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Ministério Profético

por T. Austin-Sparks

Capítulo 9 – Uma Recapitulação

Vimos que na dispensação do Antigo Testamento o Espírito Santo operava como o Espírito de profecia, tornando tudo em profecia. Ele fazia com que tudo dentro da economia Divina apontasse para frente, e implicasse algo mais além, algo que não estava claro para aquelas pessoas que viviam naqueles tempos e que estavam diretamente ligados aquilo que estava sendo feito e falado; e esta abrangente obra do Espírito Santo através desses tempos estava levando para aquilo que seria a natureza, o caráter e o propósito desta dispensação em que vivemos. Esta dispensação é marcada por duas características salientes – dois aspectos de uma única coisa. É a dispensação, primeiramente, de Cristo entronizado à mão direita da Majestade nos céus, e segundo, é a dispensação do Espírito Santo aqui dentro da Igreja para tomar posse de tudo o que ela significa. Aquela atividade profética era multifacetada; isto é, apontava para várias características da era que estava por vir; e olhamos para algumas dessas características nos capítulos anteriores.

De modo que agora nós começamos aqui. Chegamos e estamos vivendo na dispensação do cumprimento espiritual daquilo que os profetas predisseram; porém este cumprimento não é meramente objetivo, como na história do mundo ou da Igreja, de modo exterior. Este cumprimento é algo interior, e ainda, é algo interior no que diz respeito a cada membro de Cristo. É algo que precisa ser passado aos mais jovens. Por favor, não pense que isto é para cristãos mais velhos ou mais avançados! É algo que envolve cada um de nós igualmente.

Visão Espiritual

A primeira coisa com que os profetas estavam ocupados, e que tem seu cumprimento de modo interior nos membros de Cristo nesta dispensação, é a visão espiritual. Tudo no propósito de Deus, para o seu cumprimento e para a nossa chegada a esse propósito, depende primeiramente disso – que o Espírito Santo tenha se tornado para nós no Espírito de revelação, e nos tenha feito ver, em seu contorno maior, aquilo que Deus procura. Os detalhes são preenchidos na medida em que avançamos.

(a) A Faculdade de Ver

Há dois lados. Primeiramente, há a faculdade do ver. Os profetas tinham muito a dizer sobre isso. Você sabe que, devido a certos preconceitos da parte do povo de Israel, pelos quais eles não estavam dispostos a enxergar aquilo que Deus queria que eles enxergassem (porque eles tinham suas próprias visões e idéias e não estavam prontos para o que Deus queria), um duplo julgamento passou sobre eles, e o Senhor fechou os seus olhos. A palavra foi dada a Isaías para este povo: "Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado”. (Isaías 6:9,10). Isto foi um julgamento, e terrível: a faculdade da visão espiritual foi neutralizada. Foi um julgamento terrível, com conseqüências terríveis; pois, como vimos, a conseqüência máxima foi que eles perderam tudo aquilo que Deus pretendia para eles, e isto não foi coisa pouca. A coisa foi tirada deles. Foi dada para outra nação – uma nação espiritual. É um terrível julgamento ter a faculdade da visão espiritual anulada; e se é assim, ela deve ser algo muito importante no desejo, graça e bondade do Senhor que as pessoas possam ter tal visão, tal luz.

A faculdade de enxergar é um direito de nascimento de todo filho de Deus. Não pense que você precisa viver a vida cristã por um longo tempo, e ter muito ensino, e alcançar uma posição elevada, antes que você comece a enxergar. Isto faz parte do seu novo nascimento. O Senhor disse a Nicodemos: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. (João 3:3). Por implicação Ele disse: “Quando você nascer do alto, você irá enxergar”. A comissão ao apóstolo Paulo foi: “…a quem agora te envio, Para lhes abrires os olhos..." (Atos 26:17,18). A própria obra simbólica do Senhor Jesus nos dias de Sua carne, ao abrir os olhos aos cegos, estava apontando para o que iria acontecer quando Ele fosse elevado aos céus e o Espírito viesse, e os homens enxergassem. Enxergar é parte do seu novo nascimento. Não estou dizendo que você irá enxergar tudo de uma só vez, que você irá enxergar tudo que aquelas pessoas que foram longe com o Senhor enxergavam; mas a faculdade de ver foi dada a você. Você a está usando? Você sabia que ela é tão real quanto a sua visão física – que você tem olhos espirituais, e que eles foram abertos? Se não, vá direto ao Senhor sobre isso, porque algo está errado.

(b) O Objeto Visto

E não somente a faculdade, mas o objeto da visão; ele é uma parte da visão. Precisa haver a faculdade de ver antes que possa haver um objeto para ser visto, mas, tendo a faculdade, você adquire um objeto para ver; e o objeto é – o quê? O que foi que veio à percepção, ao reconhecimento, do povo, quando o Espírito Santo chegou? O que eles começaram a ver? Eles começaram a enxergar o significado de Jesus Cristo, e há uma frase muito familiar que indica o que é isto– “o propósito eterno”. Eles são um, e são a mesma coisa – o significado de Cristo, e o eterno propósito de Deus. O propósito de Deus que vem da eternidade diz respeito ao Seu Filho – o lugar que Seu Filho ocupa no universo de acordo com a Sua vontade; o tremendo alcance de Cristo; as tremendas implicações do próprio ser e existência de Cristo; as conseqüências tremendas que estão ligadas a Jesus Cristo. Eles não enxergaram tudo isso de uma só vez, mas começaram a ver o Senhor Jesus. Eles começaram a ver que ele não era apenas um homem entre homens, não era meramente o homem da Galiléia. Não, Ele era infinitamente maior do que isso. Este tremendo impacto do significado de Jesus Cristo é tão grande para se reter, tão grande que você não consegue compreendê-lo. É esmagador e devastador. Eles começaram a enxergar isso; esta era a visão deles. A partir dessa visão tudo mais adveio. Olhe para eles e escute-os, reconheça que grande e novo Cristo eles tinham encontrado, que Cristo significativo Ele era, como tudo está ligado a Ele. Todo destino está centrado Nele; Ele é a única conseqüência.

Os profetas tinham visto algo vagamente. Você irá ouvir um profeta dizendo: “Seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Príncipe da Paz”(Isaías 9:6). Bem, esse profeta tinha começado a enxergar algo; e há outras coisas semelhantes a essa. É apenas um começo, mas o que eles estão dizendo é que esta Pessoa irá ser visto plenamente. ‘Nós estamos apontando para Ele’, dizem eles, ‘esperando o dia quando Ele será plenamente reconhecido’. E este é aquele dia; nós estamos no dia do cumprimento da visão dos profetas.

Essas não são meras palavras, grandes idéias. É algo que precisa ser verdade em você, mesmo que possa ser apenas um começo, que a compreensão de Jesus Cristo em seu coração seja tremenda, esmagadora. Ele é a sua visão, e Ele tem dominado você no sentido de Sua grandeza. Nós jamais iremos chegar a algum lugar sem visão. Iremos nos esfacelar se não tivermos visão, ou se a nossa visão for bloqueada. Se algo interferir na pureza, na plenitude, de nossa visão, começaremos a andar em círculos, não sabendo em que lugar estamos. A visão irá nos levar adiante somente se for mantida pura e plena. Você a tem? Quando o Espírito Santo veio no dia de Pentecoste, esta coisa tremenda aconteceu – eles viram o Senhor, e vendo-O começaram a ficar emancipados de todas as coisas que não tinham nada a ver com Ele. Aqueles que não viam, bem, esses começavam a ficar para trás e se tornavam sem importância no campo espiritual ou, devido a seus preconceitos, tornaram-se inimigos dos que enxergavam. O exemplo em João 9 foi cumprido no sentido espiritual. O Senhor abriu os olhos do homem cego de nascença. E o que aconteceu? Os demais o expulsaram. Aquelas pessoas que viram no dia do Pentecoste a descida do Espírito Santo foram excomungados por muitos que eram preconceituosos. Foram cortados. Há sempre um preço ligado ao ver.

Mas este não é o nosso assunto agora. Simplesmente, o que o Senhor tem dito a nós, em primeiro lugar, é que Ele deseja ter, e precisa ter nesta dispensação um povo com os olhos abertos, um povo que enxerga, que tenha esta faculdade neles mesmos.

(c) A Visão É Para Ser Pessoal e Crescente Em Todo Crente

Agora, a diferença entre as demais dispensações e esta é apenas uma. Na velha dispensação tudo tinha que ser falado ao povo. Eles tinham que obter as coisas de segunda mão, a partir de outra pessoa; a coisa nunca era deles próprios, nunca era original. Na nova dispensação do Espírito Santo, a coisa estava dentro deles mesmos; a raiz da questão estava dentro deles. Porém o Cristianismo tem se tornado cada vez mais um grande sistema que tem se revertido ao nível da antiga dispensação. Isto é, muitos cristãos têm suas vidas baseadas em discursos, em sermões, em reuniões, e precisam que as coisas lhes sejam contadas por outras pessoas. Quantos cristãos você encontra hoje que está realmente se beneficiando de uma revelação palpitante, vívida e pessoal de Jesus Cristo? Eu não penso que esta seja uma questão inadequada. A grande necessidade de nossos dias é que as pessoas de Deus sejam restabelecidas na base sobre a qual a Igreja foi fundada no início, uma base do Espírito Santo; e o início exato desta base é – não ter um monte de informação dada aos cristãos, mas que os cristãos possam ter a faculdade da visão espiritual dentro deles, possam ter a capacidade de enxergar, e possam eles próprios estar enxergando. Pode você dizer: ‘Meus olhos estão abertos; estou vendo o eterno propósito de Deus, estou enxergando a importância de Cristo; estou vendo cada vez mais em relação ao Senhor Jesus?’ A menos que seja desta forma, nós iremos deixar o Espírito Santo para trás, e teremos que fazer a volta para encontrá-Lo aonde Ele foi deixado, porque uma vida no Espírito Santo é uma vida de visão crescente e contínua. A visão é absolutamente essencial, tanto quanto à faculdade e também quanto ao objeto.

A Instrumentalidade Da Cruz

(a) Morte - A Remoção Daquilo Que É Do Homem

Isto significa, por um lado, a remoção de tudo aquilo que não pode entrar no novo Reino; ficando livre daquilo que aos olhos de Deus está morto e precisa ser colocado de lado – isto para dizer, a soma total da vida do ego. Chame-a de outros nomes se quiser – a carne, a vida natural, o velho Adão, e assim por diante. Eu prefiro esta designação - o princípio do ego porque ela é muito abrangente: seja o princípio da vida do ‘eu’ agindo na direção exterior, em auto-afirmação, em imposição, onde o EU seja o impacto; ou seja agindo na direção interior, puxando para o EU. Oh, quantos aspectos há da vida do ego em ambas as direções! Nós podemos conhecer algumas das mais óbvias, mas não estamos nós aprendendo quão profundamente enraizado, com incontáveis filamentos, é a vida do ego? Nós nunca alcançamos o seu fim. Ela espalha os seus tentáculos por toda nossa constituição. - 'Eu', de alguma forma, forte ou fraco. É exatamente tão mal para ela ser fraco quanto ser forte. A auto-piedade é apenas uma forma de chamar a atenção para nós mesmos e ficarmos ocupados com nós mesmos, e é tão pernicioso quanto à auto-afirmação. É o ego, tudo é a mesma coisa; pertence à mesma raiz, procede da mesma fonte. Tudo procede daquela vida falsa de alguém que disse: “Eu subirei aos céus, e exaltarei o meu trono acima das estrelas de Deus; e sentarei sobre o monte da congregação... eu subirei acima das mais altas nuvens; eu serei semelhante ao Altíssimo" (Isaías 14:13,14). 'Eu' - 'Eu' - 'Eu' -. Verdadeiramente, nós não conseguimos esgotar as formas desta vida do ego.

Agora, por ter ela muitos lados e raiz que alcança longe e profundamente, o Senhor não pode lidar com ela de uma só vez de modo ativo. Ele lidou com ela de uma vez por todas potencialmente na Cruz de Seu Filho. Mas agora a aplicação disso precisa avançar. Você e eu precisamos conhecer continuamente a aplicação do princípio da Cruz às várias formas da vida do EU. Precisamos aprender tanto a necessidade quanto a maneira de ser ela esmagada, atingida, enfraquecida, e trazida debaixo das mãos de Deus; e este é o significado de ‘disciplina’, este é o significado de instrução. É neste lado de coisas que o Espírito Santo está constantemente tomando precauções contra a vida do EU. Até mesmo no caso de um bem avançado e bem crucificado apóstolo, é necessário, diante de grandes depósitos Divinos, que Deus tome precauções e coloque um espinho em sua carne e lhe dê um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo, para que ele não se exalte (2 Coríntios 12:7). Isto é algo muito prático. O Espírito Santo usa o princípio e a lei da Cruz repetidamente e cada vez mais profundamente a fim de se livrar do lixo – aquilo que ocupa o terreno que deve ser ocupado pelo próprio Senhor. Precisa haver muita limpeza no terreno a fim de se edificar nele um novo reino espiritual.

(b) Ressurreição – A Expressão Do Próprio Senhor

Assim, por outro lado, a coisa correspondente é o poder de Sua ressurreição, que jamais poderá ser conhecida exceto se conhecermos o poder de Sua Cruz; e é em conhecendo a Ele e o poder de Sua ressurreição que a nossa instrução do lado positivo é encontrada. Oh, para conhecê-Lo e o poder de Sua ressurreição! É uma coisa maravilhosa quando você e eu somos trazidos para o lugar onde, do lado natural, – e não fingidamente, mas completamente – somos compelidos a reconhecer a horrorosa e terrível realidade: ‘Isto é o fim de tudo. Eu que tenho falado tanto, que tenho pregado tanto, que tenho ensinado tanto, que tenho feito tanto – Eu cheguei fim.' É a sentença de morte; não mais é possível; e é terrível e severamente real. E, então, Deus nos levanta da morte! Você prossegue, e há algo mais do Senhor do que havia antes. É algo grande enxergar como Deus nos levanta da morte repetidamente. A mesma pessoa está viva novamente, e há mais do que jamais houve antes, porque houve um vazio maior do jamais houvera antes. É uma posição muito segura do ponto de vista do Senhor.

O que estamos nós aprendendo, qual é o significado daquele caminho, o que é isto que estamos herdando ao longo de tais experiências? Apenas isto – estamos conhecendo o Senhor, isto é tudo. Estamos conhecendo isto: que tudo é do Senhor, e tudo aquilo que não é Dele não é nada, absolutamente. Deve ser do Senhor ou não haverá mais nenhuma possibilidade, nenhuma esperança. Nós somos os mais capazes de dizer: ‘Se depender de mim, nada mais é possível’; e, então, o Senhor opera. Você enxerga o que Ele está fazendo do lado da morte da Cruz. Ele está limpando o terreno para Ele próprio, e, então, Ele ocupa o espaço; Ele está edificando a Si mesmo como o Senhor ressurreto no terreno que foi purgado da vida velha. O Espírito Santo usa a Cruz para manter o caminho aberto, para manter a visão clara e crescente.

Uma Nova Liberdade

Em seguida, falamos que quando mudou a dispensação no dia de Pentecoste, a partir daquele momento houve uma maravilhosa emancipação para a liberdade. Na velha dispensação a ordem toda era de escravidão, de servidão; as pessoas estavam numa camisa de força de um sistema religioso. Na nova dispensação, a camisa de força foi tirada. Não há nada que sugira uma camisa de força no Livro de Atos. As pessoas são livres. Até haverá algumas coisas a serem removidas, como o resto da tradição de Pedro diante do apelo da casa de Cornélio, e assim por diante. Mas no principal eles estão livres, libertos, e é o Espírito Santo quem faz isto acontecer, e Ele exige que isso seja preservado.

O Senhor quer e precisa de um povo assim hoje, exatamente como antes. Primeiramente, um povo de visão; e, então, em Segundo lugar, um povo completamente crucificado, dando ao Senhor total espaço para o Seu propósito – um povo que, em si mesmo, tenha sido removido do caminho do Senhor. (Este é o significado do Livro de Atos – que as pessoas estão fora do caminho do Senhor, de modo que Ele pode se mover livremente) Então, o Espírito Santo, tendo efetivado esta liberação, exige que isto seja preservado. Dissemos anteriormente que a tendência constante e persistente do homem e o esforço do inimigo é o de trazer novamente o jugo da servidão, aprisionando o Espírito Santo num sistema estabelecido e cristalizado. De coisas – um sistema de Igreja, um sistema eclesiástico, uma ordem religiosa humana, uma formalidade, uma organização, e todo esse tipo de coisas que muito freqüentemente começam com uma idéia Divina, e, então, acabam dominando essa idéia Divina e fazendo com que ela os sirva, ao invés de que tudo sirva a ela.

Este é o perigo, e o Espírito Santo não terá nada disso. Ele somente pode ir tão longe quanto à liberdade que tenha para ir. Ele requer que fiquemos fora de Seu caminho; Ele requer os Seus próprios direitos na qualidade de Espírito de liberdade. Ele não será limitado por nada. Se nós tentarmos restringi-Lo, colocar algemas Nele, iremos perder os Seus valores. Ele requer que nós jamais permitamos a nós mesmos sermos levados para qualquer forma fixa, ou limite de qualquer espécie; que sejamos pessoas de Deus livres. Isto não é licença. Isto não dá ao indivíduo o direito para ser um autônomo, nem significa que podemos ir e fazer tudo que o nosso impulso sugira, e de forma independente desprezemos toda autoridade espiritual. Nunca significou isso. Mas significa que o Senhor não irá permitir que cristalizemos Suas coisas e as coloquemos dentro de uma caixa e digamos: ‘Este é o limite’. Ele requer de nós que possamos estar sempre prontos para receber e responder à uma nova luz. Se Sua nova luz requer que façamos novos ajustes – ajustes revolucionários algumas vezes – temos que estar tão livres no Senhor que possamos fazê-los. É muito necessário que possamos estar dessa maneira, como povo livre do Senhor. É algo muito abençoado ter a expansão do universo para se mover.

Santidade, A Marca Da Nova Dispensação

Agora nosso próximo ponto foi o de que toda a natureza de coisas, que a característica da dispensação do Espírito Santo e que todos os movimentos do Espírito, é de santidade – que tudo interiormente possa corresponder aquilo que é exterior. O progresso pode ser levado para uma total estagnação; todo este movimento do Espírito de Deus pode repentinamente ficar impedido; pode haver um ponto além do qual não haja mais nenhum avanço, caso haja algo debatível entre o Espírito Santo e nós. Temos que consultar o Espírito Santo em todas as questões, e Ele é residente em nós para esse propósito. Por que há tantas coisas nos cristãos que não são como o Senhor queria que fossem? É simplesmente porque as pessoas em questão não têm reconhecido e levado ao coração o seguinte – que o Espírito Santo é o Mestre pessoal deles, o qual reside no interior. Quanto é perdido por causa dessa falta! 'Oh, há uma reunião: acho que não irei a ela – irei dar uma caminhada’. E, assim, você vai. Naquela reunião estava a palavra exata de Deus para você! Se apenas você dissesse: ‘Gostaria de ir caminhar, mas há uma reunião; irei perguntar ao Senhor se Ele me quer lá’. Algo foi perdido o qual você jamais poderá recuperar para si próprio, porque você falhou em consultar o Senhor.

E assim em milhares de formas diferentes. Se tão somente ouvíssemos o Espírito Santo, poderíamos ter um melhor progresso. Ele fala a nós sobre todos os tipos de questões práticas. Por exemplo, precisamos ser ensinados pelo Espírito na questão de nossa jovialidade – como ser alegre sem ser frívolo, e como ser sério sem ser carrancudo e miserável. Nós não vamos dar risadas durante o tempo todo de nossa vida, mas ao mesmo tempo o Senhor não quer que sejamos pobres criaturas. Ele quer que sejamos pessoas sérias, mas não pense que solenidade é necessariamente vida espiritual. Eu li em meu jornal matinal sobre uma garota na Austrália, que foi acometida por certa doença que a privava de sua habilidade de sorrir. Ela foi trazida para ser operada em Londres – e, após a operação ela pode sorrir! Penso que muitos cristãos precisam de uma operação como essa.

Mas em toda essa questão temos que conhecer a disciplina do Espírito Santo, porque valor espiritual, aumento espiritual, está ligada a isto. Em questões de santidade, e controvérsias com o Senhor – que podem descer a muitos pequenos pontos, tais como detalhes de roupa, o uso de adornos, e assim por diante – é notável como ajustes são feitos por muitos cristãos jovens nessas questões práticas sem que nada seja dito a eles por alguém. Quem falou a eles para fazê-lo? Ninguém; mas eles chegaram a sentir que o Senhor queria que eles assim fizessem, isto é tudo. Tais pessoas estão progredindo; estão começando a contar com Deus. Eu tomo esses pontos, não para impor lei sobre você, mas para mostrar o princípio de o Espírito Santo ser capaz de nos falar interiormente sobre questões onde o Senhor possa não estar plenamente de acordo, e, na medida em que Ele fala e respondemos, nós progredimos. O Espírito Santo acrescenta, e acrescenta.

Serviço Direcionado Pelo Espírito – Não Exclusivismo

Na medida em que você prossegue no livro de Atos, você descobre que o Espírito Santo era o Espírito de Serviço. Você chega ao capítulo 8, e o movimento para fora de Jerusalém é absolutamente espontâneo. Filipe desce a Samaria. Quem disse que ele deveria ir a Samaria? Certamente podemos dizer que foi o Espírito Santo quem o levou para lá. Eles se moviam sob o controle soberano do Espírito Santo. Ele era o Espírito de serviço. E quando você chega ao capítulo 10, oh, que aspecto abençoado daquele desenvolvimento! Encontramos isto em sintonia com aquilo que os profetas, embora de forma imperfeita, viram. No capítulo 10 o Espírito Santo precipita toda a questão de se ir para além das fronteiras de Israel para os Gentios. Como os profetas entraram nisso? Bem, que tal Jonas? É uma terrível história esta no pequeno livro de Jonas. Esta história não é toda a vida e obra de Jonas, mas é praticamente tudo o que muitas pessoas conhecem sobre ele – que ele teve uma disputa feroz com o Senhor. “Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte " (Jonas 4:9). Imagine um homem respondendo a Deus dessa maneira! Por quê? Porque o enorme coração gracioso de Deus havia dito, em efeito: ‘Não deve haver exclusivismo; Eu não estou absoluta e solenemente ligado a Israel; meu coração também abraça os bárbaros; o mundo todo é objeto da minha graça’. Jonas era muito exclusivista – não podia haver mais nada além do seu próprio círculo, e ele entrou em controvérsia com o Senhor.

O Senhor tem espalhado aqui e ali através de Suas lições e ilustrações da Palavra que enfatizam isso. Que tal Rute? Ela é uma Moabita, uma bárbara, inaceitável a Israel. É o mais bonito romance da Bíblia esta história de Rute. O que o Senhor está dizendo? Olhe para a genealogia do Senhor Jesus e você irá encontrar Rute, a Moabita, lá. Mas se isso é impressionante, que tal Raabe, a prostitute, que Morava em Jericó, que teve fé e expressou essa fé por meio da corda de fio de escarlata na janela? E na genealogia de Jesus Cristo, Raabe, a meretriz, tem um lugar. O que Deus está dizendo? Ele assume na nova dispensação o princípio dessa obra profética do Espírito Santo através do Velho Testamento. Em Atos 10 Ele precipita isso, como que para dizer: ‘Vão a todos; não permitam exclusivismo’. É impossível ser pessoa governada pelo Espírito Santo e não ter o mundo em seu coração – não se preocupar com toso o povo do Senhor, e com todos os que não são do Senhor. Ele irá precipitar essa questão. Vamos permitir que esta verdade nos alcance profundamente.

O ponto de tudo o que temos dito é o seguinte: que quando o Espírito Santo vem e realmente tem o Seu espaço, todas essas coisas são espontâneas: elas acontecem; essas são as marcas de Seu governo. Oh, que o Senhor possa recuperar um povo como esse, livres de toda posição estabelecida, eclesiástica, religiosa, limites tradicionais e fronteiras – um povo no Espírito! O Senhor faça com que cada um de nós sejamos dessa maneira.

FIM

Tradução: VNS

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.