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"Para Que Eles Sejam Um, Assim Como Nós Somos Um" - Volume 1

por T. Austin-Sparks

Reunião 5 - "Adoração em Espírito e em Verdade"

Quinta Reunião
(5 de Fevereiro , 1964 A.M.)

Acho que está entendido que não estou dando sermões a esta hora da manhã. Estou apenas procurando trazer os irmãos aos princípios fundamentais da obra de Deus. Pode ser um trabalho duro trazer-nos de volta ao Senhor Jesus. Não demorou muito tempo após os apóstolos terem partido para que todas essas coisas com as quais estamos familiarizados hoje entrassem no Cristianismo. O batismo infantil tomou o lugar do batismo por imersão através da fé em Jesus Cristo. Isto foi instituído logo após o apóstolo João ter partido para o Senhor.

O Cristianismo, então, foi organizado num sistema eclesiástico de Bispos e Arcebispos que levam a um Papa. Os paramentos e rituais do Cristianismo mais tarde surgiram bem nesse tempo. Pessoas que estavam em autoridade foram colocadas lá, não porque eram homens espirituais, mas por outros motivos. Esta tendência já estava começando a se manifestar antes de os apóstolos terem terminado seus ministérios. É muito importante que tomemos nota disso, porque temos herdado um Cristianismo que não é verdadeiro conforme a sua origem.

Agora, tomem vocês aquilo que pode ser a última Carta do apóstolo Paulo, isto é, a Segunda Carta a Timóteo. Naturalmente, há muitas coisas nesta carta das quais gostamos muito. Gostamos de Segundo Timóteo capítulo dois, versículo quinze: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade". Mas nem sempre reconhecemos que essas palavras contêm um corretivo. Elas podem ser uma chamada à posição original. Naturalmente, gostamos muito de: "sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo". Mas nem sempre reconhecemos que isto segue junto com: "Milita a boa milícia da fé" (1 Tim. 6:12). A batalha do soldado de Jesus Cristo é a batalha pela pureza da fé. Isto é, a pureza do Cristianismo tal como era no princípio. Temos que ler Segundo Timóteo à luz desta verdade. Esta carta foi escrita porque as pessoas não estavam se comportando adequadamente na casa de Deus. Paulo disse ter escrito esta carta para que os homens pudessem saber como se comportar na casa de Deus. Havia um mau comportamento na casa de Deus. E vocês sabem que Timóteo provavelmente era um ancião na igreja de Éfeso. Isto foi algo terrível de se dizer para Éfeso. Pense em tudo aquilo que vocês conhecem sobre Éfeso. E, então, disse Paulo, até mesmo em Éfeso os homens não estão se comportando adequadamente na casa de Deus.

Mais adiante iremos abordar algumas das coisas que precisavam ser corrigidas. Para o momento, o nosso assunto é que, já lá no início, as coisas estavam começando a se desviar de sua posição original. As últimas cartas escritas no Novo Testamento foram as Cartas do Apóstolo João. Ele escreveu as suas cartas após todos os demais apóstolos terem partido para o Senhor. Suponho que todos nós gostamos das cartas de João. E suponho que, talvez, gostemos mais do Evangelho de João. Mas, vocês realmente observaram a marca das cartas de João? Ele começa a primeira carta com as seguintes palavras: "O que era desde o princípio". Isto os leva direto para o princípio. E, então, as cartas têm a ver com correção de doutrina e de caráter. Os irmãos estavam se desviando do ensino original. Estavam se desviando do padrão de vida original. Observem novamente, João provavelmente estava escrevendo a Éfeso. Então, quando vocês chegam ao seu livro do Apocalipse, o Senhor começa com Éfeso. E Ele diz: “Deixaste o primeiro amor”. Vocês saíram da posição original. Acho que já falei o suficiente para provar que, ao final dos escritos do Novo Testamento, de um lado, as coisas já estavam começando a se desviar da posição original. Do outro lado, os apóstolos estavam preocupados em trazer de volta os crentes à posição inicial.

Por muito tempo eu costumava me perguntar por que os Evangelhos foram escritos tão tarde no Novo Testamento. Por Mateus, Marcos, Lucas e João aparecerem por primeiro no Novo Testamento, como nós os temos, pois são os primeiros livros ligados ao volume do Novo Testamento, somos inclinados a ter a impressão de que eles foram os primeiros livros escritos. Gostaria de corrigir isto, se este for o equívoco de vocês. Esses quatro Evangelhos foram escritos muito após as Epístolas terem sido escritas. Eu costumava me perguntar o porquê disso. Por que deveriam esses escritores dos evangelhos voltar à vida terrena do Senhor Jesus após todas estas maravilhosas revelações terem sido dadas? Eles tinham recebido a maravilhosa revelação da ressurreição e ascensão do Senhor aos céus. Tinham recebido a maravilhosa revelação da Igreja, que é o Seu Corpo. Tinham chegado a ver algo do eterno conselho de Deus. E, após terem recebido tudo isto, voltaram direto para a Sua vida terrena de três anos e meio. Por muito tempo eu costumava me perguntar o porquê disso. Para mim isto significava descer do céu à terra, sair da eternidade e entrar no tempo. Não compreendia isto. Assim, debrucei-me sobre as espístolas, e, por muitos anos, fiquei completamente ocupado com elas. Fiquei tomado por esses conselhos eternos de Deus. Pelo Corpo espiritual de Cristo, a Igreja.

Vivia quase que inteiramente nesses últimos escritos do Novo Testamento. Contudo, o fato continuava lá: aqueles homens escreveram os evangelhos depois de as epístolas terem sido escritas.Isto é, muitas das epístolas, não todas. Agora, eu tinha uma questão, e por muito tempo ela não foi respondida. Eu não compreendia por que os evangelhos foram escritos tão tarde. E, embora tivesse sido escritos depois de algumas epístolas, o Espírito Santo colocou-os em primeiro lugar no Novo Testamento.

Aqui está uma lei espiritual. O Espírito Santo nem sempre está muito preocupado com a cronologia. Cronologia é uma coisa, ordem espiritual é outra. Vocês entendem? O Espírito Santo está sempre preocupado com a ordem espiritual. Bem, aqui estava a minha questão, mas eu a tive respondida em minha própria experiência. Mais tarde, o Espírito Santo levou-me de volta aos evangelhos.

Quero colocar aqui outra coisa; algo muito importante. Quando comecei a ler a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, fiz o que muitas pessoas fazem. Li os quatro evangelhos como uma história da vida terrena, da obra e do ensino de Jesus. É uma história muito interessante a forma como Ele nasceu na pequena cidade de Belém, os pastores, os sábios, a estrela e todas aquelas coisas. Muito interessante. Como cresceu na oficina de carpintaria da cidade de Nazaré. Como, aos doze anos, foi levado ao templo em Jerusalém. Como foi ao Jordão para ser batizado por João, o Batista. Como Ele percorreu o país, curando as pessoas de suas enfermidades, ajudando-as em seus problemas. E quão grandes multidões O seguiam por toda parte, por causa da ajuda que Ele podia oferecer a elas, geralmente de forma física. Então, como as autoridades ficavam com inveja de tudo isso, e tomavam conselho para matá-lo. É uma história espantosa a forma como Ele foi condenado e crucificado, e como foi ressuscitado ao terceiro dia. Tudo isso compõe uma maravilhosa história. Naturalmente, esta era a forma como eu lia os evangelhos. Eu tinha obras de referência, livros sobre a vida do Senhor Jesus, livros muito interessantes, e isto era tudo o que os evangelhos significavam para mim. Eu pensava que, quando Jesus morreu e ressuscitou, que isto foi o fim dos evangelhos.

Passamos por Atos e ficamos nas Epístolas! Cheguei a pensar que isto era tudo. Todo mundo pode ler os Evangelhos desta maneira. Suponho que qualquer pessoa não convertida ficaria interessada em ler a história da vida terrena de Jesus, mas nós falhamos em reconhecer o seguinte: que ninguém realmente pode compreender os Evangelhos até que passe pela experiência do Livro de Atos. Pela experiência do Pentecoste. Vocês sabem que até mesmo os próprios discípulos não compreendiam nada, até passarem pelo Pentecoste. Não compreendiam a obra e o ensino de Jesus, até passarem pelo Pentecoste. Eu poderia agora gastar uma hora mostrando isso a vocês. Eles se moveram, durante toda a vida terrena de Jesus, com um céu fechado. Este era o problema que o Senhor Jesus tinha em relação a eles. Ele disse: "Há tanto tempo tenho estado convosco e ainda não me conheceis?" E durante todo o percurso, Seu problema era que os Seus discípulos não compreendiam o que Ele estava falando.

E por causa desta cegueira espiritual, ao invés de enxergar que em Sua crucificação todo o Velho Testamento estava cumprido, eles ficaram todos ofendidos. Sobre Sua morte, Ele sempre falou que “convinha que as Escrituras se cumprissem”. E, quando se cumpriram, Ele disse: “Isto é o que eu estava tentando dizer a vocês o tempo todo”. Mas eles não enxergavam, e por isso ficavam ofendidos. Todos eles abandonaram Jesus, e vocês sabem a posição que eles ficaram, olhando para aqueles dois homens no caminho de Emaús. Eles falaram: "Esperávamos que fosse Ele quem redimisse Israel. Todas as nossas esperanças se foram. Nossa fé tem se confundido". Percebem quão cegos eles estavam? Eles só enxergaram quando o Senhor lhes abriu os olhos. Meu ponto é o seguinte: Ninguém consegue verdadeiramente compreender os Evangelhos enquanto não receber o Espírito Santo, e chegar a uma real e profunda experiência de morte e ressurreição com Cristo; pois é esta experiência, não a doutrina, que abre o céu para nós. Quando eu passei por esta experiência de ressurreição e união com Cristo, e de nova vida no Espírito Santo, o Espírito Santo começou a me levar de volta aos Evangelhos, e me mostrou o real significado deles. Os Evangelhos tinham se tornado vivo. Agora, tudo isto é uma preparação para o que vamos falar.

Chegamos, então, aos ajustes que a nossa vida espiritual exige, e vamos direto para o início. Comecemos no quarto capítulo do Evangelho de João. Este capítulo, como vocês sabem, contém a conversa que Jesus teve com a mulher de Samaria. Numa determinada altura da conversa, a mulher disse as seguintes palavras, as quais estão no versículo dezenove. A parte importante de todo este capítulo está nos versículos dezenove a vinte e quatro. "A mulher disse: “Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoravam neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar”. Jesus, porém, disse a ela: “Mulher, creia-me, a hora vem e já é, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis ao Pai. Vós adorais o que não conheceis, pois a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade: pois aos tais o Pai procura, que assim o adorem. Deus é Espírito, e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade”. Voltemos ao capítulo cinco, verso vinte e cinco: “Em verdade, em verdade vos digo, a hora vem, e agora é, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que ouvirem viverão”. Agora, eu me pergunto se vocês reconhecem as coisas tremendas que estão contidas nestas palavras. Primeiro, elas representam uma mudança completa na dispensação. Até então, tinha sido Jerusalém e Samaria; isto é, era o templo em Jerusalém e o templo em Samaria. Esses templos representavam toda uma ordem de coisas. Era uma questão de lugar especial em Samaria ou em Jerusalém, conforme você fosse um samaritano ou um judeu. Se você fosse um judeu, Jerusalém era o centro de tudo. Em lugar algum você encontraria Deus, somente no templo. A ordem de coisas no templo em Jerusalém era tudo, e você não iria encontrar isso em nenhum outro lugar. Os sacerdotes, os sacrifícios, o altar e tudo mais, aquele templo era o centro de todas as coisas.

Do mesmo modo era para os samaritanos no templo em Samaria. Agora Jesus diz algo tremendo. "A hora vem, e agora é, quando nem em Jerusalém nem em Samaria; nem neste lugar especial, nem naquele”. Nada mais irá ficar centralizado e contido em algum lugar especial. A adoração a Deus não mais ficará sujeito a uma forma específica. Isto acaba, em um só golpe, com toda aquela dispensação. É algo tremendo.Suponhamos que vocês escrevessem num quadro negro e colocassem nele todas as suas doutrinas, práticas, e coisas que vocês deveriam fazer. E dissessem: “Isto é Cristianismo”. E alguém chegasse com uma esponja e apagasse tudo, e dissesse: “Isso é um absurdo; não é dada disso”. O que vocês fariam com esta pessoa? Vocês o crucificariam. E foi isso o que Jesus fez. Ele acabou com toda uma dispensação com apenas um golpe de sua mão. Ele colocou outra coisa no lugar. O que foi que Ele colocou no lugar? "Deus é Espírito: e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade".

Todo o velho sistema de coisas pode ser muito real para vocês, mas ele pode não ser verdadeiro. Pode ser apenas um sistema de símbolos e tipos, e isto não é a verdade. Vocês podem se ocupar com o que está na superfície, e com o que é visível: com o que vocês ouvem com os ouvidos naturais, com o que vocês enxergam com os olhos naturais, e podem não entender o significado disso tudo. É o significado que é a verdade, não a coisa em si. O centro de tudo para os judeus era a cerimônia da circuncisão. Este era o sinal de que você de fato era um verdadeiro judeu. Você jamais poderia ser um judeu a menos que fosse circuncidado. Ouçam o que o Apóstolo diz: “Nem a circuncisão, nem a incircuncisão é coisa alguma". É um judeu que está dizendo isto! Vocês não ficam surpresos por terem os judeus tentado matar Paulo. Não, este não é o assunto, e, caros amigos, no Cristianismo o batismo toma o lugar da circuncisão; mas o batismo não é nada. Na Etiópia, os cristão cópticos são batizados todos os anos. Vocês poderiam ser batizados todos os dias se quisessem. Poderiam ser batizados a cada hora do dia, e isto não faria qualquer diferença. Se vocês vão à Mesa do Senhor toda a semana, isto não faz diferença. Vocês podem adotar qualquer forma de cristianismo, e realmente ainda não saberem nada a respeito dele. É isto que iríamos estudar esta manhã.

Mas o meu tempo acabou; prometo que vou deixar vocês irem para os seus trabalhos; assim, tenho que interromper aqui neste ponto. Vocês entenderam esta primeira coisa? Iremos continuar, se o Senhor permitir, amanhã de manhã. Quando Jesus disse: “Creiam-me, a hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade”. A coisa não precisa ser em Jerusalém, nem em Samaria, nem em Antioquia, ou em qualquer outro lugar. "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles". João três, versículo dezesseis, é a palavra universal para a salvação. "Todo o que nele crer", isto inclui a todos em relação à salvação, chamados à salvação. Mateus dezoito (verso 20) é o outro lado das coisas, lá vocês têm a Igreja. E vocês têm outra palavra universal para Igreja. Não é neste ou naquele lugar; não é neste terreno ou naquele. Não é no terreno da Igreja; é o terreno de Cristo! Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, adorando em espírito e em verdade. Adispensação mudou. Esta é a primeira corretiva que se faz necessário hoje. O Cristianismo se tornou um grande sistema legalista. "Vocês precisam fazer a coisa aqui! Precisam ficar aqui! Precisam fazer a coisa desta maneira, ou não serão Igreja". O Senhor Jesus acabou com tudo isso desde o princípio. Todas estas exigências foram incorporadas pelos homens na Igreja posteriormente. Mas Jesus disse que a única condição necessária é esta: “em espírito e em verdade". Cristo removeu todo espaço para qualquer outro sistema. CRISTO É O ÚNICO SISTEMA. Mas nós precisamos aprender a Cristo. Devemos parar por aqui esta manhã.

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