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A Vontade de Deus em Relação a Seu Povo

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 - A Lei da Renúncia

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:5-11)

"Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé" (Filipenses 3:8-9).

“Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito”. (Hebreus 11:24-26).

Nesta mensagem estaremos ocupados com a realização da plena vontade do Senhor, para a qual Ele nos chamou. Já consideramos aquela grande lei da sua realização e cumprimento, a lei do governo da Palavra de Deus. Só conseguimos tocar na periferia desta questão, e acredito que isso ao menos o introduziu numa nova consideração, e que, devido a essa ênfase, você vai ter uma visão muito mais próxima e devotada da Palavra de Deus em todos os assuntos da sua vida. Todos aqueles que serviram ao Senhor foram pessoas da Palavra, e não apenas da letra da Palavra, mas de um relacionamento de coração com a Palavra de Deus. Todos os que de alguma forma cumpriram a função de liderança espiritual, como Josué, basearam-se, como vimos, forte e totalmente na Palavra de Deus. Tem sido assim o tempo todo. Mas, o maior Servo de todos, o Senhor Jesus, foi meticuloso para que todos os Seus movimentos fossem de acordo com a Palavra. As Escrituras tiveram um lugar tão importante em toda a Sua vida, conduta, ensino e obra, que Ele se tornou conhecido como “a Palavra de Deus”. A Palavra não é apenas algo escrito em um livro. Tem que se tornar pessoal, personificado na vida, no caráter e em todos os sentidos, se quisermos ser úteis aos outros, para sermos capazes de cumprir qualquer responsabilidade, como ocorreu com aqueles homens na Igreja primitiva em Jerusalém e em Antioquia, que foram homens que esperaram em Deus pela Sua Palavra. Eles não organizaram a Igreja, nem programas, planos e esquemas. Eles nunca introduziam nada até que esperassem no Senhor pela Sua Palavra, perguntando: 'Isso está de acordo com o que foi revelado?' Esse é o único caminho para o crescimento da Igreja e para a sua edificação.

Bem, como vocês podem ver, isso abre uma porta muito grande, mas não vamos mais longe nesse assunto. Apenas enfatizo novamente que uma lei atrelada ao progresso espiritual na vida individual, na vida da igreja, local e universal, é o governo absoluto da Palavra de Deus, da lei e do testemunho. Se não estiver de acordo com isso, então correrá perigo.

Assim, passamos agora para outra lei deste progresso na vontade de Deus até a sua realização final. Devemos lembrar que somos chamados para isso. É inerente à nossa vocação, não se trata de algo adicional, nem opcional. É fundamental, intrínseco, na vida cristã. Vamos falar agora sobre outra lei da vontade e propósito de Deus em nosso chamado, e é o que nos é apresentado nesses textos das Escrituras que selecionamos para esse propósito. Chamo de “lei da renúncia”.

A Grande Renúncia

Em Filipenses 2 o Senhor Jesus nos é apresentado em termos da grande renúncia. Ele era igual a Deus, mas, como diz a margem, Ele considerava isso não como algo a se aferrar, agarrando tenazmente, mas Ele se ”esvaziou”. Ele fez a grande renúncia no céu.

O apóstolo Paulo captou essa mentaliade, que ele exorta os cristãos a terem o mesmo pensamento. Ele entendeu o ponto! No grande encontro com o Senhor no início da sua vida cristã, ele entendeu. Ele viu, e então todas as outras coisas, por maiores que fossem - e eram muitas e eram grandes, como ele nos diz naquela Carta aos Filipenses - perderam o controle sobre ele, porque alguma outra coisa o agarrou, e Paulo diz que fez a grande renúncia, talvez não na mesma dimensão do Senhor Jesus, mas do que para ele era tudo, como foi com o Senhor. Nosso tudo pode não ser tão grande quanto foi o tudo do Senhor, mas se for tudo, bem, é completo e final. Paulo diz que ele considerou todas essas coisas, esse catálogo de vantagens que lhe pertenciam por nascimento, educação, treinamento e conquista, como lixo. Ele renunciou a tudo isso. E pela grande renúncia do seu Mestre e de si mesmo, a Igreja teve imenso benefício através de todas estas gerações - e é a esse ponto que devemos chegar em breve.

Depois lemos um texto sobre Moisés, embora pudéssemos ter mencionado muitos outros naquele capítulo 11 de Hebreus. Escolhemos Moisés, que renunciou a tudo o que tinha no Egito, ao aprendizado, à corte do Faraó e a todas as vantagens que tinha ali. Ele fez a grande renúncia. Por que? Novamente, por causa do povo de Deus.

A distorção do bem em mal

Esse é o ponto, mas antes de chegarmos à sua aplicação, deixe-me lembrá-lo que uma das marcas e traços claros do diabo e de sua obra é a distorção do bem em mal, de transformar coisas boas em coisas más. Satanás não cria nada, pois ele não é um criador, mas tenta transformar o que foi feito para o bem em mal. Portanto, você tem toda uma lista de paradoxos na Bíblia, e é fascinante acompanhá-los até o fim, mas não vou fazê-lo nesse momento. Vou apenas te dar uma dica. Há toda uma lista de paradoxos, de aparentes contradições, e elas estão nesta esfera de coisas boas na intenção Divina transformadas em coisas ruins.

Vejamos a questão da ambição. Na verdade, a ambição é a mãe de muitos males. Veja aonde a ambição nos leva no mundo! Há tantos homens e mulheres ambiciosos que, para realizarem a sua ambição, pisarão em todos os princípios e ignorarão todas as sensibilidades. A ambição é uma força motriz para conseguir algo, para ser alguém, para dominar, para governar. Não vimos algo disso durante a nossa vida? Que coisa, essas pessoas ambiciosas cujos nomes poderíamos mencionar, que lançaram o mundo no estado mais angustiante e terrível!

Literalmente, multidões foram assassinadas pela ambição de um homem! Não precisamos nos prolongar muito nisso. É isso que a ambição pode se tornar, e ela entrou na Igreja de Deus. Homens, como Pedro chama, “dominadores” da herança de Deus, querendo ser algo na Igreja e ter poder. Eles estão apenas cumprindo alguma ambição secreta, e talvez não tenham essa intenção ou a realizem, mas outros o fazem.

Bem, aqui está algo que é mau, mas Deus criou a ambição! É uma coisa Divina. Nossas traduções não nos ajudam muito nisso, mas Paulo disse: “Temos como ambição ... agradar-lhe” (2Co 5:9 – margem RV). Paulo, você redimiu um palavrão! Você salvou algo que estava extraviado, que o diabo capturou e usou para seu próprio uso, pois foi a ambição de Satanás antes de sua queda que trouxe essa queda, e ele, como uma serpente, injetou esse veneno na natureza humana. Será que deveríamos manter a palavra “ambição” fora da linguagem sagrada? Não! É algo Divino.

Poderíamos continuar com uma série de paradoxos e contradições como essa. Paulo nos deu uma lista em um só lugar: “Entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” (2Co 6:10). Esses são paradoxos, não são?

Aqui, neste mesmo capítulo, Filipenses 2, e nesta mesma consideração da grande renúncia, estamos na presença de uma destas coisas que foram distorcidas. Satanás tomou posse de algo que Deus criou e colocou no homem e no Seu universo. O que é? O desejo de adquirir, possuir, ter. Não é errado ter, adquirir, possuir. Não travamos muitas batalhas sobre esse assunto, se devemos ter algo e se é certo possuir aquilo? Em sua própria natureza existem vestígios desse elemento Divino, dessa ambição. Sim, Deus colocou isso em nossa constituição. A Bíblia está repleta disso. Estávamos olhando para Israel anteriormente, e quantas coisas o Senhor lhes disse sobre 'ter'! 'Eu os levarei a uma terra que mana leite e mel, e é para vocês possuírem. Quero que vocês a possuam, sejam um povo rico. É tudo para vocês. Todo lugar que a planta dos seus pés pisarem eu vos dei.'

Contra isso está a grande renúncia. Seria uma contradição? A renúncia é uma lei de ter – o Senhor Jesus entregou, e a Ele foi dado. Ele renunciou e foi dotado de toda a plenitude do céu.
Satanás, então, usa esta coisa Divina, distorce algo que é de Deus e é bastante correto em sua própria natureza, e torna numa coisa má, de modo que hoje neste mundo temos esta terrível assertividade, este querer obter controle, possuir, ter.

Para que serve?

A resposta a essa pergunta é a resposta ao paradoxo. Para que você quer alguma coisa? E, veja você, é exatamente aí que o inimigo fez seu trabalho, introduzindo o poder da individualidade, esse desejo de atrair para si, de ter, manter, valorizar. Assim, quando lemos: “Ele se esvaziou ”, há toda a história da redenção no esvaziamento de si mesmo, e da maravilhosa questão neste universo ao longo da linha da redenção – o que o homem terá pelo dom de Deus e o que podemos receber agora por Seu dom de maneira espiritual.

Cada bênção do espírito nos lugares celestiais em Cristo e a plenitude à qual somos chamados na vontade de Deus seguem a linha da conversão do eu, esta volta do eu para Deus.

Agora, por favor, não deixe esse princípio funcionar de maneira errada! Foi aqui que Pedro cometeu um deslize, porque ele não estava convertido na época. Sei que serei desafiado nisso, mas há um sentido real em que Pedro não se converteu até o Dia de Pentecostes. Não discutiremos isso agora, e você pode dizer o que quiser sobre isso, mas quando o Senhor veio com a bacia de água e a toalha a Pedro para lavar os seus pés, Pedro disse: “Nunca lavarás os meus pés!" Então o Senhor disse: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (Jo 13:8). 'Oh, bem', disse Pedro, 'eu quero.' Você vê o que quero dizer? Poucas horas depois disso, ficou provado que era realmente Pedro quem estava à vista, que ele queria tudo o que pudesse obter, até mesmo das coisas divinas. E quando digo que você alcançará uma grande plenitude se aprender a lição da renúncia, tome cuidado com sua ambição de plenitude! para quem é isso? Para que serve? É para você mesmo ou é para o Senhor?

A Vindicação de Deus na Criação do Homem

O princípio que está por trás de Filipenses 2 é: O Senhor Jesus abriu mão de tudo o que Ele tinha de glória celestial e de igualdade com Deus, não para Si mesmo, pois já era Seu e não havia nada que Ele precisasse fazer para realçar a Sua própria posição e direitos, mas aquilo foi para a vindicação de Deus na criação do homem.

Deus criou o homem e assumiu uma tremenda responsabilidade ao fazê-lo. Você não se sente mal com frequência por causa disso? Ah, a natureza de vocês deve ser melhor que a minha, porque às vezes tenho sido tentado a pensar: ‘Será que Deus foi justificado em criar o homem, coletivamente como ele está hoje?' Penso na história do homem e, realmente, nem vale a pena pensar nela! Mas Deus a fez. Ele assumiu o risco e a responsabilidade de nos criar. Às vezes tenho que me voltar ao Senhor e dizer: 'Senhor, Tu me fizeste! Você me deu um ser! Foi pela Tua lei que eu nasci! Foi Sua responsabilidade!' Bem, isso às vezes é útil, mas parar por aqui.

Deus teve que ser vindicado em Sua responsabilidade criativa e, portanto, Ele teve que salvar este homem que Ele havia feito. Além disso, Ele teve que ser glorificado neste homem, e não há salvação nem glorificação enquanto o homem for uma criatura egoísta. O egoísmo estraga tudo e rouba toda a glória, onde quer que seja.

Portanto, aquela coisa profunda tinha que ser tocada e tratada, não de forma teorica, nem doutrinária, nem teologicamente, mas de forma real. E, a única forma de forma de lidar efetivamente com alguma coisa, é tomarmos aquilo em mãos e destruirmos nós mesmos, nos tornando na encarnação do seu oposto por meio de uma obra poderosa de Deus.

Portanto, o motivo que levou o Senhor Jesus à grande renúncia, ao desapego, foi a vindicação de Deus, a justificação da criação e a possibilidade do homem chegar a essa glória em comunhão com o Pai no céu para sempre. Foi exterior, primeiro para a vindicação de Seu Pai e, em segundo lugar, para a redenção do homem daquela distorção que o diabo trouxe e pela qual tantos danos foram causados. Foi a nossa salvação de alguma coisa que o diabo plantou na nossa raça, o que era uma contradição com o que Deus queria dizer. Tudo isso era exterior, e não era algo para o próprio Senhor Jesus.

Agora lemos sobre Sua vida novamente. Tudo isso está incluído nesta descrição em Filipenses 2: 'Ele se esvaziou... Ele se humilhou... Ele assumiu a forma de um servo... Ele foi encontrado em figura humana… Ele se tornou obediente até a morte.' - e na forma de morte mais vergonhosa e ignominiosa que o mundo já conheceu! Sempre se soube que a crucificação era a pior forma de morte possível.

Mas Ele foi direto para ela! Isso é abrir mão de si mesmo e de todo interesse próprio, não é? Isso foi renúncia! E tudo isso era primeiro para o Pai, e foi por isso que Ele sempre falava, enquanto esteve na terra, do 'Meu Pai... Meu Pai'. Foi para a vindicação do Pai e para a redenção do homem para a glória, a transformação e transfiguração da humanidade.

Nossa Renúncia

Agora, queridos amigos, estamos nesse caminho. Você não percebeu que o trato do Senhor conosco quando Ele nos toma em Suas mãos, quando Ele realmente consegue nos redimir, segue essa linha? Repetidas vezes, no decurso da nossa experiência cristã, deparamo-nos com uma situação em que nos perguntamos: 'Vamos aguentar ou largar?' Vamos entregar? Podemos entregar? Podemos realmente renunciar? Ficamos presos até que isso seja resolvido! Nós simplesmente não podemos superar isso. Pode ser um incidente em nossa vida, ou pode ser o que poderíamos chamar de algo pequeno em comparação com outras coisas, mas aí está. 'Devo entregar? Devo continuar segurando? Devo colocar este osso entre os dentes e morrer de preocupação, e não soltá-lo?' Devo repetir: não há caminho a seguir até que isso esteja resolvida.

Você, por outro lado, não experimentou o que significa quando finalmente, tendo buscado a graça de Deus, você se entrega e diz a Ele: 'Tudo bem, Senhor, tirei minhas mãos. Não estou apenas renunciando’. Tenha cuidado para não se resignar ao seu destino! Essa não é a vontade de Deus. Não deve haver uma atitude negativa ou passiva, mas sim positiva: 'Senhor, se é isso que Tu queres, está aqui, e acredito que tens um propósito em me levar a esta posição de desapego, de renúncia.' Quando chegamos nesse ponto, algo acontece e tudo o que queríamos, conseguimos! É estranho que funcione assim, mas e o caso de Abraão e Isaque? Abraão não poderia ter resistido? Não poderia ter discutido com Deus? Ele não poderia ter se apoiado na sua tenacidade em relação a Isaque, lembrando ao Senhor do que Ele havia dito? Ah, sim, ele poderia ter construído um argumento incrível contra a oferta de Isaque, mas chegou ao ponto da grande renúncia. Ele se entregou a Deus, e o que ele conseguiu? Ele não apenas recuperou Isaque, mas também uma nação! “Em tua descendência serão benditas todas as nações da terra” (Gn 22:18). Foi de dentro para fora.

Você vê o alcance, o tremendo potencial da renúncia? Escolhemos Moisés dentre todos aqueles mencionados em Hebreus 11. Ele também poderia ter argumentado com o Senhor com base na soberania: 'Bem, Senhor, a Tua soberania ordenou que quando todos os bebês estivessem sendo massacrados, eu fosse poupado, e aquela menina do Faraó apareceu naquele dia. Foi na Tua soberania que fui resgatado e levado direto para o palácio e criado na casa do Faraó, educado de acordo com a sabedoria dos egípcios. Sua soberania estava nisso!' Mas a questão era: ele abandonou isso tudo, e foi um grande “tudo”. Moisés renunciou a tudo. Por que? Porque ele havia se convertido, talvez não no sentido do Novo Testamento, mas havia se convertido. Ele se virou, para dentro, para as pessoas. Para a sua raça, e o povo de Deus, estava, como sabemos, no seu coração: "Escolheu ser maltratado com o povo de Deus" - e aí está o seu motivo: o povo de Deus. 'O que posso perder não importa, desde que o povo de Deus obtenha o benefício e a bênção.'

Você vê o ponto? Cristo estava se replicando na vida desses homens com base no princípio da renúncia; e porque Ele, o Filho de Deus, fez a grande renúncia, “por essa razão” – e que “porque”! - "Deus o exaltou muito, e lhe deu o nome que está acima de todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, das coisas nos céus e das coisas na terra" - e aqui está uma peculiaridade - "coisas debaixo da terra". Você sabe, coisas assim são ditas com bastante frequência na Bíblia, mas a terceira dimensão, “coisas debaixo da terra”, é deixada de fora em outras ocasiões quando os céus e a terra são mencionados.

Vou deixar isso para você pensar! Neste caso o submundo também irá se curvar diante dEle! Sua renúncia significa que todas as dimensões do universo serão afetadas. Que alcance é afetado pela capacidade dEle se entregar a Deus!

Acho que nem preciso dizer mais além disso. Deixar ir é uma das coisas mais difíceis que nós temos que aprender! O Senhor Jesus era “manso e humilde de coração”, e mansidão é apenas altruísmo, o aspecto exterior da vida. Não ter coisas para nós mesmos, mas pensar quanto os outros podem ganhar se tivermos que perdê-las, e se com a nossa perda o Pai pode ganhar o que deveria receber e as pessoas que Ele criou podem ser beneficiadas.

A Lei do Alargamento

Essa é a lei do alargamento. Você notou que parei na leitura de Hebreus 11 sobre Moisés em determinado momento, porque sempre tenho medo desse nosso miserável interesse pessoal! Ele está sempre lá e pronto para atacar qualquer coisa. Eu não li: “porque contemplava o galardão.". O Senhor nos prometeu expansão ao longo da linha da renúncia e da perda, mas não deveríamos ser motivados pela recompensa, deveríamos? Nenhum servo do Senhor deve ser motivado pelo que irá obter com seu serviço. "Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer."

No entanto, podemos dar a isso uma ênfase correta e adequada devido ao ponto de partida. Você está seguindo a linha de pensamento? É a vontade de Deus para você, para mim, para a humanidade, que sejamos ampliados com toda a plenitude de Deus, que tenhamos tudo o que Ele pode dar, mas não egoisticamente, não para nosso próprio benefício, mas para Sua glória, Sua vindicação, e se chegarmos à glória e Ele for capaz de nos dar da Sua plenitude, dotar-nos de riquezas celestiais, tenho certeza de que teremos encontrado na disciplina da renúncia o terreno certo para sermos recompensados.

Veja, qualquer pessoa que realmente tenha passado por aquela realidade profunda e desesperada de enfrentar a perda de alguma coisa, possessão, ou alguma coisa que significava muito para ela, de fato, aquilo deveria ser tudo para ela, e essa perda poderia ter arruinado sua vida, pois isos a confrontou com a questão da disposição de se entregar ao Senhor. Significou a devastação para a individualidade, a ambição, mas quando essa devastação ocorreu e ela saiu do outro lado, estava tudo bem. Não havia mais batalha, pois tudo estava concluido, e então o Senhor garantiu o Seu terreno para nos recompensar, para nos dar. É seguro para Ele fazer isso agora.

Eu me pergunto quantos de vocês, servos do Senhor, às vezes disseram ao Senhor: 'Senhor, você pode confiar em mim com isso? Você pode confiar essa bênção a mim? Você pode realmente confiar em mim para fazer isso por você? Eu conheço meu próprio coração. Conheço meu orgulho, ganância, amor por lugar, posição, influência e assim por diante, e temo que, se Tu abençoares, eu possa, sutilmente, obter alguma gratificação para mim mesmo. Você pode confiar em mim?’

O Senhor está trabalhando para nos levar ao lugar, queridos amigos, onde Ele pode confiar-nos a responsabilidade eterna e celestial, e Ele sabe quando aquela coisa profunda e maligna em nossa natureza foi tratada pela disciplina da renúncia. É muito verdadeiro com a vida espiritual, não é?

São tantas tensões! Não estamos sofrendo nesta vida devido a pressão e tensões nervosas? Sim! mas a que se devem tantos colapsos nervosos e muita dessa intensidade errada que tanto nos prejudica, nervosa e fisicamente? Não conseguir o que queremos! Não estamos conseguindo aquilo que desejamos! Deus não está dando isso a nós, ou fazendo isso por nós, e então entramos nesse estado de tensão, pressão, na vida. A vida se torna uma tensão, e até mesmo a vida cristã se torna uma tensão terrível. Se você não sabe nada sobre isso, você é uma pessoa muito afortunada, mas é verdade para todos nós. Encontramos pessoas em todos os lugares que estão sob pressão. Você pode ver isso em seus rostos. E qual é o problema? Eles não aprenderam a se entregar a Deus. Sabemos, pelas experiências que tivemos, que quando chegamos ao ponto onde nos entregamos ao Senhor (e sou muito específico em dizer ‘entregar ao Senhor!'), surge uma calma, um descanso, e uma paz maravilhosa. A batalha acabou e a tensão desapareceu. Isso é muito verdade.

A grande renúncia feita pelo Senhor Jesus foi identificar-se com o homem caído. A tentação não tem sentido algum se não houver onde trabalhar, e assim, quando o diabo veio até o Senhor no deserto e Lhe ofereceu os reinos do mundo, não seria tentação se Ele não tivesse coração para os reinos do mundo. Ele poderia dizer: 'Você pode ficar com eles, isso não me interessa. Os reinos do mundo não têm nenhuma importância para mim.' Não haveria tentação, não é? Mas se os reinos deste mundo fossem o próprio objetivo para o qual Ele veio, temos uma tentação, e uma tentação sutil, que apela à vida da alma. O Filho do Homem identificou-se com o homem, conhecendo muito bem as tentações do homem e a ambição natural do homem. Ele foi tentado em todos os pontos como nós somos, sem pecado, mas Ele venceu. Como? Não venceu dizendo: 'Não estou nem um pouco interessado nisso. Isso não é uma tentação para Mim!' Mas venceu dizendo: 'Terei os reinos deste mundo, mas não a partir das tuas mãos, Satanás! Não como um dom seu, e não de acordo com a sua linha. Vou para a cruz e lá irei destruí-lo e colocar os reinos em terreno adequado.'

Então Ele veio à semelhança do homem, conhecendo as suas tentações, sem a natureza pecaminosa, mas com uma alma humana que poderia ter ambição por si mesma ou por Deus. Nessa tentação, então, a resposta do senhor foi o Pai e cada palavra que o Pai havia falado veio primeiro. O campo de batalha foi: 'Não para Mim, mas para o Pai e para os outros.'

Será que você me acompanhou? Acho que estamos tocando em coisas que são muito reais na vida espiritual! Toda esta questão da identificação do Senhor conosco foi para nos salvar, e para nos salvar da nossa individualidade, da nossa egoísmo, através da conversão voltando-nos para Deus.

A vida de um cristão, então, é simplesmente a vida que é para Deus. Somos testados nisso com frequência e, quando vencemos, chegamos ao descanso, à paz, à tranquilidade. A batalha acabou – até a próxima vez! Mas é assim que crescemos. Lamento dizer, mas a próxima batalha será mais severa. Entretanto, quando você entra nisso, aprendeu alguma coisa. Você não entra no mais severo sem saber o que isso significa, e é capaz de dizer: 'Oh, bem, passei por algo assim antes, e aprendi como passar por isso pela graça de Deus. Isso é um pouco mais difícil, mas é o mesmo princípio. Não vou lutar pelo meu caminho, nem pelos meus próprios interesses. Não vou exercer essa minha disposição de buldogue para agarrar isso e não soltar, mas estarei pronto para colocar tudo no altar para Deus.' A solução vem por aí. É a lei da renúncia progredindo em direção à plenitude Divina.

O Senhor nos dê compreensão e ajuda da Sua Palavra!

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.