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As Vozes dos Profetas

por T. Austin-Sparks

Capítulo 9 – A Voz de Isaías (Continuação)

"Eles não conheceram ... as vozes dos profetas que eram lidos todos os sábados" (Atos 13:27).

"E neles se cumpre a profecia de Isaías..." (Mateus 13:14).

É muito impressionante que o profeta Isaías seja citado muitas vezes no Novo Testamento. Ele é citado mais de cinquenta e cinco vezes. Talvez ainda mais impressionante seja o fato de que muitas dessas citações estejam relacionadas ao antagonismo de Israel em relação aos mensageiros de Deus, e, particularmente, ao seu Filho Jesus Cristo. Nos Evangelhos, onde Isaías é citado com bastante frequência, há somente duas exceções a esse fato. 
Se este profeta sozinho possui tão grande espaço no Novo Testamento, que é o registro de Cristo, em outras palavras, se havia tanta referência a Cristo atribuída a este profeta, quão verdadeiro deve ter sido aquilo que o Senhor disse no início a este profeta quanto ao seu ministério:

"Vai e dize a este povo, ouvis de fato, mas não entendeis; e vedes, na verdade, mas não percebeis. Engorda o coração desse povo, e faze-lhe pesado os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração..." (Isaías 6:9,10).

"Liam todos os sábados”, disse Paulo, mas não percebiam, nem entendiam.
Nós, que agora temos a história toda, ficamos impressionados e falamos: ‘Será possível que Jesus, o Filho de Deus, poderia estar assim tão próximo, tanto por meio do ministério profético como através de Sua própria presença pessoal, falando, vivendo, realizando obras, por tantos anos, e as pessoas estarem tão próximas a Ele, mas, no entanto, sem realmente poderem perceber e compreender isso?'

Sim, é muito possível que, após anos ouvindo e estando em contato com Ele, o veredicto final seja esse: ‘Após tudo, eles não viram; a raiz da questão não estava neles, de modo que eles podiam perseguir e descartar sem qualquer crise de consciência’. Nenhum profeta trouxe Cristo mais à vista do que Isaías. Provavelmente, nenhum profeta sofreu mais do que ele nas mãos da crítica bíblica. É sempre significativo que, onde Cristo é trazido mais à vista, aí a oposição, de todo tipo, seja mais completa e feroz. A obra de descrédito alcançará sua maior força quando e onde a glorificação de Cristo estiver mais presente. Temos ouvido dizer isso em nosso próprio tempo: 'Não queremos ministério profético; queremos apenas pregação!'

A tradição diz que Isaías foi serrado ao meio, e que Hebreus 11:37 faz referência a ele. Se for verdade, então, só isso seria suficiente para indicar quão veemente é o ódio contra a exaltação de Jesus. O ponto focal dessa rejeição seria a filiação divina pré-encarnada de Jesus Cristo. Uma das declarações mais notáveis no Novo Testamento, referindo-se a isso, é esta: Citando Isaías, João 6:10 diz: “Essas coisas disse Isaías, porque ele viu a glória do Senhor; e falou acerca dele” (João 12:41). Isso significa que aquele “Senhor, assentado num alto e sublime trono, cujas vestes enchiam o templo, ... o Rei, o Senhor dos Exércitos" foi identificado por João como sendo Jesus. É uma declaração surpreendente, que torna a percepção e o entendimento espiritual uma questão bastante acentuada. Contudo, João compreendeu-a bem, e ela é uma parte dessa tremenda diferença entre o velho Israel e o Israel espiritual. A cegueira do velho Israel, devido ao seu orgulho, preconceito, e ciúme, tem significado para eles este céu fechado, e isso lhes tem custado muito caro.

Ouvir as vozes dos profetas, e não apenas as suas palavras, é, então, uma questão de vida ou morte; de salvação ou condenação. Repetimos o que dissemos anteriormente: o Novo Testamento, os Evangelhos, Atos, as Epístolas e o Apocalipse, são construídos basicamente sobre esta faculdade da nova criação de ‘ter um ouvido para ouvir, e de fato ouvir'. É uma faculdade, como aquela do ‘ver’ que – através do novo nascimento – fornece a capacidade para se conhecer os significados, e não apenas teorias ou "a letra da palavra”. Trata-se de algo fundamental na vida cristã; e esse é o motivo disso estar bem no início das coisas relativas ao reino, como visto no encontro de Nicodemos - o doutor e mestre – com Jesus. O novo nascimento significa uma nova entidade com novas faculdades.

Israel, como nação, não crendo e não nascendo de novo, estava duplamente surdo por um julgamento. Esta é a primeira coisa que Isaías diz em relação ao Filho de Deus. Temos ouvido, lido e dito muito sobre Isaías 6, o trono e o Senhor assentado sobre ele; o séquito e o templo; os Serafins e seus cantos três vezes Santo. Também o grito de aflição do profeta, seu chamado e sua resposta ao apelo de Deus. Mas temos aprendido pouco sobre essa questão da sua comissão. Sabemos que Isaías era lido nas sinagogas de Israel, pois, em Nazaré, o chefe da sinagoga entregou o pergaminho deste profeta para que Jesus o lesse publicamente. O eunuco etíope de Atos 8 tinha estado em Jerusalém e provavelmente trazia do templo ou da sinagoga uma cópia das profecias de Isaías, e a estava lendo em sua carruagem. Ele confessou a sua cegueira, em relação ao significado da profecia, e, confessando-a de forma humilde, sua cegueira foi removida. “Ele seguiu o seu caminho cheio de alegria”, enquanto Israel – que tinha os mesmos pergaminhos – seguiu o seu caminho para a perdição. Não é o que temos, mas o que conhecemos daquilo que temos, e se o que temos realmente muda a nossa vida, é isso o que importa.

O Espírito Santo, que inspirou os profetas, (1 Pedro 1:11), fez com que os apóstolos e os crentes entendessem que era o Espírito de Cristo neles (nos profetas) que escreveu sobre Ele. Assim, eles enxergaram Jesus por meio do Espírito Santo, mas aqueles que não tinham o Espírito eram cegos. E esta não é apenas uma afirmação; é um teste.
O ministério profético, que é apenas uma proclamação e apresentação da mente de Deus, sempre tem um significado triplo:

(1) O de trazer esta apresentação da mente de Deus aos homens.

(2) O de nos desafiar à obediência humilde da fé, com a qual é oferecida uma nova capacidade e faculdade de compreensão espiritual.

(3) O de determinar o destino de acordo com – não o ouvir as palavras, mas – “o ouvir da fé” e o consequente caminhar segundo o ‘conhecimento’, ou de outra forma. 

A solene e séria questão precisa ser honesta e sinceramente enfrentada: ‘Quanto de tudo o que tenho ouvido tem realmente mudado e modelado a minha vida?’ 'É muito ensino, doutrina, teoria, ou é a verdade de Deus?'

A resposta certa será a base da vida e salvação.

A resposta errada será condenação e julgamento.

As vozes dos profetas têm uma nota severa, tanto quanto reconfortante. Isto é peculiarmente verdade em relação a Isaías.

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