Igreja - "... para apresentá-la a si mesmo como Igreja gloriosa", e o que é isso? - "sem mancha nem ruga ou qualquer outra imperfeição". É claro, uma mancha significa impureza - 'não tendo impureza'. O que é estar sem impureza? "Isento da corrupção do mundo" - essa é a maneira de João colocá-lo. No Velho Testamento, quando Israel tinha qualquer tipo de comunhão voluntária com uma outra nação, com uma nação pagã, isso era chamado de fornicação. Essa era a filha virgem de Israel perdendo a sua castidade. Esse é o grande clamor dos profetas sobre Israel. Eles cometeram fornicação, eles perderam a pureza. Como? Simplesmente ao se satisfazerem em relação às outras nações e os deuses das outras nações. No Novo Testamento, a coisa toda é reunida numa palavra – o mundo. O mundo introduziu interesses. Existe uma tentativa de se achegar ao mundo em algum aspecto. O Senhor não satisfaz, plena e finalmente. O Senhor não é tudo. Devemos ter alguma coisa para compensar. Devemos olhar por cima da cerca e satisfazer algum capricho fora do Senhor. Isso é ser manchado pelo mundo, e os que seguem o Cordeiro por onde quer que Ele andar serão os que não se contaminam. Você se lemba disso? Se trata só de o Senhor ser tudo. Isso é estar imaculado, sem mácula, não tendo mácula.

"Ou ruga". A palavra grega é 'contração'. É claro, é a mesma coisa, e o que é? Uma marca do tempo! É a marca da idade. Até uma criancinha pode ter rugas, e nós dizemos 'uma velhinha mulher'. Essa não é a vida eterna do Senhor que sempre é nova. A Igreja entrou na esfera em que é tocada pela mudança, pelo passageiro, pelo transitório. Desceu à terra e se tornou parte disso que está perecendo e decaindo. "Não tendo... ruga". Uma Igreja cujo semblante, cuja aparência, é tão nova como a manhã; para apresentar uma Igreja como essa. Para uma Igreja como essa ser apresentada, uma Igreja gloriosa, deve existir este viver somente no Senhor, saindo do Senhor, pela vida do Senhor, o Senhor nos satisfazendo. É uma nível elevado. Mas eu creio que quanto mais o Senhor se torna a nossa satisfação e nós descansamos no Senhor, menos serão as rugas que teremos. Nós sabemos nos nossos corações que conforme o Senhor se tornar maior para nós, menos nos preocuparemos e nos inquietaremos, e ficaremos ansiosos, mais descansaremos, e isso é um bom remédio para as rugas! O Senhor nos ajude a aprender essa lição!

Agora, a Igreja gloriosa é aquela que está satisfeita com o Senhor, e portanto não é contaminada, machada pela contaminação do mundo, e não está marcada por aquilo que está perecendo e decaindo, pertencendo ao tempo. Bem, isso é primeiro amor. Quando o primeiro amor desaparece, as rugas e outras considerações aparecem. Você sabe que é verdade na vida humana. Você começa a procurar noutro lugar quando o primeiro amor desaparece. Os interesses ficam divididos. O vencedor, então, é alguém que não tem interesses divididos, não procura noutro lugar, para quem o Senhor é tudo, a plena satisfação do coração. "Abandonaste teu primeiro amor. Considera, pois, de onde caíste". Isso vai ao cerne da questão do vencedor. Simplesmente significa que a igreja ou o vencedor retornou para o lugar que lhe foi designado, para ministrar para a glória de Deus, e nós nunca conseguiremos ministrar para a glória de Deus a menos que estejamos completamente ocupados com Ele. Isso é o que fez do Senhor Jesus o principal Vencedor.

O Desenvolvimento Prático de Ministrar para a Glória de Deus

No desenvolvimento prático, esse ministrar para a glória de Deus, para a Sua satisfação, significa, como o vejo, duas coisas. Significa o mantenimento e preservação de uma revelação integral de Deus aqui para o Seu povo. Penso do Apóstolo Paulo. Aqui está de fato um vencedor. Aqui está alguém cuja devoção ao Senhor é sem nenhuma reserva. Aqui está alguém que pode verdadeiramente dizer, na base do que ele realmente tem praticado, "Tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor" (Fili. 3:8). Aqui está uma representação da Igreja gloriosa sem mancha ou ruga. Aqui está o vencedor. Mas logo, que era o que caracterizava tanto a vida e ministério do Apóstolo Paulo? Não era que ele guardou, manteve, uma revelação integral do Senhor para o povo do Senhor? Ele nunca ficava contente com meia verdade ou luz e revelação parciais. Ele nunca teria dito, 'fiquemos contentes com as simplicidades e deixemos todas as outras coisas sozinhas'. É uma maneira errada de colocá-lo, é claro, mas o que se quer dizer com isso é uma compreensão muito errada do prazer de Deus. O que o Senhor quer é que o Seu povo tenha uma revelação completa Dele mesmo, e nós ministramos para a glória e satisfação do Senhor quando representamos verdadeiramente tudo que o Senhor quer para o Seu povo. Isto é muito prático, e nós não aceitaremos nada menos para nós mesmos do que tudo que o Senhor quer, e nós não podemos aceitar menos para o povo do Senhor do que isso. Isso é uma coisa que marca o ministrar para a glória de Deus.

A outra coisa é representar a vida plena para povo de Deus, e ser profundamente e terrivelmente afetado pelo fato de que muitos deles não conhecem realmente a vida em nenhuma plenitude. Isto é verdadeiro, tenho certeza, de um grande número de vocês. A coisa que afeta você, que lhe aflige, a coisa que constitui o maior problema para você e faz você gemer mais do que qualquer outra coisa é ver pessoas que pertencem ao Senhor que estão unicamente meios vivos, ou em quem existem muito poucas marcas de vida alguma. A vida cristã deles, o Cristianismo deles, é um em grande parte de formas, um de tradições; esse amar, esse latejar acontecendo com o Senhor em que a marca é vida e que você pode dizer, eles estão vivos para Deus, está ausente, e a ausência disso constitui as maiores dificuldades. Você não consegue lhes fazer entender nada, você não consegue lhes ajudar. Eles não têm base de vida sobre a qual construir. Se torna uma grande e terrível preocupação, e você sabe que um inimigo tem feito isto. Este é aquele que tinha a posse da morte, que lhes está afetando maldosamente, e trazendo suas vidas para a escravidão, e a anulando tanto quanto possível. Ministrar para a satisfação de Deus é ter essa preocupação pela vida do povo de Deus e ser tremendamente exercido. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância", disse o Senhor Jesus. Logo, a Igreja deve ser o vaso e canal dessa vida, e deve assumir esta questão, este interesse do Senhor, para que eles possam tê-la em abundância. Isso ministrará para a satisfação de Deus.

Agora, uma última palavra. Para a Igreja ministrar para a glória de Deus e para a Igreja ser uma Igreja gloriosa, a Igreja deve ter um profundo - eu ia dizer, um terrível - senso do que a glória de Deus é. A glória de Deus, amados, é a santidade de Deus, a excelência moral e perfeição de Deus, a verdade que Deus é, a pureza que Deus é. É a natureza de Deus que é a glória de Deus, e ministrar para a glória de Deus significa que devemos ter um senso muito agudo da santidade de Deus, de tal forma que qualquer coisa suscitando que é profano no nosso meio se torna imediatamente uma agonia para nós, uma verdadeira aflição para nós. É como um germe maligno que entrou no sistema orgânico, e está fazendo estragos e provocando desordem e dor, e quando um germe como esse, um germe maligno, entra em algo como num corpo humano saudável, todo o organismo começa a operar para expulsá-lo, para vencê-lo. Isso é saúde. Saúde é o poder, a vitalidade, a energia num corpo para vencer a invasão da doença, dos germes de doenças. O que é verdadeiro no físico deve ser verdadeiro no espiritual no Corpo de Cristo. A marca da nossa saúde é essa, quando uma coisa maligna entra dentre nós e nos invade, nós no Espírito o sentimos, reagimos a isso, e não o consentiremos, procuraremos expulsá-lo, e o tornamos um assunto de verdadeira preocupação diante do Senhor.

A igreja em Corinto estava num mau estado de saúde espiritual porque não levaram a sério as maldades no meio deles, até que o Apóstolo escreveu uma carta severa, uma carta muito severa, sobre coisas. Eles não reagiram espontaneamente às coisas até que eles tiveram esse despertar e energizar e estímulo do Apóstolo. Mas uma igreja saudável, como um corpo saudável, irá na hora sentir que existe algo errado, e reconhecerá algo como estando contra a glória de Deus, e se levantará e dirá, "Isto não deve ser! Isto destruirá exatamente a coisa pela qual existimos. A nossa vocação desaparece se isto permanece, pois nós estamos aqui para ministrar para a glória de Deus, e isso significa satisfazer Ele quanto ao que Ele é na Sua natureza essencial'.

O Senhor apenas fale a Sua palava nos nossos corações.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.