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O Significado da União com Cristo

por T. Austin-Sparks

Primeiramente publicado na revista "A Witness and A Testimony", em Mai-Jun 1932, Vol. 10-3. Origem "The Meaning of Union with Christ". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)

Se, pois fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Col 3:1.

Vemos, porém...Jesus, coroado de glória e honra. Heb. 2:9.

FITANDO OS OLHOS EM JESUS, autor e consumador de nossa fé... e está assentado À DIREITA DO TRONO DE DEUS. Heb 12:2.

O Significado da Presença de Cristo na Terra

A presença de Cristo aqui na terra teve dois propósitos. Um era para que houvesse uma perfeita apresentação de Deus ao homem. O outro era para que Ele pudesse assumir o homem segundo os pensamentos de Deus. Houveram poucos, por assim dizer, que viram Ele no primeiro aspecto. “O mundo não O conheceu”. Mesmo aqueles que estavam mais perto e em constante contato com Ele, olhando para Ele, escutando Ele, observando Ele, não viram realmente Ele. Em direção ao fim Ele teve que dizer a um deles, “tenho estado tanto tempo convosco e ainda não Me conhecem? Aquele que Me vê, tem visto ao Pai” mas nesse verdadeiro sentido eles não tinham visto Ele. Ele estava aqui para pessoalmente representar a mente, coração, e vontade de Deus, mas é preciso do Espírito Santo abrir os olhos para Cristo nesse respeito. Não obstante, Deus teve uma perfeita representação de Si mesmo aqui na terra, e a partir daí, todo conhecimento Dele é inseparavelmente ligado com a pessoa de Jesus Cristo. Num sentido, no tempo antigo, os judeus iam diretamente para Jeová, a primeira Pessoa na Cabeça Triuna. Eles não olhavam para os sacrifícios, sacerdócio, etc., como para mais do que coisas. Isto é, eles não as personificaram, e consideraram elas à luz de uma Pessoa mediadora. Mas do momento em que Cristo veio a este mundo, entrou no Seu ministério, e realizou a Sua obra na Cruz, Deus nunca poderia ser conhecido à parte Dele, e no sentido mais direto as Suas palavras são verdadeiras, “ninguém pode vir ao Pai senão por Mim”. Nenhum judeu a partir daquele momento conheceria ou jamais conhecerá Deus à parte de Cristo. Quando o nome “Jeová” saiu fora do Templo judeu – como aconteceu – entrou na forma de “Jesus” (Salvador-Jeová) para a Igreja Cristã. O primeiro aspecto da presença de Cristo está aqui, no entanto, não é o objeto de nossa presente consideração. Estamos aqui interessados com o outro lado em particular, embora eles não possam ser separados. Cristo esteve aqui para assumir o homem quanto aos pensamentos de Deus sobre o homem. Em Cristo, Deus tinha um homem inteiramente de acordo ao Seu pensamento. (No que estamos dizendo sobre Cristo como homem, não estamos tocando a Sua deidade, ou negligenciando o fato de que Cristo era Deus. Nós cremos absolutamente nisso, e não temos nenhuma reserva quanto a isso. Estamos aqui lidando com a Sua humanidade).

Um dos principais propósitos do porque Cristo gastou vários anos aqui, foi para que como homem Ele fosse experimentado, testado, provado por todo tipo de provação severa quanto à Sua fidelidade, obediência, e devoção a Deus. A oferta de alimentos de Levítico 2 é a humanidade de Cristo, como é bem conhecida. Essa oferta de alimentos era preparada para apresentação por fogo em três maneiras. O forno, assada na assadeira, ou cozida na frigideira. O forno fala da provação severa em secreto, onde nenhuma vida poderia ver. O segundo método sugere essas provas que somente aqueles que são compreensivos o suficiente para examinar podem ver. A frigideira é a forma e natureza de sofrimento e prova que é patente e aberta a todos. Em todas estas maneiras o Senhor Jesus foi “aperfeiçoado por meio de sofrimentos” e “tentado em todos os pontos como nós, porém, sem pecado”. Ele foi experimentado por cada esfera. Ele enfrentou o inferno diretamente através do seu cabeça – Satanás mesmo tentou Ele – e esgotou seus recursos para quebrar a Sua fidelidade e lealdade ao Seu Pai. Durante quarenta dias no deserto Ele foi diretamente atacado assim. Foi apenas “por um tempo” que o diabo deixou Ele, e sem duvida Ele teve muitos outros conflitos secretos -do tipo forno- com o “príncipe deste mundo” na questão do assunto da fé e obediência.

O mundo assaltou Ele. O sistema do mundo, religioso e pagão, circunstâncias, relativos, amigos (?) e o comercial, social e esferas profissionais, todas tentaram Ele. Mesmo dentro do estreito circulo da Sua própria casa terrenal, não excluindo a amada e mãe devota, foi o Seu relacionamento para com o Seu Pai celestial posto à prova.

Então, afinal, num momento terrível, o céu foi a fonte do supremo teste. O Pai tinha que abandonar Ele, e isto quebrou Seu coração. Não obstante, Ele triunfou, e quase imediatamente após o terrível clamor do abandono, Ele clamou “PAI, nas Tuas mãos entrego Meu espírito”. Assim, foi Ele testado e triunfou em cada esfera – céu, terra e inferno; e em cada forma de prova. Desse modo Ele, como o “Capitão” - líder – de nossa salvação foi “aperfeiçoado, por meio de sofrimentos”.

Isto nos leva até onde somos capazes de responder a pergunta em relação ao porquê o Senhor Jesus está como o “Filho do Homem” no céu: pois foi o “Filho do Homem” que Estevão viu em pé à direita de Deus. Era “Jesus de Nazaré” quem falou e apareceu a Saulo de Tarso. É “Jesus” de quem o Apóstolo diz “coroado de glória e honra” e para Quem devemos “fitar nossos olhos”. É “Um como o Filho do Homem” que é repetidamente visto no Livro de Apocalipse. A verdade, então, é que à direita de Deus na Pessoa do Seu Filho há um HOMEM inteiramente de acordo aos Seus pensamentos concernentes ao homem. Deus obteve na Sua presença, no lugar de honra e poder (à direita) um HOMEM que satisfaz completamente Ele, e responde a toda Sua mente eterna quanto ao homem. Há uma humanidade na presença de Deus com a qual Ele pode estar na mais perfeita comunhão. Agora, esta é a fundação inteira do Cristianismo, desde que seja tido em mente o que isto inclui e envolve quanto ao significado da Sua Cruz.

Tudo no interesse de Deus está ligado com Cristo à direita de Deus. Isto veremos de vários pontos de vista ou ao tomarmos suas várias inclusões. A primeira verdade principal nesta apreensão de Cristo é que Cristo no céu é

O Modelo para o qual Deus está Trabalhando

em todos aqueles que creem.

Não estamos aqui dizendo muito sobre o significado posicional de Cristo em glória, mas estamos principalmente interessados com o aspecto condicional. É abençoador e maravilhosamente verdadeiro que Ele está lá como nós, e que quando nós estamos “em Cristo Jesus” tudo que é verdade Dele é posto para o beneficio daqueles que creem, e eles são “aceitos no Amado”. Tudo que isso significa é uma revelação compreensiva da graça de Deus, e nunca deve deixar de ser o motivo de adoração e terreno de confiança do crente.

Mas é verdade que o que obtém-se em Cristo lá para nós é o interesse do Pai cumpri-lo em nós. A declaração toda-inclusiva concernindo este assunto, e a qual leva diretamente até o final, é Romanos 8:29: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.

O objetivo de Deus, então, é ter uma família completamente levada à imagem do Filho que está à Sua direita. Esse objetivo estabelece os limites ao interesse de Deus. Todo o Seu interesse está ligado a isso, e Ele não tem nenhum interesse fora disso. Cristo é “o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último” e principio e o final.

Como operará Deus para esse fim? Aqui, novamente, estamos no que é – embora elementar, porém – o mais vital. Ele o fará interiormente e de dentro. A única, mas certa esperança de glória é “Cristo em você”.

O que é o Novo Nascimento?

Isto pressupõe a necessidade absoluta do novo nascimento. O que é o novo nascimento, simplesmente? É o receber Cristo como a Vida no coração pela fé. Não a vida como uma coisa, no abstrato, mas vida em inseparável relação à Pessoa. Isto é enfaticamente assim na base de que O Espírito Santo é uma Pessoa: Ele é o “Espírito de Cristo”, e Ele é o “Espírito da Vida”, e não existe relacionamento com Cristo à parte da habitação do Espírito Santo. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo esse tal não é Dele” (Rom. 8:9).

Assim, então, Cristo, o Espírito Santo, e a “Vida Eterna” são um como a base e relacionamento resultante com Ele. Cristo é o Objeto e Realidade Central. O Espírito Santo é o Agente Divino. A Vida Eterna é a base do relacionamento com Deus.

Qualquer termo que usemos, seja “Novo Nascimento”, ser “Nascido de novo”, “Nascido de cima”, “Regeneração”, ou “Nascido de Deus”, o significado é um, e é que recebemos em Cristo pelo Espírito Santo, a vida Daquele que está à direita de Deus. Nada é possível da conformidade à Sua imagem até que essa vida tenha sido colocada em nós. Como num infante recém nascido, a vida contém todos os elementos, possibilidades e potencialidades do homem adulto a ser, logo, no novo nascimento tudo que Cristo é como “aperfeiçoado” está na vida do Seu Espírito para então ser transmitido.

Por natureza essa vida não está em ninguém, é o “dom de Deus” no novo nascimento, regeneração pelo Espírito Santo. É sobre essa vida interior que todos os interesses de Deus estão centrados. O crescimento, aumento, e desenvolvimento dessa vida com todas suas características é o propósito único do Espírito Santo no crente. Paulo escreveu para certos crentes - “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja plenamente formado em vós”. Cristo plenamente formado dentro; essa é a natureza do crescimento espiritual.

O novo nascimento é o começo e fornece ao Espírito Santo com a Sua base. Esse é o primeiro passo em responder a pergunta quanto à natureza da união com Cristo. É unicidade com Ele em Sua vida ressuscitada e entronizada. Isto é vida que já está Nele consumada em pleno triunfo.

A segunda coisa nesta união do lado do estado, é santificação.

O que é Santificação?

Esta grande doutrina pode ser trazida bem adequadamente para dentro da extensão de duas declarações simples para nosso propósito aqui.

Santificação é primeiramente um ato, um ato de fazer do objeto inteiramente do Senhor. Nos tempos do Velho Testamento, quando algo ou uma pessoa era santificada (consagrada, devotada, santificada; tudo a mesma palavra) era primeiramente tomada à parte e separada de todos os outros interesses e feita inteiramente do Senhor. A partir desse momento todos os direitos de propriedade eram Dele, e era reconhecido que Ele tinha a inteira reivindicação nela e governo dela. Era consagrada ou santificada pelo sangue ou por aquilo que tinha o mesmo significado simbólico. Este é o simples significado fundamental da santificação.

“Não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por um preço” (1Cor:20).
“Não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados, mas com precioso sangue” (1Pe. 1:18).

É – num ato – apresentando espírito, alma, e corpo ao Senhor para que em cada parte e em todos os detalhes da vida, Ele tenha a primeira e final consideração: ser consultado em todos os assuntos da mente, coração, e vontade; a vida pessoal com o inteiro principio do eu e constituição natural entregue pela Cruz para ser absolutamente sujeita à vontade de Deus. Cristo à direita de Deus representa o homem como num ato de abandono à vontade de Deus; experimentado quanto a esse abandono em todos os sentidos; e vitorioso quanto a esse ato inicial. O crente tem de entrar nesse ato, e mantido na energia do Espírito Santo até o fim.


Existe permanente virtude e poder no Seu ato “de uma vez por todas” para nós em recebermos do Seu Espírito.

A seguir, em segundo lugar, santificação é algo progressivo. É o processo pelo qual tudo que é verdadeiro das excelências morais de Sua humanidade glorificada é forjado no crente. As coisas de Cristo, tomadas pelo Espírito Santo e revelado aos Seus, não são só os esplendores e riquezas e possessões pelas que Ele entrou para Si mesmo. Nem são só coisas ganhas como uma recompensa. São essas perfeições por meio de sofrimentos a serem feitas sobre os crentes, e nas quais os crentes são para ser trazidos, para que possam também partilhar da glória que resta sobre a humanidade aperfeiçoada quanto a seu estado nativo como investido por um Deus todo satisfeito e encantado.

Enquanto “contemplamos Ele, somos transformados de um degrau de glória a outro, como pelo Espírito o Senhor” (2Cor. 3:18).

Este contemplar é pelo revelar do Espírito interiormente, e o que é revelado é a verdade de Cristo como “feito para nós santificação,” isto é, santificação para nós e em nós.

Vejo pelo Espírito que santificação não é meu lutar e esforço para ser melhor. É o fruto do conflito de Cristo e vitória apropriada pela fé. Não é meu melhoramento moral pelo esforço ou cuidado, mas a apreciação e apreensão das perfeições morais de Cristo asseguradas para mim. Cristo em glória é o modelo no olho do Espírito Santo, e Ele operará em mim a conformidade a esse modelo, pedindo de mim submissão, rendição, fé, obediência; para tudo o qual, Ele está disposto a ser minha força conforme eu tomo uma atitude de caráter positivo em linha com o Seu propósito, como em contra de uma mera passividade de mente.

Por que somos Disciplinados?

Portanto, santificação é o significado de “Cristo à direita de Deus” e de nossa união com Ele no Espírito. O que é verdadeiro do Novo Nascimento como a base, e da Santificação como o processo todo inclusivo, explica os tratos de Deus conosco no treinamento. Devemos ter cuidado com não cairmos na cilada de pensar de Deus como sempre estando sobre nós com uma vara, pronto para saltar sobre nossas falhas e imediatamente nos punir. “Disciplina”, como em Hebreus 12 não é punição, é “educação de crianças”. É verdade que representa sofrimento principalmente. Mas depois estão aqueles de nós que, agora sendo de julgamento amadurecido, justificamos parentes ao máximo pela correção que, quando era dada, era considerada como cruel e sem amor. Nos perguntamos o que seriamos se não fosse por isso, e aqueles de nós que somos pais há muito mudamos nossos pensamentos sobre muitas das experiências desagradáveis da infância. Podemos nos doer sob qualquer pouco de injustiça que se adere tão tenazmente à memoria. Mas nós não estamos agora nas mãos de um Pai injusto ou iníquo.

Deus está atrás de um “depois”. O que é? “fruto pacífico de justiça”. Ou seja, um estado onde não há discórdia ou tensão em relacionamentos. Isto não é nada mais do que o estado presente de Cristo com o Pai sendo cumprido também em nós. Então, todos os aspectos difíceis de nosso treinamento são para o mesmo fim – conformidade com a Sua imagem.

O Motivo do Ministério

Tem um outro aspecto neste assunto para o qual apontaremos antes de encerrar. É em relação ao ministério e comunhão. Qual deveria ser o motivo predominante e alvo do ministério, seja para nós ou através de nós? Com certeza deveria ser com o único fim de Deus em vista, e tudo deveria ser sacrificado, ou trazido em conformidade com isso. O único fim de Deus é semelhança ao Seu Filho. No ministério tudo deve ser sujeito ao teste, quanto a quão longe é calculado chegar a esse fim. Com Deus mesmo, o valor de qualquer coisa e tudo é determinado por isto. Métodos, materiais, maneiras, presença pessoal, e tudo é para vir sob este teste. Somente o Espírito Santo pode trazer-nos a Cristo e conformar-nos com Cristo. Consequentemente, o ministério é de valor de acordo como é no Espírito Santo. Não apenas se aplica isto ao nosso ministério, mas deve influenciar-nos no assunto do que aceitamos e para onde vamos.

Estamos sendo edificados em Cristo? O que nós recebemos tende realmente a aumentar interiormente Ele? Está Cristo sendo ministrado a nós no Espírito Santo? Se não for assim, então não importa quão interessante, brilhante, informante, ou atrativo, nós estaremos perdendo nosso tempo, aquilo que é eterno não está sendo realizado, e o fim de Deus está sendo perdido. Este principio deve também aplicar-se à comunhão dos crentes. É muito fácil cair na armadilha de falar todo tipo de banalidades, assuntos de interesse, e muitas vezes numa jocosidade e frivolidade espiritualmente dissipante, e depois o tempo se acaba para entender que o coração clama em fome para aquilo que unicamente é seu Pão – Cristo mesmo. Comunhão deve ser para edificação mutua e definitivamente para transmitir Cristo o um ao outro.

Hebron foi onde eles fizeram Rei a Davi e festejaram por dias em comunhão alegre. Comunhão deve sempre ser a festividade do coroado – exaltado - glorificado Senhor, e mais Dele próprio em nosso coração deve ser o resultado.

Portanto vemos que tudo na vida do crente desde o começo, está relacionado diretamente e numa maneira prática, com Cristo em glória, e a natureza da união com Cristo é dessas atividades do Espírito Santo para nossa conformidade com a Sua imagem, individualmente e coletivamente.


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