Em Contato com o Trono
por T. Austin-Sparks

Capítulo 5 - A Espada da Palavra, e Oração

Ler: Juizes 7:1-7. 1 Samuel 13:2-7, 19-23. Efésios 6:17-18.

Chegamos ao final de nossa meditação sobre oração, apenas há uma, ou duas, coisas que precisam ser ditas, e estão bastante relacionadas às passagens da Escritura dadas acima.

Juntando o conteúdo dos capítulos 13 e 14 de I Samuel, a situação é simplesmente esta: Saul, que oficialmente representa o povo, está numa posição onde a fé em Deus está quase negativa. O resultado é o domínio do medo, e em toda a parte há uma trágica ausência de coesão e unidade. O inimigo está em ascendência. O povo é incapaz de fazer alguma coisa, porque, por um movimento estratégico do inimigo, todas as armas de guerra foram removidas e as forjas destruídas. No meio de tal situação há pelo menos um homem que tem fé em Deus, e cuja fé coloca-o em oposição às condições predominantes.

Jonatas ainda crê profundamente em Deus, e, portanto, não apenas denuncia o estado de coisas, mas repudia este estado ao colocar a si próprio positiva e ativamente contra ele. Assim ele se torna o pequeno instrumento de Deus para derrotar o poder do inimigo numa época de declínio quase universal. Ele ergue um testemunho no meio de muita fraqueza espiritual. Tais exemplos são encontradas espalhadas nas Escrituras, e através da história da Igreja desde os tempos bíblicos. Há duas coisas que são significantes principalmente para serem observadas nesta história. Uma é:

A Estratégia do Inimigo

Esta estratégia significava que o povo do Senhor estava virtualmente derrotado antes que houvesse qualquer guerra. As armas tinham sido confiscadas e os meios para se produzi-las tinham sido removidos e destruídos.

Este foi um movimento astuto, e realmente uma das astuciais geniais do inimigo. Não podemos nós ver que neste incidente na história literal do povo de Deus há uma indicação de como o inimigo do testemunho de Deus está sempre tentando trabalhar? E não é esta a mesma coisa que acontece hoje? Vimos em nossa meditação anterior que as armas do povo de Deus são principalmente a oração e a Palavra. Trazendo isto para o nosso caso, imediatamente fica claro que o golpe de mestre do inimigo é impedir-nos nesta direção dupla. Não é de pouca importância lembrarmos que o nosso adversário não espera até a hora da batalha para colocar suas forças em ação, mas está sempre a postos bem à frente em antecipação daquela hora. Para ele, fazer diferente seria fatal. O mesmo se aplica a nós. Temos descoberto muito freqüentemente que, quando temos realmente chegado a lidar com uma situação, estamos desequipados, pois o equipamento essencial foi nos tirado com antecedência. Naquela hora de emergência não há meios de se conseguir equipamento, e aprendemos lições amargas de impotência numa hora de grande necessidade ou de oportunidade. A exigência é que devemos manter uma vida firme e forte de oração e na Palavra quando não haja nenhuma necessidade, pois somente assim estaremos no lugar certo e espiritualmente equipados quando a necessidade especial aparecer.

Esta condição despreparada significa desonra espiritual e perda de posição diante de Deus. Ficou você comovido com a mudança de título dado ao povo do Senhor nesses capítulos? Algumas vezes eles eram chamados de ‘os Hebreus’; outras vezes de ‘Israel’. Se você olhar mais de perto, irá descobrir que o Espírito do Senhor chama-os de ‘Hebreus’ quando estão do lado dos Filisteus, e ‘Israel’ quando não estão. Eles perdiam a dignidade do nome ‘Israel’ – um príncipe com Deus – quando estavam do lado dos Filisteus. Quando eles não estão do lado do Senhor, em graça, ainda os chama de ‘Israel’, embora possam estar em condição de fraqueza, e muito longe do que o Senhor queria que eles estivessem. Porém, os Filisteus sempre os chamava de ‘Hebreus’, e o Senhor permite que este título permaneça quando eles estão nas mãos dos Filisteus. A dignidade deles como ‘um príncipe com Deus’ tinha desaparecido. O que é isto que nos trona príncipes com Deus? É aquela vida de oração e aquela vida na Palavra. Nós perdemos nossa dignidade, nossa posição e nossa ascendência se o inimigo roubar a nossa vida de oração e a nossa vida na Palavra. Não é isto verdade na experiência? Naturalmente! Provavelmente fomos ensinados sobre isto quando éramos novos convertidos, mas há uma atividade e determinação especial e particular do inimigo para que não oremos nem cheguemos à Palavra de Deus naquele terreno mais amplo do conflito e batalha espiritual onde o testemunho do Senhor esteja envolvido, naquela ‘posição avançada’ do povo de Deus onde ele saia do campo terreno, como cristãos, e entrem nos lugares celestiais, como membros do Corpo de Cristo. Prevenindo, impedindo, frustrando e destruindo a vida de oração e a vida na Palavra, o inimigo irá logo desmoralizar a Igreja e seus membros espiritualmente, e irá roubar sua ascendência.

Que o Senhor possa novamente trazer aos nossos corações a força e a ênfase da necessidade de se permanecer contra as astúcias do Diabo! Pois elas estão voltadas, não somente para se opor à vida de oração que temos, mas para nos impedir de ter mais vida de oração e vida na Palavra. Por favor suporte esta repetição, pois estou certo de que ela é necessária. Você percebe que, se o inimigo puder ter o seu espaço, você não irá ter uma vida de oração. Ele irá colocar qualquer coisa concebível, natural e sobrenatural, no caminho da oração, a fim de impede-la, e no caminho de sua vida na Palavra de Deus. Essas são as duas armas mais poderosas da nossa batalha. Precisa haver um despertamento em relação aos ardis do inimigo que nos coloque também na posição de sermos capaz de nos antecipar. O Apóstolo disse: "Nós não ignoramos os seus ardis”, e estar consciente do que o inimigo está para fazer é metade da batalha. Oh! As coisas vêm muito frequentemente para impedir a oração e a vida na Palavra! Vêm de maneira tão natural, de maneira tão simples e despretensiosa que parecem apenas ser o tipo de coisa que naturalmente iria acontecer e, talvez, fossem até mesmo esperadas em nossas vidas, porém, quando caminhamos por algumas semanas, descobrimos que a nossa vida de oração se foi. Como se foi? O inimigo não fez uma demonstração, nem veio de alguma maneira óbvia para anunciar que ele iria destruir nossa vida de oração com isto ou aquilo, mas simplesmente a coisa aconteceu.

Vigiando em Oração

Vigiar em oração! Vigiai e orai neste sentido é vigiar para que você possa orar, é vigiar contra as coisas que impediriam você de orar. E deve haver um ‘para que’ em nós: "para que Satanás não leve vantagem”. Você vê, uma antecipação, prevenção, de nossa parte, um permanecer contra as astúcias do inimigo. Precisamos ter um questionamento fresco a respeito das ocorrências naturais, ordinárias, para ver se não há alguma arma nelas, alguma estratégia sutil do inimigo para nos furtar da oração. O que é isto que impede a vida de oração necessária, essencial? Vamos perguntar se, afinal de contas, trata-se de algo a respeito do qual temos que tomar uma posição. Vamos interrogar a coisa. Tem que haver uma grande vigilância de nossa parte contra movimentos estratégicos do inimigo nesta direção, para que nossas armas não sejam roubadas, ou inutilizadas. Bem, estou certo de que esta é uma nota que precisa ser tocada cada vez mais. Vigie contra as astúcias do inimigo que são direcionadas para levar as suas armas, a sua vida de oração, a sua vida na Palavra!

O Lugar da Palavra na Oração

Essas duas coisas estão ligadas pelo Espírito Santo: “a espada do Espírito que é a Palavra de Deus; orando...” O Espírito Santo ligou essas duas coisas intimamente. Ele poderia ter colocado a espada no início, ou poderia tê-la colocada em qualquer outro lugar. Você teria achado que o Apóstolo, baseando-se no soldado romano, vendo a espada presa à cinta, teria colocado a espada junto à cinta e dito: 'Tomando o cinto da verdade e a espada do Espírito’. Mas, não, ele tomou o cinto separado da espada, e prossegue com as outras partes da armadura que são protetivas e defensivas, e, então, ele traz as duas coisas ofensivas juntas no final: a Palavra e a oração. Ambas são básicas para a vida, não somente de serem capazes de resistir e ter a defesa, mas de uma vitória real, de conquista, uma vida que é progressivamente agressiva. É isto o que se depreende de 1 Samuel 14. Havia uma espada com Jonatas, e havia um movimento em suas mãos e pés. Havia de sua parte a atividade da fé com as armas da guerra, e ele vencia. Dissemos que é algo tremendo ser capaz de chegar com a Palavra de Deus sustentando a sua oração e dizer ao Senhor: "...segundo a Tua Palavra." É uma grande força ser capaz de dar ao Senhor a Sua Palavra.

Tomemos o salmo 119 como ilustração e vamos salientar quão frequentemente o salmista usava esta mesma frase: “Vivifica-me segundo a Tua Palavra" ... "Fortalece-me segundo a Tua Palavra" (versos 25, 28). Então prossigamos para completer a palavra que corresponde à petição: "Mas se o Espírito Daquele que ressuscitou Jesus da morte habita em vós, Aquele que ressuscitou a Cristo da morte também vivificará os vossos corpos mortais pelo Seu Espírito que habita em vós" (Rom. 8:11). Esta é a Palavra de Deus. É uma grande coisa ter a Palavra de Deus com você na oração, de modo que você pode apresentá-la diante do Senhor. Ela lhe dá uma posição de força. E também é uma grande coisa ser capaz de enfrentar o inimigo com a Palavra de Deus. O próprio Senhor foi para o deserto e foi tentado pelo inimigo por quarenta dias. Como ele enfrentou o Diabo? Apenas com a Palavra de Deus! A Palavra de Deus era a Sua arma, e no final Ele venceu com esta arma. Não é que você enfrenta o inimigo objetivamente e começa a citar a Escritura audivelmente para ele. Isto pode ser necessário algumas vezes, e pode algumas vezes ser um bom exercício enfrentar o inimigo com uma declaração audível daquilo que Deus disse, mas, caro amigo, é necessário ter a Palavra de Deus em nossos corações para que permaneçamos nas promessas em todos os momentos de tentação e pressão e de assalto espiritual interior. Não podemos permanecer nelas se não as conhecemos. Há um grande fortalecimento de posição quando você caminha na Palavra de Deus. Uma vida na Palavra é algo muito importante para a oração eficaz, e estas duas coisas caminham juntas numa positive e agressiva vitória sobre o inimigo.

O Oração e os Vencedores

Então esta última coisa aparece nesta porção: Que é uma pequena companhia que está lá nesta posição. Jonatas diz:
"porque para com o SENHOR nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos. " (1 Samuel 14:6). É uma companhia comparativamente pequena, mas ela representa a chave para a situação toda para o Senhor. Eles representam os demais numa posição relativa, e o Senhor sabe que os demais dificilmente se lançariam nisto se não fosse por esta pequena companhia. O Senhor precisa deles por causa dos demais. No final da questão os demais entram no benefício que esta pequena companhia tem assegurado a eles. É o que muito frequentemente chamamos de ‘ a companhia de vencedores’, um pequeno grupo – comparativamente falando – que permanece firme na posição e mantém sua vida de oração e sua vida na Palavra. Esses representam a esperança do povo do Senhor, e o povo do Senhor não tem qualquer esperança separado deles. Eles são a chave do Senhor para a situação, e Ele precisa tê-los por causa dos demais. É Benjamin, o elo entre os irmãos alienados e distantes e aquele que está no trono. É o pequeno que é a ocasião para eles serem trazidos para dentro da benção plena. É uma posição de privilégio, embora seja difícil, custosa e cheia de luta e sofrimento. Preciso dizer mais a mim mesmo, e você precisa dizer mais para si mesmo, sobre o privilégio de ser um vencedor. Temo que fiquemos muito impressionados com o sofrimento e o custo disto, mas é um privilégio estar numa posição que irá significar muito para o Senhor numa grande quantidade de outros que pode não estar nesta posição no momento que poderia nos impressionar.

Se o Senhor está para trazê-los, Ele não faz isto, nem pode fazê-lo, diretamente. Ele faz isto através da ministração daqueles que estão nesta comunhão íntima com Ele que representa uma poderosa vitória sobre a estratégia do inimigo. É uma posição de privilégio, e é por isto que aqueles que estão seguindo este caminho com o Senhor tornam-se o objeto central do ódio e malicia do Diabo, e porque é uma batalha para eles manter a posição para a qual o Senhor os têm chamado. Muito depende deles por causa de suas responsabilidades em virtude do elo, e o valor deste elo, entre eles e – talvez – multidões de pessoas. Assim Jonatas e seu escudeiro (e esta é a parte da história que gosto muito) tinham um entendimento secreto. Havia aqueles dois maciços e ameaçadores penhascos de ambos os lados, e os Filisteus estavam em lugar de vantagem. O entendimento secreto deles era este: 'Se eles disserem que irão descer a nós, tudo bem, iremos esperar por eles. Mas se disserem: "Venham a nós," então saberemos que o Senhor os tem entregado em nossas mãos.' Você teria pensado que eles teriam colocado a coisa de outra maneira, pois, então, eles teriam tido todas as vantagens e teria sido comparativamente mais fácil. Mas crer que ser chamado para escalar aquelas dificuldades, aqueles penhascos ameaçadores era o sinal do Senhor da vitória, bem, torna a situação muito forte, não torna? E os Filisteus disseram: 'Subam a nós!” Assim Jonatas disse: “O Senhor os tinha entregue na mão de Israel”, e, enquanto avançavam com as mãos e com os pés, pois era uma subida muito difícil, eles diziam: “A vitória é nossa.” Eles subiam em vitória, e não para uma vitória. Eles tinham suas armas, eles tinham fé em Deus, eles permaneciam numa vitória e prosseguiam nela. E Jonatas derrotou os Filisteus. Eles caíram diante dele e de seu escudeiro. Então o Senhor mandou um terremoto. Quando a fé tinha ido tão longe quanto podia, Deus cooperou e enviou consternação entre os Filisteus. Então os pobres e fracos Hebreus viram a sua chance e atacaram os Filisteus. Isto não foi muito nobre, nem muito honroso, mas Jonatas foi o instrumento para tirar força da fraqueza deles, um claro testemunho da falta de distinção deles, e, do lugar onde o testemunho havia se perdido proporcionando agora um lugar onde eles podiam se apoiar. E muitas pessoas simplesmente precisam de um Jonatas para trazê-los para um lugar desembaraçado. Eles irão entrar se o Senhor tiver um instrumento forte o suficiente para enfrentar o inimigo em favor deles, mas eles não entrarão até que haja alguma coisa que comece a golpear os Filisteus para eles. Irá você ser um desses?

A Companhia Peneirada

Preciso encerrar, porém quero dizer apenas uma palavra sobre o Senhor passar a peneira até conseguir algo parecido com isto, sobre a necessidade de obter efetividade. Jonatas, seu escudeiro e uma pequena companhia representava um povo selecionado. Eles foram peneirados nesta questão de fé no Senhor, e eles foram peneirados para que a oração e a Palavra fossem a própria vida deles. A companhia de Gideão representou isto: uma companhia peneirada trazida para uma posição de absoluta fé em Deus, pois isto é o que Deus buscava - "Para que Israel não se glorie contra Mim dizendo: ‘Minha mão me livrou. (Juízes 7:2). Eles tinham que estar numa situação onde Deus fosse o único bem deles, e a fé Nele fosse o terreno onde eles permanecessem. Então cada homem tinha que colocar sua espada ao seu lado e permanecer a postos. Você tem um belo quadro nos trezentos de Gideão que formavam uma companhia selecionada que permaneciam na oração e na Palavra de Deus. “A Espada do Senhor" – a Palavra do Senhor. O Senhor viu que todos os medrosos voltaram para casa, pois um coração medroso é inútil. A fé é necessária aqui. Um coração dividido é inútil e desqualifica o seu dono. Um coração medroso foi o primeiro teste, e uma grande turma voltou para casa porque tinham o coração temeroso. Um coração dividido foi o primeiro teste, e aqueles que se ajoelharam para beber água mostraram que não estavam totalmente preparados para este negócio. Aqueles que lamberam a água estavam ansiosos, pois permaneceram sobre seus pés, e apenas beberam água porque era necessário.

Aqueles que lamberam a água tinham o coração determinado e estavam completamente neste negócio. Um coração dividido desqualifica, e o Senhor olha para isto e o descarta. No final o Senhor tem a Sua companhia, e eles estão todos com Ele na fé do Filho de Deus, tendo uma vida de profunda comunhão com Ele em oração e na Palavra. Será sempre uma companhia peneirada, e nós não deveríamos nos descorajar ou pensar que uma coisa estranha tenha acontecido quando o Senhor começa a passar a peneira e muitos voltam para casa. Esta é a maneira de o Senhor obter efetividade. Ele precisa peneirar. Ele próprio, quando esteve aqui na terra, nos deu bastante em Seu ensino pessoal nesse mesmo sentido. Ele chama, e as reações a Sua chamada são:
“Senhor, permite primeiro enterrar o meu pai”. Então há outros interesses: “Comprei cinco juntas de boi e preciso experimentá-las”; "Casei”; "Adquiri uma propriedade, e preciso ir vê-la”. Este é um coração dividido! E, então, temos a Sua palavra: “Se alguem vem após Mim e não aborrecer seu pai, e sua mãe, e filhos, e irmãos e irmãs, e ainda, a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo; "Aquele, pois, que não toma a sua cruz e vem após Mim não pode ser Meu discípulo”. Isto é, nada de coração tímido! O Senhor chama para isto, e por trezentos Ele entregou os Midianitas em nossas mãos, e Ele salva Israel. Eles são a salvação dos demais.


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