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"Escrito Não Com Tinta"

por T. Austin-Sparks

Reunião 13 – A Divina Semente

27 de Fevereiro 1957, em Kaohsiung, Taiwan.

Como vamos continuar nesta tarde a partir do ponto onde paramos na última noite, penso que seria melhor se retrocedêssemos um pouco pelo caminho que já percorremos. Vimos na última noite que Jesus parece estar seguindo o padrão de Israel. As pessoas de Israel, como nação, eram semente de Abraão. Jesus disse a um líder, membro da nação Judaica “Você precisa nascer de novo”. Ao dizer isso, Jesus parecia estar colocando de lado a descendência natural de Abraão, e introduzindo outra em seu lugar. Esta é a única conclusão a que os líderes Judeus podiam chegar. Eles podiam dizer “Ele não está nos aceitando como descendentes de Abraão! Ele não nos reconhece, pois disse que, na condição de descendentes de Abraão, não podemos entrar no reino de Deus. Ele está dizendo que precisamos nascer de novo; isto é, precisamos nos tornar uma raça diferente”.

Assim, Jesus, num primeiro momento, parecia estar introduzindo uma nova nação; e, naturalmente, estava. E, então, vimos que Ele escolheu doze apóstolos. Esta foi outra ideia “emprestada” de Israel. Em Israel havia os doze filhos de Jacó; havia as doze tribos, e Jesus escolheu doze apóstolos. Aos Judeus parecia que Ele estava se apropriando do número doze deles e o transferindo para outro povo. Parecia que Ele estava levantando outro reino, baseando-se no princípio de Israel, e, naturalmente, estava!

Então, Jesus escolheu setenta homens, e os enviou, e esta era outra ideia que pertencia a Israel. Moisés escolheu setenta anciãos. Ele reuniu setenta homens ao redor dele, e esses setenta eram as cabeças das casas dos pais de Israel. E eles iam a Moisés, para obter instruções, e, então, eram enviados de volta para os seus próprios lugares, a fim de repassar as instruções às demais pessoas, de modo que toda a casa de Israel era governada por esses setenta homens enviados por Moisés. Agora Jesus tinha tomado esta ideia. Colocou-se a Si mesmo no lugar de Moisés, escolheu setenta homens para representá-lo, e os enviou, para que falassem acerca dele.

Bem, isso é o que tivemos ontem à noite. Vamos avançar um pouco mais hoje, porém, antes, tenho algo mais a dizer sobre este assunto.

Cristo Sempre em Vista

A coisa importante que devemos reconhecer é que Jesus não estava imitando Israel, mas, o que na verdade Ele estava fazendo era mostrando que Israel era uma imitação dele próprio! De onde mais teriam vindo tais ideias em Israel? Foi Deus quem escolheu Abraão. Foi Deus quem fez Abraão ser pai dessa nação; foi Deus quem fez Israel ser a semente de Abraão. Foi Deus quem arranjou toda essa questão das doze tribos de Israel. Foi Deus quem ordenou a escolha daqueles setenta anciãos. Portanto, tudo isso não começou com Israel, mas, sim, começou com Deus. Tudo isso havia saído da mente de Deus, e, quando você entra na mente de Deus, você encontra apenas uma única coisa. A mente de Deus não está centrada em um monte de coisas; há apenas um único pensamento na mente de Deus. Deus jamais fez qualquer coisa sem ter o seu Filho em vista. Assim que, quando Ele escolheu Abraão, Ele tinha o seu Filho em vista. Quando escolheu a semente de Abraão, Ele também tinha o seu Filho, o Senhor Jesus, em vista. Quando organizou a nação de Israel em doze tribos, também tinha o seu Filho em vista. Iremos ver isso mais plenamente em alguns minutos. E, até mesmo quando Deus direcionou a escolha dos setenta anciãos, ainda tinha o seu Filho em vista.

Deus jamais fez qualquer coisa sem ter o Senhor Jesus em vista. Assim, somos obrigados a reconhecer que Jesus não estava imitando Israel, mas sim, que tudo em Israel era uma imitação de Cristo. Para colocarmos isso de outra forma, todas aquelas coisas em Israel não passavam de mera ilustração do Senhor Jesus; de uma forma ou de outra, eles eram apenas uma pintura do Senhor Jesus. Porém, quando Jesus veio a este mundo, Ele passou a ser a realidade, e não mais uma pintura. Todas aquelas coisas eram apenas figuras terrenas; Jesus é a realidade celestial. Assim, vamos olhar novamente por alguns momentos para esta questão da Semente Divina.

A Divina Semente

Vimos que Israel segundo a carne era a semente de Abraão, o qual, por sua vez, foi escolhido como semente de Deus. Mas, no aspecto Divino, a semente de Deus é o Senhor Jesus. O que Abraão e sua semente eram na terra, o Senhor Jesus é no céu. Ele é a verdadeira semente de Deus. Ele é o Filho de Deus. Jesus definitivamente não começou aqui neste mundo. O seu lar não estava na terra, como Ele sempre costumava dizer “Eu desci do céu; eu não sou da terra”. Seu lar estava no céu. Esta Semente Divina não pertence a este mundo. Abraão era apenas uma ilustração disso. Deus havia dito a Abraão “Sai da tua terra e da tua parentela, e vai para uma terra que eu te mostrarei”. Imagino que alguns de vocês saibam qual o significado do nome “Hebreu”. Vocês sabem que os Judeus são chamados de Hebreus, e “Hebreu” simplesmente significa “o homem do outro lado”, isto é, o homem que é do outro lado do rio. Há algo sugestivo nisso. Vocês sabem que a semente de Abraão era um povo vindo de longe; um povo que não era daqui, mas, sim, de outro lugar.

Agora, esta Semente Divina, Jesus Cristo, não é daqui. Ele é o verdadeiro Hebreu, que veio “do outro lado”. Ele disse: “Eu desci do céu”. Ele é a verdadeira Semente de Deus. Agora guardem isso na mente, porque iremos voltar a ele daqui a pouco.

Quando Jesus nasceu aqui nesta terra, isso não foi fruto de uma ação humana, mas, sim, foi fruto de uma ação do próprio Deus. Voltemos a Abraão. O que foi que Deus disse a Abraão? Ele disse “em Isaque será chamada a tua semente”, e qual a grande verdade a respeito de Isaque? É que Isaque era algo absolutamente impossível pelas vias naturais. Acho qe não precisamos nos deter nos detalhes disso, mas, aqueles de vocês que conhecem a Bíblia sabem que Deus fez com que fosse impossível que Isaque nascesse de forma natural. O nascimento de Isaque foi uma ação distinta de Deus, pois, ao homem, era algo impossível. O nascimento de Jesus também foi um ato de Deus, e não do homem. Agora, Jesus disse a um líder Judeu "Aquele que nascer da carne é carne; o que nascer do Espírito é espírito”. Logo no início de seu Evangelho, João havia dito: “Veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam. Mas a todos os que o receberam, deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus, os quais não nasceram da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Esses filhos de Deus são nascidos de Deus, e não da carne. São fruto da própria ação de Deus. Esta é a grande verdade a respeito do nascimento do Senhor Jesus. Foi algo feito pelo próprio Deus, e não pelo homem.

E, então, há mais outra coisa a respeito de Jesus. Em sua humanidade, havia sempre um mistério. Havia algo sobre Ele que os demais homens não podiam compreender. Jesus sempre foi um grande problema e um grande mistério para todas as pessoas. As pessoas se reuniam ao redor dele com muitas questões, especialmente os líderes Judeus. Eles sempre estavam indagando a respeito dele. Diziam “De onde vem o conhecimento deste homem?” Ele jamais havia frequentado uma escola; nem uma faculdade; não possuía nenhum daquele aprendizado que aqueles homens tinham, porém, Ele sabia muito mais do que todos eles juntos. Eles estavam sempre tentando usar o intelecto privilegiado que tinham para encurralar Jesus. Eles se reuniam ao redor dele, e, então, ao colocar certas questões, pensavam “Agora nós o pegamos; nós o encurralamos!”, mas, Jesus sempre conseguia escapar deles. Ele respondia as perguntas de tal maneira que os deixava sem ação. Eles não sabiam o que fazer com Jesus, e, assim, de todas as formas, Jesus era um grande mistério.

Havia três campos nos quais Jesus era conhecido. Deus o conhecia. Jesus era conhecido por seu Pai. Seu Pai disse “O Pai ama o Filho e lhe mostra todas as coisas”. O Pai sabia quem era Jesus, e os anjos também. Mais de uma vez os anjos vieram ministrar a Ele. O céu é um grande lugar; um lugar muito grande, e, aqui na terra estava um Homem bem no meio de milhões de pessoas, mas os anjos sabiam exatamente quem era Ele. Sabiam exatamente quais eram as suas necessidades, e vinham ministrar a Ele. Os anjos sabiam quem Ele era, e os demônios também. "Sabemos quem és”, gritaram eles, "O Filho de Deus". Todas as inteligências espirituais sabiam quem era Jesus, mas o homem não o conhecia. Em certa ocasião, parecia que o homem havia conseguido reconhecê-lo, quando Pedro disse “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, porém, Jesus disse: “Não foi carne nem sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus”. A questão exige uma ação de Deus, para que o homem possa reconhecer quem é Jesus.

Os Filhos de Deus

Agora, sabemos, naturalmente, que Jesus era o Filho de Deus de uma maneira especial. Isto é, de uma maneira que ninguém mais poderá sê-lo. Ao mesmo tempo, lemos sobre a semente de Cristo. Lemos isso na última noite, em Isaías 53:11 "Ele olhará para a sua posteridade; verá o trabalho de sua alma e ficará satisfeito”. Quero deixar este assunto bem claro: quando falamos sobre os filhos de Deus, sobre a posteridade de Cristo, não estamos querendo dizer que nos tornamos naquilo que Jesus é, neste tipo particular de filiação. Há um sentido em que somente Ele é gerado pelo Pai. Ele permanece sozinho nesta posição. Se conseguirmos entender isto, então, poderemos falar do outro aspecto: Jesus possui filhos espirituais. Há uma frase na profecia de Isaías que foi transferida para o Senhor Jesus. Nós a temos no começo da carta aos Hebreus. É a seguinte: “Eis-me aqui, com os filhos que Deus me deu". Assim, Jesus teve filhos espirituais. Este é o significado destas palavras “Ele olhará para sua posteridade ... verá o trabalho de sua alma e ficará satisfeito".

Agora, quando vimos isso, podemos vir da parte dele e nos unirmos aos seus filhos; e não precisamos ir muito longe para encontrá-los. Eles estão aqui neste salão esta noite. Espero que possa ser dito de cada um aqui, que ele ou ela pertence à família do Senhor Jesus. Se isso for verdade, todas aquelas coisas que são verdadeiras acerca dele, também serão acerca de nós. Dissemos que Ele desceu do céu; se realmente somos filhos de Deus, somos nascidos do alto. Nosso verdadeiro lar está no céu; nossos nomes estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro, que está no céu. O apóstolo disse que a nossa cidadania está no céu. A primeira coisa a nosso respeito é aquela mesma verdade acerca de Jesus: que não somos daqui; somos do céu. Agora, como vocês se sentem a esse respeito? Este é um teste muito real que indica se somos ou não filhos de Deus; se somos ou não descendentes do Senhor Jesus. Vocês percebem dentro de vocês mesmos que pertencem a outro lugar, que não pertencem a este mundo? Algo aconteceu dentro de nós que nos ligou ao céu, e, as coisas do céu são as que melhor se adequam a nós.

Agora, nós estamos aqui na China, e uma coisa que constantemente percebemos é a seguinte: que a comida de vocês não é aquela com a qual o nosso paladar está acostumado! Queridos amigos têm nos providenciado comida europeia, mas, alguns de vocês têm provado a nossa comida, e temos sentido muito por eles terem que tentar comer usando talheres, ao invés de pauzinhos; tenho certeza de que eles não estão acostumados com tudo isso. Isso não é algo com que estamos acostumados. Creio que vocês estão entendendo a ilustração. As coisas que pertencem a este país em que vocês nasceram são as coisas que melhor se adequam a vocês, de modo que vocês não conseguem saborear a comida de outro país. Aqui está um simples teste para ver a que lugar vocês pertencem espiritualmente. Se vocês nasceram do alto, então, é a comida espiritual que melhor se adequa a vocês. Isso que o mundo oferece como comida não lhes cai bem. Vocês se sentem tão desgostosos com ela como um Chinês, em relação à comida europeia.

Agora, se vocês pertencem ao céu, é de comida celestial que vocês precisam. Eu poderia ampliar este princípio de muitas maneiras. Há muitas maneiras nas quais podemos testar a que lugar pertencemos. Porém, um verdadeiro filho de Deus sabe muito bem que ele não pertence a este mundo. Pertence a outro lugar. Este mundo não é a sua terra nativa. O coração dele está sempre no alto. O Apóstolo colocou isso de uma forma muito definitiva, quando disse: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus; pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra, porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. Um verdadeiro filho de Deus sempre age desta maneira, e eu tenho certeza que vocês entendem isso.

Vocês sabem, esta é uma coisa que foi verdade acerca do Senhor, e é verdade acerca da Semente dele. Dissemos que o nascimento do Senhor Jesus neste mundo foi um ato de Deus. O homem não teve nada a ver com o assunto. Jesus nasceu do Espírito Santo. Esta é uma afirmação da Escritura. Agora, em nossa própria maneira, isto também é verdade acerca dos filhos de Deus. Se somos filhos de Deus, isto se deve ao fato de Deus ter feito algo que o homem jamais poderia fazer.

Dissemos, em relação a Abraão, que Deus havia deliberadamente tornado impossível que Isaque nascesse. E foi assim para que Isaque pudesse ser obra de Deus, e de ninguém mais. Este é um princípio que é transferido para a vida cristã. Quantos de vocês, antes de haverem nascido de novo, não tentaram de todas as formas tornar-se uma pessoa diferente? Acredito que jamais vocês teriam vindo ao Senhor Jesus se pudessem se tornar pessoas diferentes por vocês mesmos! Vocês tentaram de todas as formas, e, talvez, muitas vezes disseram: “Eu vou mudar o meu comportamento. Vou parar de fazer isto e aquilo; vou fazer a coisa certa”. E como vocês se saíram? Vocês tentaram mudar, mas acabaram descobrindo que isso é algo impossível. Talvez tenham recorrido a outras pessoas, para que elas os ajudassem a mudar; talvez vocês começaram a frequentar a uma igreja. Talvez tenham pedido ajuda a outras pessoas, porém, não aconteceu o que vocês queriam que acontecesse, pois, ninguém conseguiu ajudá-los. Não havia nada que pudesse fazer de vocês pessoas diferentes. Vocês sabem, o próprio Deus estava tornando a coisa impossível para que você ou outra pessoa conseguisse realizar, exceto para Ele mesmo.

Se somos verdadeiros filhos de Deus, somos fruto de algo que somente Deus pode fazer. Todo cristão deve ser capaz de dizer que tentou em vão mudar de vida de mil formas diferentes. Eu fiz tudo o que podia fazer para me tornar um novo homem, uma nova mulher, mas descobri que isso era algo impossível. E, então, vim ao Senhor Jesus, e Deus operou o milagre. Isto é algo que somente Deus pode fazer, afinal, todo cristão deve ser fruto de uma obra que somente Deus pode fazer; isso foi verdade acerca do Senhor Jesus, e também precisa ser verdade em relação a nós.

Talvez haja alguém aqui neste lugar esta noite que ainda não conhece o Senhor Jesus. Deixe-me fazer uma pausa aqui para dizer uma palavra a você. Talvez você seja um daqueles que esteja tentando tornar-se uma pessoa melhor; talvez esteja buscando que outra pessoa lhe ajude a se tornar alguém melhor. Mas, deixe-me dizer uma coisa: nada disso irá funcionar, pois, somente Deus pode fazer isso; e, deixe-me acrescentar logo uma coisa: Deus tem realizado esta obra mil vezes e em mil diferentes casos. Ele fez isso na vida de muitas pessoas aqui esta noite. Ele pode fazer isto na tua vida também, e certamente fará. Somente Deus pode fazer isso, e esta é a única coisa que Ele quer fazer.

O Mistério de Deus

E, então, há uma terceira coisa que dissemos a respeito do Senhor Jesus. Ele era um mistério para todas as demais pessoas. E eu me pergunto se vocês percebem quão verdadeiro isto também é em relação a vocês, como filhos de Deus. Acredito que percebemos o quanto isso é verdadeiro. As pessoas lá de fora olham para nós como se fôssemos pessoas de outro mundo. Elas não conseguem nos entender; não conseguem nos decifrar. Isto deve ser verdade em cada um de nós. Jesus, em sua oração em favor dos seus discípulos, disse: “Eles não são deste mundo, assim com eu também não sou deste mundo. Eu lhes dei as Tuas palavras, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo”. O mundo não consegue entender um verdadeiro filho de Deus. Há algo misterioso envolto, e, o que dissemos acerca do Senhor Jesus, também é verdade acerca dos filhos de Deus, a este respeito.

Se você é um filho de Deus, como as demais pessoas irão conseguir entendê-lo? Somente serão capazes de entendê-lo quando receberem o mesmo Espírito que o Senhor deu a você. Vocês lembram, Pedro disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. E Jesus respondeu: “Bem-aventurado és tu, Pedro, pois não foi carne nem sangue quem te revelou isto, mas meu Pai que está no céu”. Isto querendo dizer que foi o Espírito Santo quem havia revelado a Pedro naquele exato momento quem era Jesus. Naquele exato momento, Pedro havia recebido o toque do Espírito de Deus, por isso conseguiu compreender quem era Jesus. Nós somente poderemos nos compreender uns aos outros quando recebermos o mesmo Espírito. E nós realmente compreendemos uns aos outros, pois, temos o mesmo Espírito. Esta é uma das coisas maravilhosas sobre os cristãos.

Vocês sabem, nós não nos compreendemos uns aos outros por meio de um idioma terreno. Há muitas coisas a nosso respeito que as pessoas deste mundo não conseguem compreender. Eu, por exemplo, não compreendo o modo de vida de vocês, chineses, e sei que vocês também não compreendem o nosso modo europeu de ser. E aqui estamos nós, porém, embora não consigamos compreender o idioma uns dos outros, porém, há uma maneira na qual podemos nos entender; há uma linguagem que todos nós falamos e entendemos: é a linguagem do Espírito. Nós conseguimos nos entender uns aos outros porque temos o mesmo Espírito. O mundo não recebeu o Espírito, por isso ele não compreende os filhos de Deus.

Governo e Autoridade

Agora vamos entrar neste assunto dos doze apóstolos. Na noite passada, salientamos que o número doze, na Bíblia, significa governo. É o número de governo. A nação de Israel era constituída de doze tribos e ela foi destinada por Deus para governar todas as nações do mundo. O número doze é o número de governo. Vocês podem gostar de olhar para este número nos muitos lugares que ele ocorre na Bíblia. Vocês verão que ele sempre faz referência ao governo.

Agora vamos olhar para o Senhor Jesus. Ele construiu seu novo reino baseado no princípio de governo espiritual. Jesus tinha uma autoridade que era maior do que a autoridade deste mundo. Ele tinha autoridade espiritual. Vocês lembram o que as pessoas diziam acerca dele: “Ele fala como tendo autoridade..." e não como os escribas, e, contudo, o escriba era tido como autoridade em Israel. Se alguma pessoa quisesse saber o que Deus disse, ela tinha que ir aos escribas. Se a pessoa queria saber qual era a última palavra acerca de qualquer assunto, ela ia até os escribas. Eles eram autoridade em Israel, porém, as pessoas diziam de Jesus: “Ele fala como tendo autoridade, e não como os escribas". Elas reconheciam em Jesus uma autoridade superior à deste mundo.

Qual era a natureza da autoridade de Jesus? A autoridade de Jesus era que Ele possuía um conhecimento de ordem pessoal, e de primeira mão. Não era um conhecimento que Ele tinha obtido em alguma faculdade ou em livros. Jesus sabia por Ele mesmo. Ele jamais tinha que dizer “Assim e assim disse fulano...”. Não. Ele dizia: “Eu vos digo". Ele conhecia o Pai de forma pessoal. Tudo o que Ele sabia, sabia por seu próprio coração. Este é o tipo de conhecimento que dá autoridade. Se vocês e eu pudermos dizer “Agora olhem aqui, eu não obtive isto a partir de livros, nem de outras pessoas. O próprio Deus me mostrou. Deus me fez saber isto em meu próprio coração”; isso nos colocaria numa posição de real autoridade.

Vamos pegar uma simples ilustração do Novo Testamento. Aqui está um pobre homem cego de nascença. Vocês têm esta história no capítulo nove de João. Este homem é trazido a Jesus, e Jesus lhe devolve a visão. Então, todas as pessoas importantes de Israel se reuniram ao redor desse homem. Observe vocês, eram pessoas que diziam ter autoridade, que pensavam conhecer tudo. Elas começaram a questionar. Não conseguiam apresentar uma explicação para o caso, pois eram completamente ignorantes em relação ao assunto. Vejam vocês, eram pessoas que supostamente deveriam conhecer tudo, porém, aqui, diante desse milagre, ficou claro que não conheciam. Com todo o conhecimento que tinham, ficaram em posição de absoluta fraqueza e derrota. Ali estava um pobre homem; ele jamais tinha ido a uma escola, nem lido um livro; provavelmente, conhecia muito pouca coisa, ou quase nada, neste mundo, e, certamente, ninguém olharia para ele como tendo alguma autoridade, ou o que fosse. Porém, ouçam o que ele disse: “Há muitas coisas que eu não sei, que eu não compreendo, mas, uma coisa eu sei, que eu era cego, mas agora vejo!” Quero dizer que este homem estava em posição superior à das pessoas ao seu redor. Todo aquele conhecimento intelectual que elas possuíam não podia ajudá-las nesta situação, e, bem ali no meio, estava um homem que dizia: “Eu sei! E, se vocês me perguntarem como eu fiquei sabendo, eu não poderei explicar, mas, eu sei. O fato é que eu era cego, mas agora vejo”. Digo a vocês, caros amigos, que este é o melhor tipo de autoridade. Isso colocou este homem numa posição mais elevada do que todos ao seu redor.

Estamos lidando com o número doze, que significa governo espiritual. Há muitas coisas que eu não sei; há muitas coisas que eu não posso explicar, mas, o Senhor Jesus tem me dado novos olhos, e eu consigo enxergar agora aquilo que não conseguia enxergar antes. Isto é autoridade espiritual. Vocês sabem, este tipo de autoridade torna a sabedoria deste mundo algo muito tolo.

Vou dizer apenas mais uma coisa antes de terminar. É sobre o outro aspecto desta autoridade; a autoridade que faz este mundo apenas servir o Senhor Jesus. Quando Ele ressuscitou e encontrou seus discípulos, disse: “Toda autoridade é me dada no céu e na terra. Portanto, ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura ... e eis que estarei convosco todos os dias”. Jesus estava dizendo: “Por esta razão, vocês podem ir por todo mundo, e eu, com toda a autoridade do céu e da terra, estarei convosco”. Será que isto provou ser verdade? Peço a vocês que leiam o Livro de Atos; entendemos que todo este livro está voltado para uma única coisa. Atos é o livro que mostra que Jesus possui toda autoridade no céu e na terra. Eu não posso levá-los agora por todo este livro, mas vocês podem lê-lo, e ver que Jesus fez este mundo servir aos seus propósitos.

Este mundo se colocou contra Jesus e contra os seus discípulos, tentando impedi-los de divulgar o Evangelho. Lançou os apóstolos na prisão; matou alguns deles; perseguiu a igreja; mas, o que afinal estava acontecendo? Jesus estava usando tudo isso para promover o Evangelho. Aqui está uma companhia de crentes em Jerusalém. Ela já tinha se tornado uma companhia de milhares de discípulos. Assim, o maligno disse: “Vamos destruí-los”. E aí se levantou uma grande perseguição, e, então, os discípulos foram espalhados por toda a parte; por causa da perseguição eles se espalharam e pregaram o evangelho. Satanás disse: “Vou pará-los!” Mas Jesus disse: “Vou usar a sua perseguição para fazê-los prosseguir”. Isto sempre tem acontecido repetidamente. Jesus está fazendo com que a própria obra de Satanás sirva ao reino de Deus. Jesus usou a perseguição deste mundo para promover o evangelho.

O Apóstolo Paulo nos diz que isso aconteceu a ele também. Ele sofreu muitas perseguições; muitos açoites e prisões; foi odiado por este mundo, porém, ele simplesmente escreveu o seguinte: “E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho”. Agora ele nos trouxe para esta autoridade. Esta é a história da igreja. Esta é a história da vida cristã. Satanás está contra nós, e ele nos causa muitos sofrimentos, por pertencermos ao Senhor Jesus. O mundo está contra nós, e temos muitas dificuldades, mas o que tudo isso está fazendo conosco? Ao invés de matar a nossa espiritualidade, apenas está nos fazendo crescer nela; ao invés de nos separar do Senhor, está nos levando cada vez mais para perto dele. Tudo isso está fazendo com que o caráter de Jesus cresça em nós.

Jesus está usando o nosso sofrimento para promover a Sua obra, e para nos fazer crescer espiritualmente. Nós estamos na autoridade de Jesus, e Ele nos disse: “No mundo tereis aflições, mas tendes bom ânimo, pois, eu venci o mundo. E, porque eu venci, vós vencereis também”. Assim, vemos no Senhor Jesus que há este lado espiritual da coisa. Esta é a coisa real. O que era em Israel era apenas uma ilustração. O que está no Senhor Jesus, está é a realidade. A única coisa que vocês e eu podemos dizer, se somos filhos de Deus, é que esta é a realidade. Esta vida com o Senhor Jesus é muito mais real que qualquer outra coisa. Não é uma teoria; não é uma doutrina; é uma grande realidade. Que o Senhor possa nos dar entendimento em tudo isso.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.