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As Vozes dos Profetas

por T. Austin-Sparks

Capítulo 8 – A Voz de Isaías

"Eles não conheceram ... as vozes dos profetas que eram lidos todos os sábados" (Atos 13:27).

"No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor sentado num alto e sublime trono..." (Isaías 6:1).

"Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da lua ... embora ele tivesse realizado muitos sinais diante deles, contudo não creram nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que disse: “Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?" (João 12:36-41).

Lembremos de que o que estamos considerando é a diferença entre o ouvir as palavras e mensagens divinas, e ver as obras divinas, e realmente enxergar através dessas coisas o seu real significado. Há, de fato, uma grande diferença entre ver e ver através de; entre ouvir com as orelhas externas, e ouvir com o ouvido interior. O contexto histórico da nossa referência principal - Atos 13:27 – é o contexto de uma inacreditável tragédia relacionada a esta diferença. Ambos os evangelhos e o resto do Novo Testamento são construídos sobre esta diferença entre ver e, ao mesmo tempo, não ver, e ouvir, contudo, não ouvir. É isso que temos em Isaías.

É muito impressionante que João associe Isaías 6 a Isaías 53, em relação à presença, ministério e obra de Jesus – o Cristo. João diz que quando Isaías especificou o que ele fez, primeiro: “Senhor, quem creu em nossa pregação?” e o resto do capítulo 53; e, então, sobre sua visão do “Senhor dos Exércitos”, e a consequente comissão, em relação a Israel, "Ele falou dele (Jesus)” e  foi quando “ele viu a sua glória”. Há muito para se pensar aqui. João diz que o Senhor a quem Isaías viu exaltado, sentado num alto e sublime trono, "o Senhor dos Exércitos", era Jesus. E, ao ligar o capítulo 53 ao capítulo 6, João claramente estava afirmando que o “Cordeiro” do capítulo 53 era o “Senhor” do capítulo 6. Iremos voltar a isso mais adiante. 

O que João claramente está dizendo é que, contrário ao grande profeta, Israel podia ter em seu meio – numa única Pessoa – tanto “o Senhor” como o “Cordeiro” – com todo o seu significado, e, contudo, não conseguir enxergá-lo, nem ouvi-lo, nem reconhecê-lo. Todo o maravilhoso e iluminado ministério de Isaías, e seu real cumprimento, podia estar bem ali no meio deles sem que eles pudessem enxergar. E o que é pior: aquilo ainda poderia resultar num endurecimento, ao invés de salvação. Isso é algo terrível de se contemplar! É tal a possibilidade, e – no caso de Israel – uma realidade tal, que Paulo transferiu a advertência de Israel, em geral, para a sinagoga de Antioquia, na Psídia; estreitando, assim, para uma companhia local.

O que é isso que foi responsável pelo julgamento de cegueira e surdez pronunciada por Isaías, e que ficou tão evidente nos dias de Jesus Cristo? Há, pelo menos, três coisas que levou a isso, e que sempre levará.

1. Preconceito         
O dicionário define preconceito como sendo 'julgamento preconcebido'. É o ato de se chegar a uma conclusão sem antes fazer uma consideração honesta. É ter a mente e o coração fechados. É não querer, não ter intenção de, nem estar disposto a ouvir.  O profeta chamou essa atitude de “dureza de coração”. 

O coração fechado irá sempre resultar em olhos fechados.

Foi Henry Drummond quem – como cientista – tão fortemente ilustrou este princípio. Ao falar de “Como escaparemos nós se negligenciarmos..." ele diz: “Há certos animais cavadores – como a toupeira, por exemplo – que têm gastado as suas vidas no subterrâneo. E a natureza tem se vingado delas de uma maneira completamente natural, fechando os olhos dessas criaturas. Se elas querem viver na escuridão, então, nesse caso, argumenta a natureza, seus olhos obviamente passam a possuir uma função secundária. Ao negligenciarem os olhos, esses animais deixam bem claro que não precisam deles. Um dos princípios naturais estabelecidos é que, na natureza, nada deve existir em vão, porém, os olhos estão sendo atualmente colocados de lado, estão sendo reduzidos a um estado rudimentar. Esse é o significado do paradoxo favorito: 'Ao que não tem, até mesmo o que tem lhe será tirado.' A presença de Jesus Cristo entre os homens, e o advento do Espírito Santo, significou – e significa – a possibilidade de enxergar aquilo que o olho natural não consegue ver; porém, ‘negligenciar’ ou recusar ‘a luz’ e o julgamento da dupla cegueira está na própria natureza das coisas; é uma lei”. 

O preconceito é sempre uma coisa má e cruel; é um ladrão, um saqueador, em qualquer terreno em que ele existir.

2. O Interesse Próprio
A cegueira de Israel foi causada pelo medo que eles tinham de perder alguma coisa, caso viessem a se render e obedecer a Deus. João citou Jesus dizendo: “Como podeis crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus?" (João 5:44). O interesse próprio foi o pecado orininal de Adão, e, por meio desse pecado, o mal levou o homem a perder as suas faculdades espirituais em relação a Deus. O orgulho é que dá suporte ao egocentrismo. Foi a queda de Israel, como também a de Satanás e de Adão.

3. Passividade
Muito frequentemente há uma grande e fatal lacuna entre o saber e o fazer. Esta é realmente a responsabilidade que as “Vozes” dos profetas colocaram à porta de Israel. O Senhor jamais julgou o povo por aquilo que ele não conhecia, e nem podia conhecer, mas sim por não fazer aquilo que conhecia. Paulo cita Isaías 53 em seu grande capítulo sobre o fracasso de Israel - Romanos 10. Ele diz: "Porventura não ouviram?" e responde: "Sim, por certo”. “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente”. Esta voz do profeta (Isaías) tem um amplo espaço neste parágrafo, e tem a ver com a cegueira e a surdez resultante do não fazer aquilo que eles conheciam. 

Geralmente ficamos muito consternados, angustiados, e desconsertados com a grande quantidade de pregações e ensinos que têm tão pouco efeito prático, e nos perguntamos por quanto tempo mais o Senhor irá permitir que a luz brilhe. Nós começamos este capítulo com João citando as palavras de Jesus: “Enquanto tendes luz, crede na luz”. Crer é andar na luz e obedecê-la. Muito frequentemente as congregações e reuniões do povo de Deus, após uma mensagem séria e desafiadora, simplesmente se dispersam numa multidão barulhenta que se põe a conversar sobre qualquer outra coisa, menos sobre a mensagem, e assim, a mensagem é dissipada e perdida. Quão frequente a reação é: “O que podemos fazer sobre o que o Senhor acabou de nos falar?” Esse, então, é o ponto da voz de Isaías: “Quem creu em nossa pregação?”
Antes de deixarmos este assunto para outro momento, precisamos retornar àquele ponto do “Senhor sentado num alto e sublime trono”, “o Senhor dos Exércitos” e o Cordeiro de Isaías 6 e 53. Foi no ano em que a autoridade terrena – representada pelo rei Uzias – fracassou, desviando-se daquela autoridade celestial revelada ao profeta. Daquele trono celestial saiu o terrível julgamento duplo da cegueira e da surdez. Foi esse estado espiritual que levou o povo a não ouvir a “pregação” e, consequentemente, a ‘sacrificar o Cordeiro de Deus’.

Mas, ultimamente, o curso das coisas está invertido. O Cordeiro finalmente é visto no meio do trono (Apocalipse 5:6), e este trono é visto ser a plena e final autoridade neste universo. Mas o que significa o Cordeiro no trono?

Ouça Dr. F. B. Meyer:
"Como o Cordeiro é visto lá? Certamente mansidão, humildade, gentil submissão não são virtudes que conquistam trono! Talvez não no mundo dos homens, mas no mundo de Deus, sim. No mundo eterno, as virtudes passivas são mais fortes do que as ativas: os sofredores exercem mais poder do que os lutadores; ceder é vencer; ser vencido é conquistar. Foi porque Jesus foi o Cordeiro que Ele agora é o Rei ungido de Deus."

Esta é a voz do profeta Isaías.

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