Tendo considerado as cinco fases da oração, principalmente a comunhão, submissão, petição, cooperação e o conflito, iremos agora avançar um pouco mais, a fim de ver alguns dos problemas que estão relacionados à oração. Como dissemos, muito freqüentemente um senso indefinido de contradição ou incerteza nos bastidores de nossas mentes tem o efeito de mutilar, ou de paralisar, a oração, e nós, algumas vezes, somos estorvados por certas dificuldades mentais que nunca nos propusemos seriamente a analisar ou definir. Nosso objetivo agora é procurar definir algumas delas, analisá-las, e resolve-las, de modo a limpar o terreno para a oração em certeza e confiança.
A Oração e a Vontade de Deus
Nesta conexão uma das principais dificuldades na oração surge em relação a vontade de Deus. Isto, naturalmente, é uma esfera muito ampla de contemplação e consideração, e inclui um grande número de diferentes fases, aspectos e pontos, mas nós iremos procurar estreitá-la, e, na medida em que avançarmos, veremos muito mais envolvido naquilo que dizemos.
Quanto à vontade de Deus, a questão básica parece-me ser esta: É ela absoluta ou relativa? O que estamos tratando é aquela questão se a vontade de Deus para nós éabsoluta ou relativa. Quando ela é colocada assim você pode não ser ajudado muito. Soa muito acadêmico, mas irei explicar o que quero dizer.
Será que Deus permite as coisas porque elas são Sua vontade absoluta, ou porque Ele nos atrairia por meio delas para uma determinada posição? Neste último caso a vontade de Deus é relativa e não absoluta, isto é, as coisas não representam o que é absolutamente a vontade de Deus, mas Ele as permite para outros propósitos, e assim, elas representam a vontade relativa de Deus. Agora você tem o fundamento e a base para uma consideração mais abrangente da vontade de Deus em relação à oração. Se estamos tratando com a vontade relativa de Deus, a questão será se essas coisas, tendo cumprido os seus propósitos, são colocadas de lado e cessam de ter algum espaço na vontade de Deus, ou é permitido que elas permaneçam, ficando nós numa posição de ascendência sobre elas e elas se tornam nossas servas. Elas estão lá não porque Deus, na plenitude de Sua vontade e propósito, deseja que estejam, mas porque Ele vê que elas são coisas necessárias para nos manter numa certa posição. Se fôssemos criaturas perfeitas, a vontade de Deus seria sempre absoluta. Não haveria lugar para a vontade relativa de Deus, pois seria desnecessário a Ele permiti-las para nos fazer alcançar novas posições. Porém, sendo imperfeitos, criaturas caídas, a vontade de Deus para nós é muito mais freqüentemente relativa do que absoluta.
Conflito entre Submissão e Importunidade
Assim, o problema surge a nós ao longo da linha da submissão e da importunidade. Essas duas coisas parecem ser antagônicas uma à outra, parecem representar conflito e contradição. Como você pode reconciliar importunidade com submissão? A impertinência não exclui a submissão? A submissão não exclui a importunidade? Elas parecem mutuamente uma contra a outra, e, contudo, isto não é assim. O problema que surge na oração é o de se manter a martelar na porta, continuar batendo, e, contudo, ser submisso. A submissão não enfraquece a força de sua batida à porta? A força de sua batida não implica que você ainda não aprendeu a submissão? Nem sempre isto pode ser definido desta maneira em sua mente, mas rasteja para dentro, permanecendo lá no fundo, e muito freqüentemente tende a tirar aquela positividade, aquela certeza e determinação da oração de modo que você se descobre numa terra de ninguém.
Bem, isto é um problema, e nós temos que resolvê-lo tão definitivamente quanto for possível. A resolução deste problema, penso eu, está ao longo da linha de se reconhecer que entra o elemento moral, e que Deus está muito mais interessado nos elementos e questões morais. Há algo a ser superado, ou a ser realizado, em nós, e isto significa que na vontade relativa de Deus existirão muitas coisas que são apenas permitidas, ou que podem até mesmo serem enviadas pelo Senhor, com o objetivo de, e para o propósito de, comunicar certas coisas em nós, ou nos fazer passar por certas coisas em nós mesmos por que certos fatores morais estão em vista. (Estou usando a palavra ‘moral’ no sentido amplo agora, e não mais no sentido restrito) Precisamos reconhecer que a nova criação é uma questão moral e não está terminada em relação a nós. Ela está perfeita e completa em si mesma, mas não está completa em nós. A velha criação ainda existe. É objetiva e externa à nova criação, mas tem grande influência sobre ela. O pecado não está extinto para o cristão, nem é o mundo algo hipotético. E você não precisa que eu lhe diga que o mal não está extinto para o cristão! Mas bem ao centro da velha criação está a nova criação, que é uma coisa moral. Mas é uma coisa moral – podemos dizer – em sua infância, e todos os seus elementos e fatores têm que ser desenvolvidos para nos tornarmos criaturas morais, no sentido pleno da palavra – isto é, criaturas responsáveis, inteligentes, com uma nova consciência, com um novo padrão de valores e um novo reconhecimento de princípios. Um mundo celestial completamente novo chegou, e seu conhecimento e a sua sabedoria precisam ser possuídos de forma inteligente. Seus segredos têm que ser conhecidos e suas virtudes serem trabalhadas em nosso interior. Pela regeneração o Senhor não nos torna simples máquinas, a serem acionadas sem qualquer consideração a nossa vontade, sentimentos, desejos, razão e inteligência, carregadas de cá para lá e forçadas a fazerem coisas sem qualquer referência a nós mesmos. Isto é completamente contrário às Escrituras.
Mas o que Senhor nos constituiu foi em criaturas morais segundo uma nova moralidade, um novo sistema celestial e uma inteligência completamente nova que não pertence ao homem natural. Temos um sistema inteiramente novo de julgamentos, valores e avaliações, e em todas as coisas o Senhor irá agora se reportar a nós. Ele irá nos chamar para exercitarmos a nós mesmos em relação a nova impressão, consciência, convicção do interior da nova criação. Assim, a nova criação é algo moral, mas devido à velha criação ainda estar circundando-a e envolvendo-a, a nova criação irá crescer por meio da conquista, do conflito, e do exercício árduo para vencer a velha criação, sujeitando-a, triunfando sobre ela, isto por meio de aplicação deliberada, ardorosa, devotada e persistente. A vontade renovada, energizada pelo Espírito Santo, não será mecanicamente operada, mas irá ser convidada a se exercitar no Senhor. Orar na vontade de Deus não significa que o Espírito Santo vem e toma posse de sua vontade e de sua volição, e força você a falar coisas sem a sua inteligência. Este é um terreno completamente falso. Há muito disso hoje onde a inteligência do homem é varrida de um lado e ele começa a fluir com todo tipo de coisas que nem ele nem ninguém mais consegue entender, porém a nova criação não é assim. O Espírito Santo não suspende a inteligência e compreensão de alguém que Ele usa, mas Ele convida ao exercício do entendimento. 'Orarei no espírito, mas também orarei no entendimento’ disse o Apóstolo, e orar no Espírito Santo não significa que nós cedemos a Ele a ponto de perdermos a nossa própria vida moral (usando esta palavra novamente em seu sentido amplo).
Oração como Educação
Vendo, então, que as questões morais são proeminentes no propósito do Senhor, em relação a nós, a oração se torna uma educação, um treinamento. Falamos da ‘escola da oração’, e esta é uma designação muito correta. Educação e treinamento não são coisas semelhantes. Educação tem a ver com o obter conhecimento, e treinamento tem a ver com o valor moral na expressão prática. Guarde esta definição, pois ela é muito importante. Falamos de uma ‘pessoa educada’, e queremos nos referir a alguém que conhece muito, porém, fale de ‘alguém bem treinado’ e pensamos em alguém que representa alguma coisa com valor prático. Há uma porção de pessoas educadas que são perfeitamente inúteis. Somos, portanto, levados à oração, e o Senhor Jesus olha para isto que somos levados e nos prolongamos em oração, e isto representa, de um lado, a aquisição de conhecimento espiritual. Nós não conseguimos este conhecimento espiritual a menos que sejamos levados à oração. É notável como, quando há uma expansão na oração, aprendemos coisas, alcançamos segredos e entramos no conhecimento de coisas. E, então, por outro lado, esta atração para a oração tem o efeito de treinamento, trazendo-nos para uma posição moral e para um nível moral mais elevado. Iremos ver o que isto significa atualmente. Pessoas que não oram serão tanto ignorantes quanto fracas, deseducadas e destreinadas. Não irão conhecer o propósito de Deus, nem serão capaz de fazer conforma a Sua vontade.
Portanto, temos que reconhecer ainda que a oração não é meramente uma vantagem pessoal, mas é o tomar parte numa campanha. Há um esquema Divino de coisas a ser descoberto. A oração não é meramente para valor pessoal e subjetivo. É objetivo, coletivo e relativa, mesmo em valores morais que resultam de orações individuais. .
A Natureza da Importunidade
Agora vamos procurar resumir um pouco as coisas. Há três lados na oração impertinente – mas você entende por que a impertinência é exigida, é necessária e correta? E você entende que não há contradição entre sujeição e impertinência? Sujeição, como salientamos anteriormente, é algo ativo, positivo, e não passivo. É estar alinhado ao propósito Divino; e, então, a impertinência busca o desenvolvimento dos aspectos morais.
As Excelências Morais de Cristo Trabalhadas
Como acabamos de dizer, há três lados na oração de impertinência. Primeiro, há o lado moral, e este tem os seus próprios dois aspectos. Falamos dos ingredientes do incenso a ser oferecido sobre o altar de ouro, e dissemos que esses ingredientes representavam as virtudes morais de Cristo. Por um lado, essas virtudes precisam ser apreendidas e apropriadas pela fé, e este é um aspecto do lado moral da oração de impertinência: que a fé deliberada e persistentemente apreende e se apropria das virtudes morais e glórias do Senhor Jesus. Isto é exercício, e freqüentemente significa colocar para trás a intromissão daqueles argumentos que surgem do nosso homem natural e que iriam desencorajar a oração. Quando entramos na presença do Senhor, deveríamos certamente entrar com um senso de nossa própria indignidade, vazio e fraqueza, mas este não é o terreno do nosso exercício, pois a coisa precisa ser estabelecida. Embora geralmente positiva, a oração eficaz é interferida, paralisada e até mesmo impedida pela obsessão persistente com os nossos próprios pecados, fraquezas e impotência, e há uma necessidade de um exercício positivo nas virtudes morais e nas excelências de Cristo, a fim de que possamos tê-las em nossas mãos para nos achegarmos diante de Deus.
O inimigo irá fazer acusações e condenações diante de Deus, mas precisamos nos agarrar com ambas as mãos nas excelências do Senhor Jesus, e até que façamos isto, não iremos conseguir chegar até o trono, porque não podemos chegar lá sem essas excelências. Tem que haver uma resposta deliberada para por fim a acusação. Sabemos de alguns cuja vida de oração tem se tornado uma coisa distante, algo impossível, porque imediatamente ao se porem em oração sobrevém uma invasão de introspecção, de análise própria, e consciência de si mesmo, de coisas erradas sobre eles mesmos de modo que nunca conseguem alcançar algo positivo absolutamente.
De um lado, então, há o exercício da fé, a persistência da fé na apropriação daqueles ingredientes, daquelas excelências e virtudes do Senhor Jesus, para chegarmos diante de Deus.
Então há o outro lado do fator moral: Aquelas excelências e virtudes precisam ser trabalhadas em nossas próprias almas pelo Espírito Santo. O Senhor Jesus na presença de Deus é o Homem representante segundo o próprio coração de Deus, porém Ele não é apenas o Homem representante, Ele é o Homem de Quem todos os membros da nova criação em Cristo precisam assumir o caráter, e Seu conteúdo pleno de virtudes e excelências como Homem perfeito tem que ser distribuído a todos os Seus membros, de modo que eles tomem seus caracteres a partir do Dele e se tornem participantes de Sua natureza em suas próprias almas. Essas virtudes de Cristo foram virtudes provadas, testadas, são triunfantes, e são agora virtudes poderosas, e não simplesmente virtudes passivas. O Senhor Jesus (eu posso dizer isto reverentemente) não foi colocado num museu como um modelo, a espécime supremo apenas para ser olhado e admirado, mas há uma força e uma realidade Nele. Ele vive. Ele não é um modelo, ou uma estátua. Ele é o Cristo vivo que comunica a Si próprio, que é ministrado pelo Espírito Santo a nós, Seus membros. Sua fé não é apenas algo que foi completada, aperfeiçoada e polida, algo para ser observado como um espécime bonito. É uma fé pela qual nós devemos viver. Sua paciência é a mesma coisa. Somos chamados para sermos companheiros e participantes da paciência de Cristo. Como acabamos de mencionar, essas coisas você terá uma porção de Escrituras passando em sua mente: "Acrescentai a vossa fé...” Acrescentai, acrescentai, acrescentai – e essas virtudes de Cristo sendo acrescentadas em nós.
Somos chamados, diz o Apóstolo, para sermos “participantes de Cristo”. Assim, Sua fé, Sua paciência, Sua devoção, Sua obediência, Seu sofrimento e Seu amor foram todos provados, e triunfaram, mas não como coisas separadas de nós, mas ligadas a nós. "Ele nos tem concedido grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina...”
O lado moral da oração impertinente, então, é que as virtudes e excelências de Cristo são trabalhadas em nós. Quando a impertinência representa a necessidade de paciência por Deus não responder de imediato, hoje, amanhã, por uma semana, um mês, ou um ano, o que está Ele fazendo? Ele está trabalhando em nós as excelências morais de Seu Filho, uma fé aperfeiçoada e triunfante, uma paciência aperfeiçoada e triunfante, uma devoção aperfeiçoada e triunfante e uma obediência a Ele que não tem nenhum outro fundamento senão aquele que Ele tem requerido. A oração é um treinamento escolar de fato! Essas virtudes vêm por meio de exercício. Vamos nos lembrar de que Deus tem um propósito em vista, e que nossa participação com Cristo a que somos chamados finalmente será moral. Terá a ver com caráter; daí a vontade relativa de Deus. O pecado não é a vontade absoluta de Deus, mas Ele o tem permitido. Ah, sim, mas o relacionamento é por meio de conquista nossa, e do desenvolvimento da vida moral da nova criação. O sofrimento não é a vontade absoluta de Deus, mas Ele o tem permitido, e Ele realmente permite. É, portanto, Sua vontade relativa, que significa que Sua permissão e consentimento têm um propósito. Quando este propósito
éalcançado, o sofrimento pode ir embora, ou pode ser permitido que continue para nos manter numa certa posição, mas a posição para a qual a pessoa foi permitida foi alcançada, de modo que a vontade relativa de Deus foi feita. E isto se aplica a tudo mais. As circunstâncias, por exemplo. Muitas circunstâncias que chegam às nossas vidas não são a vontade absoluta de Deus. Um acidente não é a vontade absoluta de Deus, mas como nada pode acontecer a qualquer filho Seu sem o Seu consentimento, é Sua vontade permissiva.
Entendimento Espiritual Assegurado
Agora, isto suscita a nós a questão toda do buscar, em oração, conhecer o que Deus quer significar com as coisas. Esta é a nossa educação. Vir a conhecer o que Deus quer significar com as coisas através do exercício profundo no coração e provas este é o nosso treinamento. Alcançamos um padrão mais elevado de vida. Assim, a segunda coisa na oração de importunidade é o conhecimento. Em primeiro lugar a vida moral, e o conhecimento em segundo lugar. Há aqueles que se colocam inteiramente nas mãos de Deus, e são levados a experiências estranhas de aparente contradição. Pode haver um senso claro do que o Senhor deseja fazer, mas uma impossibilidade absoluta para fazê-lo! Nenhum caminho é aberto e todas as portas são fechadas. É demora após demora! O que o Senhor está fazendo? O primeiro efeito seria nos levar para a oração, nos estender na impertinência. Não podemos deixá-la ir. Podemos decidir deixar tudo com o Senhor, mas encontramos a nós mesmos voltando ao assunto vez após vez, e o Senhor não irá permitir-nos ficar indiferente. Bem, Ele busca um conhecimento mais pleno da nossa parte. Isto está associado com todos os caminhos do Senhor para conosco, e uma coisa, que, naturalmente, conhecemos por experiência, mas que talvez seja melhor termos mais claramente definido em nossas mentes, é que não podemos aprender princípios Divinos, ou obter conhecimento espiritual a partir de livros ou palestras. Eles apenas podem ser conhecidos na medida em que seguirem o processo de geração. Acima de tudo precisa haver a concepção, que é algo interior; então, deve haver a formação, e, então, tem que haver o trabalho de parto. É o processo da vida. Não podemos aprender coisas Divinas e espirituais a partir de manuais, nem mesmo da Bíblia. Podemos apenas aprender o que está na Bíblia ao longo da linha da experiência viva. A Bíblia não é um gramofone; é um microfone. Qual é a diferença? Um gramafone é algo armazenado em si mesmo. Um microfone é aquilo que transmite algo adiante. A Biblia não é um gramophone. Tem que vir através da nossa leitura da Palavra algo que está além da nossa compreensão. Podemos ter o conhecimento da Biblia do tipo gramophone, isto é, podemos conhecer a Biblia como um livro de ponta a ponta, podemos ter as análises e diagramas mais maravilhosos, e ainda ser – para todos os propósitos práticos e espirituais de forma viva - de muito pouco uso para o Senhor.
Porém, se tivermos uma compreensão da Palavra tipo microfone, temos as Escrituras, sim, porém mais do que isto, Deus nos fala através das Escrituras e temos algo vivo. Temos todos nós, como crianças na praia, apanhado conchas e as colocado na orelha para ouvir o rumor do mar. Trazemos as conchas para as nossas casas na cidade e as colocamos aos nossos ouvidos, e ainda ouvimos o barulho do mar. É isto algo real? É uma desilusão infantil. Pensamos da mesma forma quando éramos crianças e tínhamos a concha na cidade e ouvíamos o barulho do mar, que o barulho do mar está todo contido dentro da concha e precisamos apenas colocá-la aos ouvidos e lá está – nós ouvimos. Este é um pensamento infantil sobre a concha, mas a coisa não funciona desta maneira. Aquela concha está apenas agindo como um funil que coleta as vibrações dos sons atmosféricos e nos faz ouvir aquilo que não ouviríamos somente com os ouvidos. A concha não passa de um transmissor de algo maior.
A Palavra de Deus tomada como um livro é exatamente como aquela concha. Se estivermos no Espírito ela irá nos trazer a mente do Senhor, mas, separados da operação do Espírito em nós, a Biblia pode ser livro qualquer e nós podemos lê-la e não obter nenhuma luz dela mais do que qualquer outro livro. A necessidade é de conhecimento espiritual, porém muitos fazem da Bíblia apenas um manual.
Agora, o que estamos querendo dizer é que não podemos conhecer princípios Divinos ou obter conhecimento espiritual a partir de livros ou palestras. Esses princípios somente vêm a nós ao longo da linha da vida e da experiência. Algo de caráter vivo é realizado em nós, uma vida é formada em nós e desenvolvida, e, então, ela nos traz as provas para sua obra plena. É assim que obtemos conhecimento espiritual. Isto vem por meio de oração persistente, e este é o porquê de Deus exigir e tornar a oração persistente necessária. Começamos a conhecer coisas espirituais a partir das provas de nossas almas diante de Deus, ao longo da experiência de angústia. Muitas vezes a pressa apenas significa perda de tempo, e somos obrigados a voltar a fim de obter conhecimento mais pleno porque estávamos com muita pressa. O Senhor tem que trazer muitas pessoas de volta para trás e amarrá-las a ponto de não poderem se mexer, e mantê-las lá em exercício profundo por um longo período. Então, elas aprendem aquilo que na mente do Senhor era indispensável. Há aqueles que aprendem antes de saírem, mas, seja antes de você ir, ou seja em você voltar atrás, a mesma coisa está em vista pelo Senhor _ que você possa conhecer.
Assim, a demora do Senhor é o Seu tempo de nos arrastar para a oração persistente por causa do conhecimento espiritual.
Assumindo Responsabilidade na Oração
Então, em terceiro, há o aspecto coletivo. Neemias falou da oração que ele fez dia e noite, mas aquela oração era relativa, pois ela tinha a ver com o povo do Senhor. As orações de Cristo tinham o mesmo caráter. Elas não eram somente em favor de Si mesmo, mas estavam relacionadas a Si próprio e foram estendidas dia e noite por eles. As orações de Paulo claramente eram da mesma ordem: “não cesso de orar por vós”; "orando sempre com toda oração e súplica... por todos os santos”. Há persistência e impertinência, mas é coletiva, algo relativo. Aquela mulher da qual falamos e que está em nossa lembrança, como usamos a palavra ‘importunar’, ou ‘impertinência’, é a pessoa que confronta o juiz injusto, e ela representa a Igreja. O comentário de Cristo sobre esta palavra foi: “E não fará Deus justiça aos Seus eleitos, que clamam a Ele de dia e de noite...”
Qual é a justiça a favor dos santos em suas adversidades? Bem, é a grande coisa coletiva ao final, a grande questão quando o acusador dos irmãos for expulso, aquele que os acusava de dia e de noite diante de Deus. O grande Juiz irá fazer justiça em relação ao acusador, o atormentador da Igreja, e isto tem o seu aspecto coletivo. O incidente do amigo à meia noite era novamente uma coisa relativa, não apenas algo pessoal. O homem levantou-se porque seu amigo iria continuar batendo. O homem foi tirado da cama pela impertinência do seu amigo, mas isto estava relacionado a outras pessoas. Tudo isto representa um esquema, um plano, uma campanha, na qual todo o povo do Senhor está envolvido. Deus não está apenas nos colocando individualmente numa posição, mas está nos colocando nessa posição relativa junto com todo o Seu povo: “até que todos cheguem...” Nossa labuta, ou treinamento moral, essas contradições e demoras que nos arrastam e se estendem sobre nós estão operando em nós em relação ao Corpo. Torna-se algo relativo, pois é do interesse do Corpo.
O Senhor está procurando aperfeiçoar todo o Seu Corpo, e cada parte deve ter uma justa operação em relação ao todo. Um dia o efeito cumulativo de nossas provas, dificuldades e perplexidades serão vistas no Corpo aperfeiçoado, e nós, então, iremos ver que, quando sofremos, não sofremos isoladamente, que os nossos sofrimentos não eram coisas isoladas, mas coletivas, relacionadas, uma parte do todo, e eles contribuíram para algo maior do que os nossos próprios interesses. Precisamos permitir que o pleno propósito de Deus dê um colorido às nossas experiências pessoais. Isto pelo qual passamos não é simplesmente porque o Senhor nos marcou para sermos sofredores apenas, mas porque o Corpo todo é o Seu objetivo e nós sofremos em relação ao Corpo. Por causa do Corpo nós preenchemos aquilo que está faltando dos sofrimentos de Cristo. Os sofrimentos são relativos, você sabe. Eles não são a vontade absoluta de Deus, mas relativa neste sentido mais amplo que eles estão se movendo para um propósito maior de Deus. Quando este propósito maior for alcançado, então, esta vontade relativa de Deus nos sofrimentos irá desaparecer, e não haverá mais dor, nem sofrimento. Precisamos enxergar o plano maior de Deus e descobrir a nossa persistência e impertinência em oração afeta essas três coisas. A vida moral pessoal do cristão baseado num padrão celestial, e o aumento do conhecimento espiritual estão por trás das demoras que nos levam à oração impertinente. Há algo que iremos conhecer que ainda não conhecemos. Iremos aprender algo sobre o qual nada sabemos, e esta força que nos arrasta é a maneira pela qual chegamos a conhecer o que ainda não conhecemos.
Este exercício, esta labuta, está relacionado ao pleno propósito de Deus e tem seu lugar em relação a todos os Seus santos. Não há tal coisa de coerção na vontade de Deus. Isto é estranho ao pensamento de impertinência. Impertinência é – embora possa não parecer isso – cooperação com Deus. Podemos achar que o seu efeito é o de coagir Deus e persuadi-Lo a fazer as coisas, mas Deus tem apenas nos atraído desta forma para nos fazer cooperar com a Sua vontade. Isto é o que eu quis dizer quando disse que havia coisas a serem vencidas em nós, e todos os tipos de coisas da velha criação têm que ser vencidas – nossos desejos, nossos sentimentos, nossas preferências, nossos julgamentos, nossas concepções, nossas estimativas. No exercício, atividade e labuta da oração temos entrado em cooperação com Deus, e temos visto que, ao longo da carreira, aquilo que achávamos que estávamos tentando persuadir o Senhor a fazer coisas era o Seu modo de nos fazer chegar à posição onde Ele pudesse fazer o que Ele queria. O Senhor tem caminhos estranhos, porém, no final Ele é justificado, e “a sabedoria é justificada por todos os seus filhos".