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“De Acordo com Cristo”

por T. Austin-Sparks

Segunda Editorial

A primeira parte desta consideração foi uma análise e declaração geral quanto à natureza e propósito da Igreja (universal) y as igrejas (local). Agora prosseguimos a observar os fundamentos, porém, algumas coisas já ditas precisam ser esclarecidas e ampliadas, e o assunto agora a considerarmos servirá este objetivo, e tocará vitalmente os começos da Igreja em ambos os aspectos, o universal e o local. Numa altura fizemos uma declaração que, se não fosse corretamente entendida, poderia levar a una posição falsa e a resultados desfortunados. Foi esta: 'O reconhecimento da Igreja é um evento que é de tal caráter revolucionário que nos emanciparia de todos os sistemas meramente tradicionais, históricos, e terrenos: como vemos com os Apóstolos, e especialmente Paulo".

Quão importante é que isso seja conservado no contexto. Em outras palavras, quão necessário é que o 'reconhecimento' seja realmente um EVENTO. Existem muitos que "se separam", e se tornam pessoas ou movimentos 'freelance', num outro terreno ou ocasião qualquer do que uma crise espiritual de ver o caminho POSITIVO do Senhor. Isto muitas vezes conduz a mais limitação e negação do que era achado na posição que deixaram. É verdade que Paulo, numa altura, chegou a uma crise definitiva sobre o Judaísmo, e a partir desse dia disse: "Eis que nos voltamos para os gentios" (Atos 13:46b). Mas não é assim que ele, ou os outros Apóstolos entraram na Igreja. Algo aconteceu dentro antes que acontecesse de fora. Seus espíritos foram à frente dos seus corpos e razões. Interiormente emigraram; O Espírito Santo os tomou mesmo quando não tinham pensado - ou provavelmente tencionavam - ir. Era tudo um mover espiritual, não algo dos homens. Era o Espírito Santo inculcando a importância de Cristo.

Somos agora levados a estas características e princípios mais positivas de um movimento Divino. O primeiro destas está longe de ser declarado facilmente sem o risco de ter um conceito errôneo. Até as próprias palavras usadas estão abertas a uma interpretação falsa. Isto é porque estamos na presença de um dos muitos paradoxos com os que a Bíblia abunda. O paradoxo aqui é o de Cristo satisfazendo o coração, e contudo o Espírito alcançando mais e mais. No entanto, quando é corretamente entendido, a primeira característica fica perfeitamente clara por toda a Bíblia, e é claramente vista em todos os movimentos de Deus. Desde a própria constituição do homem, da sua divagação, está sempre a divagar - e a história é uma longa história de divagação humana do caminho de Deus - Todos os movimentos de Deus para retornar têm sido o resultado de um outro elemento poderosamente em operação. Este elemento é o que podemos chamar -

O Descontentamento Divino

Devemos sublinhar muito fortemente a palavra DIVINO! Enquanto "A palavra do Senhor" vinha aos Patriarcas, Profetas, Juízes, Apóstolos, resultando numa comissão e um mandato, é muito fácil discernir que, ou antes ou por essa palavra, neles era achado uma inquietude, uma insatisfação, um senso de que existia mais alguma coisa na intenção de Deus. Interiormente não estavam estabelecidos e satisfeitos. Talvez eles não conseguíam definir ou explicá-lo. Não sabiam o que queriam. Não era só uma disposição ou natureza de descontentamento. Não era só criticismo, ou lamuria, ou desapontamento, um espírito contra o governo, como de um descontento. DEUS não estava satisfeito, e por isso estava se movendo. Estes espíritos sensitivos, como Abraão, e Moisés, e Samuel, e Daniel, e Neemias, e uma multidão de outros em cada época - Antigo Testamento, Novo Testamento, e desde aí - tem havido pioneiros de Deus, por causa de um vinculo interno com o Seu descontentamento Divino.

É claro, isto é um aspecto de todo o progresso espiritual, porém é muito verdadeiro de cada nova coisa de Deus. Ainda estabeleceremos a base da diferença entre o descontentamento natural e o espiritual, o humano e o Divino, mas pelo momento estejamos ocupados com o fato e o principio. Se este descontentamento é uma atividade verdadeiramente Divina, então não será um assunto de mera frustração humana. Não terá nada a ver com ambição ou agressividade natural. Se tornará numa simples questão de vida ou morte espiritual. Se converterá numa dor de parto da alma.

Interesses pessoais e mundanos fracassarão em governar. O que é político de uma perspectiva de vantagens nesta vida, fracassará em ditar o curso. Pode haver uma restrição Divina quanto ao tempo, mas a questão última inevitável é no fundo conhecida. Uma crise é conhecida com iminência, e a questão é de obedecer o caminho do Espírito ou de se render à política. Se o espírito é puro, e a vida em Deus é privada de egoísmo, haverá um senso crescente de 'não filiar-se', de ter já avançado, ou de estar fora com o Senhor e, é somente um assunto de ser 'obediente à visão celestial'.

Quantas vezes, quando temos entrado em algo novo do Senhor, tem sido possível dizer: "Isto é o que estava procurando e almejando. Não sabia o que era, mas isto responde a uma chamada profunda no meu coração que me manteve insatisfeito a anos. Então, assim como a confissão ou salvação de um indivíduo acontece sempre com um senso de ter chegado no lar, uma igreja local deveria ser para a companhia uma chegada no lar, o suprimento de uma profunda carência, a resposta a um profundo anseio; simplesmente 'o meu lar espiritual'. O espírito esteve numa viagem e busca espiritual, e agora foi achada - ou está começando a encontrar - a resposta. Esta busca nunca chegará ao seu fim até que estejamos finalmente no Lar; mas ALGO diretamente em linha com este fim, e da mesma essência da plenitude, deveria ser encontrado na representação da 'família' local.
Tem ficado claro? Você percebe que as 'igrejas' não deveriam ser só congregações, lugares de pregação, ou lugar para observâncias religiosas? Devem ser, no início, constituição, e continuação delas, a resposta para a insatisfação de Deus; aquilo que Lhe fornece a resposta à busca dos tempos nos corações de todos os interessados. Se há uma coisa que Deus deixou abundantemente clara, é que Ele está comprometido com a plenitude do Seu Filho, Jesus Cristo. Essa plenitude é encontrar sua primeira realização na Igreja, "a qual é a plenitude dele". Por tanto, Deus somente se comprometerá com aquilo que estiver em linha com esse propósito. Como temos dito em outro lugar, pode ser considerado como um axioma que, se é para acharmos Deus se comprometendo, é essencial estarmos completamente em linha com o Seu objetivo a qualquer momento.

Mas Deus DEVE ter um caminho claro e livre. A Igreja e as igrejas não são agora o ponto de partida de Deus, embora devessem estar muito perto dele. Algumas obras sérias têm de ser feitas antes que possa haver uma verdadeira expressão da Igreja em qualquer localidade. Assim, um relance superficial pela Bíblia deixará claro que a própria porta da Casa de Deus era o altar. Impedia o caminho, e ao mesmo tempo mostrava o caminho, ao Santuário. No Novo Testamento, é claro, é Cristo crucificado em linha direta com Pentecostes, a Igreja, e as igrejas. A Cruz barra o caminho e aponta o caminho.

Mas quando a Igreja é alcançada (por assim dizer), esse não é o final da obra da Cruz. Quando temos entrado, a Cruz ainda governa. Assim acontece no Novo Testamento, temos muita coisa sobre a Cruz NA Igreja e as igrejas. É perfeitamente claro que, quando progresso espiritual para com a última plenitude de Cristo era detido ou impedido, ou quando as coisas ficavam contaminadas ou desordenadas, o Espírito Santo, através das cartas dos Apóstolos, ou por uma visita, introduziu a Cruz com um significado maior ou ênfase mais forte. Isto pode ser imediatamente visto, quando lemos tais cartas como a dos 'Romanos', 'Coríntios', 'Gálatas', 'Efésios', 'Filipenses', 'Colossenses', e 'Hebreus', com a Cruz como a chave. É de regresso a Cristo crucificado que o Espírito invariavelmente mostra ou chama, quando pureza, verdade, vida, poder, e liberdade estão em questão.

Qual, então, é o relacionamento particular da Cruz com a Igreja, e com as igrejas em si?

Sem dúvidas, a Cruz diz que em qualquer verdadeira expressão de Cristo, individual e coletivamente (o qual é a única finalidade de eles existirem), não há espaço para o homem por natureza! Cristo crucificado vai além da porta, que é expiação, justificação, justiça aceita pela fé. Cristo crucificado é, em representação, a devastação de toda a raça da velha criação, com a sua natureza. O clamor agonizante do abandono de Deus, os sinais respectivos num sol escurecido, terremoto e rochas se rasgando, tudo compôs o poderoso 'NÃO' de Deus e do Céu a essa criação. Esse foi o clímax que incluiu tudo de todo ponteiro pela morte através dos séculos passados.

A morte de Cristo foi infinitamente mais do que o martírio de Jesus. Foi universal e eterna. Em que toda a abrangência do veto estava envolvido, toda esfera afetada e infetada pela influencia e toque corrupto de Satanás. Trazer de volta a qualquer esfera de Deus qualquer coisa que jaz sob essa proibição é, por um lado, negar e contradizer a Cruz; e, por outro lado, mais cedo ou mais tarde se deparar com alguma devastação. Isto foi demonstrado muito cedo, como um sinal de exemplo, no caso de Ananias e Safira (Atos 5), como também por outros em 'Atos' e em Corinto, que introduziram raciocínio, paixões, e comportamento naturais na esfera da jurisdição do Espírito Santo. É como se o Espírito Santo tomasse posse da Cruz e os exterminasse até a morte, ou, em alguns casos, muito próximo disso.

Existe muita história trágica contida no que aqui temos dito; não menos que a fraqueza, reprovação, confusão e inefetividade da Igreja e as igrejas. O homem natural se serve da Igreja. Nela exibe a sua importância, a sua cobiça por poder, a sua ânsia pela expressão de si (muitas vezes no próprio ministério), e muitos outros aspectos do egocentrismo - essa coisa Satânica que foi gerada na raça quando o 'EU' supremo ganhou a vontade do homem por um ato de fornicação; pois isso é o que demonstrou ser.

Nas igrejas, acontece muitas vezes - e muito - que nós nos encontramos com as pessoas em si, e não supremamente com Cristo. No começo, a coisa essencial, como veremos mais plenamente logo, eram homens ESPIRITUAIS, como estando contra o 'homem natural'. Assim como a Igreja universal repousa unicamente sobre o fundamento de Cristo crucificado, sepultado, e levantado, assim as igrejas devem tomar o caráter do fundamento. Cada membro deve ser um homem ou mulher crucificado. Cada ministro deve ser um homem crucificado, e evidentemente. Nenhum homem deveria pregar com qualquer outra base do que a de ser compelido pelo Espírito Santo. Não deveria ter nenhum gosto NATURAL para pregar. A ambição para pregar deveria ser crucificada! Verdadeiramente cremos que antes que uma verdadeira expressão da igreja possa emergir, o fundamento da Cruz deve estar profundamente e verdadeiramente estabelecido com efeito devastador sobre toda 'carne'.

Mas, se significa que o Senhor quer ter semelhante expressão, a aplicação da Cruz explicará o significado. Isto não, na natureza das coisas, não pode, não pode ser feito de uma vez. O movimento para a plenitude é progressivo. Então, repetidamente, esse movimento é marcado por ajustes, libertações, limpezas, mais completos de novas e mais profundas obras da Cruz. Para maior plenitude de Cristo, deve haver um profundo desespero de qualquer virtude, habilidade, recurso, exceto do Cristo ressurreto e presente no Espírito Santo. Não podemos 'formar' ou 'achar' igrejas assim, mas o Senhor pode trazer à existência um núcleo de líderes bem crucificados, construindo com isso e a partir disso. Se juntamos Mateus 16:18 e João 12:24, veremos que o primeiro é uma declaração do propósito e intenção; o segundo é o caminho no qual aconteceria. Esse caminho é o caminho orgânico, isto é, através de morte e ressurreição, em que cada grão partilha, e para o qual todos os grãos, individual e corporativamente, são um testemunho.

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