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A Graça de Deus em Cristo Jesus

por T. Austin-Sparks

Editado e fornecido por Golden Candlestick Trust. Origem: “The Grace of God in Christ Jesus”. (Traduzido por Maria P. Ewald)

Leitura: Romanos 3; Mateus 1:1-6.

A relação entre essas duas passagens não é óbvia, mas acredito que logo veremos nelas uma maravilhosa manifestação da graça de Deus em Cristo Jesus. Percebemos uma atmosfera de graça. Sobre esse tema nossos corações deveriam descansar e meditar continuamente: a admirável e maravilhosamente perfeita ação da graça por meio da fé, pois devemos tudo à graça de Deus. Sempre nos traz grande segurança desfrutar de uma apreciação e um gozo vívidos, saudáveis ​​e grandiosos da graça de Deus. Então, por que li esses seis versículos?

Destaquei quatro nomes dentre aqueles mencionados nesses seis primeiros versículos do evangelho de Mateus. São os nomes de quatro mulheres: Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba. Veja, o objetivo deste capítulo de Mateus é estabelecer o elo entre o Senhor Jesus segundo a carne, Davi e Abraão. O primeiro verso traz a seguinte declaração: "filho de Davi, filho de Abraão". O escritor passa a traçar esse elo, indicando essa relação entre o Senhor Jesus segundo a carne, Davi e Abraão. O fato mais impressionante a partir disso é o seguinte: que o Senhor introduz alguns nomes nessa lista que parecem totalmente desnecessários, deixando de fora muitos outros nomes que nós certamente incluiríamos.

Você não teria citado Sara? Tenho certeza que sim. Se fôssemos citar nomes de mulheres, certamente não deixaríamos de mencioná-la. Você não teria incluído Rebeca? Com certeza. E Lia? Sim. Outras mulheres teriam sido incluídas em nossa lista, mas elas não são mencionadas aqui.
Talvez as últimas pessoas na história que teríamos optado por incluir nesse relato são citadas nominalmente. Nós teríamos evitado mencioná-las, da mesma forma como evitaríamos contato com um leproso. Fecharíamos nossas mentes, as excluindo da nossa consideração, a favor de outros nomes. É desnecessário estabelecer o vínculo e, naturalmente, é impensável relacionar essas conexões à genealogia do Senhor Jesus. Além disso, essas mulheres são completamente ofensivas nessa esfera. Se, de alguma maneira concebível, fosse possível estabelecer essa genealogia, omitindo essas mulheres, é exatamente isso que teríamos feito.

Mas aqui o Espírito Santo está no comando, e quão diferentes são os caminhos do Senhor, pois Ele, diferente de nós, não se envergonha de introduzir esses nomes ali. Ele não hesita em apresentar um nome envolvido em uma história sórdida, algo muito desagradável, coisa que os oponentes da inspiração da Bíblia tentam por gerações. Não, o Espírito Santo não hesita, embora nos pareça desnecessário, assumindo Ele grandes riscos de incomodar os mais sensíveis.

O Senhor não hesita em incluir esses nomes, tornando-os nos quatro primeiros nomes de mulheres citados no Novo Testamento. O que Ele busca com isso? Por que Ele fez isso? Bem, Romanos 3 é a resposta. Ali temos a explicação. Não vou pedir para lerem as histórias dessas mulheres novamente na íntegra, mas apenas chamo atenção para elas com um objetivo em vista: se os homens lessem suas Bíblias com o objeto certo diante de si, nunca desejariam tirar nada dela. Então, o que importa aqui é o ponto de vista do leitor.

Tamar

Conhecemos sua história em Gênesis 38, mas vamos contemplá-la a partir do ponto de vista de Romanos 3. Por hora, leia o que vou dizer, e então, em outra ocasião, releia aquela terrível história. Existem poucas histórias na Bíblia tão horríveis quanto a história de Tamar. Não vemos nenhuma característica redentora em Tamar, e seria em vão buscarmos por algo que possa ser dito a seu favor. Não há nada. É uma história sórdida, medonha e impura, sem nenhum elemento redentor, e desejaríamos deixar esse capítulo de fora da nossa leitura Bíblica, passando rapidamente por ela. Alguns oponentes da Palavra de Deus alegam que a Bíblia é um livro impróprio para a leitura por causa dessa história, que figura entre outras porções similares das Escrituras, tornando os homens infiéis. A partir do ponto de vista deles, isso é verdade e, ainda assim é impressionante que Tamar seja a primeira mulher mencionada na genealogia de Jesus Cristo - que Jesus Cristo tenha vindo ao mundo através de Tamar. Ele tomou a semente de uma mulher.

Isso me remete à duas coisas, e espero que possam impactar você com a mesma força que me atingiram. Quanto à pessoa do Senhor Jesus, que impressionante, que coisa maravilhosa o fato do Espírito Santo ter realizado um corte entre o Filho de Deus e a herança terrena, produzindo aquele “Ente santo” [Lc 1:35]. Que obra de separação do pecado, para produzir Alguém sem pecado, por meio da carne!

Não estou falando do fato de Maria ser imaculada, mas me refiro a um algo mais, algo relacionado à uma separação entre Maria e o Filho de Deus. Se simplesmente atribuirmos tudo à Maria, estaremos perdendo o objetivo. Não, Deus fez algo. O Senhor foi gerado pelo Espírito Santo, e houve uma ruptura entre a linhagem de Tamar, de Raabe e todo o resto da carne, penetrando ao ponto de trazer, naquele arcabouço da carne, Alguém sem pecado; isso na Pessoa do Senhor Jesus, o milagre de Deus.

Atrelado a isso, existe algo em nós que é de Cristo, de Deus, uma vez que fomos gerados pelo Espírito Santo, e que não tem vínculo natural com o velho Adão. Há algo de Deus que é mais profundo do que esta vida natural, mais interior do que aquilo com o qual estamos tão familiarizados na carne - vem do “Pai dos espíritos” - conforme menciona o escritor da carta aos hebreus. “Tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos" [Hb 12:9 - ARC]. Sim, é aí que reside esperança para nós, e tudo que envolve a eternidade se apoia nisso, em “uma nova criação em Cristo Jesus". É isso que Deus cuida e procura nutrir, valorizar e edificar.

Há uma segunda coisa em meu coração. Tamar, sem nenhum elemento redentor, nenhum raio de luz, Tamar e Jesus Cristo. Oh, que graça para Tamar! Ela poderia ter vivido sua vida sórdida e os homens teriam sido conclamados a esquecê-la. Se o nome dela fosse mencionado, teria sido dito imediatamente: "Psss, não mencione seu nome!” O Espírito Santo o traz à luz em conexão com o Senhor Jesus; o primeiro nome de mulher em conexão com o Ele. Que graça para Tamar! O que será que trouxe Tamar à essa união viva com o Senhor Jesus? Foi o seu pecado. Podemos bem dizer que esse argumento deve ser constituído de outra maneira, devemos tirá-lo de nossa consideração. Mas isso é verdade para mim e é para vocês. O que nos trouxe à um relacionamento vivo com o Senhor Jesus? Não foi nossa bondade, mas nosso pecado.

O primeiro toque, elemento e característica de qualquer relacionamento verdadeiro e vivo com o Senhor Jesus é que a situação se tornou tão desesperadora no sentido natural, ao ponto de não existir nenhuma característica redentora. Chegamos ao ponto em que reconhecemos que estávamos arruinados; não havia nada a ser dito a nosso favor. Deus precisa nos conduzir a esse ponto, senão nunca chegaremos a uma apreciação satisfatória da Sua graça. Pode levar anos até os crentes chegarem a essa constatação, mas Deus enseja que a graça seja a única nota que manifeste a verdadeira expressão do coração do crente. Foi a graça de Deus que fez isso, é a graça de Deus que ainda o faz, e sempre será assim. Não temos nada mais. É o próprio fato da nossa terrível pecaminosidade que nos conduziu a Cristo. Se tentamos chegar a Cristo por qualquer outro meio, qualquer outra base, sempre encontraremos um abismo; nunca encontraremos outro fundamento.

O Senhor nos conduz ao ponto onde não poderemos mais apedrejar Tamar. Podemos não ter pecado da mesma maneira, mas qual é a diferença? Se é apenas a questão do tipo de pecado, que importância tem, se o veredicto final for o mesmo? Somos todos impuros, e toda a nossa justiça é como trapos de imundícia; não há nada bom em nós. Não é uma questão do tipo de pecado, é uma questão do fato do pecado, e é algo tremendo chegar a essa constatação. É importante perceber que a nossa salvação não depende de sermos convencidos dos nossos pecados ou da nossa confissão deles. Atualmente existe um movimento ao redor do mundo que está alegando produzir vidas transformadas com base na confissão aberta dos pecados, quando os homens os confessam aberta e publicamente, pecado a pecado, em reuniões. Existe um resultado; mudanças nas vidas, mas esse não é nosso critério. É possível produzir mudanças utilizando métodos psicológicos, mas o fundamento desse movimento é a confissão pública dos pecados, e esse não é um fundamento adequado para a regeneração. Não se trata de ser convencido dos pecados, mas do PECADO.

Os pecados não nos conduzem necessariamente à uma relação com a obra de Cristo, mas o pecado o faz. É o fato do pecado, total, completo, que permeia a raça de Adão - não a culpa por diferentes tipos de pecados, mas o fato de ser pecado. Isso nos conduz à um relacionamento vital com o Senhor Jesus e Sua obra, pois Ele foi "feito pecado por nós”, antes que pudesse levar nossos pecados [2Co 5:21]. Ele foi feito pecado por nós. Precisamos nos aprofundar ao máximo nessa questão do pecado. Não é que nosso pecado tenha sido tão ruim quanto o de Tamar. Não, mas somos tão pecadores aos olhos de Deus como Tamar foi, embora nunca tenhamos cometido o mesmo pecado. Fora de Cristo, pecado é pecado e não encontraremos características redentoras. Isso envolve todo o mundo, judeus e gentios, iluminados ou não, todos pecaram e carecem da glória de Deus. Não é uma questão da quantidade de pecados, ou de seus tipos, mas é a questão do pecado. Até chegarmos lá no fundo dessa questão, não haverá um relacionamento vivo com o Senhor Jesus em salvação, mas quando chegamos a esse ponto, a graça de Deus será amplificada.

Quanta graça manifestada na citação desse primeiro nome de mulher em conexão com o Senhor Jesus aqui nesta terra, em Sua genealogia. Alguém sem uma característica redentora! Por que Ele fez isso? Por que desnecessariamente estender a mão, trazendo a pobre Tamar de seu esconderijo? Ela viveu sua vida e morreu. Por que trazê-la aqui para um lugar tão visível? Para magnificar a graça de Deus em Jesus Cristo. É o pecado dela que faz isso, não sua bondade.

Raabe

Hebreus 11:31: "Pela fé, Raabe, a meretriz..." Cristo veio de Raabe, a meretriz. Outra história cheia de escuridão. Uma mulher amaldiçoada, fruto de uma raça amaldiçoada. Os cananeus eram uma raça amaldiçoada, e Raabe fazia parte dela. Cristo nasceu de Raabe. Ela é mencionada em segundo lugar, apesar da menção nos parecer absolutamente desnecessária. Foi o pecado dela que a incluiu ali.
Agora estamos nos dirigindo para a construção da base da salvação. Começamos com o pecado. "Pela fé, Raabe, a meretriz...", que é uma releitura de Romanos 3, conforme lemos: "Concluímos (calculamos), pois, que o homem é justificado pela fé" (vs 28). "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus" (Rm 5:1). Um membro de uma raça amaldiçoada, em paz com Deus. Vemos a graça operando por meio da fé! A fé nos conduz à posição de sermos justificados com Deus.

Todos nós precisamos aprender essa lição, mesmo quando salvos há muito tempo. Isso significa que eu, por natureza, estou vestido com pano de saco (esfarrapado) cheio de furos, manchas e borrões, e existe um Deus infinitamente perfeito, santo e justo, cujos olhos são puros demais para contemplar a iniquidade ou o mal. E a grande pergunta durante a eternidade será: como posso adentrar Sua presença, ser feliz e nunca sentir que aqueles olhos estão olhando para minhas vestes, observando os furos e as manchas? Até essa pergunta ser respondida, não terei descanso, nem paz. Sou um exilado vagando, uma alma eternamente angustiada.

Então chega Aquele que tira minhas vestes esfarrapadas, imundas e grosseiras, e, me dando uma bela túnica, diz: "Comprei isto para você a um alto preço. É a túnica de aceitação diante de Deus, com a qual você poderá entrar livremente em Sua presença e ser feliz, e Ele sempre olhará para você com imenso prazer. É o manto da Minha justiça que torna qualquer pessoa capaz de estar na presença de um Deus Santo, sem jamais ter medo novamente”. Agradeço a Ele, e então penduro aquela túnica no meu armário e volto a vestir meu pano de saco, vivendo novamente preocupado e infeliz. Como posso abandonar esse terrível sentimento de condenação? Aquele que me deu a túnica aparece novamente e diz: "O que você estava dizendo?”. Você replica: “Estou tão angustiado com essa questão de desfrutar da presença de Deus...”. “Mas não lhe dei uma túnica?”, Ele replica. "Sim, gosto de pensar a esse respeito. Ser justificado é uma doutrina maravilhosa. Gosto de falar sobre isso. Pendurei a túnica, pois essa doutrina de justificação é uma coisa adorável de se contemplar, analisar e vislumbrar”.

Por que não a usamos, vestindo-a e entrando em Sua presença, justificados pela fé e desfrutando da paz com Deus? Não estamos nos permitindo ter paz com Deus. De maneira prática, não nos apropriamos da provisão que o Senhor fez para nós. Não há necessidade de permanecer do lado de fora, perguntando: “Será que Ele me receberá?”, pois fomos aceitos no Amado. Somos justificados pela fé. Por meio dessa justificação, os olhos de Deus não veem pecado em nós, pois estaremos vestidos com as vestes do Seu próprio Filho como Justiça. Mas, mesmo assim, nós insistimos em não vestir as vestes do Senhor. Preferimos o nosso velho pano de saco, penduramos a nova túnica e, muitas vezes, permanecemos debaixo de condenação, infelizes, vagando do lado de fora, sem nos aproximar.

A Palavra diz: "Em plena certeza de fé" [Hb 10:22], quando nos aproximarmos do Senhor em Sua justiça, nunca seremos rejeitados. Raabe tinha uma veste. Que veste era aquela! Mas ela foi conduzida à luz em relação ao Senhor Jesus, e o Espírito Santo, sem receio, parece feliz em mencioná-la. Ele saiu do Seu caminho para fazê-lo. Pensamos que certamente é errado vincular esses dois, Raabe, a prostituta, e Jesus Cristo, mas o Espírito Santo não se envergonha de traçar essa ligação. "Pela fé, Raabe" - veja o que a fé nos concede em Cristo; veja o que a graça, operando pela fé, pode realizar!

Vamos cantar nesse momento:

"Todos estes outrora pecadores, contaminados eram aos Seus olhos.
Agora, em puras vestes ataviados, estão unidos em louvor"
[A. T. Pierson]

Isso é a graça, mas a fé é o que une o pecador ao Salvador.

Rute

Tudo o que precisamos dizer a respeito de Rute é o seguinte: naquilo que diz respeito ao seu caráter, não havia nada a ser dito contra ela. Ela foi uma mulher terrivelmente desafortunada e sofreu perdas devastadoras. O marido, que morreu, abandonou o país quando passou por grande pressão. Pode haver alguma desonra nisso, o que trouxe sofrimento à sua família. Mas não há nada a dizer moralmente contra Rute; ela tinha um belo caráter. Entretanto, ela era moabita, e se lermos Deuteronômio 23:3, veremos que os amonitas e moabitas não podiam entrar na congregação do Senhor. Existia um julgamento pesando sobre os amonitas e moabitas, porque eles resistiram ao propósito de Deus em Seu povo eleito. Dessa forma, uma lei foi pronunciada contra eles, constituindo uma barreira entre os moabitas e a congregação do Senhor. Mas Rute está aqui, ligada ao Senhor Jesus. "Livre da lei, ó condição abençoada!" A graça supera a lei, que é contra todos nós.

Se tentarmos viver de acordo com a lei, descobriremos que não teremos comunhão com o Senhor Jesus. A lei nos condena a todo momento. A lei diz obedeça. Se vivermos 99,9% de acordo com ela, mas se falharmos em 0,1%, seremos responsáveis por tudo, e seremos culpados por violá-la. Você pode enfrentar isso? A lei não abrange apenas os dez mandamentos; vai além disso. Bendito seja Deus, Esse que veio até nós, o Senhor Jesus, que cumpriu a lei até sua última fração. Ele a deixou de lado, por tê-la cumprido. Ele trouxe a graça à luz e nos livrou da lei, para que a lei não esteja mais contra nós, porque Cristo é por nós. Rute, a moabita, contra quem havia uma lei, entrou em um relacionamento muito vivo com o Senhor Jesus.


Bate-Seba

Bate-Seba, apesar de seu nome sequer ser mencionado. O modo como é registrado é impressionante: “E o rei Davi, a Salomão, da que fora mulher de Urias" [Mt 1:6]. Isso traz à luz uma história triste. Não devemos culpar Bate-Seba, nem iremos falar sobre ela. Mas, devido à maneira pela qual o Senhor escreveu esse registro, sua pessoa traz à tona todo esse incidente. Por que trazer tudo isso à tona? Por que não apenas mencionar Bate-Seba e passar adiante para as outras? Não, o Espírito Santo está nos dizendo que um homem segundo o coração de Deus estava envolvido nessa situação - um homem que conheceu o Senhor, a quem Deus abençoou, usou, fortaleceu, o mavioso salmista de Israel. Davi falhou e sofreu as consequências do seu ato. Aquilo que semeamos, ceifaremos: “porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção" [Gl 6:8]. No entanto, tudo isso foi tomado por Deus em Sua graça, por mais triste que tenha sido, e foi introduzido em uma esfera onde Deus realizou Seu supremo propósito. Devemos ser advertidos com isso. Podemos ser do Senhor, sim, mas ainda que sejamos do Senhor, podemos falhar. Deus pode ter nos abençoado e usado e, ainda assim, podemos fracassar terrivelmente, sofrer como consequência disso, mas esse não será o final da história. Ainda que a história possa ser triste e terrível e, em primeira instância, possamos sofrer um resultado extremamente doloroso decorrente disso, a graça se apodera dos fracassos daqueles cujo coração está diante de Deus, extraindo algo de bom, para a Glória de Deus.

É um evangelho terrivelmente sombrio aquele que não tem uma nota endereçada àquele que pecou e falhou com Deus, e que não afirma que exatamente aquilo pode ser convertido em bem. Essa é uma mensagem sem esperança, nada pode resultar disso para Deus. Isso é budismo: você pecou, ​​sofrerá por isso. Sem ter o elemento redentor, tudo estará voltado contra você, no tempo e na eternidade.

É claro que ninguém deve tomar isso como pretexto para pecar. Ninguém deve aventurar-se com a graça de Deus, nem pensar nisso de forma leviana. Especialmente quando existe algum capítulo sombrio em nossa história que gostaríamos que fosse apagado, depois de sofrermos as consequências dele, aprendemos que aquele é um caminho de desolação, infrutífero. Davi gerou a Salomão daquela que fora esposa de Urias. Salomão tinha dois nomes: um significava “amado do Senhor” e o outro, “pacífico”. Podemos sofrer e ser disciplinados por nossos erros e: "Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça" [Hb 12:11]. Salomão edificou a Casa do Senhor e exemplificou tudo o que Cristo é na glória, como nenhum outro rei o fez. Salomão foi fruto do maravilhoso e gracioso governo de Deus sobre um episódio sombrio.

Não pratiquemos males para que venham bens, e não vamos nos esquecer de que se falharmos, de fato sofreremos. Pecado é pecado. Nós ceifaremos as consequências, mas Deus intervém, e em graça, em Sua providência, transforma nossas próprias falhas em Sua glória. É a graça.

Você consegue perceber o progresso da graça nesses quatro nomes? Talvez possa dizer que neste último nome, vemos como até um homem segundo o coração de Deus deve depender de Deus e não pode baixar a guarda, pois ele só será sustentado pelo poder de Deus. Se ele se esquecer disso, mesmo que apenas por um momento, haverá um desastre. "Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” [1Co 10:12].

Tudo isso visa glorificar a graça de Deus, demonstrando como somos justificados pela graça por meio da fé, e como Deus justifica os ímpios. Não é por obras, diz esta Palavra. Não é pelas obras de Tamar, de Raabe, de Rute, nem de Bate-Seba, mas pela graça de Deus. Além disso, devemos ver os gentios sendo conduzidos ao contexto, nesse maravilhoso vínculo com o Senhor Jesus. Provavelmente, todas essas quatro mulheres eram gentias; ao menos três. Apesar dos gentios terem sido excluídos da aliança, na Pessoa do Senhor Jesus, tanto judeus como gentios têm seu lugar. Esse é o Corpo de Cristo sendo apresentado, por meio do próprio nascimento de Jesus Cristo.


Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.