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Quando os Livros São Abertos

por T. Austin-Sparks

Primeiramente publicado na revista em "Toward the Mark", Mar-Abr 1976, Vol. 5-2. Um excerto do artigo original intitulado: "Significant Salutations". (Traduzido por Maria P. Ewald)

Leitura: Romanos 16.

Uma característica marcante deste capítulo é que as pessoas são apreciadas como pessoas. Esta carta em si é uma obra-prima de instrução espiritual, uma exposição suprema de Paulo retratando a gama infinita de redenção. O mais surpreendente, então, é que esse lugar é dado para os nomes dessas pessoas simples. Doutrinas podem ser consideradas e sustentadas de forma individual, mas que valor está nas verdades abstratas se elas não são expressas em termos de pessoas individuais?

Quando uma pessoa é levada a confiar em Cristo ela não se torna mais uma cifra para as estatísticas, mas um ser vivo que é importante para Deus. A frase "em Cristo" é repetida oito vezes aqui, pois este é o significado dos nomes listados, não do que as pessoas eram em si mesmas, mas qual era a sua medida espiritual em Cristo. O apóstolo não tinha em mente sutilezas sociais ou simplesmente de fazer elogios, o que importava para ele era o grau em que esses amigos dele estavam contando para Cristo. Isto, é claro, representa um desafio particular para mim. Eu me pergunto o que Paulo teria escrito em relação ao meu nome, se eu tivesse vivido naquele tempo. Se ele precisasse escrever uma saudação para mim, o que ele poderia ter dito sobre a qualidade da minha vida "em Cristo"?

Por que Paulo estava tão carinhosamente se alongando para essas pessoas? Talvez porque ele podia observar neles o cumprimento da revelação recebida do poder do evangelho de Cristo. Deve ter sido refrescante passar de sua exposição da teoria da redenção para o desenrolar vivo de suas doutrinas. Por isso, me pergunto o que há de fruto em minha própria vida a partir dos volumes de ensino que tenho dado na minha pregação. Está o povo de Deus sendo ajudado, estão eles sendo feitos melhores servos de Cristo em razão de meu trabalho? Caso contrário então, no meu caso tudo o que Paulo escreveu e tudo o que eu ensino não vai a lugar nenhum.

Em Roma estava uma das igrejas que Paulo ainda não tinha visitado, mas mesmo nesta conjuntura havia um número de pessoas lá que ele conhecia pessoalmente e até intimamente. Isso é mais do que um mero item de interesse. Ele parece indicar algo de como naqueles dias o evangelho se espalhou e as igrejas foram estabelecidas. Por uma razão ou outra, para fins comerciais ou por compulsão política, as pessoas tinham que se mover sobre o mundo, assim como o fazem hoje. Isso pode ter sido inconveniente e, por vezes, muito injusto, mas por trás desse movimento, houve a soberania de Deus, usando tudo para a aceleração da obra do evangelho.

Isso nos dá um incentivo, saber que uma vez que as nossas vidas são inteiramente entregues ao Senhor, a Sua soberania regerá e governará todas as relações e circunstâncias da vida diária comum e fazê-las contribuir para Seus propósitos e glória. Por causa do decreto cruel do imperador Claudio, Áquila e Priscila tiveram que abandonar suas casas e negócios e se tornar pessoas deslocadas em Corinto, mas a sequência de eventos e seu compromisso com Cristo resultou no lugar de honra que eles têm nessa lista que está sendo considerada. O caso deles desdobra-se em um mundo dentro de um mundo, um mundo de romance espiritual. Sem dúvida, à medida que passamos de um dos nomes da lista para o outro, poderemos descobrir que houve um trabalho providencial maravilhoso de Deus em cada caso.

Além disso, quando olhamos mais profundamente no capítulo descobrimos que as pessoas aqui referidas não só tinham a vida dirigida por Deus, mas tinham um objetivo nos negócios do Senhor e estavam prontas para assumir a responsabilidade por Seus interesses. Eles não eram apenas passageiros, pessoas que estavam de passagem, pessoas no meio de uma multidão, eles se envolveram cada um ao máximo nos assuntos do reino de Cristo. Comentários e alusões de Paulo deixam claro que o evangelho foi promovido e as igrejas estabelecidas, porque esses homens e mulheres colocam os interesses do Senhor antes de tudo, em seu trabalho e em suas jornadas. Eles tinham um desejo pelo objetivo divino. Como o seu Senhor diante deles, suas vidas não estavam à mercê do acaso, mas caracterizava-se pela palavra "dever", assim como a dEle era.

No último livro da Bíblia nos é contado que o livro da vida está sendo aberto, mas também somos informados que existem outros registros que se relacionam com nossas histórias pessoais: "os livros foram abertos" (Apocalipse 20:12). Será que esses livros representam a avaliação que Deus faz da vida de Seus filhos? Se assim for, qual será o veredicto eterno sobre a minha vida? O que os livros têm a dizer da minha resposta aos imperativos divinos da graça na minha vida? Graças a Deus que todos os meus pecados foram apagados pelo poder milagroso do sangue de Cristo, de modo que não podem haver acusações contra mim. Disso nós podemos ter certeza. Mas eu tenho estar consciente que, embora não haja nenhuma menção das minhas faltas, também não haverá nenhum registro de quaisquer características pessoais ou virtudes que parecem assumir tanta importância para mim agora. Não, o que será registrado para a eternidade será certamente o que tem sido verdade em mim "em Cristo". É o que está sendo adotado diariamente em minha vida e caminhada com Deus é que será escrito lá, e só isso é o que importa. Qual será a história - a história de Deus - dita sobre mim? Qual será o Seu veredicto?

No caso dessas pessoas, era a própria vida de Paulo que havia sido enriquecida por eles, como ele prontamente reconheceu. Febe tinha o "socorrido", Priscila e Áquila arriscaram suas "próprias cabeças" por ele, a mãe de Rufo tinha sido como uma mãe para ele e Tércio escreveu para ele. Nenhum deles eram apóstolos, mas ajudando Paulo haviam contribuído com algo, ainda que de forma pequena, no ministério apostólico. Eles não podiam fazer tudo, e nem Paulo poderia nestes assuntos, mas o todo do propósito divino foi realizado porque cada um desempenhou o seu papel, trabalhando em Cristo e para Cristo.

Assim, a leitura desta lista encorajadora de amigos de Paulo nos desafia a respeito do quanto nossas vidas estão contando para Deus, a medida que os dias passam. Somos levados a acreditar que nem sempre o apóstolo poderia dar esses alegres comentários sobre aqueles a quem ele conheceu e com quem trabalhou. Houveram exceções infelizes, aqueles que, como Demas, parecem ter colocado de lado os objetivos divinos e tomado seu próprio rumo. Eles não são aqui mencionados. Paulo escreve de forma apreciativa sobre cada um daqueles que em simplicidade permaneceu devotado ao Senhor Jesus.

São as pessoas que importam! Ninguém é insignificante em Cristo. Há um lugar para cada um de nós no registro divino. E quando as histórias escritas nos livros forem divulgadas, vamos exclamar, como Paulo faz no final deste capítulo e esta Carta aos Romanos: "Ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos." Amém.


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