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O Monte da Visão

por T. Austin-Sparks

Primeiramente publicado na revista "A Witness and A Testimony", em Mar-Abr 1952, Vol. 30-2. Origem: "The Mount of Vision". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)

Por que o monte? Muitas vezes na Bíblia os moveres de Deus em revelação e propósito estavam conetados com montes. Foi assim com Moisés e a Lei e o Modelo do Tabernáculo. Foi assim com Elias no monte Carmelo e Horebe: com Davi e o local do Templo. Foi assim com Cristo e Seu grande discurso do Reino, Sua transfiguração, etc. E foi assim com João e a visão da Nova Jerusalém. Estes são apenas alguns dos momentos nos montes na Escritura. Qual é o seu significado? Pois certamente não é só coincidência.

Não é mesmo que representa elevação de cima e ascendência sobre a terra e suas influências. Envolve separação (em espírito), o céu contrapondo-se à terra, gravidade superada, exercício – deliberado e determinado. Numa palavra, aponta para outra esfera e ordem, um “reino dos céus”, aquilo que não é desta criação. Há um lugar de visão celestial e revelação, e tem que ser tomado com “os lombos do vosso entendimento” cingidos e com firme aproximação a Deus.

A Carta aos Efésios é a contrapartida de Êxodo 24-25. Lá a posição é “nos celestiais”. O objeto é “que conheçamos”, o fim é “o eterno propósito”. Estas três coisas correspondem com a posição assegurada, uma visão dada, uma intenção compreendida e estabelecida.

Esse lugar deve ser achado na vida do crente individual e na da Igreja. Perca seu ‘monte’ com o Senhor e você perderá sua visão e propósito governante, e ficará amarrado por meros acontecimentos e atividades na terra. A terra é um lugar muito pequeno comparado com os céus! Mas lembre que essa posição de estar “sentado juntamente com Cristo” nos celestiais é somente por meio do Altar ou a Cruz. Em Êxodo 24:4-6 vemos o altar e seus valores – o sangue governando a ascensão do monte. Isto inclusivamente estabelece a posição de que tudo é do Senhor e para o Senhor.

Todo o mover começa com adoração, versículo 1, e adoração significa que não há nada do homem, mas tudo é do Senhor, e volta a Ele. Resulta em tudo o que se materializa sendo completamente de Deus. Neste caso (Êxodo 25) foi o tabernáculo.

Ora, a maioria dos cristãos evangélicos creem que o Tabernáculo era um tipo de Cristo, mas existem vários defeitos e fraquezas nesta crença. Para muitos é uma tipologia bonita e fascinante, cheia de interesse e verdades maravilhosas. Então, muitas vezes, somente os aspectos redentores são tomados: esses fatores ou características que têm a ver com a redenção, por exemplo, expiação, justificação, santificação, acesso, etc. Então mais uma vez, tem-se apoiado um sistema terreno e objetivo de “ordens” externas, rituais, ritos, vestimentas, ordenanças, sacramentos, e “oficios”. Tudo isto muitas vezes significa a falta do significado básico e supremo desta representação. Se resolve numa '‘verdade’' cristã, ordem e prática como a base das coisas, e isto – para dizer o mínimo – é inadequado, pode ser nocivo. O que está realmente na mente e olho de Deus não é uma coisa, não um Tabernáculo, um sistema, e nem mesmo um 'modelo'. O assunto que governa tudo com Deus é uma revelação de Deus em Cristo ao coração pelo Espírito Santo, uma revelação de Jesus Cristo.

O Tabernáculo serve apenas para ser espelho de Cristo. Por isso Paulo fala de “contemplar como num espelho a glória do Senhor”; e, no mesmo contexto, “Deus… brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo”.

Não é uma questão de nós vermos verdade cristã, mas de vermos Cristo por revelação do Espírito. Veja Cristo agora primeiro, não o Tabernáculo primeiro e depois Cristo. Vivemos no dia da plena revelação, não de uma prefiguração tipológica. Existe tanta falha em reconhecer que o Tabernáculo pretende levar a um reconhecimento da unidade de Cristo e Sua Igreja, uma representação corporativa de Cristo. Com a maioria dos cristãos, o corporativo quase não vale para nada quanto aos seus valores práticos. Uma imensa quantia é feito em evangelismo, mas os resultados são desproporcionais ambos em medida e calibre. Uma grande porcentagem desses movidos para uma “decisão” num afã evangelístico são subsequentemente, não somente perdidos, mas, menos accessíveis do que antes. A medida espiritual da maioria mesmo anos depois é escassa, eles apenas se tornam 'frequentadores de igreja'. O impacto 'da Igreja' sobre o mundo é excessivamente desapontadora. Não hesitamos em dizer que tudo é em grande parte, se não principalmente, devido a uma falha em ver a diferença entre uma congregação, uma 'reunião', um local de um número de cristãos unitários, por um lado, e um organismo corporativo vivo por outro lado. O composto e o orgânico são duas coisas diferentes. Um é formado do lado de fora, o outro é formado de dentro.

Existe um poder muito grande ligado a semelhante visão. O que nenhuma outra força poderia fazer foi feito num momento quando Paulo viu Cristo e apanhou o que Ele significava. Emancipou completamente a ele da tradição, de sistemas terrenos da religião, e todas aquelas coisas que por herança, treinamento, e crença, tinham sido sua própria vida - “as coisas”, disse ele “que para mim eram lucro”. Quando queremos explicar Paulo, e dar conta de sua influência por vinte séculos, temos que ir para a sua “visão”. Ele viu Cristo, e vendo Cristo ele chegou a ver o significado e natureza da Igreja como Seu Corpo. Tal visão levantou o inferno contra ele, e provocou o maior prejuízo, ostracismo e conflito. Se a visão não tivesse sido tão tremendamente real ele teria há muito tempo se comprometido e assumido uma conformidade menos custosa. Mas ele “não foi desobediente”, e assim tem vindo a ser a resposta para cada crise na história da Igreja.

A visão é para todos os que levam sério a Deus. Mas nós seremos verdadeiramente provados quanto a se realmente O levamos a sério. A visão está lá cima onde toda gravidade de indecisão, passividade, compromisso, indiferença, covardia, conveniência, política, incredulidade, imbecilidade, etc. têm sido vencida e sujeita ao “chamamento celestial”. Não existem funiculares ou teleféricos a essas altitudes, é um desafio, e frequentemente uma empresa solitária. Mas se mover em poder e influência segundo esse “céu aberto” é atender a maior e mais profunda necessidade do povo do Senhor em relação aos seus destinos elevados.

O Cristianismo de numerosos cristãos não é o suficientemente grande. Se eles não são frequentemente providos com fortes estimulantes na forma de convenções, de reuniões 'avivamento', (e mais do noventa por cento das pessoas que atendem grandes campanhas evangelísticas são cristãos) 'comícios', etc., eles caem, ou continuam numa vida muito sem graça e limitada. Ora, tudo isto é uma vida de monte falso. Muitas vezes, após um 'comício ou 'evento' especial, se referem ao momento como tendo “estado no monte” e agora tendo que 'descer para o vale'.

Embora haja valores reais na reunião do povo do Senhor de longe e perto, tais ocasiões não deveriam ser a vida deles. Paulo estava na prisão quando ele escreveu mais acerca dos celestiais. Ocasiões especiais podem dar um sentido de vida e 'visão' artificial, o qual desaparece quando estes momentos passam, de modo que 'vivemos para a seguinte' ocasião. A “visão celestial” de Paulo o manteve atravessando todas as experiências escuras, sombrias, e sórdidas, que estavam associadas com seu ministério. Existe algo muito mais do que ser salvo e se envolver em “obra cristã”. Sem este grande acréscimo o motivo e ímpeto essencial faltará, e haverá pouco ou nenhum aumento espiritual. Este extra é “visão celestial”. Foi a inspiração de Pedro, Paulo, João, Estevão, e de muitos outros.

Como poderiam os Profetas cumprir suas missões lamentáveis, e de certa forma, trágicas e desesperadoras senão pela dinâmica de uma visão dada por Deus? 'Mas', você diz, 'eles eram Profetas e Apóstolos. Nós apenas somos pessoas ordinárias'. A resposta é que o Novo Testamento quase como um todo foi dado pelo Espírito Santo para dar e manter diante de toda a Igreja este objetivo tremendo do “eterno propósito”, e Paulo, esgotando todos os superlativos da linguagem nesta mesma conexão, se entrega à oração por “todos os santos” assim:

“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele. Oro, ainda para que os olhos do vosso coração sejam iluminados, para que saibais qual é a real esperança do chamado que Ele vos fez, quais são as riquezas da glória da sua herança nos santos”, etc.


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