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Âncoras do Cristão

por T. Austin-Sparks

Editado e suprido por Golden Candlestick Trust. Origem: "A Christian’s Anchors". (Traduzido por Maria P. Ewald)

“Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia, para eles, é o fim de toda contenda. Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 6:16-20).

“Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate, mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (1 Timóteo 1: 18, 19).

“E, receosos de que fôssemos atirados contra lugares rochosos, lançaram da popa quatro âncoras e oravam para que rompesse o dia. Procurando os marinheiros fugir do navio, e, tendo arriado o bote no mar, a pretexto de que estavam para largar âncoras da proa, disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não permanecerem a bordo, vós não podereis salvar-vos. Então, os soldados cortaram os cabos do bote e o deixaram afastar-se” (Atos 27:29-32)].

Parece que esse navio, descrito na história de Atos 27, independente do que carregava, tinha uma carga considerável de âncoras. Eles lançaram quatro na popa, e depois lemos que os homens baixaram um bote ao mar com o pretexto de lançar um pouco mais delas na proa, de modo que estariam em boas condições para ancorar. Evidentemente, tais homens eram experimentados nas condições de navegação do Mediterrâneo. Alguns de nós já presenciou algumas tempestades naquelas águas, vimos o ponto onde esse navio se desmontou e sabemos exatamente como isso poderia acontecer.

Mas nunca houve um Euroaquilão do Mediterrâneo comparável com o que temos que espiritualmente nos deparar, quando está em jogo o bem-estar eterno de nossa alma. As forças que entram em ação para arruinar uma alma, para impedir que alguém chegue ao refúgio designado e desejado por Deus são muito maiores, mais terríveis e persistentes do que qualquer coisa que já tenha sido encontrado no reino natural das tempestades. É claro que não saberemos disso até que definitivamente nos posicionemos na direção da vontade de Deus. Muitas pessoas neste mundo parecem estar se dando muito bem, sem passar por muita dificuldade, e até pensam que estão indo (daquele jeito tranquilo e despreocupado) na direção de onde Deus quer que elas estejam. Isso é uma ilusão. Nunca haverá uma associação definida e séria com a vontade de Deus e com Seu propósito, a não ser que tenha surgido terríveis conflitos e tempestades com o fim de tornar impossível a realização de tal vontade e propósito. O sério entendimento junto com Deus a respeito de Sua vontade e propósito, de como eles deverão ser realizados em suas vidas, conduz a uma entrega total na direção de tal vontade e propósito e, é a partir daí que essa vida saberá que nem tudo é simples e tranquilo. Haverá forças inimagináveis surgindo para impedir, para tornar tal intento impossível.

O curso da salvação de uma alma envolve nada menos que a batalha travada entre todas as forças do céu e as do inferno. Isso não é exagero. Cedo ou tarde descobrimos que não será fácil passarmos por esse processo. Nos estágios iniciais da história relatada em Atos, aquelas pessoas pensavam ter alcançado o que desejavam - "soprando brandamente o vento sul" [At 27:13]. Tudo parecia estar indo muito bem. Oh, não, essa não é a experiência daqueles que estão realmente em união com Deus na direção do Seu propósito! Logo descobriremos que precisamos de uma boa carga de âncoras antes de terminarmos nossa jornada.

Se há algo que vamos precisar, com certeza será âncoras. Seremos submetidos a enormes testes e esforços, devendo haver algum tipo de poder de sustentação real, caso contrário, espiritualmente falando, colidiremos com as rochas e nosso destino será um naufrágio. Há pessoas referidas no Novo Testamento como sendo aquelas que "vieram a naufragar na fé" (1 Timóteo 1:19b). Essa é uma possibilidade terrível. Mas há aqueles que são referidos também como tendo uma “âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu" (Hb 6:19). Bem, as âncoras são uma parte importante de nossos equipamentos e, de uma maneira muito simples, me proponho a mencionar quatro âncoras absolutamente necessárias, que, graças a Deus, nos foram providenciadas para nossa segurança. "Eles lançaram quatro âncoras para fora da popa”. Descobriremos que as forças que persistem em nos levar precipitadamente à ruína terão que ser combatidas por pelo menos essas quatro âncoras, as quais acredito serem suficientes. Elas são muito simples e acho que posso dizer que, em certo sentido, o Novo Testamento como um todo está coberto por essas quatro coisas.

1. Cristo Morreu Pelos Nossos Pecados

A primeira das âncoras é esta: “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1 Co 15:3). Essa é uma declaração, mas também é uma provisão poderosa e graciosa de Deus para nossa segurança quando sob pressão e tensão, sob o impulso do acusador que está sempre buscando nos colocar sob aquela condenação, na qual todos nós estamos por natureza. Até que tenhamos apreendido esse grande fato, através da nossa fé, estamos sob condenação pela nossa própria natureza. Toda a raça está sob julgamento, e Satanás tem o fundamento e o direito de nos acusar e de trazer à baila essa questão da nossa posição e aceitação diante de Deus, até o momento em que nos apoderamos dessa âncora e nos posicionamos: "Cristo morreu pelos nossos pecados“.

Você tem essa garantia? Nós acabamos de cantar:

"Meu pecado, oh a bem-aventurança deste pensamento glorioso,
Meu pecado, não em parte, mas o todo,
Está pregado à Sua Cruz e eu não o carrego mais.
Louve ao Senhor, louve ao Senhor, ó minha alma!"
[tradução da versão em inglês do Hino “Sou Feliz com Jesus”]

Todos nós cantamos essas palavras. Você cantou como sendo uma verdade a seu respeito, ou apenas como parte de uma forma de adoração noturna?

Entre a âncora e a embarcação deve haver uma conexão. Alguns de vocês sabem que temos procurado ajudar os homens nos navios mercantes no Norte e, com esse propósito, temos uma lancha. Esta tem sido a pior temporada da nossa história! Tivemos algumas terríveis tempestades, ventos e, no curso de apenas alguns dias, perdemos três âncoras. Provei o tremendo valor e importância delas. O vendaval se levantou, as amarras foram quebradas e, como não carregávamos mais do que duas âncoras, lançamos as duas, uma grande e outra menor. Um estava amarrada com um cabo de ferro e a outra com uma corda bastante robusta. As rochas não ficavam a muitos metros de distância, mas a corda presa à âncora maior simplesmente se foi no curso de algumas horas, como se fosse um pedaço de fio. A âncora se foi, e aquela conexão foi quebrada. Agora, tudo dependia da outra âncora, e tivemos que orar e orar muito porque, naturalmente, a situação era bastante desesperadora. Já vimos coisas acontecerem lá antes. Mas, graças a Deus, a âncora ficou firme ao cabo e aquela longa tempestade foi vencida. Suponho que é melhor admitirmos isso, que, embora tenhamos orado e confiado no Senhor, encaramos com ansiedade o que iria acontecer.

Estava dizendo que entre a âncora e o barco que precisa ser sustentado firme, deve haver uma conexão. Tal conexão é a fé, que precisa se agarrar e se manter firme continuamente. A âncora é certa, entrou no véu, é segura e firme. A âncora não vai se arrastar, se quebrar, nem vai ceder, mas, o que acontece com o nosso agarrar firme, a nossa fé no fato de que Cristo morreu por nossos pecados? Se nós crermos firmemente nisso, resistiremos à tempestade. Não é nossa fé que cria o fato, também não é nossa fé que é o fator final em nossa salvação, mas é a obra do Senhor. A obra Dele é segura, completa, firme e absoluta. Ele morreu pelos nossos pecados. A fraqueza de toda a posição é derivada do fato de que somos tão frágeis e inconstantes ao nos agarrarmos a esse fato. A âncora está bem, não precisamos nos preocupar com ela. Mas precisamos cuidar para que não façamos da grande obra de Cristo, dessa obra final positiva e completa do Senhor, algo de nenhum efeito por causa da nossa atitude em relação a ela. Bem, essa é a primeira âncora. Algo muito simples, mas não podemos chegar a lugar algum, até que nos apossemos - Cristo morreu por nossos pecados. Isso está bem claro para você?

Em outra ocasião, nós jogamos uma âncora e, quando fomos puxá-la para cima, percebemos que o cabo havia se embaraçado em volta dela e a maré estava alta. O cabo não podia ser puxado para cima e ser movido, então o que poderia ser feito? Demos alguns puxões, mas poderíamos também tentar puxar o fundo do mar para cima. A âncora estava bem presa. O que fazer? Nada! Tínhamos que ir, não podíamos ficar lá a noite toda, não havia nada a fazer senão liberar todo o nosso cabo, o deixando para trás junto com a âncora. Isso aconteceu logo depois que perdemos a outra âncora, não ficando com nenhuma outra de reserva. Tivemos que fazer a viagem sem âncora. Se o motor quebrasse, sem vela, ficaríamos à mercê das circunstâncias.

Uma âncora é algo importante. Muita coisa depende dela. Muitas pessoas tiveram suas âncoras emperradas, tudo ficou embolado num emaranhado de coisas sem nitidez. Está claro para você, com toda certeza, o fato de que “Cristo morreu pelos nossos pecados"? Talvez você tenha crido nisso no passado e tenha desfrutado da alegria dessa verdade, da Sua salvação, mas então se confundiu e está todo embaraçado. Estar nessa situação é quase que a mesma coisa que não ter uma âncora. Você perdeu sua segurança e confiança, a franqueza desta salvação.

Você quer saber o que fizemos sobre aquela âncora que ficou presa? Nós sacrificamos nossa âncora e nosso cabo - e era um cabo bem longo. Nós tivemos que ir, mas voltamos um dia depois, na maré baixa, e pudemos ver nossa âncora. Ela estava visível e podia ser alcançada. Ainda tivemos uma experiência muito agradável. Alguém daquela região percebeu nossa dificuldade e viu o acontecido, então, quando voltamos, descobrimos que essa pessoa havia desembaraçado tudo para nós e deixado tudo pronto para ser levado embora. Mas isso não pode entrar em nossa analogia. Precisamos ter clareza dessas coisas, nos desembaraçar no que se refere a esse assunto. Não vamos abandonar este grande fato de Cristo ter morrido pelos nossos pecados. Podemos ter entrado em um emaranhado, ficado um pouco confusos e ter perdido nossa absoluta segurança e a clareza de nossa confiança, mas não vamos abandonar isso. Não, vamos voltar.

Nós temos um pequeno quiosque bíblico no Norte. Na semana passada me falaram de um soldado americano que entrou ali e, olhando para as Bíblias, perguntou: "A que denominação vocês pertencem?”

"Nenhuma denominação!"

"Oh, suponho que você seja Presbiteriano, Batista, Metodista, do Exército da Salvação e todo o resto misturado: não é?"

"Não, nós apenas pertencemos ao Senhor!" É claro que tal acontecimento ocorreu por causa de outro evento que estava acontecendo ali. Depois de alguns minutos, ele disse: "Bem, lhe contarei a verdade; eu pertencia ao Exército de Salvação, mas sou um desviado!"

Então, a resposta foi: "Você não precisa que o caminho da salvação seja apontado para você. Você sabe o que fazer, e sabe para onde ir!" Ele disse: "Sim, bem, talvez eu possa voltar e te ver de novo!"

"Oh, não é isso que importa. O importante é que você volte para o Senhor”. Ele disse: "Muito provavelmente voltarei!"

Ele havia se embaraçado. Será que você se afastou do Senhor, perdeu sua segurança? Será que é só isso que pode dizer? Não, continue mais adiante. Não diga: "Muito provavelmente voltarei"; mas: “Voltarei!” Segure essa âncora novamente, mantenha-na firme; a âncora está lá, ainda é a mesma âncora de sempre, ainda é a mesma verdade. Não mudou, nada se perdeu. Você pode ter se confundido, se embaraçado; mas tudo é o mesmo que sempre foi. “Cristo morreu pelos nossos pecados”.

2. Cristo Ressurreto é a Nossa Vida

Segue a segunda âncora – Cristo ressurreto é a nossa vida. Essa é a segunda âncora, e isso leva as coisas mais à frente, tirando a nossa posição do objetivo para o subjetivo. Cristo morreu por nossos pecados - essa é uma verdade gloriosa fora de nós, que deve ser alcançada, mas Cristo ressurreto tornou-se nossa Vida! Isso não é apenas algo objetivo, mas é algo interior. Quando nos apoderamos de Sua obra expiatória pelos nossos pecados, quando nossa fé realmente apreende isso, então, o Cristo vivo e ressurreto - por meio de Seu Espírito - vem residir dentro de nós, a fim de ser nossa Vida, e isso é uma coisa poderosa. Oh, o quanto devemos ao Cristo que habita em nós, à Vida interior do Senhor ressurreto! Quantas tempestades nós realmente podemos resistir por causa Dele!

Muitos aqui prontamente dirão: “Sei muito bem que nunca teria conseguido prosseguir, se não fosse pelo poder do Cristo interior, pelo Senhor vivo como minha vida!" Sim, podemos afirmar isso, sabemos disso. Conhecemos o estresse dessas forças atemorizantes que estão contra nós, mas será que também conhecemos que "maior é Aquele que está em nós do que aquele que está no mundo" (1 João 4: 4)? Por que vocês não acreditam nisso, cristãos? Por que não nos apegamos a isso? Olhe para alguns anos atrás e veja por quantas tempestades você passou! Que tempestades, que terrível fúria do opressor! Terríveis poderes do mal e do inferno descendo sobre você para sua ruína e destruição. Me diga: você está aqui esta noite por ter sido tão forte, perseverante e capaz de suportar adversidades? Não, você sabe muito bem que, se tudo tivesse sido deixado com você, já teria sido inundado e estaria submerso há muito tempo, mas você está aqui. Por quê? Porque Cristo é a sua Vida no seu interior. E se isso pode ser verdade no final de cinco, dez, quinze, vinte anos, será que não pode ser também verdade no final de cinquenta anos? Será que tal verdade não poderá te salvar até o final de sua vida? Cristo é sua Vida. Por que não se agarrar a isso, se apegar a essa verdade, acreditar nisso. Esta é uma âncora para a alma.

3. Cristo em nós, Nossa Esperança

Eis a âncora número 3: Cristo em nós, nossa esperança. O apóstolo diz: ”Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl 1:27). Você sabia que um dos títulos de Deus no Novo Testamento é o Deus da Esperança? "O Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer" (Rm 15:13). Ali está Ele, o Deus da esperança. Aqui está você, em meio a alegria e a paz de estar ligado a Ele pela fé. O Deus da esperança - quanta coisa depende disso.

Volte para o início da sua Bíblia, veja como ela se abre agora: um mundo em ruínas, um caos, escuridão, morte, desolação; e o Espírito de Deus pairando sobre a face do abismo. O que Ele está fazendo? Por que Ele está pairando? Por que Ele não abandonou tudo para sempre? Não, Ele está pairando, chocando, Ele é o Deus da esperança. Daquela ruína e caos, Ele fará um cosmos de beleza transcendente, de ordem maravilhosa. O Deus da esperança!

Um pouco mais tarde, Deus viu a iniquidade do homem que era grande na terra (Gn 6:5), não havendo quem fizesse o bem – eram os dias de Noé. Deus viu que tudo deveria ser julgado, mas Ele é o Deus da esperança e assegura novamente o caminho da realização de Sua esperança por meio daquela arca. A arca é o símbolo da Sua esperança, é um tipo do Cristo em quem, através das tempestades de julgamento e destruição, refúgio e segurança seriam encontrados. Ele é o Deus da esperança.

Seguindo em sua Bíblia, você encontra, uma e outra vez, situações quase desesperadoras. Israel, falhando, sim, quase sem esperança, mas Deus nunca abandona Sua esperança. Se há um relato escrito na história deste mundo, que mostra Deus como o Deus da esperança, é a história de Israel. Sim, você pode dizer tudo o que quiser sobre os judeus, de maneira geral, e pode achar que há muita verdade nisso, e não sei se é a reação correta dizer que nenhuma dessas coisas é verdadeira. Diga o que quiser sobre os judeus, mas a questão é a seguinte: isso não demonstra ainda mais a graça de Deus? Se ainda há esperança, se ainda há salvação, então Deus é realmente o Deus da esperança, se for visto à luz de tudo o que podemos dizer sobre Israel ou sobre os gentios. Há um futuro glorioso para ambos, porque Deus não se desespera. Deus nunca se desespera. Ele é o Deus da esperança. Existe uma âncora para você. O pior que podemos dizer sobre nós mesmos pode ser verdade - Deus sabe muito mais do que sabemos sobre nós mesmos, no que diz respeito às profundezas da nossa pecaminosidade. Ele conhece o pior, mas não se desespera. Ele é a esperança da esperança, e o segredo do nosso desfrute dessa esperança de Deus e da sua realização em nós é: "Cristo em vós, a esperança da glória". O oposto da glória é vergonha, e os que confiam no Senhor não serão envergonhados. O Deus da esperança, portanto, o Deus da glória (Atos 7: 2).

4. Cristo Intercedendo, Nossa Segurança

Finalmente, a quarta âncora - Cristo intercedendo, nossa segurança. "Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25). Aqui vemos Pedro, a personificação de toda auto-confiança e segurança: " Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim.... Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei" (Mt 26:33,35), e em poucas horas lá está ele negando o Senhor com juramentos e maldições, alegando que nem mesmo conheceu a Cristo. Que colapso, que ruína! Bem que Pedro poderia se desesperar. O Senhor havia lhe dito tudo sobre isso antes de acontecer. Ele disse: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!" (Lc 22:31). As palavras implicam, conforme realmente afirmam no original, que Satanás havia assegurado Pedro por meio de um pedido, e ele tinha obtido o que pediu. O Senhor não estava dizendo: "Satanás pediu para ter você, mas isso não vai acontecer!" Não, Ele disse: "Ele tem você para peneira-lo como trigo". "Mas Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça" [vs 32]. Satanás pode abalar, peneirar, pode ter muita liberdade, e a ele pode ser permitido muitas coisas, para que, como instrumento da soberania Divina, ele possa ser usado para destruir aquele estado natural de autoconfiança, auto-suficiência de nossa natureza. Assim, ao destruir tudo isso, o Senhor vai nos levar ao ponto onde saberemos que é somente a graça de Deus que nos fará ir em frente.

Satanás está acostumado a fazer essa obra de Deus em nós. Mas enquanto ele está fazendo isso, essa é uma experiência horrível, esse quebrar, esse esvaziamento, essa moagem em pó. Satanás faz seu trabalho completamente e, se pudesse, iria além da medida e nos destruiria completamente. Mas, o que, por um lado, seria desespero e destruição total - por outro lado, veja: "Eu orei por ti"! Ele vive sempre para interceder por nós. Há uma âncora na hora da provação, da pressão satânica, da peneira, do refino, do conflito, na hora em que parece que estamos sendo levados à destruição e ao fim. Em que podemos segurar? "Eu orei por ti!" Ele sempre vive para interceder. Acredite nisso quando você não puder orar por si mesmo. Lembre-se de que existe alguém orando por você, cuja oração será mais poderosa do que a sua própria oração e que prevalecerá.

Quando nenhuma oração parece estar prevalecendo, há Alguém cuja oração já prevaleceu. Se isto é um fato já declarado na Palavra de Deus (deveríamos excluir completamente o 'se' de nossa frase, mas o deixamos aqui apenas para essa argumentação), então certamente nós devemos muito mais do que podemos imaginar ao fato do Senhor Jesus estar vivendo agora para interceder por nós. Oh, quantas vezes devemos ter passado pelas lutas puramente pela força de Sua intercessão! Ele prevalece em oração por nós, quando não há capacidade de prevalecer em nós.

Cristo morreu pelos nossos pecados.
Cristo ressurreto é a nossa vida.
Cristo em nós, nossa esperança.
Cristo intercedendo, nossa segurança.

Lance suas âncoras e contrarie esse impulso das forças de destruição pela obra, pela Pessoa viva e pela gloriosa intercessão celestial do Filho de Deus.


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