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Ascendência Espiritual

por T. Austin-Sparks

Capítulo 5 - União com Cristo em Ascensão

Leitura: Sl 24:3; Ap 14:1-5; Sl 122:2-4

“Quem subirá...?” (Sl 24:3).
“Para onde sobem as tribos... como ordenança (ou testemunho) para Israel” [Versão Revisada usada pelo autor do Sl 122:4, margem].

Continuaremos considerando o assunto da ascendência espiritual. Vamos imaginar o diagrama de uma roda, com outras rodas posicionada uma dentro da outra. O eixo representa Sião, e o centro é o Senhor Jesus exaltado e glorificado. O círculo imediatamente ao redor dEle equivale aos cento e quarenta e quatro mil, esse grupo representativo que se encontra em uma maior proximidade espiritual com o Senhor. A próxima roda dentro da roda representa a igreja como um todo, e o aro representa as partes mais extremas do universo. A partir do centro irradiam diversos raios, que atravessam desde o primeiro grupo mais próximo, para passar pelo povo do Senhor em geral, que também receberá dos benefícios daquilo que está no centro, e então atravessará a igreja em direção às nações, que andarão mediante a sua luz. Esses muitos raios representam as características do Cristo exaltado em glória, os resultados práticos, implicações e significado dEle posicionado naquele lugar e condição. Acho que essa imagem mental ajudará um pouco. Vamos tratar dos raios, mas precisaremos voltar um pouco por enquanto para o âmago da questão.

De forma geral, tudo se resume na questão de Cristo e Seu povo posicionados em absoluta ascendência espiritual. Para tanto, muito será demandado em experiências e disciplina, mas por meio dessa ascendência no espírito, tremendos valores serão remetidos para os círculos exteriores. A Palavra de Deus deixa perfeitamente claro que essa é a ordenação correta. O livro de Apocalipse nos fornece esse mesmo diagrama. Iniciamos tudo com o Senhor Jesus em glória, majestade e autoridade, e vemos Sua direito ao governo e exaltação. Mais à frente, vemos um grupo representativo, que são os cento e quarenta e quatro mil, que é um número tipológico e simbólico, representando um grupo que foi trazido, em primeiro lugar, à ascendência no monte Sião por motivos governamentais, como esse próprio número indica: doze vezes doze. Isso não significa apenas governo, mas o governo em sua plenitude. Então, mais adiante, encontramos toda a igreja, Jerusalém, acrescentada à Sião, e, então veremos que as nações andarão mediante a luz desses grupos. Temos esse diagrama representado em apenas um livro, mas toda a Bíblia também descreve isso.

Encerramos nossa meditação anterior dizendo que ascendência espiritual tem sua expansão por meio da união em ascensão com Cristo. Isso, figuradamente, indica tudo que está agregado naquele fragmento do Salmo 122: “para onde sobem as tribos... como ordenança para Israel”. Isso é extraído dos livros de Êxodo e Deuteronômio. Duas vezes é referido no livro de Êxodo sobre a necessidade de subir periodicamente para o lugar onde o Senhor estabelecesse Seu Nome. Então novamente, no livro de Deuteronômio isso é reiterado: “Três vezes no ano, todo varão entre ti aparecerá perante o SENHOR, teu Deus” (Dt 16:16). Essa é a base e pano de fundo para a necessidade de subir e se apresentar diante do Senhor.

Uma Nova Ordem Introduzida na Ascensão de Cristo

Qual é o princípio nisso tudo? É simplesmente subir: representa a ascensão. Esses salmos são chamados: “Os Salmos ou Cânticos dos Degraus”. “Para onde sobem as tribos... como ordenança (ou testemunho) a Israel” [R.V.]. Vamos considerar isso espiritualmente. Acredito que o povo do Senhor ainda seja lento para reconhecer o imenso significado da ascensão do Senhor Jesus. Se isso não permanece apenas como uma data no nosso calendário religioso, pode acabar se resumindo numa assombrosa lembrança: o Senhor Jesus ascendeu aos céus e está lá. A escala de apreciação desse fato pode variar, porque alguns podem ter uma visão mais abrangente que outros a respeito disso. No entanto, poucos de nós estão realmente impressionados com o sentido da ascensão do Senhor Jesus, como esse fato mudou todo o caráter das eras, e como a partir daquele momento uma ordem inteiramente nova foi introduzida. Tudo o que é de Deus nessa dispensação passou a ser celestial a partir daquele momento. Esse é apenas um fato sobre a ascensão, mas é algo grandioso. É muito penoso que a igreja como um todo tenha perdido esse ponto da ascensão, porque se de fato o tivesse percebido, nunca buscaria, como tem feito, construir coisas caráter permanente e ligadas à terra, tanto em sistema e como em forma.

Houve, é claro, grandes crises históricas na igreja, nas quais isso se desenvolveu. Aconteceu com grande plenitude com Constantino, quando ele ligou a igreja ao Estado e a tornou em algo desse mundo. Foi isso que o diabo sempre tentou fazer – tornar a igreja importante nessa terra, tendo uma permanência aqui por meio de nomes, títulos, reconhecimento, e todas essas coisas que impressionam o mundo de forma temporal. Vejamos que terrível espetáculo da igreja nos dias de hoje, tomando de forma geral, pois ela está sem autoridade nesse mundo, não tem uma voz. Que voz tem falado nesses momentos terrivelmente críticos que estamos passando, quando tudo ao nosso redor proclama que Deus tem uma controvérsia com as nações, incluindo a nossa, devido a sua maior responsabilidade? Não há dúvidas, o reino da vaidade se acentuou mil vezes mais nos nossos dias, e ainda assim nenhuma voz é levantada a favor de Deus; a igreja está em silêncio. A igreja não tem uma voz, nem uma mensagem, e não tem a posição espiritual necessária. Por quê? Por ter se tornado tão entrelaçada com a vida desse mundo e com as coisas dessa terra, ela perdeu sua autoridade celestial. É um outro exemplo da glória que se foi. Não iremos nos aprofundar nesse assunto nesse momento. Tudo isso visa reforçar assunto de ascendência espiritual e a afirmação de que a igreja perdeu o sentido da ascendência espiritual do Senhor Jesus. Isso porque o sentido da ascensão nessa dispensação é que a autoridade da igreja se baseia inteiramente em sua união celestial com o Senhor Jesus, na sua posição espiritual de “outro mundo”.

A Ascensão de Cristo – Sua Entronização

Outro fato ainda mais grandioso sobre a ascensão é que no Novo Testamento ela sempre foi vista pelos apóstolos e pela igreja como a entronização do Senhor Jesus à destra da Majestade nos céus. A ascensão nunca foi vislumbrada como algo propriamente dito, uma mera subida, mudança de local. Aquilo indicou a entronização do Senhor. “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis” (At 2:33). Essa foi a ascensão, e é maravilhoso quando começa a haver um registro nesse mundo da importância do fato de que Jesus é o Senhor, e isso foi provado naquela ocasião.

A Igreja em União com Cristo na Ascensão

No Novo Testamento também temos muitas coisas mencionadas sobre a posição celestial da igreja, assim como é mencionado a respeito de Cristo. As duas coisas andam juntas, uma é contrapartida da outra. Ele “assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1:3), e “Deus... nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2:6) . Essas duas verdades são preservadas juntas. Tudo se refere a uma posição espiritual, com todos os esses valores colocados à disposição da Igreja para o seu desfrute e uso, quando ela assumir aquela posição. Esse é o pleno sentido da ascendência espiritual. É chegar ao lugar onde, em Cristo, a igreja foi estabelecida.

Então, é claro, o combate se inicia, e essa luta, como já foi dito, visa impedir a igreja de chegar a essa posição, na tentativa de evitar que ela saiba que ali é seu lugar, e, se possível, para trazê-la para baixo; porque é lá que se inicia sua história espiritual. Não acontece um escalar inicial até chegar lá: a igreja já estava lá; no propósito de Deus esse é o seu lugar continuamente. Mas ao longo da história, vemos que o inimigo tem concentrado seus esforços em tentar tirar a igreja espiritualmente dessa posição. Existe um pequeno fragmento usado pelo salmista que, mesmo não se encaixando literalmente nessa questão, é uma boa afirmação sobre o homem justo e os conspiradores que se ajuntam para descobrir uma forma de derrubá-lo de sua posição espiritual. “Só pensam em derribá-lo da sua dignidade” (Sl 62:4) . Os conspiradores do inferno estão sempre trabalhando para descobrir como poderão trazer do povo de Deus para baixo dessa excelência dos lugares celestiais no Cristo exaltado. Portanto, é por meio da união na ascensão com o Senhor Jesus que encontramos o real sentido da ascendência espiritual, da autoridade e do poder.

Alguns em Israel, um Testemunho para Israel

Analisando a próxima frase: “Para onde sobem as tribos... como ordenança (ou testemunho) para Israel”. Nesse tipo havia uma ascensão periódica, o povo subia à Jerusalém, de tempos em tempos. Eles não sabiam o sentido disso, mas subiam de vez em quando, cumprindo o princípio espiritual de que, dentro do propósito do Senhor, a plenitude de vida para o Seu povo era encontrada no alto. Já mencionamos que o pico mais elevado da vida nacional de Israel era quando eles iam a Jerusalém, a Sião. Eles estavam cumprindo esse princípio espiritual, de que a ascensão é a lei Divina da plenitude da vida.

“Para onde sobem as tribos”. E por que eles subiram? Pelo quê eles faziam isso? "Como ordenança (ou testemunho) para Israel” . O que isso representava? Lembre-se, não era todo o Israel que subia, literalmente. " Três vezes no ano, todo varão entre ti aparecerá perante o SENHOR, teu Deus" . Um grupo representativo de Israel subia, e por meio dele havia o testemunho de Israel. Qual era esse testemunho? Expressava aquilo que toda a casa de Israel adentrava, por meio daquele grupo representativo. As bênçãos e benefícios de todo o povo do Senhor derivava do fato de que haviam aqueles que subiam a seu favor.

Vamos fazer uma pausa aqui. Esse ponto talvez não seja aplicável a Israel, porque acredito que todos aqueles que podiam ir até Sião o faziam. Mas quando pensamos no sentido espiritual, descobrimos, de forma trágica, que o povo do Senhor não está disposto a subir. Apenas uma pequena proporção realmente assumirá essa posição e viverá uma vida celestial. Vemos muitos que desejam viver uma vida cristã aqui em um nível meramente terreno, relacionando tudo de forma errônea à terra e às coisas daqui. Falo espiritualmente, não literalmente. Não me refiro a coisas abstratas, como se vivêssemos com "a cabeça nas nuvens". Já falamos o suficiente para evidenciar que essa vida nas regiões celestiais é uma questão terrivelmente prática em nossa vida cotidiana. Não há nada mais prático, mais real do que isso. Atrevo-me a dizer que as pessoas mais realistas desta terra são as pessoas mais espirituais. Elas enfrentam as maiores realidades, as realidades. Elas são um grupo representativo, e muitos benefícios e bênçãos são concedidos a outros por meio do preço pago por elas em sua jornada, dificuldades e provações pelo propósito do Senhor.

Qual é o seu testemunho? Apenas use sua imaginação por um momento no caso de Israel e seu grupo representativo. Quando eles subiam, o que acontecia? Bem, eles o faziam em três ocasiões distintas. A primeira era na Festa dos Pães Asmos, que marcava a libertação de Israel do Egito. A segunda na Festa das Primícias, que marcava o crescimento da vida do povo do Senhor. A terceira na Festa da Colheita, na consumação da vida do povo do Senhor. Quando eles iam a essas festas, qual era o testemunho deles quando voltavam?

 

O Testemunho da Grandeza da Redenção

Em primeiro lugar, seu testemunho seria: “Tivemos um momento glorioso relacionado à nossa redenção. Voltamos abundando nisso, impressionados com a grandeza, maravilha e frescor de nossa redenção. Trazemos conosco algo novo, no espírito, relacionado à grande obra que o Senhor realizou quando nos salvou, quando nos livrou do Egito.” Eles discorreriam sobre isso enquanto estivessem lá embaixo nos lugares onde viviam, e aquilo se tornaria um pouco da história de cada um, o fruto dessa subida em particular, uma vez ao ano, trazendo o frescor contínuo e perene da grandeza de sua salvação. Eles viram o grande rei na “cidade do grande rei”, e viram a grande casa de Deus. Viram também, em relação ao grande rei e à grande casa, quão grandiosa foi a sua salvação. Até que realmente vejamos o rei, nunca compreenderemos a grandeza da nossa salvação. Digo que quanto mais vemos o Senhor Jesus, mais nos maravilharemos com a grandeza de nossa salvação. “Quando Ele se manifestar”, clamou o apóstolo, “seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é” (1Jo 3:2). Mais uma vez, outro apóstolo disse: "Nós... contemplando... a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem" (2Co 3:18). Se ao menos pudéssemos ver a grandeza de Cristo, que nova apreensão e apreciação de nossa salvação poderíamos ter! E isso, na ordenação do Senhor, deveria ser um memorial perpétuo, algo a ser renovado continuamente diante de nós, não como se vivêssemos baseados em algo que se passou centenas de anos atrás quando fomos salvos. Hoje é ainda mais maravilhoso do que outrora! Esse é o testemunho de Israel. Nosso testemunho deveria ser: “Vimos o Senhor novamente, vimos o rei de novo, vimos a casa de Deus mais uma vez! Que coisa magnífica, essa obra-prima de Deus, a igreja, que é o Seu Corpo.” Que coisa impressionante é ver a igreja com olhos espirituais, ver a concepção de Deus dela! Quanto mais vemos, mais nos maravilhamos com nosso supremo chamado. Não é algo pequeno ter sido escolhido Nele antes da fundação do mundo, ser conformado à Sua imagem e fazer parte daquele magnífico edifício espiritual que irá governar o mundo vindouro, sendo o centro administrativo de Deus através de Seu Cristo, pelos séculos dos séculos. Eles subiram e viram o rei, viram a casa, e voltaram relatando: “É ainda mais maravilhoso do que antes!” E, assim, todo o Israel desfrutava do benefício de sua visão renovada.

Sei que esse caminho tem um alto preço, mas é impressionante para qualquer um de nós ter deixado os níveis inferiores da vida cristã, esses lugares remotos, subir o monte e poder ver Senhor em maior plenitude. Nenhum de nós O viu ainda em grande medida, mas é algo grandioso ver um pouco mais Dele, e do sentido do Cristo pessoal e corporativo. Aí reside o poder de um testemunho para o povo do Senhor - "Nós vimos!"

Muitas vezes me perguntei o segredo da resistência, persistência e triunfo de Paulo. A única resposta que posso encontrar está na sua visão do Senhor. Você nunca pode desfazer isso.

Aquele povo subiu e foi um testemunho para Israel. E sim, os cento e quarenta e quatro mil estão com o Cordeiro. O caminho que nos conduzirá a esse lugar sempre será de sofrimento e de sacrifício, mas é bom possuir aquilo que o povo do Senhor precisa, para for necessário erguê-los de seus baixos níveis de vida espiritual. No final, vale a pena - conhecer a grandeza da redenção, vendo a grandeza do Rei e da casa de Deus.

O Testemunho da Persistente Operação do Senhor

E então a seguir, temos a Festa das Primícias: “A Festa da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho” (Êx 23:16) . O Senhor já fez alguma coisa em nós, mesmo que nem tudo esteja terminado ainda. Foi uma obra abrasadora, ardente, mas Ele nos conduziu até aqui. O ponto é o seguinte: o fato dEle ter feito alguma coisa até aqui é uma garantia de que Ele irá concluir a obra. Esse é o sentido das primícias. “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”(Fp 1:6) . O Senhor exerceu Seu poder para nos trazer até aqui, e ainda opera sobre nós e em nós. Temos uma história com a Sua fidelidade. Podemos até sentir que ainda resta muito a ser feito, e que ainda falta um longo caminho a percorrer, mas ainda assim temos um testemunho: o Senhor fez alguma coisa, e sempre que isso acontece, é uma indicação de que Ele irá terminar a obra. Se o Senhor toma uma vida em Suas mãos, Ele tem em vista conduzi-la até o fim, se ela permitir. Nós nunca cairemos devido à falta de persistência do Senhor, como se Ele fosse um de nós, e repentinamente se afastasse de nós e se dirigisse a outros interesses. Não, Ele irá até o fim conosco. Graças a Deus por isso! O fato dEle ter feito algo é a prova mais sincera de que Ele deseja e pretende terminar a obra que iniciou.

Existe um testemunho para Israel no que o Senhor fez e está fazendo, tanto no Seu povo como a favor deles. Existe um grande testemunho em poder dizer: “Não digo que apenas me converti há muitos anos atrás, cheguei ao conhecimento do Senhor e ponto final, mas a partir daí passei a ter uma história com o Senhor, que é muito viva e real. Sei que sou imperfeito, quanto ainda falta para ser feito em mim, mas conheço o Senhor; até aqui tenho O conhecido”. Aquelas pessoas foram a Sião, e independente do que estivessem sentindo a respeito durante todos aqueles meses, quando estavam em suas próprias casas, eles voltaram e disseram: “O Senhor começou uma obra em nós há muito tempo e continua operando; temos evidências de que Ele pretende nos levar à glória; há sinais de que Ele está fazendo alguma coisa”. As pessoas eram animadas e elevadas de seu desânimo, quando essas pessoas retornavam com seu testemunho. O Senhor precisa de um povo como esse nos dias de hoje. Em meio à tudo que se estabeleceu na forma de um sistema frio, de uma forma de ensino e prática, o Senhor precisa exatamente desse povo, desses “cento e quarenta e quatro mil” para representar as Suas obras, pessoas essas que estejam desfrutando dos seus benefícios e manifestando mais de Sua vida. Eles, em si mesmos, podem não ter nenhuma importância: podemos olhar para eles e dizer que são um pobre lote. Mas existe algo ali, encontramos o Senhor neles, sentimos a vida. Essas pessoas estão vivas, vemos algo da vida de Deus ativo nelas. O Senhor precisa de um povo representativo como esse nos dias de hoje. Não é verdade que essa é uma necessidade neste mundo cristão que é tão carente, sistematizado, fixo e estático? Precisamos de um fluxo, liberação e impacto da vida. Reforço mais uma vez que existe um preço associado a tudo isso, para servir com essa capacidade. Mas o Senhor precisa desse grupo. Será que Ele não está buscando isso até mesmo por meio de Sua abordagem conosco?

A ocasião da Festa das Primícias é mais conhecida por Pentecostes. O Pentecostes parece ter sido um festival e ocasião bastante inclusivos, pois remetia ao passado, trazendo à luz a grandeza da redenção. Traduzia a poderosa emancipação de um povo para Deus do mundo, através do sangue do Cordeiro. Essa festa apontava também para a consumação, na colheita completa e gloriosa, conduzindo imediatamente às primícias que amadureceram pelas chamas da perseguição (por exemplo, de Estevão e outros) e, por si só, representava a ascensão, ascendência - o Cordeiro no monte Sião – “Eu porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião" (Sl 2:6).

O Testemunho na direção da Gloriosa Consumação

Isso nos leva à terceira ocasião em que as tribos subiam a Jerusalém: a Festa da Colheita, também chamada de Festa dos Tabernáculos. Era nesse momento que os principais frutos da terra como o milho, o vinho e o azeite eram colhidos. Esse banquete consistia na consumação de todo o resto - um testemunho da vinda do Senhor para os Seus em plenitude final, uma gloriosa coroação de todo o processo que teve início na libertação do povo da escravidão do Egito. Aquela era a expressão consumada da ascensão do Cordeiro e de um povo com Ele.

Acredito que essa é realmente a essência do valor da vinda do Senhor, como algo sustentado pela igreja. Essa vinda acabou por se resumir em um pouco de doutrina e, estranhamente, acabou se tornando num assunto que dividiu a igreja em fragmentos, em vez de ser um meio de elevá-la e estabelecê-la em um lugar de poder e autoridade. O ensino sobre a vinda do Senhor causou um efeito contrário. Devemos concordar que crer com toda nossa força na segunda vinda do Senhor não implica necessariamente na manifestação de grade poder espiritual em nossa vida. Podemos absorver tudo o que foi escrito sobre esse assunto por eminentes servos de Deus, e isso pode não fazer diferença alguma em nossa vida espiritual. Mas deveria. Como, então, isso deveria funcionar? Bem, isso não quer dizer que tenhamos uma concepção objetiva e estejamos apenas imaginando o dia em que o Senhor virá. Isso nem sempre nos conduzirá através dos momentos difíceis. Mas o Espírito Santo, que sempre tem esse dia em vista como a contrapartida da ascensão e exaltação do Senhor Jesus, testemunhará em nós e nos transmitirá os valores dessa exaltação sempre que realmente, em espírito, contemplarmos a Sua vinda. Não é verdade que se cantarmos realmente no Espírito um hino sobre a vinda do Senhor, começamos a nos sentir elevados em espírito? Não poderemos permanecer ligados espiritualmente à vinda do Senhor sem experimentar um grande senso de ascendência. Isso nos levanta. É algo espiritual, não histórico no calendário da igreja, e o Espírito dá testemunho dessas coisas. Em certo sentido, temos muitas coisas para nos desencorajar a estar ocupados com o ensino sobre a vinda do Senhor. Na minha infância, disseram-me que o Senhor estaria aqui antes se passassem muitos anos, e que certas pessoas nunca veriam a morte. Mas todos eles estão mortos! Isso vem acontecendo há séculos. Muito antes que eu nascesse, as pessoas diziam esse tipo de coisa, e poderíamos dizer: "Já tentei, isso não se sustenta”. No entanto, vamos continuar cantando esses hinos, apesar de todas essas teorias e todas essas coisas que parecem tão falsas, e que parecem justificar os homens que diziam, mesmo nos dias de Pedro: “Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (2Pe 3:4). Ainda assim, iremos cantar e, ao fazermos isso, nosso espírito se elevará. Por quê? Não por estarmos usando óculos, fechando os olhos, imaginando, desejando pensar nessas coisas. Não! Mas porque o Espírito de Deus está em nós e Ele testemunha de um grande fato, quando nós de coração e de espírito, nos voltamos nessa direção. A igreja está subindo para onde o Senhor foi. A ascensão será consumada por uma grande colheita.

O testemunho de Israel não está relacionado a essa ou aquela teoria sobre a segunda vinda de Cristo, mas está atrelado a um testemunho vivo na vida do povo do Senhor, que é confirmado da seguinte forma: os envolvidos já desfrutam disso, vivendo vidas em ascendência, pois já sabem alguma coisa, mesmo que seja pouco, do que significa ser ressuscitado junto com Ele. “Para onde sobem as tribos como ordenança (ou testemunho) para Israel”. Aqueles israelitas subiam e depois voltaram com seu testemunho reluzindo em seus rostos, e os demais tiravam proveito disso. Existem “muitos” hoje aguardando o benefício que podem obter por meio desse grupo dentre o povo do Senhor que realmente conhece a vida de ascensão com Ele.

Reitero que a vida de ascensão é alcançada progressivamente, não é experimentada de uma só vez. Os israelitas não saltavam de suas cidades e vilarejos distantes diretamente para o pico de Sião. Aquela era uma jornada para o alto, e isso só podia ser realizado dando um passo de cada vez. Se eles tentassem dar mais de um passo, logo se desencorajariam. Tudo se resume em perseverar com o Senhor a despeito do desânimo, da adversidade, das provações e sofrimentos, e do inimigo que está à espreita. Sim, temos tudo isso contra nós, mas esse perseverar acontece de forma quase imperceptível até chegarmos cada vez mais perto do ponto onde não seremos tão facilmente desencorajados e vencidos como outrora. Ali o inimigo não terá mais o mesmo terreno e poder para nos puxar para baixo e arruinar. É um caminho para o alto. Pode parecer lento, mas não deixa de ser uma subida. Haverá uma consumação, e será finalmente em glória.

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