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O Tempo em que Vivemos

por T. Austin-Sparks

Primeiramente publicado na revista "A Witness and A Testimony", em Mai-Jun 1931, Vol. 9-3. Origem: "The Time in Which We Live". (Traduzido por Maria P. Ewald)

Esdras 8.

O terreno sobre o qual nos encontramos é muito mais positivo no presente, do que os santos do Antigo Testamento desfrutaram, pois hoje olhamos para a realização triunfante do Calvário. Ainda assim, acredito que a posição e condição do Antigo Testamento é também uma imagem verdadeira de nosso próprio tempo e condição espiritual. Estou pensando isso em termos dos livros da Bíblia, não propriamente dos versículos.

Desejamos ver o que os livros de Daniel, Esdras, Neemias e Ester têm a nos dizer. Estou convencido de que estamos vivendo em um tempo verdadeiramente representado por esses livros e, olhando por esse aspecto estamos vivendo em tempos bíblicos. Dessa forma, esses livros são muito atuais, e tem seu significado permanente para o tempo em que vivemos.

Não penso que o Senhor tenha nos dado apenas uma lista de livros de história sobre coisas que aconteceram centenas de anos atrás, sem que elas tenham um valor real para nós. Sua Palavra diz: "Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito" (Rm 15:4), então vemos que Deus quis dizer algo para nós por meio de Sua palavra.

Cativeiro Espiritual

Vamos ver o que esses livros representam e como eles tocam o tempo em que vivemos. Existem fatores comuns sobre eles. Em primeiro lugar, a sua base histórica geral - o povo de Deus em cativeiro na Caldéia, fato resultante de um colapso espiritual.

Sem entrar no que Babilônia e Caldéia podem representar, consideramos como um fato estabelecido que, quando o testemunho de Deus se desfaz dentre o Seu povo, um estado de cativeiro espiritual se segue, e eles são tirados espiritualmente do lugar do testemunho de Deus.

Eles estavam em uma ordem terrenas de coisas no que se relacionava a adoração, que era exteriormente ordenada pelos homens mas, por trás, era dirigida pela mão de Satanás como o deus desta era. A Babilônia representa muito mais esse lado positivo do domínio de uma ordem religiosa constituída pelo homem, ou uma ordem terrena na esfera da adoração governada pelo deus desta era por meio do homem. Entretanto, em meio àquelas condições havia aqueles que ainda representavam algo para o Senhor, e estes não havia se comprometido com tais condições. Eles estavam insatisfeitos e internamente revoltados contra elas.

Encargo no Coração

Esses quatro livros representam isso, e em todos os casos você encontra o estado desse vaso mencionado, como que estando sob um grande fardo a respeito do testemunho do Senhor, Seus interesses, Seu Nome e o chamado povo por esse Nome. Esse é o segundo fator comum.

Vou me alongar um pouco aqui, pois é aqui que o ministério se inicia.

No todo hoje, o pensamento e a concepção planos do Senhor não são aquilo que geralmente é encontrado entre o Seu povo. O testemunho do Senhor em grande parte falhou, e a grande multidão chamada pelo Seu Nome é governada, manipulada e controlada por algo que é religiosamente da terra e não dos céus; dirigida pelo do homem e não do Espírito Santo; e é preciso ver a impossibilidade de aceitar esse estado de coisas.

Uma coisa é reconhecer isso, e outra coisa completamente diferente é estar relacionado ao movimento do Senhor para restaurar para Si mesmo aquilo que está de acordo com Sua mente. Uma pessoa pode estar ocupada o tempo todo com o péssimo estado das coisas, lamentar, fazer as pessoas se sentirem infelizes, mas nunca chegar a lugar nenhum. Isso não é suficiente. Acredito que havia muita gente na Caldéia que lamentava pela situação e falava dos "bons e velhos tempos"! É muito fácil fazer isso e, de certo modo, ser um descontente religioso; mas isso não é ser ativo no movimento de restauração do Senhor. O Senhor agiria em relação a tudo isso, e está agindo. Esdras se inicia com a atividade soberana de Deus (capítulo 1:1). Deus age não apenas do lado de fora, não apenas soberanamente, mas há algo que precede, que torna Sua atividade possível, que dá espaço à soberania de Deus.

Todos aqueles que representavam o Seu vaso para lidar com aquela situação foram homens que tinham um grande fardo sobre a situação, e eles não seriam úteis para Deus em uma situação como essa, a menos que tivessem um encargo.

Vemos Esdras mais tarde se derramando diante de Deus de tal maneira, que as pessoas se reuniram para vê-lo, e quando eles vêem sua preocupação desesperada sobre o estado das coisas, elas ficam tão tremendamente movidas que tão logo ele termina de orar, elas o procuram para acertar as coisas. Então vemos Esdras em Jerusalém com um grande fardo pelo testemunho do Senhor.

Neemias, na Babilônia, parece ter um fardo semelhante. Pois, tendo perguntado a Hanani e seus amigos quanto a Jerusalém, e ouvindo deles um relatório que não era bom, teve o semblante tão sobrecarregado que mudou, e ele, sabendo que sua vida estava em jogo, se apresentou diante do rei com um rosto triste - pois era um crime se apresentar diante do rei assim - mas ele não podia evitar a tristeza de seu coração pelos interesses e testemunho do Senhor, naquilo que dizia respeito ao povo chamado pelo Seu Nome.

Ester, outro vaso escolhido para o Senhor, também é vista tomando sua vida em suas mãos pela vida de seu povo - estas pessoas, cuja vida representa os interesses e testemunho de Deus na terra. É assim que Deus quer que nos preocupemos com os Seus interesses.

Daniel também é um homem com um encargo, orando três vezes ao dia e depois por três semanas inteiras; e que oração foi essa, movendo o céu e a terra! Ele foi um homem com um encargo; e é aí que o verdadeiro ministério se inicia. Deus deve ter um vaso, um instrumento trazido para uma comunhão tão próxima com ELE, que as condições ao seu redor de colapso e fracasso se tornam um sofrimento agudo, uma agonia.

Paulo sabia algo sobre aquele "sofrimento a favor do seu corpo"; "preenchendo o que resta das aflições de Cristo" [Cl 1:24]. Nós devemos encarar isso! Aquilo que vai contar para Deus é a participação em Suas dores de parto.

Há todo o romance da obra cristã, mas isso é mero glamour; todo o entusiasmo e interesse da atividade cristã organizada - tudo isso. Entretanto não é o que somos diante dos homens neste assunto que conta, mas o que somos diante de Deus no lugar secreto, tendo um interesse no coração pelo testemunho do Senhor. Você tem um encargo, uma paixão? Corta seu coração o colapso do testemunho do Senhor na Terra entre aqueles que são chamados pelo Seu nome? Nós nunca chegaremos a lugar algum até que, em certa medida, Suas dores de parto sejam compartilhadas por nós. O ministério, em seu valor eterno e duradouro, dependerá da medida em que essas dores de parto forem partilhadas por nós. Este é o dia para as dores de parto: seja uma labuta pelos incrédulos ou pelo povo do Senhor; toda verdadeira atividade espiritual nasce das dores de parto, e aqueles que foram mais usados ​​por Deus em todos os tempos foram homens e mulheres que tiveram essas dores em suas almas, em sua vida secreta com Deus. Você experimenta isso? Talvez diga que não. Então, peça ao Senhor para conduzi-lo aos Seus interesses, estenda-se diante de Deus para ser trazido ao Seu encargo em relação ao tempo em que você vive. Isso é necessário.

Assim tudo isso representa aqueles que carregam em seus corações um fardo que os conduz a um ponto em que seus interesses se tornaram bastante secundários, e eles tomaram suas vidas em suas mãos, e mantêm tudo em relação aos interesses do próprio Senhor e Seu testemunho, dispostos a entregar tudo para Deus. Isso se torna um encargo do coração a ser carregado o tempo todo, não meramente um encargo ministerial. Oh! que o Senhor coloque esse encargo dentro de nós, de modo que onde quer que estivermos não poderemos ser indolentes. Isso é necessário para a existência de qualquer ministério real. Não que estejamos dando a impressão de estarmos infelizes. Havia uma confiança e fé que criava nesses servos de Deus um estranho, mas muito verdadeiro paradoxo - "entristecidos, mas sempre alegres" (2 Co 6:10).

Amados, esse será um dos fatores emancipadores em qualquer vida. O caminho da libertação de si mesmo e da introspecção é obter uma participação no encargo do Senhor. Se alguém pode falar de sua própria experiência - mas pela situação como ela é, o clamor da necessidade e a desesperada preocupação de que essa necessidade seja suprida - pode-se estar um dia ligado a problemas pessoais. A libertação de si mesmo vem ao longo da linha de estar preocupado com os interesses do Senhor. Você pode ficar preso aos seus próprios problemas espirituais, e a saída disso é por meio de um encargo pelo povo de Deus em seu coração. É isso que cria ministério, isso significa força, isso significa oração. É uma coisa emancipadora ter o encargo do Senhor. Será que você já obteve isso, ou está brincando com coisas, pedrinhas na praia, em vez de estar nas profundezas com Deus? Você está apenas interessado, ou está desesperadamente preocupado; desfrutando apenas de um tempo agradável, ou está realmente carregando a necessidade de Deus pelo Seu povo em seu coração? Você sequer chegou a esse ponto?
 

A Maior Necessidade de Deus - Um Instrumento

O Senhor precisa ter um instrumento, um instrumento como Daniel, seja pessoal ou coletivo, que se mova em direção a Deus pelo Seu testemunho. Ele precisa ter um Neemias com uma dor no coração pelo povo, devido ao colapso do testemunho. Ele precisa de um Esdras que nem por um momento se comprometerá com algo contrário à mente de Deus. E também necessita de um instrumento como Ester que lança o medo aos quatro ventos, e vai, levando a vida em mãos, sitiando o trono pela vida de seu povo, para a libertação do povo de Deus da ameaça do inimigo. Oh! O que essas orações fizeram! E, amado, o encargo do Senhor precisa vir em nosso coração da mesma maneira, se formos nos tornar instrumentos eficazes para o Senhor em Suas atividades no tempo do fim; precisamos nos exercitar de maneira muito profunda nos interesses de Deus. Não devemos reter nada que conte para o Senhor e Seus interesses. Você ficaria surpreso como o Senhor se manifestaria se você Lhe desse uma chance.

Tudo se inicia com um reconhecimento da necessidade, e do correspondente encargo em nossos corações. Quando realmente nisso pelo impulso do Espírito Santo, as características comuns encontradas nesses instrumentos do Antigo Testamento serão forjadas em nós; e seremos encontrados como um povo entregue a esta ÚNICA COISA - o encargo e preocupação do Senhor pelo Seu testemunho em Seu povo.

A Oposição do Inimigo

Então, ao chegar a esse ponto, você percebe que está em uma esfera de oposição e que está realmente em uma batalha. Essa é outra característica comum nesses livros; cada um deles representa uma situação de oposição e antagonismo terríveis, todos combinados para interromper o trabalho. Vemos em Esdras - “Ouvindo os adversários“ [Esdras 4:1]. E você precisa ler muito do livro de Ester antes de perceber que está em um conflito. E quanto a Daniel? A cova dos leões era para orar!

Este é um ponto a ser clarificado de uma vez. Se iremos nos posicionar com Deus, por aquilo que representa totalmente a Sua mente, teremos que enfrentar o mais feroz antagonismo, conflito e pressão de todos os lados; não haverá um método negligenciado pelo inimigo para frustrar o propósito em vista. Por que tanto antagonismo? Por que tanta pressão? Cada vez que algo que conta para Deus em relação ao Seu propósito no tempo do fim está em vista, ali está! Você encontra oposição o tempo todo.

Gostaria de saber de onde o Diabo obtém suas informações. Ele descobre quando temos uma mensagem de Deus que vai fazer diferença, e nós encontramos essa pressão de dentro e de fora, quando estamos envolvidos naquilo que faz diferença para Deus. Quando a pressão vem, você deve reconhecer que está relacionada a algo que tem importância para Deus. Ela virá através das pessoas, e se culparmos as pessoas e focarmos nossa atenção nelas, perderemos o ponto; e começaremos a lutar contra essas pessoas, enquanto o tempo todo é a questão é mais profunda. “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Efésios 6:12).

As pessoas se zangam umas com as outras, isso nos oprime, começamos a direcionar nossa atenção para o fato, nos manifestamos e acontece uma crise e uma bagunça, então percebemos depois como fomos tolos em permitir que o Diabo nos desviasse para uma trilha humana, quando tudo é uma questão espiritual. E isso não foi realmente culpa de pessoas, ou apenas acontecimentos inconsequentes; existe uma questão espiritual em jogo, e todas essas outras coisas foram usadas e trazidas pelo inimigo para nos ocupar com algo menor. Assim ele nos cegou para a questão real, nos mantendo fora da oração, e assim da permanência com a Senhor pelos Seus direitos, que em algum momento ou outro foram desafiados.

Esta é uma esfera de conflito incessante, e parece que chegamos àquela parte das eras em que o inimigo não descansa, e descobrimos que não podemos tirar dias de folga. Tudo o que você faz deve ser feito deliberadamente com Deus, e você nunca deve agir sem, ou fora Dele; esse movimento exposto será observado pelo inimigo e você que pagará por ele.

O Ministério Quádruplo

Reconheça o aspecto quádruplo do ministério desses instrumentos usados por Deus. Daniel é o primeiro a começar tudo na Babilônia, e é interessante e significativo que tudo tenha começado em oração. Daniel tomou o testemunho de Deus na Babilônia em oração. A reação de Deus foi por meio de um instrumento de oração. A perspectiva de Daniel foi em direção a Jerusalém; ele estava orando para que Deus restaurasse aquilo que perdeu. Sua preocupação era pelo lugar do Nome, e assim ele entrou em oração.

“Desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa das tuas palavras, é que eu vim. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias" (Daniel 10:12-13). Através das orações de Daniel, as forças do inferno foram agitadas desde as profundezas, até mesmo ao ponto de resistir a um dos mais altos arcanjos do Céu - porém “Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me".

Você percebe que Ester vem a seguir, e é como se o Diabo dissesse: "Daniel orou para levar um povo de volta para Jerusalém; vou tornar isso impossível”. E assim nós o vemos, por meio do ímpio Hamã, procurando eliminar todos os judeus, e determinado a não ter um remanescente para voltar para Jerusalém.

Hoje o inimigo está por aí tentando evitar que um remanescente vá até Deus, trazendo a morte e pressão de todos os quadrantes, com tanta força que quase os paralisa. Deus soberanamente domina, e os artifícios de Hamã são levados a nada.

Então Esdras assume o testemunho, e sua preocupação é com a Casa de Deus em Jerusalém, e Esdras, com o remanescente, volta e constrói a casa e edifica o Altar.

Neemias entra em cena finalmente - e sua preocupação é com os muros e portões de Jerusalém. Ele tem respeito por essa marcação de uma definição clara de tudo que é de Deus e o que não é de Deus. Ele é zeloso pela salvaguarda do testemunho de Deus; veja sua zelosa vigilância sobre o Dia do Sábado: “Protestei contra eles… disse... Que mal é este que fazeis, profanando o dia de sábado… Protestei, pois, contra eles e lhes disse: Por que passais a noite defronte do muro? Se outra vez o fizerdes, lançarei mão sobre vós." (Ne 13:15-21). O sábado é esse grande testemunho da plenitude das obras de Deus. Os muros falam da marca onde o que não é de Deus termina; existe um limite distinto, e além dali, as coisas não são de Deus, elas não têm lugar aqui, nós as excluímos. Os muros representam nenhuma mistura, nenhuma sobreposição e uma clara definição. Esse é Neemias.
 

A Lista de Honra de Deus

Vamos então nos voltar para Esdras 8 e ver qual é o seu valor para nós.

Encontramos vários nomes mencionados ali: os nomes dos "que subiram comigo da Babilônia". Aqui você tem um registro daqueles que se separaram completamente para seguir com Deus; temos o Registro Sagrado aqui, e é como se o Espírito Santo estivesse tomando a pena e colocando os nomes de homens que assumiram responsabilidade pelo testemunho com Deus; e Ele está enumerando cada uma daquelas pessoas que foi até o fim com Ele, pois o Espírito Santo teria feito comentários se alguém tivesse parado no caminho. Não, estes deixaram a relativa facilidade e conforto da Babilônia por uma jornada longa e difícil, repleta de muitos perigos, e voltaram para uma cidade arruinada.

Há trabalho árduo, uma certa quantidade de sofrimento, oposição e assim por diante, mas eles estão dispostos a pagar o preço e seguir em frente; e estes são aqueles cujos nomes são gravados separadamente com tal cuidado, e seus nomes permanecerão enquanto a Bíblia permanecer; eles são "chamados, eleitos e fiéis" [Ap 17:14] inteiramente para Deus, qualquer que seja o preço.

É bom que Deus registre todos os nomes daqueles homens que seguiram em frente. Nós estamos seguindo em frente com Deus? Ou estamos calculando o preço e desistindo?

Então percebo que a próxima coisa no capítulo é a declaração de Esdras: "não tendo achado nenhum dos filhos de Levi” (Esdras 8:15).

Por que isso? Os levitas eram aqueles que tinham uma herança somente em Deus; eles não tinham herança na terra (Josué 14:4-5). Para ir para uma terra de desolação em que, de qualquer maneira, eles não teriam herança, não parece muito promissor, e eles estavam ganhando mais na Babilônia do que poderiam obter lá. Assim os Levitas não podiam ver como iriam obter seu pão com manteiga, e eles sabiam que não tinham o direito de entrar dentro esfera das coisas da terra. Como eles não possuíam herança na terra, mas deveriam confiar no Senhor, ficaram na Babilônia. Aqueles que tiveram que sair e ter sua porção somente em Deus, sem ver de onde “na terra” aquilo iria surgir foram muito poucos; nenhum Levita foi!

E não é o mesmo que acontece com o ministério da Palavra, quando você sai de um sistema onde tem certeza de seu suprimento? É um teste de fé ter uma posição segura no mundo da religião, e sair e ter sua porção somente em Deus, nada do mundo. Não encontramos muitos que podem resistir a isso. Portanto, não encontramos nenhum Levita nesse registro de nomes.

Dando uma Chance a Deus

A próxima coisa que vemos é Esdras proclamando um jejum (23-30). O que isso representa espiritualmente? Diria apenas isto - o Senhor vendo você! Isso é tudo. Sim, mas é um teste de fé novamente, pois essa é uma jornada de . Pode mesmo o Senhor nos ver, não seria melhor falar com o rei? Em outras palavras, fazer um bazar, um apelo por ajuda; certificar-se por um salvo conduto - é isso que essa posição representa. Mas tomamos nossa posição de que poderíamos seguir sem os recursos do mundo; de que podemos contar com DEUS, que ELE nos vê; esse é o testemunho, amado - DEUS ESTÁ NOS VENDO - esse é nosso salvo conduto bem-sucedido e triunfante. Coloque os Salmos 121-134 depois do texto de Esdras 8:21; observe que há uma ascendência neles o tempo todo, uma forte nota de confiança e vitória; alguns pensam que foram cantados nesta jornada. Eles expressam essa total confiança em DEUS - "Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o Senhor, em derredor do seu povo" [Sl 125:2]. Isso é algo melhor que todos os cavaleiros e cavalos deste mundo. O Senhor pode ver você através de todas as circunstâncias. Confie Nele; não desça ao Egito nem ao rei da Babilônia em busca de ajuda; dê ao Senhor uma chance de sustentar Seu próprio testemunho. E assim eles seguiram nesta jornada de fé, e o Senhor vindicou a sua confiança.

Esdras 8:23-30 trata do depósito; da santa oferta voluntária ao Senhor: “Vigiai-os e guardai-os até que os peseis na presença dos principais sacerdotes, e dos levitas, e dos cabeças de famílias de Israel, em Jerusalém” (vs 29). É abençoado considerar isso como o depósito que o Senhor nos confiou no princípio. É o que o apóstolo escreve a Timóteo: "guarda o que te foi confiado" (I1 Timóteo 6:20). O Senhor confiou ao vaso, pelo Seu testemunho, as coisas que representam a plenitude de Sua salvação. Você tem o bronze, a prata e o ouro; sabemos o que isso significa, e tudo isso é o depósito, as coisas sagradas da "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” [Jd 3]. Aqueles grandes fatores de salvação - Justiça - Redenção - e Santificação.

O bronze que você encontra imediatamente quando entra dentro do átrio - o Altar de Bronze - com todo o seu maravilhoso significado do corpo plena e totalmente consagrado do Senhor Jesus à vontade de Deus, "Nessa vontade é que temos sido santificados" - toda da Oferta Queimada que serve para a nossa santificação (Hb 10:10). A prata da nossa Redenção e o ouro dessa conformidade com a Imagem Divina. Esse é o depósito da fé. Judas exorta os crentes a quem ele escreve que lutem fervorosamente pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos; esse é o depósito que nos foi confiado no início e que será entregue no final da jornada. Paulo poderia dizer no final de sua vida: “Guardei a fé" [2 Tm 4:7], e entregou tudo de volta no final, na consumada Casa de Deus.

Isso representa o ministério relacionado à Casa de Deus, todo o testemunho, o Evangelho completo. A fé completa que foi de uma vez por todas entregue aos santos é confiada a nós; e tem que ser consagrada dentro da Casa de Deus, salvaguardada na jornada, e finalmente deve ser apresentado ao Senhor sem mistura, o claro testemunho; nem um til caiu, mas tudo entregue completamente.

Que o Senhor nos dê graça e força para guardar nossa confiança e apresentá-la a Ele dizendo: "Não perdemos nada, mantivemos a fé, corremos a corrida - doravante há uma coroa de justiça”.

Tudo isso é muito bom como verdade bíblica, mas se for somente até aí, falei em vão. Conheço a dificuldade de trazer outras pessoas para a nossa própria preocupação e sofrimento. Acredito que você tenha uma certa percepção de como as coisas estão hoje; estão terríveis espiritualmente, mas temos aqueles que buscam mais de Deus e perguntam onde podem encontrar alimento espiritual.

O Senhor, creio eu, faria algo em nossos dias, um dia de pequenas coisas; e Ele começará tendo um instrumento com um encargo, com quem será depositada a revelação completa do Senhor Jesus; e quem daria um passo de fé e confiaria no Senhor; dando a Ele a chance de vindicar a Si mesmo. Que o Senhor nos constitua parte de tal instrumento e que atraia outros também. Pergunte ao Senhor sobre esse assunto e, se for verdade, que Ele o coloque em seu coração e te traga para uma comunhão com ELE mesmo naquilo que Ele faria hoje.

“A boa mão do nosso Deus estava sobre nós e livrou-nos das mãos dos inimigos e dos que nos armavam ciladas pelo caminho... pesamos, na casa do nosso Deus, a prata, o ouro, os objetos... tudo foi contado e pesado, e o peso total, imediatamente registrado" (Esdras 8: 31-34).
 
Primeiramente publicado na revista “Uma Testemunha e Um Testemunho, em Mai-Jun 1931, Vol.9-3.

Origem: The Time in Which We Live


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